Jornalista da Folha detona filme da Lava Jato: exagerado, partidário e clichê

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Divulgação

Jornal GGN – O filme Polícia Federal – A Lei É Para Todos não passa de uma ode à Lava Jato que abandou a moderação e o senso crítica para exaltar os policiais que participam da operação, chegando ao ponto de jogar o juiz Sergio Moro e os procuradores de Curitiba para segundo plano. É o que aponta o jornalista Bernardo Mello Franco, em crítica à produção publicada pela Folha, na quarta (29).

Segundo Franco, o filme é partidário: escolheu o lado dos policiais. Mais do que isso, poda qualquer possibilidade do espectador criar alguma empatia pelos investigados, e expõe a seletividade da ala curitibana da operação, que apura eventos relacionados apenas ao PT.

Sem preocupação em oferecer tratamento igual aos personagens da Lava Jato, a direção do filme ainda optou por expor nomes de investigados, incluído o de Lula, enquanto a força-tarefa está recheada de nomes fictícios.

Para o jornalista, o ponto alto da obra está no resumo de como as autoridades chegaram aos esquemas na Petrobras. Mas fora isso, “A Lei É Para Todos” esbarra em clichês e exageros, apontou.

Leia a crítica abaixo.

Por Bernardo Mello Franco

Na Folha

Filme sobre a Operação Lava Jato tropeça em clichês e exageros

Ninguém esperava uma versão nacional de “Todos os Homens do Presidente”. Mesmo assim, “Polícia Federal – A Lei é Para Todos” fica devendo, e muito, para uma produção que se propõe a recriar a maior operação anticorrupção do país.

Com orçamento milionário e elenco de globais e ex-globais, o filme exagera no tom de exaltação da Operação Lava Jato.

O resultado é uma trama maniqueísta, sem nuances, que, em vários momentos, se assemelha a uma peça de propaganda.

Depois dos créditos iniciais, uma citação de Ruy Barbosa dá uma ideia do que vem a seguir: “De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

O roteiro não tem vergonha de nada: retrata investigadores como heróis quase infalíveis e recorre à caricatura para barrar qualquer empatia com os investigados.

A produção assume um partido desde o título: o partido da polícia. A ação é comandada por um trio de delegados determinados a prender políticos corruptos e passar o país a limpo.

O protagonismo dos homens de preto é tanto que os procuradores da força-tarefa e o juiz Sergio Moro, representado pelo galã Marcelo Serrado, ficam relegados a papéis secundários.

O filme adota tratamento desigual até na apresentação dos personagens.

Políticos e empreiteiros aparecem com nomes reais, como Lula e Marcelo Odebrecht. Os investigadores são protegidos por pseudônimos, embora alguns pareçam clones dos originais.

Os diálogos patinam em clichês como “a corrupção chegou aqui com as primeiras caravelas” e “o sistema é feito para não funcionar”.

Os trechos que se salvam são os que contam como uma apuração corriqueira, com foco na ação de um doleiro, abriu caminho para a descoberta de um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras.

No entanto até nisso a produção tropeça na inverossimilhança. Numa passagem, policiais remexem papéis queimados numa churrasqueira e descobrem contas secretas na Suíça.

Em outra, um delegado acorda no momento em que a presidente Dilma Rousseff anuncia, na TV, a nomeação de Lula para a Casa Civil.

Como o fato ocorreu às 16h de uma quarta-feira, fica a suspeita de que alguém dormiu demais: o personagem ou o roteirista.

O empenho em defender a Lava Jato de qualquer crítica deve empolgar os foliões do Morobloco, mas pode afastar um público mais moderado das salas de exibição.

Num momento em que a Lava Jato cerca o governo Temer e atinge políticos de todos os grandes partidos, a ênfase nas acusações ao PT passa a impressão de que o filme resolveu contar apenas uma parte da história.

Os produtores prometem ampliar o leque de vilões numa continuação. O problema será convencer os espectadores do primeiro episódio a retornarem ao cinema.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

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  1. Cinema propaganda: O Plano Real, Lava-Jato… que coisa velha!

    A imprensa bem que tenta alavancar essa pasmaceira… mas chega a dar pena desse pessoal.

    No futuro será motivo de piada.

    No caso da Lava-Jato então soa cômico já no título… como se 100% dos brasileiros não soubesses da parcialidade escancarada da operação.

  2. Possível fracasso de bilheteria…

    … tera que arrecadar um minimo para poder pagar possiveis processos futuros de personagens com futuras absolvições e condenados no filme propaganda com seus verdadeiros nomes.

    1. exatamente.

      Os atores e diretores, todos que participaram dessa patifaria estão globotomizados e não sabem que podem ser processados no futuro. Esse filme é a prova da perseguição midiática e política, vai queimar o filme de todos eles, com a benção de Deus.

      A verdade Vencercá a mentira. Paz na Terra.

  3. Filme?……

    Pensei que fosse propaganda/comercial televisual………..Filme é meio abusado……Se não o video de minhas  ferias com a familia em Bertioga é “cinema de autor”…..

  4. Uma derivação no campo da

    Uma derivação no campo da cinegrafia do FEBEAPA-Festival de Besteiras que Assola o País, conforme diria Sérgio Porto.

    Quem não deve estar nada satisfeito é um certo juiz que se imaginava como o protagonista do besteirol, digo, filme, e acabou como coadjuvante. Ele e certos engomadinhos do MP chegados a umas diáriazinhas. Ambos formando o grupo denominado “Os intragáveis”, versão brasileira dos “Intocáveis”. 

     

  5. Estão gastando a rodo, não vão ter retorno. Mas os financiadores

    não se lixam para retorno o negócio é outro. No youtube o trailer aparece direto sobre os vídeos. O pior para os atores é que quando Moro e os procuradores forem desmascarados pela CPI eles ficarão marcados pela má imagem de seus personagens. Os delegados já foram afastados do foco pois estavam sujando o tapete vermelho antes da estréia.

  6. Penso que um filme que

    Penso que um filme que quisesse realmente ser uma obra útil ao povo Brasileiro saberia valer-se da prudência e da paciência para ter uma visão mais ampla dos fatos e processos. Creio que um documentário que soubesse ouvir várias vozes seria um caminho mais sensato e útil à toda sociedade brasileira.

    1. Realmente faltou os

      Realmente faltou os depoimentos elouquentes do Eduardo Cunha, imagina a cena dramática do Gedel chorando, lhe renderia um Oscar. E o suspense nas cenas do Temer recebendo os vampiros do seu clã nas madrugadas do Jaburu?

      Realmente mostrar o ponto de vista da Federal ficou meio sem graça né? Ha esqueci das cenas de alta investigação com os recibos do Lula.

      Acho que o povo deveria se unir todos contra a Policia Federal, Procuradoria, por o Moro na cadeia. 

      Pra falar a verdade deveria ate acabar com esses orgãos e deixar tudo nas mão dos nossos missionários políticos injustiçados.

       

  7. Essa historia precisa ser contada também pelo lado de ca

    E por que um cinesta com outra visão que essa oficial sobre a Lava jato não faz um filme sobre o assunto? Não uma droga dessas, cheia de “atores globais” (sempre achei ridiculo essa alcunha), mas um verdadeiro exercicio sobre o que é a manipulação juridico-midiatica no Brasil e seus tentaculos. Garanto que patrocinador não vai faltar. Se precisar, façamos a velha vaquinha.

    1. E quem vai financiar? Não

      E quem vai financiar? Não basta um cineasta para fazer um filme. Daqui a alguns anos, depois que tudo isso virar história, é possível que alguém se interesse em contar a verdade dos fatos. Talvez só depois de uma retratação da Globo…. rsrs

      1. E depois tem que aguentar a perseguição midiática e censura

        Ninguém liga a TV em filme sobre a ditadura… não pode aparecer o segredinho brasileiro… que a Globo e a mídia apoiaram 100% as atrocidades acontecidas no Brasil.

        Da mesma forma, o apoio da mídia ao golpe será sempre um segredinho… 

        Quem furar a bolha será massacrado pela máquina midiática tucana/Global… um filme que contasse a verdade seria igual ao livro “A Privataria Tucana”… ignorado ou atacado pelos vaículos de mídia. Os atores e diretores podem abandonar imediatamente suas carreiras e preparar uma equipe de advogados após as filmagens.

        O filme não teria lugar para passar… a Globo comanda a produção, exibição, divulgação… 

        O cinema nacional já enfrenta 1000 dificuldades… imagina nessas condições.

         

  8. Podiam ser mais realistas e

    Podiam ser mais realistas e alterar o título do filme para:

    “A Lei não é para todos” ou “A Lei é para todos os meus inimigos” ou, ainda “A Lei erra para todos”

  9. Será que lembraram de avisar

    Será que lembraram de avisar que, “qualquer semelhança com fatos ou personagens da vida real será mera coincidência”?

    Não sei julgar o talento desses atores, não lhes conheço o trabalho. Mas que dellagnóis e moros conseguem fazer cara “seriosa” quando por dentro devem estar às gargalhadas, isso é bem claro.

  10. Lula pode e deve processar os

    Lula pode e deve processar os responsáveis pelo “filme” por calúnia e difamação, existem razões para Hollywood não usar nomes de pessoas reais sem a expressa autorização dessas pessoas. Ou a putaria (palavra de um amigo meu) que o Brasil se tornou agora permite esse tipo de crime contra a honra se a vítima for do partido “errado”?

  11. Peça de propaganda

    Talvez, se os roteiristas tivessem feito uma releitura melhor de Goebbels, o filme poderia ser mais verossímel e mais útil para o fim a que se destina. Começa pelo nome do filme: a lei é Para Todos (PT). Impossível para alguém menos desavisado e com mais de dois neurônios não enxergar nisso uma alusão ao PT. O filme, sem querer, escancara a seletividade da PF e da “Justiça” da Casa Grande. Tenho a impressão de que houve um cálculo errado de “timing” por parte de quem produziu o filme, pois, muito provavelmente, haveria a expectativa de que, no lançamento da peça de propaganda, Lula estaria praticamente destruído e as pessoas se regozijariam com o seu enterro, na sala mais próxima de cinema. Acho que os advogados do Lula deveriam incluir o filme no roteiro de perseguição a que sendo submetido o Lula,  para completar o golpe contra a democracia. Em tempo: duvido muito que o grande público se deixe enganar  por essa peça de propaganda enganosa dessa ópera bufa, vulgarmente conhecida como Lava Jato.

  12. O título é a mentira

    Alguém, qualquer um, rico ou pobre, preto ou branco, mal ou bem informado, acredita que no Brasil a lei é para todos?

    A Grande Piada desses ridículos meninos mimados e narcisistas, e os tubarões da maldade que os sustentam.

  13. Dalaguinol, numa entrevista
    Dalaguinol, numa entrevista enfadonha, sem graça nem conteúdo, como todas as que dá, utilizou reiteradamente o termo PUBLICIZAR, como se essa palavra significasse PUBLICAR.
    Ocorre que PUBLICIZAR é uma forma de prestação de serviço público realizada por meio de entidades não públicas.
    Tenho muitas dúvidas acerca de certas autoridades com baixo nível intelectual conseguindo passar em concursos públicos de alto grau de dificuldade e de grande concorrência.
    O imperialismo consegue colocar esse tipo de gente no serviço público para trabalhar a serviços dos interesses escusos estrangeiros.

  14. Critica Policia Federeal A Lei E Para todos

    Porque o critico de cinema brasilerio é sem noção? Os caras se auto intitulam estetas da sétima arte provavelemente para serem convidados nas pre estreias e blá blá blá.

    Será que eles não se tocam que criticar uma obra de arte não é manifestar sua opinião pessoal? Principalmente porque a maioria tem um péssimo gosto para filmes e ficam por aí publicando suas baboseiras que deveriam se restringir aos seus grupinhos de amigos.

    A não ser que eles queram se tornar alguma especie de referencia para cobrar jaba das distribuidoras para críticas positivas

    Toda obra de arte tem seus admiradores, e o que serai do mundo se todos gostassem da mesma coisa?

    Polica Federal e tão ruim que está batendo todos os recordes de bilheteria. Porque heim?

    Acredito que alguns devem até ter alguma formação academica na area de cinema, mais esses são até piores porque destilam nas suas críticas a frustração de nunca terem realizado obra nenhuma. Então pixar trabalho dos outros é muito fácil.

    Por favor sigam exemplo dos verdadeiros críticos e amantes do cinema, que por mais que não tenham gostado da obra, nunca deixarão de recomendar que o telespectador experimente por si mesmo, porque gosto é uma questão individual.

     

     

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