Menina síria confunde câmera com arma… e se rende

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Sugestão de Gilberto Cruvinel

do Observador

Conflito na Síria: A imagem mais triste do dia

Por Miguel Santos

Na Síria, uma menina confundiu a máquina fotográfica de um jornalista com uma arma. Num gesto instintivo, levantou os braços em jeito de rendição e tornou-se imagem de um conflito que se arrasta.

“A imagem mais triste do dia” foi captada por um jornalista do Huffington Post e tornou-se viral nas redes sociais – Huffington Post / Twitter Nadia AbuShaban

Quando começou a circular nas redes sociais a fotografia foi considerada por muitos a “imagem mais triste do dia”. Na Síria, uma menina de tenra idade levantou os braços em jeito de rendição no momento em que um jornalista do Huffington Post se preparava para lhe tirar um foto. O motivo? A criança agiu instintivamente depois de confundir a máquina fotográfica que o repórter carregava com uma arma.

O fotojornalista que imortalizou o momento queria retratar a realidade das crianças sírias num país oprimido pelo regime de Bashar al-Assad e a braços com escalada de violência do pós-Primavera Árabe. Conta o jornal online R7, que o repórter nunca imaginou que a criança pensasse que ele lhe estava a apontar uma arma.

O repórter, no entanto, acabou por captar numa única imagem o instinto de sobrevivência de alguém que, aparentemente, está habituado a viver com a violência da guerra. A imagem foi partilhada por Nadia AbuShaban, fotojornalista na Palestina, e tornou-se rapidamente viral.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que quase 14 milhões de crianças estão a ser afetadas pelo conflito na Síria e no Iraque. Um dado que esta imagem parece suportar. A menina, de quem se desconhece o nome, mostrou, num único gesto, que entende como funcionam as armas e que sabe como deve a agir para garantir que sobrevive. Pelo menos por mais um dia.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

34 Comentários

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  1. menina Síria

    Acho que ela estava pensando que estava no Brasil e temia em sofrer um assassinato de sua reputação da nossa “imprensa imparcial “.

  2. A expressão de terror no
    A expressão de terror no rosto dela é chocante. Quem aplaude as guerras sujas norte americanas no Oriente Médio deveria dizer: “eu fiz isto àquela menina”.

    1. Querra suja no oriente médio

      Querra suja no oriente médio ( e no Mundo ) só tem com particpaçao americana?

      Como alguem pode chegar à vida adulta e falar esse tipo de coisa achando que esta abafando? rs

      1. Minha casa foi invadida a

        Minha casa foi invadida a chutes em 1967, quando eu tinha 3 anos de idade, por uma ditadura que foi imposta aos brasileiros pela CIA/EUA (que gastou milhões de dólares para derrubar Jango e imediatamente reconheceu a legitimidade do golpe de estado). Eu e aquela menina temos algo em comum. Com você, meu caro, nunca terei nada em comum. Nós não falamos a mesma língua, não partilhamos as mesmas experiências e se houver uma guerra civil eu matarei gente como você sem piscar (mas não na frente de crianças, que não sou tão malvado quanto você). 

  3. Céus, quanto absurdo, quanta

    Céus, quanto absurdo, quanta tristeza! O que será dessas crinças vítima das atrocidades desta guerra insana?

  4. Hipocrisia pura, os caras

    Hipocrisia pura, os caras aprontam essas infamias e acham que não tem reflexo na vida das pessoas? Ou o povo de lá acha que entre um mcgordura e fritas o mundo está em boas mãos?

  5. Triste

    Onde os Estados Unidos metem as patas tudo fica sempre um horror, embora o exército de puxa sacos tente sempre dizer que levam maravilhas aos confins do mundo: Vietnã, Afeganistão, Iraque, Somália, e por aí vai.

    1. A humanidade  sempre será

      A humanidade  sempre será essa imundice enquanto houver gente que acretdita que  ¨americano¨  mata por ser desgraçdo e  ourtos  como Stalin, Fidel, etc, mata por amor e apenas vermes humanos

    2. sou uma mente bestializada

      sou uma mente bestializada  ponto de vista ideologico pode falar uma m*&¨desta.

      isso não tem relação com nação nao esperto.

      Todas as naçoes do mundo de ” N ” posiçoes politicas/religiosas e em todos os tempos desde que a humanidade existe fazem algo desse tipo.

      Tem que ser muito obtuso para querer taxar isso à uma determinada ideologia ou nação…

      1. Então  , senhor obtuso!

        Então  , senhor obtuso! Sempre foi assim e hoje são os Estados Unidos como o amigo acima disse e o senhor concordou sem perceber. Minha mente também é bestializada por compreender assim e, mais ainda, para lhe responder a mais de um comentário seu sobre o mesmo tema. Pronto, desculpe a nós outros por não possuirmos seu nivel de educação e entendimento histórico e geopolitico. Me ensine aí, sabidão, se é assim que se escreve geopolítico. Tenho dificuldade com as vírgulas também. Se fui bestial, não se acanhe.  Me ensine.

         

      2. duvida

        Leônidas, não sei se foi autocrítica sua ao escrever “sou uma mente bestializada” ou você quis me agredir mesmo. De qualquer forma é estranha sua falta de educação, pois já conversamos outras vezes em nível muito bom. Não vou chamá-lo de obtuso nem de de bestializado, só lamentar sua agressão pessoal, mas isso não muda o que penso sobre o assunto. Abraços.

    3. GUERRAS

      Militares contrários tentaram derrubar o Governo Sírio. Exército Sírio é importante aliado no combate e destruição do califado, mataram comandante do EI. Não acredito que Irã apóia EI.  O devia trazer riqueza para o povo é o problema da região: Petróleo, gás, dutos. Não tem a menor dúvida que grande potências estão presentes em todos os acontecimentos. Faz parte da história da humanidade.   

  6. MEU DEUS OLHAI POR ELA E TODAS AS CRIANÇAS

    A ONU tem que fazer algo com urgênncia para proteger as crianças e as vitimas dessa guerra horrivel. Eu queria ter o poder de um anjo, para pegar essa menininha agora mesmo,  e coloca-la em um lugar seguro, com toda a sua família. 

  7. Rendição ou Protesto.?

    .

    Devagar com o andor.!

    A imprensa (jornalistas) que cobrem guerras, muitas vezes tem que mostrar algo diferente, do que o próprio conflito em si, que já é muito banal.   É muito banal, porque não nos importamos mais.  Há muitas relatos, fotos, vídeos, circulando diuturnamente na internet e nos telejornais. 

    Nós, do conforto de nossas poltronas, nos revoltamos com isso, e continuamos a assistir a próxima notícia que nos impingem e em nossa vivência diária já esquecemos o que vimos e não nos preocupamos mais. Por isso, é banal.

    Não nos indignamos também, quando sabemos,  “não vá dizer que você não sabe” , que aqui no Brasil, anualmente se mata mais do que qualquer guerra, travada mundo afora.  E, nenhum dos comentaristas acima, ou os que virão, não se horrorizam com isso, pois já se tornou banal, também.

    Voltando ao assunto: por ser banal, cobrir guerras que ninguém quer ver, é que “jornalistas” fabricam notícias. Não quero dizer que esta seja.

     Mas, muitos correspondentes de guerras o fazem.  Colocam bonecas ao lado de corpos infantis; deixam urubus perto de crianças negras magérrimas semi-mortas; não socorrem crianças vietnamitas cobertas de Napalm; não espantam Dingos quando estão invadindo barracas para comer crianças, na Austrália, etc., etc.

    Tudo por uma boa foto e por um pulitzer.

    E, se este jornalista, pediu para a criança levantar os braços? Somente para fotografá-la. Nunca saberemos a verdade.

    O que importa para a imprensa é que seja vendável.

    – Com a palavra o mestre Luís Nassif.

  8.  Sobre a menina síria que se

     

    Sobre a menina síria que se rende ao confundir câmera fotográfica com uma arma

    mar, 29, 2015 Por Nara Rúbia Ribeiro                                                                                                                                                                                                                                                                                                               Quando ainda menina, lia muito Drummond. Achava um exagero ele dizer que chegaria um tempo de absoluta depuração, em que “(…) os olhos não choram./E as mãos tecem apenas o rude trabalho./E o coração está seco.” Mas hoje eu vi no noticiário uma cena muito peculiar, e a verdade do poema me veio à alma, imediatamente. Um fotógrafo, ao tentar retratar a vida das crianças sírias, conseguiu captar não a frieza deste mundo, mas já a sua consequência. Ele enquadra a criança em sua lente e essa levanta os braços, rendida, pensando ser uma arma.

    Deus! Que mundo é este, onde a inocência caminha de mãos levantadas e a alma do mundo não sangra, e os olhos dos homens não choram, e a dor já não nos pode chocar? Que mundo é este cujos avanços tecnológicos não encontram eco na evolução moral dos indivíduos e onde só o que conta são os cifrões?

    Um mundo cujo colorido já não é convidativo aos olhos. Onde a beleza é preterida. Onde a pureza dos pequeninos ainda é roubada e banhada do sangue de seus pares, de seus pais e, não raro, do seu próprio sangue. Um mundo cujas crianças já têm a esperança prematuramente envelhecida pela dor que transborda dos noticiários e que não raro floresce ao seu lado. Um mundo em que, a cada dia, o homem teme mais e mais o próprio homem.

    Frequentei um curso, há um tempo, e algo me deixou sobremodo perplexa. O instrutor mostrava-nos diversos vídeos com acidentes causados por veículos. Em dada situação, um homem fora atropelado por não olhar para a sua direita quando um carro vinha na contra mão.  Alguns dos colegas, a maioria jovens entre 18 e 25 anos, riram da cena. Noutro atropelamento, a maioria riu. Esboçaram alguma comoção, leve, quando uma criança foi atropelada. Mas, pasmem: um cachorro foi atropelado e, nesse momento, houve uma comoção geral: “Ah, pobrezinho! Tadinho dele!”.  

    A banalização da dor do outro é hoje tamanha que os jovens se identificam mais e se comovem mais com a dor de um animal que com a dor de um homem ou de uma criança.

    A dor do outro é estatística. “Quanta mortes, mesmo, na Síria? Quantos desabrigados no Acre? Quantas mulheres são agredidas por ano? Quantas crianças são estupradas por parentes próximos?” Não! Essa postura desmerece o infinito que somos, desautoriza a angelitude a que estamos destinados, desmente a centelha do Eterno que permeia a alma de cada um de nós!

    Necessitamos ver o outro como parte desprendida, mas ainda ligada a nós por lanços infindáveis de natureza espiritual. Ninguém pode ser plenamente feliz enquanto um só de nós estiver de braços levantados, rendida criança assustada pelos estrondos da guerra, cativa da dor e da morte. Esfomeada de uma Justiça que ela não pode compreender ou dizer, mas, humana que é, já a pode desejar e de sua falta se ressentir.

    Que esta criança que hoje vi de mãos levantadas por confundir a câmera com uma arma possa ainda, é o que utopicamente desejo, levantar novamente as suas mãos, mas não por medo. Que ela ainda possa, na pontinha dos pés, elevar os seus braços para brincar com as estrelas.

    http://www.contioutra.com/sobre-a-menina-siria-que-se-rende-ao-confundir-camera-fotografica-com-uma-arma/

  9. Ela não se rendeu ao pig
    Os punhos cerrados e a expressão facial não indicam rendição e sim que ela não se dobrou ao pig….sera mesmo que ela não sabia que se tratava de um jornalista….por coincidência o H Post integra a Abril por aqui…a imprensa tem sido peça fundamental no fomento a guerruas fratricidas e golpes como este em curso em Pindorama…enfim, um gesto reflexo que diz muito

    1. criança

      pelo jeito faltou ração

      A FOTO é de criança de 4 anos ADI HUDEA ,feita pelo “jornalista” OSMAM SAGIRLI em um campo de refugiados na fronteira SIRIA/TURQUIA e divulgada pela “palestina”twiteira amiga dos petistas..Nadia Abu Shaban.

      Sua @#$! ideológica já colocou um monte  de estranhos na sopa que sequer sabiam disto, denotando o óbvio, conforme citei no início.

       

       

    2. criança

      pelo jeito faltou ração

      A FOTO é de criança de 4 anos ADI HUDEA ,feita pelo “jornalista” OSMAM SAGIRLI em um campo de refugiados na fronteira SIRIA/TURQUIA e divulgada pela “palestina”twiteira amiga dos petistas..Nadia Abu Shaban.

      Sua @#$! ideológica já colocou um monte  de estranhos na sopa que sequer sabiam disto, denotando o óbvio, conforme citei no início.

       

       

  10. a miséria humana

    Este é o mundo que os senhores da vida e da morte, que fazem armas e guerras estão criando. O que será desta e de outras crianças quando crescerem?, se é que deixarão que elas cresçam!

  11. Kevin Carter won the Pulitzer

    Kevin Carter won the Pulitzer Prize for this picture taken in Sudan. CreditKevin Carter/Sygma/Corbis

     

    Do Observatório da Imprensa

    FOTOJORNALISMO & ÉTICA

    Fotografias controvertidas

    Por Leneide Duarte-Plon, de Paris em 30/09/2008 na edição 505 

    A fotografia no fotojornalismo, como na publicidade, não é unívoca. Ao contrário, ela pode ser fonte de diversas interpretações, dependendo do olho e do julgamento de quem vê e, por isso, pode gerar polêmicas e suscitar problemas jurídicos e éticos. Sobretudo quando se trata de fotojornalismo.

    É o que mostra o livro Controverses, une histoire juridique et éthique de la photographie. A obra é o resumo da exposição do mesmo nome, que reuniu oitenta imagens polêmicas e ficou em exibição em Lausanne no primeiro semestre deste ano. O trabalho é fruto de muitos meses de pesquisa de um historiador da arte e de um advogado, Daniel Girardin e Christian Pirker, que resolveram contar a história de uma série de fotos polêmicas no fotojornalismo e na publicidade.

    Entre as dezenas de histórias surpreendentes que o livro conta, envolvendo fotojornalistas, criticados muitas vezes pelo voyeurismo ou pela passividade, uma das mais impressionantes é a do fotógrafo Kevin Carter, que não resistiu à pressão que se seguiu à publicação de sua foto e acabou se suicidando. O que fez Carter se suicidar? Em 1993, esse repórter sul-africano de 33 anos vai ao Sudão fotografar a epidemia de fome e faz a foto de uma menininha prostrada com a cabeça no solo, espiada de perto por uma ave de rapina. Em seguida, Kevin Carter espantou a ave, espécie de urubu, e desabou num choro desesperado. A imagem foi publicada no dia 26 de março de 1993, no New York Times. O jornal recebeu uma torrente de cartas inquirindo sobre o destino da menininha. O editorial responde que o fotógrafo não sabia informar. Carter começa a receber telefonemas durante a noite dizendo que o abutre é ele.

    Em 1994, Kevin Carter recebe o prêmio Pulitzer por essa imagem. Ele se suicida dois meses depois deixando uma carta: “Vivo obcecado pelas lembranças persistentes de massacres, de cadáveres, de ódio, de sofrimento, de crianças famintas ou feridas, de atiradores enlouquecidos.” O filosofo francês Jean Baudrillard criticou violentamente no jornal Le Monde, em 2003, a foto de imprensa: “Há uma forma de assassinato no fotojornalismo. Nunca se poderá pagar a dívida a todas essas pessoas que morrem de fome e dão suas imagens aos fotógrafos de imprensa.”

    Do Charlezine.com.br

    Em março de 1993, Carter fez uma viagem para o sul do Sudão, no continente africano. O som de choramingo perto da vila de Ayod atraiu Carter a uma criança sudanesa visivelmente desnutrida vergando-se sobre a terra, esgotada pela fome, prestes a morrer, arrastando-se para um campo alimentar da ONU que distava um quilômetro dali; a qual era acompanhada de perto por um abutre oportunista que parecia esperar pacientemente por um banquete, com a morte iminente da garotinha. Ele disse que esperou aproximadamente 20 minutos, esperando que o abutre abrisse suas asas. Não o fez. Carter tirou a fotografia e perseguiu o abutre para afastá-lo. Entretanto foi criticado por somente fotografar e não ajudar a pequena menina.

    A foto foi vendida ao jornal americano The New York Times onde apareceu pela primeira vez em 26 de março de 1993. Praticamente durante a noite toda centenas de pessoas contactaram o jornal para perguntar se a criança tinha sobrevivido, levando o jornal a criar uma nota especial dizendo que a menina tinha força suficiente para fugir do abutre, mas que o seu destino final era desconhecido. Em 2 de abril de 1994, Nancy Buirski, um editor estrangeiro de fotografias do jornal, telefonou para Carter para informar que ele tinha ganho o mais cobiçado prêmio do jornalismo. Carter foi premiado com o Prêmio Pulitzer por Recurso Fotográfico em 23 de maio de 1994 na Universidade de Colúmbia em Nova Iorque. Dois meses depois, amargurado e castigado pela culpa, psiquicamente instável, viciado em drogas e destroçado pela morte de um dos seus amigos íntimos do Bang-Bang Club, Kevin Carter suicidou-se aos 33 anos e deixou esta nota de despedida:  “Estou deprimido, sem telefone, sem dinheiro para o aluguel, sem dinheiro para ajudar as crianças, sem dinheiro para as dívidas… Dinheiro! Sou perseguido pela viva lembrança de assassinatos, cadáveres, raiva e dor; pelas crianças feridas ou famintas; pelos homens malucos com o dedo no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos… Se eu tiver sorte, vou me juntar ao Ken.”

    Por muitos anos, a foto de Carter foi utilizada para sensibilizar as pessoas quanto ao tema da fome na África. Conta-se, ou pelo menos se subentende, que a menina da foto virou alimento de urubu. Contudo, uma investigação realizada pelo jornal espanhol El Mundo na vila de Ayod comprovou que a menina magérrima retratada na publicação de 1993 não morreu nesse momento, nem poucos dias depois. Segundo o pai da criança, a pequena morreu, após 4 anos, “de febres”. Ainda de acordo com o jornal espanhol, a suposta menina era, na verdade, um menino chamado Kong.

    Do Notícias USP.com

    Pesquisa do IP discute caráter de verdade e realidade das fotografias

    http://www5.usp.br/26570/pesquisaa-do-ip-discute-carater-de-verdade-e-realidade-das-fotografias/

    A tese de mestrado de Rahel Patrasso da Silva, “Além do visível: a fotografia e a óptica da psicanálise”, defendida em 13 de dezembro de 2012 e orientada pela professora do Departamento de Psicologia Clínica Maria Lúcia de Araújo Andrade, procurou fazer uma interlocução entre a fotografia e a psicanálise, para discutir o caráter de verdade e de realidade das imagens fotográficas.

    Rahel é fotógrafa e formada em Psicologia. Obteve, em 2005, o título de especialista em Psicologia Clínica pela USP com o trabalho “O feminino, a literatura e a sexuação”, e em seu mestrado “seguiu a esteira deste enlace entre subjetividade, produção discursiva e cultura”: “Sempre me pareceu curioso que, apesar de Freud, em sua primeira descrição do aparelho psíquico (no livro A Interpretação dos Sonhos, de 1900), afirmar textualmente que o psiquismo funciona no seu modo de apreensão da realidade exatamente como um aparelho óptico, tal como a câmera fotográfica, e ter utilizado a fotografia como metáfora do inconsciente por quase 40 anos, não é fácil encontrar textos de psicanalistas sobre fotografia”, diz.

    Segundo Rahel, “a discussão sobre o caráter de realidade contido em uma imagem fotográfica permeia a própria história da fotografia”. Como exemplo disso, na introdução da tese somos apresentados à Hippolyte Bayard, que fez um “Autorretrato como afogado” para denunciar o caráter ilusório da fotografia, e à Willian Henry Fox Talbot, que acreditava ser a fotografia uma maneira da natureza representar-se a si mesma. Por sua vez, a articulação entre a fotografia e a psicanálise parte do entendimento de que a primeira é um “efeito de linguagem” e, portanto, está submetida às mesmas leis que descrevem a linguagem. Para fazer essa costura e desenvolver o que a autora chamou de “a ótica da psicanálise”, são utilizados, além da comparação de Freud do aparelho psíquico com o aparelho óptico, os conceitos de “Real”, “Simbólico” e “Imaginário”, de Jacques Lacan: “Quando grafamos Real com maiúscula nos referimos ao registro do Real, que, de acordo com Lacan, especifica-se como aquilo que resiste ou escapa a linguagem e à possibilidade de simbolização. Traduzindo: na acepção da psicanálise, de acordo com Freud e Lacan, a realidade não é acessível de maneira direta e o Real é o impossível”. O entendimento de que a apreensão da verdade é “não toda”, ou, nas palavras de Lacan, de que “toda verdade é o que não se pode dizer. É o que só se pode dizer com a condição de não levá-la até o fim, se fazer semi-dizê-la”, também será fundamental para a discussão que vai se seguir.

    A foto que era mentira?

    Após a discussão teórica, o trabalho vai se centrar nas controvérsias que a foto de Kevin Carter, vencedora do prêmio Pulitzer de 1994, provocou. A foto mostra uma criança subnutrida observada por um abutre; o fotógrafo foi criticado por, supostamente, ter deixado-a à espera da morte certa depois de tirar sua foto, e cometeu suicídio no mesmo ano em que ganhou o prêmio. O jornal espanhol El Mundo produziu um documentário sobre a questão, chamado “Kong Niong, el ninõ que sobrevivió al buitre”, mas que aparece no Youtube com o nome “La foto que era mentira”. Rahel vai fazer dessa assertiva uma pergunta – a foto que era mentira? – para poder discutir o estatuto de verdade da fotografia: “O que é interessante é que toda a polêmica em torno desta imagem se especifica no que esta para além do visível, daí o título do meu trabalho”.

    O documentário, já no seu nome, esclarece que a criança sobreviveu. Rahel traz outros elementos: “A imagem mostra apenas uma criança e um abutre. Nada na imagem mostra uma menina prestes a ser devorada por um abutre, aliás, se você olhar bem, vai ver que no bracinho ela tem uma pulseira de identificação da ONU. Esta foto foi feita em um centro de alimentação, de ajuda humanitária. Nesta foto desloca-se o contexto do centro de alimentação e condensam-se elementos que podem ser interpretados, mas veja bem, ‘podem’ ser interpretados, como uma criança morrendo de fome prestes a ser devorada por um abutre faminto”. Os sentidos foram atribuídos à foto posteriormente e toda discussão ética que se seguiu, também, Ou, como disse Luis Davilla, fotógrafo que esteve no mesmo centro de alimentação três meses depois de Carter, “nesta imagem Carter apenas fez um recorte e nos presenteou com o significante; o significado nós mesmos colocamos, espectadores ocidentais que somos, atormentados por nossa suja consciência e por problemas de obesidade generalizada, desde a infância”.

    “A fotografia funciona como qualquer outra forma de representação e de linguagem, produzindo um hiato em relação à realidade. Como semblante nos faz crer que há algo ali onde não há. Isso faz com que cada imagem produza uma sequência que comporta um aquém e um além do que pode ser representado, e desta forma não pode ser um representante direto da verdade”, afirma Rahel. Mas tampouco é uma mentira: é justamente pelo fato da verdade ser “não toda”, da fotografia, como linguagem, ser incapaz de dizer tudo, que ela não é simplesmente “o suporte de uma acepção ideológica, porque necessariamente aponta para um além e um aquém do visível”.

    Mais informações: site http://www.ip.usp.br

    Do RBCS Vol. 19 nº. 54 fevereiro 2004

    FOTOGRAFIA E INTERDITO – Mauro Guilherme Pinheiro Koury in RBCS Vol. 19 nº. 54 fevereiro/2004

    http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v19n54/a08v1954.pdf

    […]

     O debate sobre até que ponto a liberdade de ações individuais são ativas e quais os limiares de admoestação do novo na sociedade contemporânea expandiu-se. O que é ético, o que é preconceito e o que é razão moral, enfim?

    Essas questões foram também suscitadas quando da discussão em torno de uma fotografia que retratava um abutre pousando, pacientemente, próximo a uma menina subnutrida. Sem condições de seguir, a criança pára, as pernas ficam o chão sem forças, ela cambaleia e senta sobre os joelhos; pela tontura do sol, da fome e da sede, sua a cabeça queda e se entrega ao abatimento. O abutre, ave de rapina acostumada a essas cenas, espera pacientemente o desfalecimento da vítima para, talvez, dar o golpe mortal e alimentar-se dos restos.

    Esta é uma descrição linear de uma fotografia tirada em 1993 por um fotógrafo sul-africano. A cena passa-se na África, perto de um campo de refugiados no Sudão. O fotógrafo estava no local para cobrir o impacto causado por mais um conflito entre etnias em disputa pelo controle estatal, na modernidade africana. Como o abutre, pacientemente, ele se posicionou e esperou, acompanhando a trajetória de dor desta pequena tragédia humana, os rodopios e o ganhar segurança da ave diante do alvo.

    Com esta foto, Kevin Carter ganhou o prêmio Pulitzer de fotojornalismo em 1994 e, algum tempo depois, suicidou-se aos 33 anos de idade.

    Ele até então era pouco conhecido no mundo do fotojornalismo. O obituário de autoria de Scott Macleod, publicado na revista Time, de 12 de setembro de 1994, informa que Carter ganhou notoriedade internacional por meio desta fotografia, e que sua repercussão se deu em um dos acasos da vida cotidiana. Fotógrafo free-lance conhecido apenas na África do Sul, segundo artigo de Judith Matloff no Columbia Journalism Review, de novembro/dezembro de 1994, após fotografar as vítimas do Sudão, retornou a Johannesburg. Por coincidência, o New York Times procurava fotografias sobre o país e comprou algumas de Carter. A fotografia da menina sudanesa foi publicada na edição de 26 de março de 1993, causando grande impacto na opinião pública norte-americana e mundial

    A notabilidade da fotografia se deveu por tocar sentimental e politicamente os olhares observadores mais diversos – do homem comum, até agências de Estado e organismos internacionais governamentais e não governamentais. Primeiro, pela violência emanada, que serviu de suporte para discursos e campanhas de controle e ajuda aos povos que vivem na extrema miséria. Segundo, pelo suicídio do autor, atribuído em bilhete a não mais ter condições de viver depois de presenciado tal ato e participado dele apenas como observador.

    Essas questões geraram um intenso debate entre fotojornalistas sobre a ética por trás da captação de imagens. Em outras palavras, a discussão em torno da busca de notoriedade ou da melhor fotografia, sem se importar com quem está sendo retratado. Desde o lado aventureiro do fotojornalismo até as alusões de que os fotógrafos eram caçadores de imagens e a discussão sobre a necessidade de pensar visualmente em campo no processo de obtenção de imagens com melhores ângulos ou qualidade técnica sobre o produto retratado, tudo foi tema de discussão. Em depoimento, o fotógrafo James Nachtwey afirma ter ouvido de Carter: “[…] você está fazendo um visual aqui, mas dentro algo está gritando! […] Mas é tempo de trabalhar. Se lida com o resto depois. Se não puder fazer isso, então saia do jogo”.

    Passou-se a refletir sobre o processo ético no ato fotográfico em si. O suicídio de Carter, nesse contexto, constituiu-se, usando suas próprias palavras, uma forma de sair do jogo e do não poder mais fazer esse tipo de trabalho. Alguns depoimentos, com o intuito de entender a fatalidade acometida, comentaram a instabilidade emocional do fotógrafo, o consumo de drogas e álcool e o fato de ele buscar notoriedade a qualquer preço. Nessa sentido, esses depoimentos queriam, na verdade, se livrar de um sentimento de culpa mais geral. Culpa presente no ato fotográfico implícito ao trabalho de fotojornalismo; culpa relativa ao consumo de imagens no mundo ocidental contemporâneo e à busca da mídia sem limites de exploração de sentimentos e de ampliação de vendagem das edições, não importando as fronteiras da moral e da ética. A relação entre venda, novidade diária e qualidade da imagem nas agências e nas mídias internacionais, em nome da informação imediata e dos furos de reportagem, impõem aos fotógrafos um modo de agir, no momento mesmo da captura da imagem – um pensar visual –, que separa o trabalho de suas vidas cotidianas.

    No meio acadêmico, a análise deteve-se sobre as formas de discurso geradas pela apropriação de imagens traumáticas – dominação e exploração ou/e sensibilização das pessoas. Kleinman e Kleinman (1997, pp. 1-24), a partir da fotografia e do suicídio de Carter, discutem as bases de apropriação do sofrimento social pela política e pela mídia contemporânea na sociedade ocidental. Falam das imagens traumáticas como representações culturais do sofrimento social e suas apropriações para propósitos políticos ou morais; discutem o uso social do sofrimento como um componente da política econômica globalizada contemporânea e da criação de um mercado pulsante para imagens e discursos sobre o tema. O sofrimento social tornou-se uma mercadoria de grande procura no mercado midiático e de políticas públicas internacionais.

    Luc Boltanski (1993) discorre sobre o sofrimento à distância para expressar as formas pelas quais a cultura popular se apropria e é estimulada a se apossar de imagens que traduzem o sofrimento social no mundo e que, nesse contexto, se tornam mercadorias. Alvos de retóricas e de representações discursivas e culturais, essas imagens são como restos pouco densos e distorcidos de uma experiência social que se passou distante dos sujeitos que a vêem. Representações culturais veiculadas por meio de imagens traumáticas, tornadas objetos temáticos, hierarquizados e estigmatizados, geralmente sob a égide protetora e intervencionista de uma moral social dominante e suas instituições.

    Conclusão

    As formas interditas ou os intercâmbios poluidores presentes no registro fotográfico e a reação sobre eles tem muito a ver com a moral. O sofrimento social publicado é repassado como um elemento particular de um fenômeno geral – idéia de ordem e segurança –, o qual deve ser enfrentado como ameaça pessoal ou por instâncias competentes. Para Douglas (1976, p. 160), é muito difícil definir as situações morais, pois elas são normalmente obscuras e contraditórias. Servem a diferentes discursos, apropriações e formas subliminares de manipulação e sedução, assim como para uma apreensão abstrata de fenômenos presentes no imaginário social e experienciado por um indivíduo ou grupo social. 

    É da natureza da regra moral “ser geral e a sua aplicação a um contexto particular deve ser incerta” (Idem, ibidem). As regras de poluição, ao contrário das regras morais, são inequívocas. O objeto fotográfico, trabalhando na fronteira, na abrangência dos códigos morais e na especificidade dos códigos de interditos e de poluição, dentro de uma idéia de experiência abstrata, retrata situações de sofrimento na ambivalência entre abrangência e especificidade e na ambigüidade das regras morais e nas expressões poluidoras e interditas. Torna-se um subproduto da ação legal ou legítima exercida institucionalmente ou, no âmbito privado, uma ameaça concreta ou potencial dos medos que perpassam a sociedade e que modelam seus membros. Pode tornar-se, além disso, uma instância de conformação e conforto sentimental e de memória na esfera da vida privada, ou de ordem e segurança no coletivo que o expressa e de onde se configuram as apropriações discursivas sobre o fato fotográfico em si como objetificação do real. 

    Para Barrington Moore (1987, p. 622), a legitimidade tende a ser aferida a qualquer princípio de inevitabilidade, seja qual for o sofrimento. Esse princípio nas fotografias traumáticas aparece representado pelas concepções de ordem e segurança que, de forma subliminar, o legitimam. Faz-se presente também na banalização e no sensacionalismo dos meios de comunicação nas sociedades ocidentais desde a Segunda Guerra Mundial. A exposição dos corpos na sua banalidade remete o olhar à naturalidade da cena, como se ela fosse algo comum e cotidiano. Reforça a indiferença e, no limite, exalta a morbidez e a inevitabilidade da violência nela contida, ou, ainda, revela o interesse de chocar.

    O sofrimento é estigmatizado e negado. É retirado de cena pela amplitude das generalizações que legitimam a morte pública e sua inevitabilidade, transformando-se em experiência abstrata e mercadoria de largo consumo.

    A fotografia traumática, ao fornecer uma coleção de objetos parciais, favorece o fetichismo e uma espécie de perversão (Barthes, 1984, p. 51). Em nome de negar a violência incorporada ao sofrimento social, ela legitima a violência em si mesma, pela descaracterização da imagem nas convenções que reforçam a inevitabilidade do ato registrado nas fotografias.

    É possível reconhecer o sofrimento social no enquadramento fotográfico, mas o que se experimenta tem a ver com uma espécie de adestramento; com o meio cultural que formou e do qual necessariamente participa o observador, dando significado às ações, às figuras e às cenas que as fotos revelam. Uma espécie de recalcamento é sombreada: restos perdidos, parcelas inacessíveis ao olhar, que assombram a imagem justamente pelo invisível nela contido, catalogado como morbidez, como inevitável, ou tratado com indiferença.

    Como se o sofrimento prenunciado das fotos perdesse seu significado, dando lugar a uma indiferenciação em que tudo se equivale. Espécie de rito de passagem traumática que interroga a linguagem, bloqueia a significação e reforça a noção de inevitabilidade.

    Noção que conota um universo regido, em parte ao menos, por forças não suscetíveis à vontade e à ação dos indivíduos, impedindo ou sufocando a indignação moral. Movimentos de auto-ilusão erigidos reforçando a perigosa capacidade humana de acostumar-se às coisas, ou de sufocar os impulsos à violência que das fotos emanam, endurecendo o olhar para enfrentar a tragédia da existência.

     

     

     

     

  12. Os bilionários irmãos Cock
    Os bilionários irmãos Cock com a ajuda de seu exercito de paneleiros tupiniquins liderados por um tal Checquer querem isso pro Brasil…palavra é arma

  13. Trata-se de um menino, em foto de 2012.

    “O ano era 2012 e o fotojornalista turco Osman Sagirli estava no assentamento para refugiados na Síria mas a foto foi postada recentemente no twitter de Nadia Abu Shaban, também fotojornalista, baseada na faixa de Gaza. A imagem viralizou, foi vista por mais de 1,8 milhão de pessoas, sendo Adi Hudea inclusive erroneamente identificado como menina em diversos posts das redes sociais (no afã de noticiar algo “viral”, sites como G1, R7 e Estadão cometeram o mesmo deslize).” Segue este ótimo texto do DCM:

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-menino-sirio-que-viralizou-nas-redes-sociais/

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