Mirian e Sardenberg, a vingança sufocando a generosidade

Do passado da jornalista

Do passado da jornalista Mírian Leitao as informaçoes que tenho sao aquelas de conhecimento geral que ficaram explícitas por ela numa reportagem da própria globo como, por exemplo, a de que ela, grávida de 4 ou 5 meses, foi militante na luta contra a ditadura militar, que chegou a ser presa e levada à um quartel do exército, acho que em MG, aonde foi deixada com pouca roupa e em pé numa sala vazia e escura aonde soltaram uma cobra que, alíás, o dono da cobra batizou com o seu nome e que de horas em horas entravam para fazer interrogatório; que ela estava retornado ao local da prisao por decisao própria e pela 1° vez depois dos acontecimentos passados; que era a 1° vez que falava sobre o assunto, pois ninguém, inclusive seus familiares, sabiam de detalhes; que sentia-se pronta para aquele encontro com o passado e decidiu gravar. Durante a reportagem poucos foram os momentos de descontraçao. Ela chorou algumas vezes e a emoçao esteve presente durante todo o tempo. Se bem me lembro, ela falou sobre insinuaçoes sexuais por parte de seus interrogadores, tapas na cara e nao foi além desse comentário.

Nos dias de hoje o que se conhece da Mírian é o que a maioria sabe – que ela é uma das “caras” mais conhecidas e destacadas de uma empresa de comunicaçao, a rede globo, que nao só apoiou mas é o que é e tem o patrimonio que tem graças às  benesses e facilitaçoes do regime político que ela, Mírian, e muitos outros combateram no passado; que a ideologia e modus operandi dessa empresa continuam sendo as mesmas daqueles tempos sombrios de perseguiçao política e repressao à liberdade de expressao; que o seu trabalho reflete a essencia  e a ideologia política que essa empresa nunca abandonou; 

Visao pessoal – Sou de uma família grande e marcada pela ditadura. Uns preferiram nao se envolver com os entraves criados pelo regime militar por motivos mil, outros militaram contra ele e, desses, alguns chegaram a ser presos mas tiveram a sorte de continuar vivos.  

A minha conclusao convivendo com eles, por décadas e que vou abstarir para definir a Mírian é a seguinte: a ideologia, um equivalente ao valor da conviçao, representa apenas um dos muitos valores humanos. Viver é dormir e acordar fazendo “escolhas” levando em conta  “o que se quer e o preço que se tem a pagar”. E a encruzilhada, o dilema que eu residi exatamente aí – no “preço” que se vai pagar ou já se pagou pelas “escolhas” que foram feitas, ou na continuidade dessa fidelidade total, parcial ou negativa em relaçao à essa convicçao ou ideologiaque que embasaram essas escolhas.. Conclui que esse “preço” é fruto de uma análise pessoal de cada um. Para alguns desses militantes da minha família o “preço pago pela escolha” foi resultado de um uma decisao firme e pessoal baseado na conviçao ou ideologia e isso nao mudou com o passar dos anos, apesar do fruto da luta nao ter sido capaz de conscientizar a massa. Para os outros, ao contrário, a valoraçao do “preço” pessoalmente pago sofreu alteraçoes e foi considerado alto. Esses últimos sempre alegaram que enquanto uns se “sacrificaram” os outros, os que se omitiram e que nada fizeram [aí referindo-se à sociedade], colheram os frutos sem sofrer as consequencias dos que lutaram pela mudança, além do que nunca tiveram ou deram o devido reconhecimento aos que militaram e demonstraram dedicaçao. Parte desses partiu para a “negaçao” do que viveram e acabaram por nutrir pela sociedade um certo “revanchismo”, algo parecido com : “voces nunca estiveram nem aí com nada ou ninguém, nao estao nem aí com o que acontece em relaçao ao mundo a sua volta ou com o sofrimento do próximo, nao lutam por nada, entao, também nao vou estar mais nem aí prá voces”.

Acho que a Mírian está nessa encruzilhada. Nao sei se é uma “negaçao” parcial ou total, mas vejo que as memórias da resistencia, da luta, ainda se confundem entre a “decisao pessoal resolvida” com a indagaçao sobre a “inércia daqueles que só colheram os frutos dessa luta” mas dela nao participaram ou se dignaram a agradeceram os esforços envolvidos.

Acredito que uma decisao ou escolha pessoal firme e resolvida nao deve reclamar revanchismo ou responsabilizaçao pela omisssao direta ou indireta de terceiros. Mas, acredito também que pessoas podem, sim, é mudar de idéias, como nao?? Isso é perfeitamente possível.

Por qualquer que seja o rumo escolhido, o que se deve evitar à todo custo é a triste situaçao de se ficar no “meio do caminho” agindo e adotando posturas que, lá no íntimo sabe-se nao sao questoes totalmente digeridas, mas que sao capazes de transmitir uma estranha sensaçao de que o que estamos fazendo pode representar, em verdade, a traiçao dà nossa própria consciencia.

Sobre o Sandenberg – ele é essa coisa que a gente conhece, nada além do nada..

Mirian

O que eu não entendo é o fato da comentarista ter sofrido torturas da extrema direita ficar hoje ao seu serviço sem entender o momento grave que vive o pais, nem NOSTRADAMOS, com todo seu pessimismo, conseguiu prever tantas desgraças ao Brasil, como essa senhora. Deveria ter sido mais humilde, no protesto contra o perfil que foi apresentado ou acrescentado.

Estocolmo é logo ali.

Pois é, no caso da pitonisa da globo, os torturadores (os dela) enfim, venceram: ela se tornou um deles.