O contexto da crise na Ucrânia

Sugerido por Gunter Zibell – SP

Do blog Um Pouco de Prosa

Algumas Considerações Sobre a Crise na Ucrânia

A Ucrânia vive uma das piores crises institucionais de sua história. Os protestos, que ocorrem desde novembro, deixam um rastro de sangue, violência e destruição no país. O próprio Ministério da Saúde do país confirmou que existem ao menos 77 mortos e 577 feridos desde o acirramento dos confrontos, na última terça feira.

A situação no país é catastrófica, mas não merece análises simplistas. O país está em uma localização geográfica estratégica entre a Europa e a Ásia. Para compreender o que está acontecendo na Ucrânia é necessário se debruçar sobre a história e as motivações existentes no país.

O Contexto Histórico

As raízes da Ucrânia atual estão na Rus Kievana – o principado de Kiev. A Crônica de Nestor nos diz que o viking sueco Rorik fundou, em 862 a.D, o condado de Novgorod, no mesmo lugar onde se encontra, hoje, a cidade de nome similar. Em 880, aproximadamente, a capital do condado foi transferida para Kiev.

A primeira observação importante precisa ser feita aqui: essa data também é considerada a data de fundação da Rússia como Estado. Ucrânia, Rússia e Bielo-Rússia consideram essa data o marco originário de seus Estados nacionais. Com a dissolução do Principado de Kiev,  no século XII, parte da herança cultural eslava acabou indo para Moscou. O fato é quemuitos russos ainda consideram Kiev (e a Ucrânia, como um todo) como parte histórica de seu território, tendo em vista que o país se originou do Principado de Kiev.

A região de Kiev esteve, até o século XVII, sob domínio de lituanos e poloneses. Nessa época, os cossacos organizaram uma rebelião contra o reino polonês, que impunha um regime de servidão aos habitantes das margens do Dniepre (rio que corta a Ucrânia e passa por Kiev). Esse momento histórico é importante porque, em 1648, o Império Russo se aliou aos poloneses para reprimir a rebelião cossaca. E, como recompensa, se apropriou do território.

Nesse período, russos e ucranianos já eram povos distintos, inclusive no idioma. Enquanto os russos levaram consigo a herança do Principado de Kiev para expandir seu Império após o recuo dos mongóis, no século XIV, os ucranianos tiveram mais contato com a cultura bizantina e com os povos do Cáucaso.

Essa compreensão não era compartilhada pelo Império Russo. No século XIX, os czares implantaram uma política de “russificação” intensiva no território ucraniano e proibiram a utilização do idioma ucraniano em lugares públicos. Qual a importância disso? Essa “russificação” começou a mudar o perfil demográfico do leste e do sul da Ucrânia, tornando predominantes na região os habitantes de etnia russa.

Com a Revolução Russa e a anexação da Ucrânia pela União Soviética, o processo se agravou. Stálin combateu o nacionalismo ucraniano por todo o seu governo. Na década de 30,  a arma de Stálin foi a coletivização forçada que causou a grande fome de 1932-1933, conhecida como Holodomor, reconhecida como genocídio étnico por mais de 20 países. Após a 2ª Guerra Mundial, o exército soviético combateu milícias nacionalistas até esmagá-las definitivamente, em 1955. Tudo isso serviu para alimentar o ressentimento histórico dos nacionalistas ucranianos contra a opressão dos russos.

A Independência

Com a derrocada do bloco soviético, a Ucrânia declarou independência em 24 de agosto de 1991. O processo político de independência foi relativamente tranquilo, com a Rússia enfraquecida. Mas o processo econômico não foi. Na década de 90, a Ucrânia passou pelo maior processo de empobrecimento que um país “em paz” sofreu, durante o século XX. Foram DEZ anos seguidos de recessão econômica. No final de 2000, o valor do PIB ucraniano representava apenas 41% do valor do PIB ucraniano em 1991. Reparem na insanidade dos dados de crescimento econômico ucraniano no gráfico abaixo:

 wikimedia commons)

Crescimento do PIB ucraniano 1990-2014 (Fonte: wikimedia commons)

Existem dois problemas nesse processo de empobrecimento. O primeiro é o mais óbvio: nenhum país empobrece de tal forma sem consequências catastróficas. O empobrecimento provocou o aumento da violência, a emigração em massa de ucranianos para outros países da Europa, como Portugal, e o enfraquecimento do governo do país, que já era débil.

O segundo problema é o de que nenhum empobrecimento dessa dimensão ocorre naturalmente. A Ucrânia foi espoliada na década de 90. A economia nacional sofreu na mão de diversas máfias, que contrabandeavam tudo o que podiam de um país caótico, sem um governo exercendo um mínimo de controle. De armas a produtos agrícolas, as perdas enfrentadas pela Ucrânia na década de 90 foram inestimáveis. E inserem um novo componente de ressentimento nacionalista aos ucranianos: a grande maioria dessas máfias era de origem russa, muitos “mafiosos” da época se apropriaram depois de empresas russas e até mesmo tomaram parte em governos como o de Vladimir Putin.

Estava armada a bomba.

O Contexto Atual

Um país empobrecido, em crise econômica e dividido politicamente. Era assim que a Ucrânia adentrava o século XXI. Nesse cenário, a divisão política na Ucrânia oscila entre o nacionalismo extremo e os “russistas” extremos, que querem ver o país sob comando russo de novo. O resultado dos últimos dez anos de eleições mostra claramente a divisão política e étnica do país:

 geocurrents.info)

Mapa eleitoral ucraniano 2004-2012 (Fonte: geocurrents.info)

Na eleição de 2004, Viktor Yushchenko (pró-ocidente) foi envenenado e a eleição foi fraudada pelo presidente da época, Viktor Yanukovich (sim, é o mesmo presidente de hoje). A fraude e o envenenamento culminaram na “Revolução Laranja”, pacífica e de caráter nacionalista. Yushchenko assumiu o poder em 2005.

É bom lembrar que a Rússia não vê com bons olhos a aproximação da Ucrânia com o ocidente. Exemplo disso é o das crises no fornecimento de gás natural da Rússia para a Ucrânia, em 2006 e em 2009. Durante governos ucranianos pró-ocidente. É bom frisar que o gás natural é essencial para o aquecimento das casas durante o rígido inverno do país, e que, durante a crise de 2006, em que o fornecimento de gás chegou a ser cortado pela Rússia, foram registradas diversas mortes por conta do frio na Ucrânia.

No entanto, os governos pró-ocidente da Ucrânia, de Yushchenko e Yulia Tymoshenko, foram marcados pela corrupção e pela crise econômica de 2008 (reparem nos 15% de queda do PIB ucraniano em 2009, no gráfico acima).

Nesse cenário de crise, Viktor Yanukovich ganhou as eleições presidenciais de 2010 e promoveu uma aproximação com o regime de Putin. Além disso, promoveu o que a oposição julgou como “perseguição política” de seus adversários: a Justiça da Ucrâniaprendeu Yulia Tymoshenko em 2011, por corrupção e abuso de poder em contratos de gás natural, com base em leis existentes na época da União Soviética. O parlamento ucraniano só aprovou a sua libertação da prisão hoje (sim, 3 anos depois, em meio à crise institucional).

O estopim das manifestações foi a recusa de Yanukovich em assinar um acordo de aproximação do país com a UE, em novembro de 2013. O problema é que a reação de Yanukovich às manifestações foi a pior possível: reprimiu os protestos e conseguiu incentivos de R$ 36 bilhões do governo Putin. Isso inflamou os nacionalistas do país. E deu protagonismo aos setores mais extremistas, com ligações com a extrema direita.

Aliás, o conceito de esquerda e direita é muito OBTUSO na Ucrânia, que passou mais de 70 anos sob uma ditadura de esquerda. Em um cenário de opressão histórica, de luta por afirmação nacional e de crise econômica quase permanente, o nacionalismo ucraniano adquiriu caráter fortemente anti-comunista.

E, sim, existem muitos neonazistas entre os nacionalistas ucranianos, por uma razão histórica bizarra: nostalgia da luta nazista contra a União Soviética, na 2ª Guerra Mundial. Historicamente, foi a última vez em que a Ucrânia não esteve sob poder soviético por algum período, antes da independência.

É uma espécie de Síndrome de Estocolmo política: os nazistas e comunistas eram genocidas iguais. Mas para os nacionalistas de extrema direita ucranianos, QUALQUER COISA parece ser melhor que a Rússia.

Para piorar, Yanukovich promulgou em janeiro uma lei “anti-terrorismo” pra reprimir manifestações nos moldes da que está tramitando em nosso Congresso. Daí a situação degringolou de vez. Os protestos se tornaram mais violentos, a repressão policial também, e a coisa chegou no estado atual, beirando uma guerra civil. A revogação da lei, duas semanas depois, não teve nenhum efeito prático sobre as manifestações.

O presidente Yanukovich perdeu legitimidade dentro do país e também no exterior. A reivindicação geral é a da renúncia imediata de Yanukovich e de todo o seu gabinete. A sensação na Ucrânia é a de que não existe mais negociação política possível com Yanukovich. Qualquer coisa só pode ser feita sem ele.

Yanukovich, por sua vez, se recusa a deixar o poder. Ao mesmo tempo em que chama os líderes opositores para negociar, reprime os protestos violentamente e coloca o exército em prontidão. Líderes da oposição, como Arseniv Yatsenyuk, Oleh Tyahnibok e o ex-campeão de boxe Vitaly Klitschko, perdem credibilidade entre os jovens do país ao sentar na mesa de negociação com o presidente Yanukovich, que não é mais considerado um governante legítimo pela população.

Com isso, surgem lideranças mais extremistas protagonizando os protestos na rua, como o  partido ultranacionalista Svoboda (de Oleh Tyahnibok) . Além dessas lideranças, há uma massa imensa de jovens ucranianos apartidários e desiludidos com a política protestando em diversos lugares.

O foco dos protestos está em Kiev, mas também há manifestações permanentes em cidades como Lviv e Odessa, além de outras menores. Alguns prédios públicos, como delegacias de polícia, seguem ocupados por manifestantes em diversas cidades no oeste do país.

Consequências e Implicações

Ninguém sabe qual é o futuro das manifestações e nem no que vai dar. Mas qualquer cenário tende a ser catastrófico se não tiver a devida atenção da comunidade internacional.

60% do gás que a Rússia transporta para a Europa passa pela Ucrânia, incluindo as rotas para Frankfurt e Milão. Além disso, a Ucrânia conta com a maior produção agrícola da Europa em ítens essenciais, como trigo e milho.

Uma guerra civil generalizada, que parece ser a pior possibilidade no momento, colocaria em risco a produção agrícola do país e, em uma situação mais extrema, até mesmo os gasodutos que passam pelo país.

A Rússia tem muito interesse na situação ucraniana. O acordo de Putin com Yanukovich, no final do ano passado, mostra isso. Mas, no momento, parece impensável da parte da Rússia uma invasão territorial como a que ocorreu na Geórgia, em agosto de 2008, para apoiar o movimento de independência da Ossétia do Sul e da Abkházia. Um movimento desses amaeaçaria o próprio governo de Putin, que perderia legitimidade junto à comunidade internacional com a invasão de um país independente.

Com o banho de sangue dessa semana, a situação é imprevisível. Os confrontos seguem ocorrendo em Kiev, apesar da assinatura de um acordo de paz nessa tarde entre Yanukovich e a oposição. Talvez seja tarde demais para conter a fúria dos opositores radicais do regime, que querem, no limite, extirpar toda a influência russa existente na Ucrânia, da mesma forma com que czares russos e líderes soviéticos como Stálin tentaram fazer com os próprios ucranianos até meados do século XX.

ATUALIZAÇÃO – no sábado, 22 de fevereiro, ocorreram algumas coisas importantes:

– Victor Yanukovich deixou Kiev, e o Parlamento ucraniano votou por sua deposição, por 328 votos a zero. Os parlamentares do partido de Yanukovich se retiraram antes da votação (o Parlamento ucraniano tem um total de 450 deputados). Eleições gerais foram marcadas para 25 de maio. O oposicionista Vitali Klitschko e o líder do Svoboda Oleh Tyahnibok já se lançaram candidatos.

– Yanukovich não reconheceu sua deposição, continua se considerando presidente do país e acusa o Parlamento de promover um golpe de Estado. Não se sabe o seu paradeiro atual,  massuspeita-se que ele esteja em Kharkhiv, no leste do país, com sua guarda pessoal. Eletentou subornar guardas da fronteira do controle aéreo de Donetsk para sair do país, sem sucesso.

– A líder da oposição e ex-primeira ministra Yulia Tymoshenko foi libertada da prisão, e fez um discurso emocionado na Praça da Independência. Ela admitiu que também pode se candidatar à presidência da Ucrânia nas eleições de maio.

– Cresceram os protestos pró-Rússia na Criméia, especialmente em Sevastopol. Grupos da região, que é predominantemente russa e não apoiou os protestos, sugerem secessão caso a deposição de Yanukovich seja realmente confirmada.

Outros Textos Interessantes sobre o tema:

“What’s Happening in Kiev Right Now is the Vladimir Putin’s Worst Nightmare”, no The New Republic

“Ucrânia Cruzou Linha Sem Volta”, de Fiodor Lukianov, na Gazeta Russa

“Qual é o futuro da Ucrânia?”, do José Antônio Lima, na Carta Capital

“Análise: por que a crise na Ucrânia é importante?”, da BBC Brasil

“Facism, Russia and Ukraine”, do New York Review of Books

Redação

22 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Acabará como na Yoguslávia?


    Gunter, parabéns e obrigado pelo excelente e esclarecedor texto.

    Com esse histórico, não parece ser possível um acordo entre as regiões opostas na Ucrânia. Parece inevitável a secessão.

     

     

    1. Parece que sim, que há possibilidades de divisão de país

      Uma vez que a questão é muito mais de polarização étnica e geopolítica que ideológica. 

      O texto não é meu, foi uma dica que recebi e achei bom compartilhar.

      Meu é este de duas semanas atrás:

      http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/a-torcida-anti-eua-e-a-fantasia-do-urso-de-papel

      A coisa mais tosca que estou vendo no facebook, no entanto, é gente torcendo para a Rússia interromper fornceimento de gás.

      E, infelizmente, quem está nessa torcida de ver circo pegando fogo é quem se autodenomina de esquerda, só por Yanukovich ser moderadamente anti-norteamericano. 

      Isso não vai acontecer não por bom senso, mas porque o estado russo é dependente de exportações.  Metade das receitas do estado vêm disso.

      E o PIB da U.E. é umas 5 a 8 vezes (dependendo da medida) o da Rússia. É claro que várias forças políticas ucranianas, especialmente da porção oeste menos industrializada, prefiram essa parceria.

       

      1. Bem interessante o texto que

        Bem interessante o texto que trouxe. Lembra algumas coisas boas que li por aí em inglês.

        E também acho que o caminho será mesmo o da divisão do país. Talvez seja a melhor opção, ou pelo menos, a menos “traumática”, provavelmente, considerando todos os fatores levantados.

        Mas apesar da questão da diferença do PIB, que você cita no final, a Rússia ainda é o principal parceiro comercial da Ucrânia, sendo o principal comprador e vendedor. No longo prazo, a aproximação com a EU deve ser mais benéfica, mas no curto, quem tá acenando com dinheiro são os russos.

         

        1. psé…

          Com sorte será como a divisão da Tchecoslováquia.

          Cabe agora à U.E. fazer ofertas de empréstimos. Será que fará?

          Mas é mais um episódio em que ter bombas e capacidade militar dissuasória não está ajudando a Rússia a aumentar sua influência. 

          Vejamos o outro post sobre a possível queda de preços de energia (aquele da Am. Latina.) Não será num contexto assim que a Rússia ficará em posição de impor coisas a parceiros comerciais.

          Acho que nem estimular a tal divisão o fará.

           

          1. Pior,  tinha esquecida da

            Pior,  tinha esquecida da divisão, aparentemente pacífica (desconheço detalhes), da Tchecoslováquia. E podemos ter em breve, Escócia e a Catalunha independentes também.

            Eu li em algum lugar, que não lembro do grau de credibilidade, e nem fui atrás de detalhes para ver se tinha fundamento, que em algum ponto do acordo com a UE poderia entrar o FMI…o que me deixou com um pé atrás. Mas de qualquer forma, cabe ao povo ucraniano (ou dos países que brotarem dessa história toda) definir com quem fazer acordo.

            A única certeza que tenha depois desse drama ucraniano e também do que ocorre na Venezuela, é que o mundo precisa de mais democracia (participativa) e não de menos. O modelo atual de deixar tudo na mão de “eleitos”, que decidem arbitrariamente os rumos de um país em nome do povo, parece estar chegando ao limite. Fica a impressão que qualquer fagulha pode provocar um incêndio.

      2. Não, Gunter, a UE não tem

        Não, Gunter, a UE não tem nada pra oferecer à Ucrânia, se tivesse, já teria oferecido para a Grécia e outros mebros da UE que foram completamente abandonados a própria sorte com a crise.

        A Rússia é o grande parceiro comercial e financeiro da Ucrânia, de quem esse país também depende para seus recursos energéticos. A Ucrânia depende mais da Rússia do que o contrário. A questão ideológica é superficial, tanto interna como externamente. A classe média burra ucraniana acredita que, com maior aproximação da UE, conseguirão elevar seu padrão de vida, se tornarão europeus. Isso se parece com a classe média burra daqui, que acredita que, maior submissão(eles dizem aproximação)com os EUA, elevaremos nosso padrão de vida. Um poderoso argumento é o preço dos videogames nos EUA, essa a referência, o que é bastante ilustrativo do nível intelectual dessa classe média.

        Na Ucrânia, como aqui, essa classe média ignorante é facilmente manipulada por grupos de interesses oriundos da farra neoliberal dos anos 90(mais uma semelhança com o Brasil). Na Ucrânia, eles defendem um acordo de livre-comércio com a UE(que não beneficiaria a população da Ucrânia em nada), assim como aqui defendiam a Alca, para nos transformar em um novo México, único país que apresentou aumento nos níveis de miséria na última década.

        A polarização eles dão um jeito de encontrar, pois existe em qualquer lugar. Se na Ucrânia há divisões étnicas, no Brasil há divisões sociais; se lá a separação é territorial, em bases étnicas, no Brasil ela é social, por meio da exclusão(vide o escândalo dos rolezinhos).

        A questão principal é geopolítica e externa: a guerra dos gasodutos, a mesma questão na Síria. Tanto Ucrânia quanto Síria são rotas de gasodutos destinados ao mercado consumidor europeu, o maior do mundo(na Síria, dois projetos, o gasoduto do Irã, xiita, e do Qatar, sunita e aliado dos ocidentais). Questões ideológicas servem apenas para mascarar a questão geopolítica.

        Note que, a primeira medida do parlamento ucraniano(com governo não reconhecido pela Rússia)foi reduzir os poderes do executivo. Isso porque a Ucrânia seguia o modelo implementado por Putin na Rússia, que deu fim a farra das oligarquias neoliberais durante os anos 90.

        Se a Rússia cortar o suprimento de gás, a Ucrânia congela no inverno, se os ucranianos ameaçarem nacionalizar os gasodutos(localizados am áreas russófilas do país)o Exército Vermelho invade e divide o país(já há movimento separatista no leste), separando o rico oriente do empobrecido ocidente.

        1. O que está pensando os
          O que está pensando os nacionalistas russos? será que eles estão gostando de ter uma nova base americana nas suas portas.

          É lógico que isso levará a mágoas, a Rússia vai reagir.

          Pode ser economicamente (não fornecendo gás para a Ucrânia), pode ser dividindo o país em dois, pode ser intervindo ou provocando uma guerra civil que leve o país a se esfacelar.

          Nos três casos nem a União Europeia, nem os Estados Unidos não farão nada, pois não vão provocar uma nova guerra mundial por causa dos eslavos ucranianos.

    2. O grande problema que o país
      O grande problema que o país está dividido, e isto poderá levar a dois caminhos:

      a) Divisão em dois estados um ocidental e outro oriental mais ligado a Rússia;

      b) Uma guerra civil de proporções não calculadas, pois a Rússia deverá ajudar (quando não intervir), a seus aliados e a Europa e os Estados Unidos apoiarão os ocidentais, isso levará a uma guerra civil que poderá levar ao mundo momentos teneborsos, afinal os dois lados possuem bombas atômicas.

      É lógico que a Rússia não aceitará bases militares na Ucrânia, algo semelhante aos mísseis de Cuba, e isso é algo de proporção muito maior do que acontece no Oriente Médio.

      Putim deve estar recebendo muitas pressões de grupos ultra nacionalistas Russos.

      Creio que se houver uma Guerra civil, esta levará a dois caminhos:

      a) Algo parecido com que ocorreu na Iuguslávia ou para ir mais longe, como na Espanha na década de 30;

      b) O pior cenário que é a intervenção da Rússia e algo muito mais sério que pode beirar a uma guerra mundial.

  2. Derrubam monumento erguido para soldados que lutaram contra naz

    Ucranianos derrubam monumento erguido para soldados que lutaram contra nazismo

     

    Stryi.com.ua

    Em oposição a Yanukovich, grupos de ultradireita comandam ações na capital Kiev para retirar lembranças da União Soviética

    24/02/2014

    Dodô Calixto

    do Opera Mundi

    O “Soldado Soviético”, monumento erguido na Ucrânia em lembrança às tropas que lutaram contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial, foi derrubado neste domingo (23/02) na região oeste do país. O ato foi realizado por opositores ao presidente Viktor Yanukovich e ligados à ultradireita europeia. O objetivo, segundo os próprios manifestantes, é “limpar símbolos da União Soviética”. “Nós não somos a Rússia nem soviéticos”, cantavam durante o protesto.

    As informações foram noticiadas pelos portais Stryi e RT; clique aqui e veja o vídeo da praça já sem a obra em homenagem aos soldados.

    A queda do monumento na cidade de Stryi é mais um episódio envolvendo as diferenças políticas no país. Diversos especialistas confirmam que, além dos problemas sociais e econômicos, o embate ideológico e cultural da população foi o principal estopim da crise

    As ruas de Kiev foram tomadas nas últimas semanas por opositores a Yanukovich, que, ligados à ultradireita da Europa, defendem um projeto liberal, de abertura de mercado e afastamento da Rússia.

    Esse posicionamento ganhou apoio da UE (União Europeia) e de credores internacionais. A Ucrânia é um importante polo energético da  Europa e desperta o interesse do mercado financeiro. Foi esta corrente – que assume sua vertente nazista – que derrubou monumentos soviéticos ao redor do país e rechaça trégua com Yanukovich.

     Clique aqui e leia o histórico político no país no blog “Um pouco de prosa”

    Na posição dos opositores, que tomaram violentamente às ruas de Kiev por semanas, se associar ao bloco europeu e às políticas liberais europeias representaria “liberdade econômica e social” e um completo rompimento com a Rússia. O vídeo “Eu sou uma ucraniana” com uma jovem que contesta o presidente Yanukovich virou viral na internet – com mais de 6 milhões de visualizações – exemplifica a demanda dos manifestantes. 

    Como consequência da crise, o Parlamento destituiu o presidente Viktor Yanukovich na manhã de ontem (22) após semanas de pressão, dando contornos dramáticos a situação política da Ucrânia. Hoje, Alexandr Turchinov, líder do Parlamento e aliado da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, foi nomeado presidente interino do país. A nomeação foi aprovada por 285 dos 339 deputados presentes no plenário.

    Para entender o que está acontecendo na ex república soviética, Opera Mundi conversou com Solange Reis, coordenadora do Opeu (Observatório Político dos EUA). Segundo ela, o que está em curso no país não é um levante popular, e sim um golpe da ultradireita, fomentado pelas potências ocidentais.

    “O que está acontecendo na Ucrânia é uma clara derrubada do governo com ajuda externa”, disse. De acordo com a especialista, a “tendência é olhar isso como uma manifestação popular para mudança de um regime. No entanto, as forças políticas de extrema-direita que participam nas manifestações têm forte influência de potência ocidentais, sobretudo União Europeia e EUA”.

    http://www.brasildefato.com.br/node/27551

  3. Rabinos temem atentados anti-semitas após protestos na Ucrânia

    Rabinos temem atentados anti-semitas após protestos na Ucrânia

    Líderes religiosos recomendaram à comunidade que se mantenha vigilante e, se possível, que deixem o país

    Enviar para um amigo  
    Diminuir fonteAumentar fonte

    O rabino-chefe da Ucrânia lançou um aviso aos país em seu país: esteja vigilante, mantenha-se longe dos protestos e evite o centro de Kiev.

    Yaacov Dov Bleich falou da delicada situação dos 200 mil judeus na Ucrânia durante uma entrevista na noite de domingo a um programa da rádio americana WABC, em Nova York.

    — Temos uma comunidade muito, muito grande de jovens famílias com filhos que vivem em Kiev — disse. — Não há dúvidas: a comunidade judaica precisa ficar vigilante e esperar para ver.

    O rabino continuou:

    — Os judeus são membros da sociedade civil na Ucrânia. Somos uma minoria. Vivemos pacificamente durante os últimos 22 anos de independência ucraniana, e assim queremos continuar. A comunidade se desenvolve e queremos nos sentir seguros, protegidos. Não queremos nos preocupar com ataques sejá lá de onde venham.

    O rabino de Kiev, Moshe Reuven Azman, já havia pedido, na sexta-feira que os judeus da capital ucraniana deixem a cidade e, se possível, o país, por medo de manifestações de anti-semitismo, segundo o Jerusalem Post.

    O site Israel National News alertou que, durante os protestos, lojas judaicas foram vandalizadas e representantes da comunidade foram ameaçados.

    — Disse a minha congregação que deixasse o centro da cidade ou a cidade, e, se possível, o país, também. Não quero tentar o destino, mas há alertas constantes quanto às intenções de ataques a instituições judaicas — disse o rabino Azman.

    http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2014/02/rabinos-temem-atentados-anti-semitas-apos-protestos-na-ucrania-4429211.html

     

  4.  
    Parei a leitura aqui:
     

     

    Parei a leitura aqui:

      ” O país está em uma localização geográfica estratégica entre a Europa e a Ásia.”

     Uma das inúmeras respostas:

      Então que Putin se declarasse asiático junto com a sua( SEM ASPAS) Rússia.

           Não é o que ele faz.

             A Russia além de pertencer a Europa ,ainda quer que paises dependente da ajuda financeira dela, se declatem ”russistas”– sei lá o que isso signigica.

                 Fazer parte da U E é um direito , sobrevivência intelectiual e sobretudo assumir que pertence a Europa num todo. Putin não pensa assim; ele nem quer aliança com a Europa e muito menos com a Asia.

             Como todo Czar ele quer o ”putinanismo”.

                O que,convenhamos, é impossível nos tempos atuais.

                  Mortes desnecessárias aconteceram na Ucrania,pelo simples bel prazer de uma Russia corrompida por falcatruas e dominada por um ditador( sim ,ele é ditador, apesar das ”eleições”) que se julga dono dela.

               Há várias maneiras de ser ditador: A pior delas é com o ”voto”.

  5. Rabinos temem atentados

    Rabinos temem atentados anti-semitas após protestos na Ucrânia

    Líderes religiosos recomendaram à comunidade que se mantenha vigilante e, se possível, que deixem o país

     

    O rabino-chefe da Ucrânia lançou um aviso aos país em seu país: esteja vigilante, mantenha-se longe dos protestos e evite o centro de Kiev.

    Yaacov Dov Bleich falou da delicada situação dos 200 mil judeus na Ucrânia durante uma entrevista na noite de domingo a um programa da rádio americana WABC, em Nova York.

    — Temos uma comunidade muito, muito grande de jovens famílias com filhos que vivem em Kiev — disse. — Não há dúvidas: a comunidade judaica precisa ficar vigilante e esperar para ver.

    O rabino continuou:

    — Os judeus são membros da sociedade civil na Ucrânia. Somos uma minoria. Vivemos pacificamente durante os últimos 22 anos de independência ucraniana, e assim queremos continuar. A comunidade se desenvolve e queremos nos sentir seguros, protegidos. Não queremos nos preocupar com ataques sejá lá de onde venham.

    O rabino de Kiev, Moshe Reuven Azman, já havia pedido, na sexta-feira que os judeus da capital ucraniana deixem a cidade e, se possível, o país, por medo de manifestações de anti-semitismo, segundo o Jerusalem Post.

    O site Israel National News alertou que, durante os protestos, lojas judaicas foram vandalizadas e representantes da comunidade foram ameaçados.

    — Disse a minha congregação que deixasse o centro da cidade ou a cidade, e, se possível, o país, também. Não quero tentar o destino, mas há alertas constantes quanto às intenções de ataques a instituições judaicas — disse o rabino Azman.

    rhttp://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2014/02/rabinos-temem-atentados-anti-semitas-apos-protestos-na-ucrania-4429211.html

    Imprimir

     

    1. Teem o que temer, a história

        Ou a volta do ” Ukrainische Hilfspolizei ” .

         ” A cidade onde se estuda mais profundamente a Torah, as yeshivas sempre cheias de jovens, um paraiso de sabedoria, até chegar a Jerusalem, no ano que vem ” – pensamento hassidico, seculo XIX.

          A cidade: Hoje Lviv, anteriormente Lemberg ou Lwów, até 1919 alemã com forte população judaica, de 1919 até 1939 polonesa, de 1939 até 1991 soviética, de 1992 – 2014 ucraniana, significativamente a cidade de onde vieram a amiria dos atuais “nacionalistas ucranianos”.

           Estes mesmos nacionalistas, que junto com poloneses, atacaram a população judaica desta região, primeiramente no “Pogrom Lwów de 1918 “, cumprindo o “ritual comum destas ocasiões: estupros, roubos, assassinatos em sequencia – mas mataram poucos, entre 1000 – 2000, não foram “cientificos”.

            Já o “Grande Pogrom 1941 – 1942 “, mesmo sendo considerados pelos alemães como uma sub-raça, os ucranianos-ocidentais, facistas e cristãos, foram convocados pelo RSHA/SS, e formaram os “UK” ou “Hiwis” (auxiliares da SS-Polizei), e “cientificamente”, arregimentaram em Lwów/Lviv, todos os judeus que viviam, ainda, na Ucrania Ocidental, em um grande gueto, 200.000 pessoas – exterminaram 180.000, em poucos meses – os sobreviventes despachados para os KZs próximos (Janowska na Polonia era o maior deles), destes 20.000, uns 50% pereceram lá, os demais acabaram seus dias nas camaras da morte de Auschwitz-Birkenau.

              P.S.: Pouco se comenta, mas nos KZs de exterminio, somente o controle administrativo e a operação das camaras de gás, eram alemãs, os “guardas” em sua maioria eram ucranianos ( Dejamchuk é o tipico, nacionalista ucraniano da época, jovem, com menos de 20 anos de idade, cuja “diversão” era treinar pontaria em prisioneiros).

              Quantos judeus existiam em Lwów/Lviv, em 1944, quando da entrada na cidade do Exército Vermelho ?

               Resposta: menos de 100 ( escaparam por se juntarem as guerrilhas soviéticas da area de Krivoy-Rog e Pripet), de uma população maior que 250.000 em 1941/42.

               É ou não para o Rabi, ficar preocupado, com os novos “nacionalistas ucranianos” ?

      1. Continuando

           Para os que creem que estas informações sobre os diversos “pogroms” promovidos na Ucrania, são “coisas do passado”, a ultima tentativa seletiva de assassinato de judeus, foi em 1993 na cidade de Vinnitsa ( que tinha eleito um prefeito de “raizes judaicas”), e em 2010 o movimento “Svoboda”, um dos principais participes do atual governo, teve 10,45% dos votos validos nas eleições, mais de 90% destes obtidos na Ucrania Ocidental, com uma plataforma politica abertamente anti-semita.

  6. Moniz Bandeira na Carta Maior

    Moniz Bandeira aponta aliança entre ONGs ocidentais e neonazistas na Ucrânia

    Os Estados Unidos e a União Europeia estão dispostos a se aliar não importa com quem desde que isso enfraqueça a Rússia, diz o historiador.

    Os protestos de rua que vem sacudindo a Ucrânia nas últimas semanas são resultado, em grande medida, de uma articulação bizarra entre ongs e fundações norte-americanas e europeias e o partido neonazista Svoboda, liderado por Oleg Tiagnibog. Os Estados Unidos e a União Europeia estão dispostos a se aliar não importa com quem desde que isso enfraqueça a Rússia e permita a instalação de tropas da OTAN na Ucrânia. Esse é o pano de fundo desses protestos. A avaliação é do cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor, entre outras obras, de A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e Dimensão Estratégica dos Estados Unidos (Editora Civilização Brasileira), onde examina o papel dos Estados Unidos na eclosão e o desenvolvimento de recentes rebeliões na Eurásia, na África do Norte e no Oriente Médio.

    Para Moniz Bandeira, os recentes acontecimentos que convulsionaram vários países no Oriente Médio, na Eurásia e norte da África devem ser entendidos no contexto da estratégia de “full spectrum dominance” (dominação de espectro total) que os EUA continuam implementando contra a presença da Rússia e da China naquelas regiões. Em entrevista à Carta Maior, Moniz Bandeira analisa a situação da Ucrânia e identifica os grupos que, segundo ele, estão apoiando e promovendo as manifestações: 

    “ONGs, tais como Open Society Foundations [OSF], Vidrodzhenya (Reviver), Freedom House, Poland-America-Ukraine Cooperation Initiative e outras, finaciadas pelos Estados Unidos, através da USAID, National Endowment for Democracy e CIA, bem como fundações alemãs. Foram elas que promoveram a denominada Revolução Laranja, que derrubou o governo de Leonid Kuchma (1994-2005)”. 

    “Os chamados ativistas, que instigam e lideram as demonstrações pro-Ocidente, pertencem, em larga medida, a comandos do Svoboda e de outras tendências neo-nazis, levados de Lviv (Lwow, Lemberg) para Kiev e manifestam claramente tendências xenófobas, racistas, anti-semitas e contra a Rússia”.

    A União Brasileira de Escritores e a Academia de Letras de Minas Gerais indicaram o nome de Moniz Bandeira para o prêmio Nobel de Literatura em 2014, cuja escolha será feita em outubro pela Academia Sueca.

    Qual a sua avaliação sobre os recentes protestos que vem sacudindo a Ucrânia? 

    Moniz Bandeira –  A Ucrânia nunca teve unidade étnica e daí a fragilidade do Estado nacional que lá se formou. Até o século XII, chamada Rus’ Kievana  ou Kyïvska Rus, era uma confederação de tribos eslavas orientais, virtualmente oa maior potência da Europa, ao abranger a atual Bielo Rússia e parte da Rússia.
     
    Desintegrou-se, porém, e esteve envolvida em constantes guerras entre russos, poloneses, cossacos e lituanos. Em 1795, a antiga Rus’s Kievna, ao oeste do rio Dnieper, que desemboca no Mar Negro, foi repartida. A Rússia anexou a maior parte da região, todo o Kanato da Criméia, e o  Império Austro-Húngaro, sob a dinastia de Habsburg, dominou a outra, incluindo a Galitzia (Halychyna), na Europa Central, até 1918. 

    Durante a guerra civil na Rússia, após a Revolução Bolchevique (1917), lá combateram diversas facções. Após o Exército Vermelho derrotar as forças contra-revoluicionárias do general Antón Denikin e os anarquistas comandados por Nestor Makhno, a República Soviética da Ucrânia constituiu-se como Estado nacional e, em 1922, somou-se às Repúblicas Soviéticas da Rússia, Bielorrusia e Transcaucasia, na formação da União Soviética. Após o Pacto Molotv- Ribbentrop, ela reincorporou ao seu território a Galitzia e Volhnia, que integravam a Polônia, bem como recebeu da Romênia a Bessarábia, o nordeste de Bukovina e a região de Hertza. A opressão do regime stalinista, entre outros fatores históricos, gerou, no entanto, forte e profundo sentimento anti-soviético e, conseqüentemente, anti-russo. Uma parte da população não só saudou as tropas nazistas, como libertadoras, quando invadiram a Ucrânia em 22 de junho de 1942, como lutou ao seu lado. Porém, a maioria incorporou-se ao Exército soviético e a brutalidade nazista reforçou ainda mais a resistência.

    Em 1945, libertada, a República Soviética da Ucrânia foi um dos países fundadores da ONU, mas Stalin não conseguiu colocá-la, como membro permanente, no Conselho de Segurança. A Grã-Bretanha opô-se. Não queria que a União Soviética com mais um voto, com direito a veto, no Conselho de Segurança. E daí que os dois países não aceitaram que o presidente Franklin D. Roosevelt, conforme prometera ao presidente Getúlio incluisse também o Brasil, porque estava então estreitamente vinculado aos Estados Unidos.  

    Quais são as causas e os principais protagonistas dos atuais protestos?

    Moniz Bandeira – As causas das demonstrações são, sobretudo, geopolíticas e estratégicas. O que está em jogo não é, na realidade, a adesão da Ucrânia à União Européia. Não é questão de livre circulação de pessoas e de mercadorias. A União Européia muito pouco pode oferecer à Ucrânia, exceto, mediante o levantamento das barreiras alfandegárias, a importação maciça de produtos do Ocidente, a imposição de normas europeias aos produtos que ela fabrica e pode exportar para a mesma União Européia, o que lhe vai dificultar ainda mais as transações comerciais. A Ucrânia só tem a perder. O FMI vei impor medidas de contenção, dificultando ainda mais o desenvolvimento do país. Muitas indústrias fecharão ou serão assenhoreadas pelas multinacionais européias e os pequenos agricultores, arruinados pela agro-indústria.

    Porém, o que os Estados Unidos pretendem, através da incorporação da Ucrânia à União Europeia é, sobretudo, possibilitar que as forças da OTAN sejam estacionadas na fronteira da Rússia. Conforme o economista Paul Craig Roberts, ex-secretário assistente do Tesouro no governo de Ronald Reagan (1981-1969), salientou, a respeito dos comentários de Viktoria Nuland, secretária de Estado Assistente de John Kerry, “a Ucrânia ou a parte ocidental do país está cheia de ONGs mantidas por Washington cujo objetivo é entregar a Ucrânia às garras da União Europeia, para que os bancos da União Europeia e dos Estados Unidos possam saquear o país como saquearam, por exemplo, a Latvia; e enfraquecer, simultaneamente, a Rússia, roubando-lhe uma parte tradicional e convertendo-a em área reservada para bases militares de Estados Unidos-OTAN”.

     

    Com efeito, por trás das ininterruptas demonstrações, das quais dois senadores americanos -John McCain (Partido Republicano) e Christopher Murphy (Partido Democrata) abertamente participaram –  estão certas ONGs, tais como Open Society Foundations [OSF], Vidrodzhenya (Reviver), Freedom House, Poland-America-Ukraine Cooperation Initiative e outras, finaciadas pelos Estados Unidos, através da USAID, National Endowment for Democracy e CIA, bem como fundações alemãs. Foram elas que promoveram a  denominada Revolução Laranja, que derrubou o governo de Leonid Kuchma (1994-2005). 

    Essas e outras organizações não governamentais foram criadas como façade para promover a política de regime change sem golpe de Estado. Esse novo método de subversão, que os Estados Unidos desenvolveram, demonstro, com vasta documentação, em meu livro A Segunda Guerra Fria – Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio, lançado em 2013.

    E como está a situação hoje da Ucrânia? Para onde caminha o país?

    Moniz Bandeira –  A Ucrânia está em uma situação econômica e social extremamente difícil. O desemprego, segundo o governo, é da ordem de 8% e parcela significativa da população – de 25%, conforme as estatísticas oficiais -, vive abaixo da linha de pobreza. O índice de desnutrição é estimado entre 2 e 3 % até 16%. O salário médio é de US$332,00, um dos mais baixos da Europa. As áreas rurais, no Ocidente, são mais pobres. E a Ucrânia está na iminência de praticar o default. Os jovens ucranianos, porém, imaginam que a União Européia pode melhorar seu standard de vida e aumentar prosperidade do país. Os ucranianos – em primeiro lugar a juventude – têm o sonho da UE, a liberdade de viajar, as ilusões de conforto, bons salários, prosperidade, etc. Sonhos com os quais os governos ocidentais contam para derrubar o governo de Vikton Yanukovych. 

    Qual a importância geopolítica da Ucrânia hoje no cenário europeu e internacional?

    Moniz Bandeira –  Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter, escreveu certa vez que, no novo tabuleiro do xadrez mundial, “a Ucrânia podia estar na Europa sem a  Rússia, porém a Rússia não podia estar na Europa sem a Ucrânia”.  A equação, contudo, é muito mais complexa. A Ucrânia, chamada, tradicionalmente, de “pequena Rússia”, não pode se desprender da Rússia, da qual muito depende, sobretuido para seu abastecimento de gás. E sua adesão à União Européia, permitindo o avanço da OTAN até a fronteiras da Rússia, tenderia evidentemente a romper todo o equilíbrio geopolítico da Eurásia, uma vasta região terrestre e fluvial, até o Oriente Médio, devido abranger os importantes estreitos de Bósforo e Dardanelos, que possibilitam as comunicações do Mar Negro e de importantes zonas energéticas (gás e petróleo) com o Mar Mediterrâneo, cujo controle e completo domínio os Estados Unidos buscam com a derrubada do governo de Basshar al-Assad, na Síria.

    A questão da Ucrânia insere-se, assim, no mesmo contexto da guerra na Síria. A Rússia ainda mantém importante base naval na Síria, em Tartus, bem como conserva forças no porto de Latakia. E, não obstante o colapso da União Soviética, continuou a configurar, na percepção dos Estados Unidos, como seu maior rival. Ao Ocidente –  Estados Unidos e União Européia –  não interessa, portanto, a criação da União Econômica Eurasiana, cujo tratado o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o grande estadista da atualidade, está a negociar com as antigas repúblicas que antes integraram a extinta União Soviética, tais como  Quirguistão, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Ucrânia, exceto os países bálticos. Os Estados e a União Européia entendem que a Rússia voltaria, assim, a conquistar dimensão estratégica e geopolítica na mesma proporção da extinta União Soviética. O que está em jogo não é questão ideológica. É geoestratégica. 

    Como disse, Washington nunca deixou de perceber a Rússia como seu principal adversário, mesmo após a dissolução da União Soviética (1991). Em 1991, o general Colin Powell, então chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, no governo de George H. W. Bush (1989-1993), recomendou que os Estados Unidos impedissem que a União Europeia se tornasse uma potência militar, fora da OTAN, a remilitarização do Japão e da Rússia, bem como desencorajasse qualquer desafio à sua preponderância ou tentativa de reverter a ordem econômica e política internacionalmente estabelecida. Também Dick Cheney, então como secretário de Defesa, divulgou, em 1992, um documento no qual estabeleceu que a primeira missão política e militar dos Estados Unidos consistia em impedir o surgimento de algum poder rival na Europa, na Ásia e na extinta União Soviética.

    Qual é a atual correlação de forças interna na Ucrânia no que diz respeito aos protestos?

    Moniz Bandeira – O eixo da crise não está propriamente na correlação de forças domésticas, i. e., dentro da Ucrânia. Grande parte da população não apoia os que fazem demonstrações em Kiev. E o país, quer queiram ou não os manifestantes, está na órbita de gravitação da Rússia. Por outro lado, o Mar Negro é controlado, desde o reinado de Catarina, a Grande (1762 e 1796), pela frota russa, baseada na península da Crimeia, com a base naval em Sebastobol e mais um porto em Odessa. A Rússia jamais pode aceitar a incorporação da Ucrânia à OTAN, mesmo que a associação com a União Européia não implique aliança política-estratégica. O presidente Vladimir Putin, diplomaticamente, já fez a advertência de que está muito preocupado com a dívida do gás que a Rússia fornece a Ucrânia não paga. E se cortar o fornecimento o governo, que os Estados Unidos querem impor, não se sustenta. Cai.  

    Viktor Yushchenko, quando foi levado à presidência da Ucrânia, era a favor do Ocidente, porém, tal como seu antecessor Leonid Kuchma, que solicitara a adesão da Ucrânia à OTAN, na reunião de Raykjavia (13 de maio,2002), teve de rever sua posição, diante da realidade geopolítica. Cairia, decerto, se consumasse a adesão à OTAN.  A União Europeia, outrossim, depende mais da Rússia que a Rússia da União Européia. E essa foi uma das razões pela quais se recusou a alinhar-se com os Estados Unidos para aplicar sanções contra o governo de Viktor Yushchenko.
    Acabei de receber de um conhecido em Kiev essa mensagem, que bem confirma  e demonstra o quanto a mídia manipula as informações sobre os acontecimentos na Ucrânia:

    “Sim, efetivamente aqui está muito quente na rua (a temperatura chegou a 35 graus negativos na semana passada). Eu fui ver as barricadas ontem à noite, na primeira linha diante dos integrantes da polícia militar. É bastante impressionante. Os opositores na rua que ocupam aquela área estão armados, muito bem organizados militarmente em companhias, fazem patrulhas em grupos de combate de dez pessoas, com capacetes e armas. Eu cruzei com dois sujeitos com uniformes da divisão SS Galicia (que lutou com os alemães contra os soviéticos em 1943-1945. Acho muito engraçado ver os políticos europeus fazendo grandes declarações sobre o “Maidan” e a democracia quando praticamente todos esses tipos que enfrentam a polícia nas ruas são fascistas. É uma grande hipocrisia. Os euro-atlânticos estão prontos a se aliar com não importa quem (como os islamistas na Síria) desde que isso contribua para enfraquecer a Rússia”.

    Qual a estrutura política de fato da oposição ucraniana?

    Moniz Bandeira – Na 50ª Conferência de Segurança de Munique, o secretário de Estado, John Kerry, disse que as demonstrações contra Yushchenko, em Kiev, tinham como objetivo implantar a democracia. Que democracia? Viktor Yushchenko fora democraticamente eleito em 2010.  O nacionalismo ressurgente na Ucrânia e alimentado pelo Ocidente é, na realidade, um neo-nazismo. O partido que o fomenta é o  Svoboda, cujo chefe é Oleg Tiagnibog, com maior influência no leste da Galitzia, antes pertencente à Polônia e onde muitos habitantes colaboraram com as tropas da Wehmarcht  e formaram a 14. Waffen-Grenadier-Division der SS, sobretudo na Galitzia oriental, reduto da extrema-direita. Os chamados ativistas, que instigam e lideram as demonstrações pro-Ocidente, pertencem, em larga medida, a comandos do Svoboda e de outras tendências neo-nazis, levados de Lviv (Lwow, Lemberg) para Kiev e manifestam claramente tendências xenófobas, racistas, anti-semitas e contra a Rússia.

    Os manifestantes que estão nas ruas têm o apoio da maioria da população?

    Moniz Bandeira – Creio que não. O Partido das Regiões, liderado pelo presidente Viktor Yanukovich representa, provavelmente, a grande parte da população, sobretudo no oriente e no sul, bem como conta com forte apoio oeste, i. e., na Ucrânia sub-carpática. Seu suporte, portante, é grande, tanto que triunfou nas eleições em 2010. E o projeto do presidente Vladimir Putin fortalece ainda mais os vínculos da parte oriental da Ucrânia, mais industrializada, com a Rússia, mediante a cooperação industrial,  modernização e integração de tecnologias, como antes se realizava com a União Soviética, nas áreas da aeronáutica, produção de satélites, armamento, construção naval e outras. Na parte ocidental o idioma que predomina é o ucraniano
     
    Que lhe pareceu a expressão de desprezo pela União Européia (“Fuck the EU” ), dita pela secretária de Estado Assistente, Viktoria  Nuland, na conversa com o enviado especial dos Estados Unidos à Ucrânia, embaixador Geoffrey Pyatt?

    Moniz Bandeira – Não me surpreendeu.  Viktoria Nuland apenas expressou o que sempre pensaram e pensam as autoridades de Washington com respeito não apenas à União Européia, mas também ao resto do mundo. A manifestação do extremo egoismo é nacional, a que o embaixador do Brasil, Domício da Gama, notara e escreveu ao Itamaraty, por volta de 1912.  O vazamento dessa conversa, por telefone, de Viktoria Nuland com o embaixador Geoffrey Pyatt, sobre quem Washington deve escolher para assumir a presidência da Ucrânia, não vai provavelmente modificar a intenção de Washington com respeito à Ucrânia. A posição de Washington não é muito forte. Victória Nuland, irritada, demonstrou-o ao exclamar “Fuck the EU” diante da hesitação da Europa de arriscar sua existência em benefício da hegemonia dos Estados Unidos e não alinhar-se ao projeto de sanções contra o governo  de Viktor Yanukovich.

    A União Europeia e os Estados Unidos têm condições de enfrentar a Rússia para resgatar a Ucrânia do colapso financeiro?

    Moniz Bandeira – Quase nenhuma. O povo na Alemanha, o país com mais recursos e sobre o qual recai a maior responsabilidade pelo resgate, não aguenta mais amparar financeiramente os diversos países, membros da União, a fim de que não quebrem. Continuam todos altamente endividados e praticamente não aparecem maiores sinais de recuperação econômica. A quase estagnação é um fato. E o problema da dívida pública dos Estados Unidos, a depender sempre de que o Congresso aumente o seu limite, não permite, decerto, ao governo do presidente Barack Obama atender à situação catastrófica da Ucrânia. Entretanto, a economia da Rússia, desde o ano 2000, cresceu em média 7%, tornou-se a sétima economia mundial segundo o método da paridade do poder de compra e ainda ajudou a União Europeia com a construção de oleodutos e gasodutos subterrâneos, que passam através da Ucrânia e outros países aos quais fornece grande parte da energia. Cerca de 60% do gás que a Alemanha consome provém da Rússia. E o presidente Vladimir Putin já forneceu ao governo de Viktor Yanukovich um bailout de US$17 bilhões, ademais de reduzir por algum tempo o preço do gás que fornece ao país. Mas se cobrar a dívida, a Ucrânia quebra. 

    Há quem veja uma conexão entre as mobilizações de rua que vêm ocorrendo em vários países nos últimos anos? O senhor vê tal conexão?

    Moniz Bandeira – Diversos e complexos fatores, tais como a crise financeira mundial, iniciada em 2007/2008, a estagnação econômica, desemprego dos jovens, desencanto com os governos, bem como outros fatores domésticos e o fenômeno do contágio e mimetismo, concorreram para que agentes externos pudessem fomentar as demonstrações ocorridas em diversos países, sobretudo na Eurásia e no Oriente Médio. Como demonstro, documentadamente, em meu livro A Segunda Guerra Fria, logo após os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush (2001-2009), ao mesmo tempo em que deflagrou a War on Terror, a guerra sem fim, estabeleceu a  “freedom agenda” e autorizou o Departamento de Estado a criar a Middle East Partnership Initiative (MEPI)  com o propósito de treinar ativistas político, com base no  From Dictatorship to Democracy, do professor Gene Sharp, usado na Sérvia, na Ucrânia, na Geórgia e em outros países. 

    O objetivo era treinar e encorajar dissidentes e “reformistas democráticos!, sob os “regimes repressivos” no Irã, na Síria, na Coreia do Norte e na Venezuela, entre muitos outros, a solapar a estabilidade e a força econômica, política e militar de um Estado sem recorrer ao uso da insurreição armada ou de golpe militar, mas provocando violentas medidas, a serem denunciadas como emprego de força brutal, abuso dos direitos humanos etc. e provocar o descrédito do governo.  A estratégia do professor Gene Sharp consiste na luta não violenta, porém complexa, travada por vários meios, como protestos, greves, não cooperação, deslealdade, boicotes, marchas, desfiles de automóveis, procissões etc., em meio à guerra psicológica, social, econômica e política, visando à subversão da ordem. Ela serviu para promover as chamadas “revoluções coloridas”, na Eurásia, e a “primavera árabe”, na África do Norte e Oriente Médio. E ONGs, finaciadas pela Now Endowment for Democracia (NED), USAID  e CIA e outras instituições públicas e privadas, foram e são nada menos que a mão invisível Washington. 

    Daí a secretária de Estado Assistente, Victoria Nuland, ter declarado na conversa com o embaixador Geoffrey Pyatt que, nas duas últimas décadas, os Estados Unidos gastaram US$ 5 bilhões para a “democratização” da Ucrânia, i. e., para subverter os regimes, cortar seus laços históricos com a Rússia e integrá-lo na sua esfera de influência, via União Européia. Victoria Nuland é esposa de Robert Kagan, líder dos neoconservadores (neo-cons) do ex-presidente George W. Bush, cujo papel como “universal soldier”, o presidente Barack Obama passou a desempenhar.

  7. Ukraine – The Spark for World War III?

    Ukraine – The Spark for World War III?

     

    Assassination_Franz_Ferdinand

    On the 28th June 1914, Archduke Franz Ferdinand of Austria, heir presumptive to the Austro-Hungarian throne, and his wife, Sophie, Duchess of Hohenberg, were shot dead in Sarajevo, by Gavrilo Princip, one of a group of six assassins. That was the spark that tore Europe apart. Olexander Turchynov in Ukrain is warning of the dangers of separatism following the ousting of President Viktor Yanukovych. He is playing right into the hands of Russia and one must question his reasoning.

    Russia is insisting against ALL THE EVIDENCE that absolutely ONLY Yanukovych is entitled to rule Ukraine most likely permanently. Russia is NOT going to let Ukraine go. Every statement that comes from Moscow confirms that. Belarus and Russia are now cutting off all trade and supplies to Ukraine under the pretense that there is no legitimate government.

    Quite honestly, neither Europe nor the US are prepared to confront Russia on a conventional basis and Russia is well aware of that fact. Unless Ukraine is separated, there is not much hope for the future because as long as Yanukovych is alive, Russia has the excuse that they need to eliminate the revolutionary coup and reinstate the rightful leader Yanukovych.

    This is not much different from the USA painting Saddam Hussein and as a tyrant who killed his own people to justify the USA invasion or the same tactic to excuse the invasion of Syria President Bashar al-Assad. It is irrelevant whether these statement were true, partially true, or totally false. They were NECESSARY to justify action. In both cases, the USA justified invasion by claiming these men were criminals and its invasion was to someone save the people of those lands. Hussein was certainly not responsible for 911. There was a totally different agenda behind the curtain.

    Russia is now using the same political ploy out of the very same political-game book to justify whatever actions it will take to regain Ukraine. Russia’s statements are ALL easily predicted and anyone who thinks there can be a discussion or argument to prove they are wrong are barking up the wrong tree. The decision has been made when the first statement is released. It is a game of justification while preparations are made. This is simply how ALL governments respond and it is irrelevant if we are talking about Russia or the USA. There were no weapons of Mass Destruction in Iraq any more than the grass-roots movement was an illegal coup in Ukraine. Once any words are spoken, the decision is in motion.

    This reminds one of Thomas Jefferson’s famous saying: I hold it that a little rebellion now and then is a good thing, and as necessary in the political world as storms in the physical.

    Jefferson-Sig

    “Societies exist under three forms sufficiently distinguishable. 1. Without government, as among our Indians. 2. Under governments wherein the will of every one has a just influence, as is the case in England in a slight degree, and in our states in a great one. 3. Under governments of force: as is the case in all other monarchies and in most of the other republics. To have an idea of the curse of existence under these last, they must be seen. It is a government of wolves over sheep. It is a problem, not clear in my mind, that the 1st. condition is not the best. But I believe it to be inconsistent with any great degree of population. The second state has a great deal of good in it. The mass of mankind under that enjoys a precious degree of liberty and happiness. It has it’s evils too: the principal of which is the turbulence to which it is subject. But weigh this against the oppressions of monarchy, and it becomes nothing. Malo periculosam, libertatem quam quietam servitutem. Even this evil is productive of good. It prevents the degeneracy of government, and nourishes a general attention to the public affairs. I hold it that a little rebellion now and then is a good thing, and as necessary in the political world as storms in the physical. Unsuccesful rebellions indeed generally establish the incroachments on the rights of the people which have produced them. An observation of this truth should render honest republican governors so mild in their punishment of rebellions, as not to discourage them too much. It is a medecine necessary for the sound health of government.”

     

    – Thomas Jefferson to James Madison, Paris, January 30, 1787

     

  8.  
    O PT  é modesto.
     Foi ele

     

    O PT  é modesto.

     Foi ele quem criou as vacinas Sabin e B C J. Foi ele o verdadeiro libertador da escravidão no Brasil e no mundo.

     Foi ele querm derrotou Hitler.

         E muito,muito mais.Masd apenas se contenta em dizer:

     

    Petistas rebatem PSDB e dizem que governo Lula salvou Plano Real

    Após o evento em que o PSDB comemorou no Senado os 20 anos do Plano Real, petistas foram na tarde desta terça-feira (25) à tribuna rebater as críticas dos tucanos e dizer que coube à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva “resgatar” os pressupostos da estabilização econômica.

    A resposta mais enfática coube à ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR).

    “Essa tendência de desmerecimento [ao PT] não faz jus à postura de Lula e do PT de apoio ao Real nove anos depois [a partir de 2003], de salvar e resgatar o Plano Real, reafirmando os pressupostos macroeconômicos”, discursou a petista.

    Em sua fala, ela listou como ameaças à estabilização, entre outros pontos, inflação e juros altos no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, o que em boa parte ocorria diante da incerteza do mercado em relação à gestão Lula.

    Mais cedo, no evento do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia destacado o fato de o PT ter, em 1994, negado apoio ao plano econômico que seria colocado em prática pelo governo de Itamar Franco –Fernando Henrique era seu ministro da Fazenda.

    Na tribuna do plenário, Gleisi disse que não caberia ao governo “solicitar à oposição apoio aos seus planos, seus projetos”, até porque, segundo ela, as experiências anteriores forçavam o PT, na ocasião, a recorrer ao benefício da dúvida.

    Eduardo Suplicy (PT-SP) também foi à tribuna defender o governo. Em linhas gerais, tanto ele quanto Gleisi citaram dados usados por Lula em artigo publicado na edição de hoje do jornal “Valor Econômico”, em exaltação aos 11 anos da administração petista. 

                   RETORNO:

              O PT É MODESTO DEMAIS.NEM CITA QUE A BÍBLIA E O CORÃO E TORAH FORAM ESCRITOS POR PETISTAS.

                E DESCONFIO QUE TBM FORAM PARCEIROS DE DEUS QUANDO CRIOU O MUNDO.

                  É MUITA MODÉSTIA!

  9. http://otrabalho.org.br/o-que

    http://otrabalho.org.br/o-que-esta-acontecendo-na-ucrania/

    Um “acordo” acaba de ser assinado na Ucrânia, que parece acalmar a situação. Será? [1]

    O que se passa hoje na Ucrânia não é uma “reedição” da “revolução laranja” de 2004. Todos viram as cenas de guerra civil em Kiev, os mais de cem mortos, de um lado e de outro. O acordo assinado dia 21 de fevereiro pelo presidente Yanukovich e a “oposição”, sob a égide de uma delegação da União Européia (ministros das Relações Exteriores da França, da Alemanha e da Polônia), não impede, ao contrário, o prosseguimento do processo de desagregação da Ucrânia que já começou.

    O jornal Oukraïnskaïa Pravda publicou ontem (21.02), um relatório do SBOu (a ex-KGB ucraniana) que alerta para a iminente explosão do país. Militantes da Ucrânia e da Bielorússia vem de nos confirmar essas informações. Assim que o acordo foi assinado, o presidente Yanukovich rumou para Karkov, a maior cidade do leste da Ucrânia (e segunda cidade do país). Não apenas o presidente está em Karkov, mas anuncia-se que poderia se reunir hoje uma parte da Rada (Parlamento). A oeste, em grandes cidades como Lvov, milícias armadas do partido Svoboda (a principal força da “oposição”, comentada adiante) assumiram, já há quatro dias, o controle do conjunto dos edifícios oficiais, e proibiram as atividades do Partido das Regiões (o partido de Yanukovich) e do Partido “Comunista”. No momento em que escrevemos, a Ucrânia está dividida em duas. É apenas o início da desagregação: na Criméia, território povoado majoritariamente por russos, com uma forte minoria tártara turcófona, e onde se localiza a antiga base militar naval russa de Sebastopol, uma parte da Assembléia Regional autônoma se reuniu com autoridades da Federação Russa para solicitar que a Criméia seja colocada “sob a proteção de Moscou”. Nos campos, multiplicam-se cenas de pilhagem. Dois ônibus transportando cidadãos, trabalhadores, provenientes da vizinha Bielorrússia, foram metralhados ontem (21.02).

     

    Quais seriam as consequências da explosão da Ucrânia?

    A desagregação-decomposição da Ucrânia teria consequências incalculáveis em escala internacional. Com seus 45 milhões de habitantes, sendo o segundo maior país da Europa em superfície, a explosão da Ucrânia teria consequências infinitamente mais trágicas que a desagregação da Iugoslávia há 22 anos – desagregação organizada pelas grandes potências imperialistas e seus cúmplices na burocracia. Ela constituiria, nas portas orientais da União Européia, um fator de decomposição inteiramente voltado contra a luta de classes, contra a resistência dos trabalhadores de todos os países da União Europeia que, apesar dos obstáculos, se erguem contra os planos de destruição ditados pela UE e FMI, e aplicado por todos os governos, tanto de direita como de “esquerda”, de Atenas a Lisboa.

    Mas uma Ucrânia desagregada, “iugoslavizada”, também seria, para o imperialismo, uma potente alavanca contra a Federação Russa. Lembremos que o antigo conselheiro do presidente Carter, Zbigniew Brzezinsky, escrevia – por conta dos círculos dirigentes do imperialismo estadunidense – em 1997, a propósito da Ucrânia. Para o imperialismo US, dizia ele, a Ucrânia é um “peão estratégico“, quer dizer, um país que, em si, não tem nenhum interesse, mas que é preciso separar definitivamente da Rússia, pois “sem a Ucrânia, a Rússia não pode ter pretensões a se tornar um império euroasiático“.

     

    Trata-se, então, de uma rivalidade entre Estados Unidos e a Rússia?

    Depois da Ucrânia, escrevia o mesmo Brzezinsky, em 1997, é preciso preparar uma segunda etapa: a desagregação da própria Rússia: “Considerando o tamanho do país e sua diversidade, um sistema político descentralizado e uma economia de mercado livre forneceriam as condições ideais para fazer frutificar (…) os vastos recursos naturais da Rússia. Uma Confederação da Rússia – composta de uma Rússia Europeia, de uma República Siberiana e de uma República do Extremo Oriente – seria igualmente mais benéfica para desenvolver relações econômicas mais estreitas com seus vizinhos. Cada uma dessas entidades confederadas teria condições muito melhores para desenvolver o potencial criativo local, sufocado perante séculos pela pesada mão burocrática de Moscou. Ademais, uma Rússia descentralizada seria menos suscetível de fazer valer suas pretensões imperiais”. (Geoestratégia para a Eurásia – Foreign Affairs, 1997).

    O que está em jogo, por trás disso tudo, são os imensos recursos naturais, minerais, gasíferos e petrolíferos da Rússia. É a “Rússia útil”, como em 1993 o Brookings Institute falava da África “útil” (suas riquezas) e “inútil” (os africanos).

    O que está em jogo é uma segunda etapa da pilhagem da Rússia, porque a onda de privatizações-pilhagem da década de 1990 (sob Yeltsin) não pode ir até o fim, tendo em vista a resistência da classe operária da Rússia, que, como na Ucrânia, no Cazaquistão, na Bielorússia, se aferra com unhas e dentes a suas fábricas, suas escolas, seus hospitais, suas moradias etc. aquilo que denominamos “conquistas de Outubro de 1917″.

    Não se trata de um cenário de “ficção científica”: quando o bilionário Mikhail Khodorkovski, presidente do grupo petrolífero estatal Yukos, e protegido do Kremlin, tentou, há dez anos, passar um acordo direto com a multinacional ExxonMobil, às costas do Kremlin, foi jogado na prisão pelo Kremlin. Eis porque Brzezinsky quer se desembaraçar da “pesada mão burocrática de Moscou“.

    Isso não quer dizer, bem entendido, que tudo esteja terminado. Tal como acontece no resto do mundo, os trabalhadores e os povos resistem. Mas como no mundo inteiro, o imperialismo, e o imperialismo estadunidense, mesmo em crise, provoca guerras e a desagregação das nações, em nome da sobrevivência do regime da propriedade privada dos meios de produção, em decomposição.

     

    Os dirigentes da UE e o governo Obama denunciam a “ingerência” russa. Quem se ingere e por que?

    Eles o fazem porque “a melhor defesa é o ataque”. Depois do início das manifestações em Kiev, altos dirigentes da União Européia e dos Estados Unidos tomaram a palavra, a cada semana, na tribuna da “Euromaidan” (Maidan Nezalejosti é o nome da Praça da Independência, no centro de Kiev). Eles concentraram todos os seus esforços no sentido de fazer pressão para que Yanukovich assinasse o acordo de associação com a União Européia.

    Foi aí que o regime de Putin colocou sobre a mesa os créditos de 15 bilhões de dólares. O regime de Yanukovich, que há quatro meses era um ardoroso defensor da assinatura do acordo de associação com a UE, deu uma “meia-volta” brutal em meados de novembro (às vésperas da reunião de cúpula européia de Vilnius, de 27 e 28 de novembro de 2013) quando Putin “ofereceu” os seus 15 bilhões.

    Lembremos que, como antes na Tunísia, o “acordo de associação com a UE”, do qual Yanukovich era um ardente partidário, tinha como “contrapartida” a adoção, pelo governo ucraniano, de uma série de brutais medidas anti-operárias ditadas pelo FMI, indo desde o congelamento de salários e pensões até o vertiginoso aumento do preço do gás para as residências. O próprio jornal francês pró-UE Le Monde reconhece que “a ajuda financeira oferecida por Bruxelas (610 milhões de euros) é ínfima. E, para piorar as coisas, esse dinheiro seria desembolsado somente após a adesão de Kiev ao programa de reformas do FMI para reerguer a economia do seu atual estado deplorável”. E acrescenta: “Toda aproximação (da Ucrânia com a UE) implica seu pacote de ‘reformas estruturais’, esforço de desendividamento, de rigor orçamentário. Angela Merkel já avisou”.

     

    Por que Yanukovich mudou de idéia e passou a preferir a oferta de Poutin?

    Para os militantes da 4a. Internacional, isso remete à natureza dos regimes em presença, e, portanto, às condições pelas quais, em 1991, a burocracia stalinista, agindo por conta do imperialismo mundial, destruiu a URSS. A burocracia restabeleceu as relações capitalistas, nas condições de decomposição do mercado mundial, e, portanto, se transformou nesta camada mafiosa e compradora, a serviço do imperialismo, sempre procurando defender suas próprias prebendas, seus próprios privilégios e interesses.

    Se Yanukovich mudou bruscamente de opinião, preferindo a oferta “mais interessante” de Putin, é porque essa camada, os “clãs” que ele representa, é motivada pelo enriquecimento rápido e imediato, como o que lhes propiciaram, na década de 1990, as privatizações mafiosas em toda a ex-URSS.

    Em nada o regime de Putin se distingue do regime da Ucrânia. Como escrevemos em 2004, no momento da “revolução laranja”: “Putin é um agente estadunidense. Mas é um agente estadunidense que, para assegurar sua própria sobrevivência política, deve preservar um certo número de prerrogativas, inclusive do ponto de vista de seu poder burocrático-militar apoiado sobre a pilhagem e a destruição do país, o que pode colocá-lo em contradição com as necessidades imediatas e a política do imperialismo estadunidense”. É o mesmo papel que ele desempenhou em relação à Síria, ao mesmo tempo “salvando” Obama, que estava atolado na crise síria, e fazendo prevalecer os interesses específicos da camada mafiosa que ele representa.

    O regime russo se lembra perfeitamente que a adesão à União Europeia, sucessivamente em 2004 e 2005, dos países da Europa central e oriental foi acompanhada por sua adesão à OTAN, levando a um verdadeiro “cerco” de bases estadunidenses em suas fronteiras orientais (na Polônia, na República Tcheca…).

     

    Mas a divisão da Ucrânia entre “leste” e “oeste” não tem raízes históricas?

    Na realidade, não existe uma base objetiva para a desagregação da nação ucraniana, tanto quanto não há na Síria, na Argélia e alhures.

    A história da Ucrânia está estreitamente ligada à da Rússia, pois a própria origem da Rússia é o reino de Kiev. É verdade que em seguida, a nação ucraniana foi esquartejada, oprimida e desmembrada pelas grandes potências vizinhas: o reino da Polônia, o Império Austro-húngaro e, evidentemente, a “prisão dos povos”, que era o Império tzarista, cujos funcionários brutais e chauvinistas oprimiram o povo ucraniano, recusando-se até mesmo a reconhecer sua existência.

    Recordemos a maneira pela qual Lênin se bateu, no movimento operário russo, contra toda adaptação ao chauvinismo da “grande-Rússia”, pelo direito à auto-determinação das nações, portanto também o direito do povo ucraniano, entre outros.

    É a origem do poderoso sentimento nacional ucraniano, que existe até hoje e que é perfeitamente legítimo. Foi a Revolução de Outubro de 1917, ou seja, a revolução mundial, que, expropriando o capital, rompendo com o imperialismo, liberou a nação ucraniana. A nação ucraniana, desenvolvendo sua língua nacional, sua cultura, sua literatura, pode progredir como nunca no quadro de uma República soviética da Ucrânia, federada com a Rússia soviética e outras, no quadro da URSS, que deveria ser, segundo Lênin, uma “união livre de povos livres” estendendo-se em direção ao Oeste da Europa no ritmo dos avanços da revolução mundial.

    Não é por acaso que a degenerescência burocrática da URSS tomou, na Ucrânia, a forma da eliminação, por Stálin, dos dirigentes comunistas ucranianos (fossem ou não membros da Oposição de esquerda, dirigida por Trotsky) em nome da luta contra um pretenso “nacionalismo ucraniano”. A brutalidade do stalinismo, a brutalidade com a qual a burocracia implantou a coletivização forçada no campo e as ondas de fome que essa política provocou, não impediram que centenas de milhares de partisans (combatentes) se levantassem contra a ocupação nazista, que pretendia restabelecer a propriedade privada sob a forma de escravização das populações soviéticas.

    Na Ucrânia há ucranianos, alguns falam a língua ucraniana, outros falam a língua russa. Existem, como em todos os países que faziam parte da URSS, minorias nacionais, russos, húngaros, tártaros… Mas, repitamos, não há base “objetiva” para enfrentamentos “étnicos” ou linguísticos.

     

    Justamente, os partidos “nacionalistas” ucranianos ocupam a linha de frente. O que isso significa?

    De “nacionalistas”, os principais partidos que dirigem as manifestações só têm o nome. E mesmo de ucranianos, só têm o nome. O Partido Batkivshina (“A Pátria”) da ex-inspiradora da “revolução laranja”, que depois se tornou primeira-ministra, tão corrupta quanto Yanukovich, Yulia Timochenko, foi criado e financiado pelo governo polonês. O partido “Oudar” do boxeador Klishko, foi fundado e financiado pela Fundação Konrad Adenauer, ligada ao partido de Angela Merkel, a CDU. Quanto ao Partido “Svoboda” (Liberdade), que ainda há pouco se chamava “Partido nacional-socialista da Ucrânia”, se apresenta como herdeiro de Stepan Bandera que, oito dias depois da invasão nazista da URSS (em 22 de junho de 1941), redigiu a “proclamação de independência” da Ucrânia, que iria colaborar “com a grande Alemanha nacional-socialista, sob a direção de seu chefe Adolf Hitler que está instaurando uma nova ordem na Europa“. As bandeiras vermelhas e negras que aparecem nas manifestações de Kiev são da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e do Exército Insurrecional da Ucrânia (UPA) que, ao lado dos nazistas, em 1941, ajudou a liquidar os judeus, os húngaros, os ciganos, os anti-nazistas, no momento da invasão nazista. Svoboda defende o acordo de associação com a UE e também a adesão da Ucrânia à OTAN.

    Não há aqui nada de surpreendente: é uma característica histórica do “nacionalismo” burguês ucraniano submeter-se às grandes potências imperialistas. Ele fez isso em 1918 quando a Rada (Parlamento) da Ucrânia “independente” aliou-se ao imperialismo alemão e depois, em 1941, ao mesmo imperialismo alemão sob sua forma nazista e, hoje… coloca-se a serviço da OTAN e dos Estados Unidos.

    E não esqueçamos da proliferação de ONGs, financiadas por fundos europeus e estadunidenses. Na Ucrânia, como na Bielorrússia, explica um militante bielorrusso no jornal Rabochie Izvestiya (dezembro de 2013): “colossais recursos da mídia ‘independente’ foram colocados em movimento para promover a ‘via européia’ e, igualmente, as ONGs. A juventude civicamente ativa passa por seminários, por ‘trainings’, visando a orientá-la brutalmente para valores europeus, nos quais lhes são inculcados dogmas neoliberais e outros postulados do capitalismo contemporâneo. Tudo isso, bem entendido, é misturado aos contos de fadas da ‘sociedade civil’ e outros postulados do politicamente correto”.

     

    Em que medida o imperialismo utiliza esses intermediários para desestabilizar?

    O sangue correu em Kiev, a primeira vez, em fins de dezembro e, numa outra escala, em 18 e 19 de fevereiro. Esses banhos de sangue foram precedidos por dois fatos. Em meados de dezembro, antes dos primeiros mortos, houve a assinatura do acordo dos 15 bilhões de créditos entre Yanukovich e Putin. Foi também em 15 de dezembro que o senador republicano MacCain e seu colega democrata Murphy tomaram a palavra na tribuna da Euromaidan para declarar: “Nós estamos aqui para sustentar uma causa justa, o direito soberano da Ucrânia decidir livremente e independentemente seu destino, que é ligar-se à Europa”, acrescentando “Nós dizemos claramente que a ingerência da Rússia e do sr. Putin são inaceitáveis“. Em 10 de dezembro, o Strategic Forecasting Inc. (Stratfor, por vezes chamado de “gabinete encoberto da CIA”) escreveu: “O apoio estadunidense aos protestos na Ucrânia é um meio de fixar a atenção da Rússia em sua região e desviá-la de sua ofensiva contra os Estados Unidos”.  O embaixador dos EUA em Kiev havia ameaçado a Ucrânia com o “caos” caso fosse assinado o acordo com Putin… Dias após a assinatura do acordo caíram os primeiros mortos.

    Depois houve a manifestação armada de 20 mil pessoas dirigida pelas milícias do Svoboda e grupos neonazistas como o “Pravyi sektor”, em 18 de fevereiro. Podemos ignorar que isso ocorreu uma semana depois da visita de Victoria Nuland, secretária adjunta do Departamento de Estado dos EUA, que se reuniu com dirigentes do Svoboda em 13 de fevereiro? E isso imediatamente depois que a primeira parcela da ajuda russa havia sido entregue a Kiev? Nuland, numa conversa telefônica com o embaixador estadunidense em Kiev, sugeriu-lhe que passasse por cima dos europeus (“Foda-se a União Européia!”, ela exclamou elegantemente!) para constituir uma “oposição” sob medida. A conversa, provavelmente gravada pelos serviços secretos russos, foi tornada pública.

     

    Mas centenas de milhares de ucranianos não estão se manifestando há meses?

    Não podemos caracterizar a natureza dessas manifestações sem partir da luta de classes em nível internacional, das relações entre as classes, do imperialismo e da resistência ao imperialismo.

    Há uma campanha de desinformação habilmente orquestrada. Por exemplo, num jornal burguês um “especialista” explica doutamente: “Na Ucrânia, como na Bósnia, trata-se da revolta de um povo contra suas elites corruptas”. Que na Bósnia, como na Ucrânia (e também nos Estados Unidos e nas grandes potências “civilizadas”) existam “corruptos”, é indiscutível.

    No entanto, quando em 5 de fevereiro, os operários demitidos de cinco empresas privatizadas, em Tuzla, na Bósnia, se revoltaram e ocuparam a prefeitura do governo “cantonal” aos gritos de “Morte ao nacionalismo!” (retomando a palavra de ordem dos partisans da revolução iugoslava “Morte ao facismo!), a União Européia ameaçou enviar tropas suplementares da Eurofor para esmagar a revolta.

    Em Kiev, ao contrário, a União Européia e seus representantes, os representantes dos Estados Unidos, não cessaram, durante três meses, de jogar lenha na fogueira para empurrar a Ucrânia na via da desagregação e da divisão. É nesse sentido, por meio de seus intermediários locais, que foram dirigidas e orientadas as manifestações de Kiev (“Euromaidan”).  Essas manifestações são, portanto, reacionárias e pró-imperialistas.

     

    Isso quer dizer que todos os que se manifestam são reacionários e pró-imperialistas?

    Claro que não! O caráter reacionário das manifestações não significa que elas não tenham se desenvolvido num contexto favorável. De fato, já fazem mais de vinte anos que os sucessivos governos saídos da decomposição da burocracia e seus clãs mafiosos (Koutchma, Yanukovich), e também os governos saídos da “revolução laranja” (Youshenko, Timoshenko), privatizaram, liquidaram, destruíram, pilharam… a serviço do FMI. E, de passagem, locupletaram-se gulosamente, é claro. Lembremo-nos das campanhas internacionais das quais a 4ª Internacional participou em 2003-2004 contra as “reformas” destruidoras da legislação trabalhista, aplicadas por um certo… Yanukovich!

    Em tal situação, numerosos cidadãos, aposentados, camponeses, estudantes, e mesmo uma fração da classe operária, participaram das manifestações. Mas isso não é suficiente para dar a essas manifestações um sinal positivo.

     

    Qual é a posição do movimento operário?

    Uma parte do movimento operário chamou a participar das manifestações desde meados de novembro de 2013. Em particular, os dirigentes da Confederação dos Sindicatos Livres da Ucrânia (KSPU), que se constituiu ao redor do poderoso Sindicato independente dos Mineiros, o NPGOu. Um sindicato que tem suas raízes nas grandes greves de mineiros soviéticos dos anos 1989-1990 contra a burocracia “restauracionista”.

    E sindicatos inteiros vieram, de ônibus, de cidades mineiras para Maidan. Em meados de novembro, um mineiro entrevistado na praça Maidan, vindo com seus companheiros, explica: “Estou aqui porque nos queremos entrar na Europa, porque estamos cheios desse estado corrupto. Quando levamos a direção da mina aos tribunais para exigir que ela respeite nossos direitos, um mafioso chega, molha a mão do juiz na frente de todo mundo, e nós perdemos sempre. Então nós queremos a Europa para ter juízes independentes, que sejam obrigados a respeitar a lei”. Evidentemente, são ilusões. Porque, com a UE, esses mineiros ucranianos não terão um futuro diferente do que tiveram os operários dos estaleiros do Báltico, na Polônia, fechados do dia para a noite, por ordem da Comissão Européia que tinha proibido a concessão de subsídios pelo Estado polonês. Os estaleiros haviam sido o berço do sindicato Solidarnosc, da resistência operária polonesa contra a burocracia, e foram liquidados pela Comissão Européia, com apoio de uma parte dos dirigentes nacionais do sindicato Solidarnosc, contra os operários e seu sindicato Solidarnosc do estaleiro.

    São ilusões, elas existem. Mas os trabalhadores que foram à praça Maidan não podem ser responsabilizados. E, como testemunham militantes operários da Ucrânia e da Bielorússia: convocar os trabalhadores, seus sindicatos, para participar de manifestações junto com nostálgicos do nazismo, financiados pela embaixada dos Estados Unidos, isso não poderia terminar bem. E o que deveria acontecer aconteceu: no fim de dezembro, da tribuna da praça Maidan, os dirigentes do Svoboda proclamaram: “provocadores comunistas se concentraram na esquina da avenida Kreshatik!”. Imediatamente, uma centena de delinquentes se dirigiram ao stand da Confederação de Sindicatos Livres da Ucrânia (KSPU) e atacaram seus militantes, mandando vários deles para o hospital.

    Os responsáveis pela situação são aqueles que convocaram os trabalhadores, seu movimento sindical a colocar-se a reboque dos agentes da UE e da embaixada dos EUA, contando-lhes fábulas sobre a “Europa social”. Tal como na França, onde vimos recentemente, com o movimento dos “bonés vermelhos”, operários demitidos serem arrastados a se manifestar ao lado dos patrões que os haviam demitido, em nome da “regionalização”. Responsáveis, também, são os pablistas, cujo grupo na Ucrânia apoiou a decisão de alguns dirigentes sindicais de ir às manifestações na praça Maidan. E os pablistas ucranianos cobriram essa posição explicando que tratava-se do combate pelos “valores europeus”, “o internacionalismo” etc. Como na Síria, eles cobriram durante meses a ingerência imperialista de desagregação em nome de uma pretensa “revolução” contra o regime de Bashar al Assad.

     

    Qual é a política da 4ª Internacional ?

    Para a 4ª Internacional, trata-se aqui da questão central, internacional, a questão da independência do movimento operário.

    Por meio da publicação do jornal Rabochie Izvestiya (cujo número 42, publicado em 22 de fevereiro, traz um artigo dialogando com todas essas questões), por meio da participação de camaradas dessa região na Conferência Operária Europeia de 1 e 2 de março de 2014, em Paris, nós procuramos, modestamente, ajudar nesse combate, em relação com o conjunto de nossa intervenção política em escala internacional.

    De nossa parte, nós podemos, sem corar, republicar o que dizíamos em novembro de 2004, quando começava a pretensa “revolução laranja”:

    “Ninguém pode negar que há uma explosão hoje, na Ucrânia, que pode conduzir ao desmantelamento não apenas da nação ucraniana,mas de toda a Europa. (…) Há dez anos nós viemos explicando que, na Ucrânia, a própria natureza da burocracia estalinista só poderia conduzir não à restauração capitalista mas a essa política de desmantelamento das nações, de pilhagem do país, de destruição da força de trabalho e de sua própria destruição física.

    Hoje, o que vemos na Ucrânia, não apenas confirma essa apreciação, mas confirma que não há saída (inclusive no terreno democrático mais elementar da defesa da soberania da nação ucraniana, de sua unidade), não há saída fora do combate pela defesa e reconquista das conquistas de Outubro de 1917. Fora do combate sobre o terreno da propriedade social, indissociável da existência da classe operária e da própria nação ucraniana.” (trechos de um informe apresentado em 28 de novembro de 2004 à direção nacional da seção francesa da 4ª Internacional).

     22 de fevereiro de 2014, 16 horas

    [1] Esta carta foi escrita antes de chegar a notícia da reunião do Parlamento que “destituiu” Yanukovich.Um “acordo” acaba de ser assinado na Ucrânia, que parece acalmar a situação. Será? [1]

    O que se passa hoje na Ucrânia não é uma “reedição” da “revolução laranja” de 2004. Todos viram as cenas de guerra civil em Kiev, os mais de cem mortos, de um lado e de outro. O acordo assinado dia 21 de fevereiro pelo presidente Yanukovich e a “oposição”, sob a égide de uma delegação da União Européia (ministros das Relações Exteriores da França, da Alemanha e da Polônia), não impede, ao contrário, o prosseguimento do processo de desagregação da Ucrânia que já começou.

    O jornal Oukraïnskaïa Pravda publicou ontem (21.02), um relatório do SBOu (a ex-KGB ucraniana) que alerta para a iminente explosão do país. Militantes da Ucrânia e da Bielorússia vem de nos confirmar essas informações. Assim que o acordo foi assinado, o presidente Yanukovich rumou para Karkov, a maior cidade do leste da Ucrânia (e segunda cidade do país). Não apenas o presidente está em Karkov, mas anuncia-se que poderia se reunir hoje uma parte da Rada (Parlamento). A oeste, em grandes cidades como Lvov, milícias armadas do partido Svoboda (a principal força da “oposição”, comentada adiante) assumiram, já há quatro dias, o controle do conjunto dos edifícios oficiais, e proibiram as atividades do Partido das Regiões (o partido de Yanukovich) e do Partido “Comunista”. No momento em que escrevemos, a Ucrânia está dividida em duas. É apenas o início da desagregação: na Criméia, território povoado majoritariamente por russos, com uma forte minoria tártara turcófona, e onde se localiza a antiga base militar naval russa de Sebastopol, uma parte da Assembléia Regional autônoma se reuniu com autoridades da Federação Russa para solicitar que a Criméia seja colocada “sob a proteção de Moscou”. Nos campos, multiplicam-se cenas de pilhagem. Dois ônibus transportando cidadãos, trabalhadores, provenientes da vizinha Bielorrússia, foram metralhados ontem (21.02).

     

    Quais seriam as consequências da explosão da Ucrânia?

    A desagregação-decomposição da Ucrânia teria consequências incalculáveis em escala internacional. Com seus 45 milhões de habitantes, sendo o segundo maior país da Europa em superfície, a explosão da Ucrânia teria consequências infinitamente mais trágicas que a desagregação da Iugoslávia há 22 anos – desagregação organizada pelas grandes potências imperialistas e seus cúmplices na burocracia. Ela constituiria, nas portas orientais da União Européia, um fator de decomposição inteiramente voltado contra a luta de classes, contra a resistência dos trabalhadores de todos os países da União Europeia que, apesar dos obstáculos, se erguem contra os planos de destruição ditados pela UE e FMI, e aplicado por todos os governos, tanto de direita como de “esquerda”, de Atenas a Lisboa.

    Mas uma Ucrânia desagregada, “iugoslavizada”, também seria, para o imperialismo, uma potente alavanca contra a Federação Russa. Lembremos que o antigo conselheiro do presidente Carter, Zbigniew Brzezinsky, escrevia – por conta dos círculos dirigentes do imperialismo estadunidense – em 1997, a propósito da Ucrânia. Para o imperialismo US, dizia ele, a Ucrânia é um “peão estratégico“, quer dizer, um país que, em si, não tem nenhum interesse, mas que é preciso separar definitivamente da Rússia, pois “sem a Ucrânia, a Rússia não pode ter pretensões a se tornar um império euroasiático“.

     

    Trata-se, então, de uma rivalidade entre Estados Unidos e a Rússia?

    Depois da Ucrânia, escrevia o mesmo Brzezinsky, em 1997, é preciso preparar uma segunda etapa: a desagregação da própria Rússia: “Considerando o tamanho do país e sua diversidade, um sistema político descentralizado e uma economia de mercado livre forneceriam as condições ideais para fazer frutificar (…) os vastos recursos naturais da Rússia. Uma Confederação da Rússia – composta de uma Rússia Europeia, de uma República Siberiana e de uma República do Extremo Oriente – seria igualmente mais benéfica para desenvolver relações econômicas mais estreitas com seus vizinhos. Cada uma dessas entidades confederadas teria condições muito melhores para desenvolver o potencial criativo local, sufocado perante séculos pela pesada mão burocrática de Moscou. Ademais, uma Rússia descentralizada seria menos suscetível de fazer valer suas pretensões imperiais”. (Geoestratégia para a Eurásia – Foreign Affairs, 1997).

    O que está em jogo, por trás disso tudo, são os imensos recursos naturais, minerais, gasíferos e petrolíferos da Rússia. É a “Rússia útil”, como em 1993 o Brookings Institute falava da África “útil” (suas riquezas) e “inútil” (os africanos).

    O que está em jogo é uma segunda etapa da pilhagem da Rússia, porque a onda de privatizações-pilhagem da década de 1990 (sob Yeltsin) não pode ir até o fim, tendo em vista a resistência da classe operária da Rússia, que, como na Ucrânia, no Cazaquistão, na Bielorússia, se aferra com unhas e dentes a suas fábricas, suas escolas, seus hospitais, suas moradias etc. aquilo que denominamos “conquistas de Outubro de 1917″.

    Não se trata de um cenário de “ficção científica”: quando o bilionário Mikhail Khodorkovski, presidente do grupo petrolífero estatal Yukos, e protegido do Kremlin, tentou, há dez anos, passar um acordo direto com a multinacional ExxonMobil, às costas do Kremlin, foi jogado na prisão pelo Kremlin. Eis porque Brzezinsky quer se desembaraçar da “pesada mão burocrática de Moscou“.

    Isso não quer dizer, bem entendido, que tudo esteja terminado. Tal como acontece no resto do mundo, os trabalhadores e os povos resistem. Mas como no mundo inteiro, o imperialismo, e o imperialismo estadunidense, mesmo em crise, provoca guerras e a desagregação das nações, em nome da sobrevivência do regime da propriedade privada dos meios de produção, em decomposição.

     

    Os dirigentes da UE e o governo Obama denunciam a “ingerência” russa. Quem se ingere e por que?

    Eles o fazem porque “a melhor defesa é o ataque”. Depois do início das manifestações em Kiev, altos dirigentes da União Européia e dos Estados Unidos tomaram a palavra, a cada semana, na tribuna da “Euromaidan” (Maidan Nezalejosti é o nome da Praça da Independência, no centro de Kiev). Eles concentraram todos os seus esforços no sentido de fazer pressão para que Yanukovich assinasse o acordo de associação com a União Européia.

    Foi aí que o regime de Putin colocou sobre a mesa os créditos de 15 bilhões de dólares. O regime de Yanukovich, que há quatro meses era um ardoroso defensor da assinatura do acordo de associação com a UE, deu uma “meia-volta” brutal em meados de novembro (às vésperas da reunião de cúpula européia de Vilnius, de 27 e 28 de novembro de 2013) quando Putin “ofereceu” os seus 15 bilhões.

    Lembremos que, como antes na Tunísia, o “acordo de associação com a UE”, do qual Yanukovich era um ardente partidário, tinha como “contrapartida” a adoção, pelo governo ucraniano, de uma série de brutais medidas anti-operárias ditadas pelo FMI, indo desde o congelamento de salários e pensões até o vertiginoso aumento do preço do gás para as residências. O próprio jornal francês pró-UE Le Monde reconhece que “a ajuda financeira oferecida por Bruxelas (610 milhões de euros) é ínfima. E, para piorar as coisas, esse dinheiro seria desembolsado somente após a adesão de Kiev ao programa de reformas do FMI para reerguer a economia do seu atual estado deplorável”. E acrescenta: “Toda aproximação (da Ucrânia com a UE) implica seu pacote de ‘reformas estruturais’, esforço de desendividamento, de rigor orçamentário. Angela Merkel já avisou”.

     

    Por que Yanukovich mudou de idéia e passou a preferir a oferta de Poutin?

    Para os militantes da 4a. Internacional, isso remete à natureza dos regimes em presença, e, portanto, às condições pelas quais, em 1991, a burocracia stalinista, agindo por conta do imperialismo mundial, destruiu a URSS. A burocracia restabeleceu as relações capitalistas, nas condições de decomposição do mercado mundial, e, portanto, se transformou nesta camada mafiosa e compradora, a serviço do imperialismo, sempre procurando defender suas próprias prebendas, seus próprios privilégios e interesses.

    Se Yanukovich mudou bruscamente de opinião, preferindo a oferta “mais interessante” de Putin, é porque essa camada, os “clãs” que ele representa, é motivada pelo enriquecimento rápido e imediato, como o que lhes propiciaram, na década de 1990, as privatizações mafiosas em toda a ex-URSS.

    Em nada o regime de Putin se distingue do regime da Ucrânia. Como escrevemos em 2004, no momento da “revolução laranja”: “Putin é um agente estadunidense. Mas é um agente estadunidense que, para assegurar sua própria sobrevivência política, deve preservar um certo número de prerrogativas, inclusive do ponto de vista de seu poder burocrático-militar apoiado sobre a pilhagem e a destruição do país, o que pode colocá-lo em contradição com as necessidades imediatas e a política do imperialismo estadunidense”. É o mesmo papel que ele desempenhou em relação à Síria, ao mesmo tempo “salvando” Obama, que estava atolado na crise síria, e fazendo prevalecer os interesses específicos da camada mafiosa que ele representa.

    O regime russo se lembra perfeitamente que a adesão à União Europeia, sucessivamente em 2004 e 2005, dos países da Europa central e oriental foi acompanhada por sua adesão à OTAN, levando a um verdadeiro “cerco” de bases estadunidenses em suas fronteiras orientais (na Polônia, na República Tcheca…).

     

    Mas a divisão da Ucrânia entre “leste” e “oeste” não tem raízes históricas?

    Na realidade, não existe uma base objetiva para a desagregação da nação ucraniana, tanto quanto não há na Síria, na Argélia e alhures.

    A história da Ucrânia está estreitamente ligada à da Rússia, pois a própria origem da Rússia é o reino de Kiev. É verdade que em seguida, a nação ucraniana foi esquartejada, oprimida e desmembrada pelas grandes potências vizinhas: o reino da Polônia, o Império Austro-húngaro e, evidentemente, a “prisão dos povos”, que era o Império tzarista, cujos funcionários brutais e chauvinistas oprimiram o povo ucraniano, recusando-se até mesmo a reconhecer sua existência.

    Recordemos a maneira pela qual Lênin se bateu, no movimento operário russo, contra toda adaptação ao chauvinismo da “grande-Rússia”, pelo direito à auto-determinação das nações, portanto também o direito do povo ucraniano, entre outros.

    É a origem do poderoso sentimento nacional ucraniano, que existe até hoje e que é perfeitamente legítimo. Foi a Revolução de Outubro de 1917, ou seja, a revolução mundial, que, expropriando o capital, rompendo com o imperialismo, liberou a nação ucraniana. A nação ucraniana, desenvolvendo sua língua nacional, sua cultura, sua literatura, pode progredir como nunca no quadro de uma República soviética da Ucrânia, federada com a Rússia soviética e outras, no quadro da URSS, que deveria ser, segundo Lênin, uma “união livre de povos livres” estendendo-se em direção ao Oeste da Europa no ritmo dos avanços da revolução mundial.

    Não é por acaso que a degenerescência burocrática da URSS tomou, na Ucrânia, a forma da eliminação, por Stálin, dos dirigentes comunistas ucranianos (fossem ou não membros da Oposição de esquerda, dirigida por Trotsky) em nome da luta contra um pretenso “nacionalismo ucraniano”. A brutalidade do stalinismo, a brutalidade com a qual a burocracia implantou a coletivização forçada no campo e as ondas de fome que essa política provocou, não impediram que centenas de milhares de partisans (combatentes) se levantassem contra a ocupação nazista, que pretendia restabelecer a propriedade privada sob a forma de escravização das populações soviéticas.

    Na Ucrânia há ucranianos, alguns falam a língua ucraniana, outros falam a língua russa. Existem, como em todos os países que faziam parte da URSS, minorias nacionais, russos, húngaros, tártaros… Mas, repitamos, não há base “objetiva” para enfrentamentos “étnicos” ou linguísticos.

     

    Justamente, os partidos “nacionalistas” ucranianos ocupam a linha de frente. O que isso significa?

    De “nacionalistas”, os principais partidos que dirigem as manifestações só têm o nome. E mesmo de ucranianos, só têm o nome. O Partido Batkivshina (“A Pátria”) da ex-inspiradora da “revolução laranja”, que depois se tornou primeira-ministra, tão corrupta quanto Yanukovich, Yulia Timochenko, foi criado e financiado pelo governo polonês. O partido “Oudar” do boxeador Klishko, foi fundado e financiado pela Fundação Konrad Adenauer, ligada ao partido de Angela Merkel, a CDU. Quanto ao Partido “Svoboda” (Liberdade), que ainda há pouco se chamava “Partido nacional-socialista da Ucrânia”, se apresenta como herdeiro de Stepan Bandera que, oito dias depois da invasão nazista da URSS (em 22 de junho de 1941), redigiu a “proclamação de independência” da Ucrânia, que iria colaborar “com a grande Alemanha nacional-socialista, sob a direção de seu chefe Adolf Hitler que está instaurando uma nova ordem na Europa“. As bandeiras vermelhas e negras que aparecem nas manifestações de Kiev são da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e do Exército Insurrecional da Ucrânia (UPA) que, ao lado dos nazistas, em 1941, ajudou a liquidar os judeus, os húngaros, os ciganos, os anti-nazistas, no momento da invasão nazista. Svoboda defende o acordo de associação com a UE e também a adesão da Ucrânia à OTAN.

    Não há aqui nada de surpreendente: é uma característica histórica do “nacionalismo” burguês ucraniano submeter-se às grandes potências imperialistas. Ele fez isso em 1918 quando a Rada (Parlamento) da Ucrânia “independente” aliou-se ao imperialismo alemão e depois, em 1941, ao mesmo imperialismo alemão sob sua forma nazista e, hoje… coloca-se a serviço da OTAN e dos Estados Unidos.

    E não esqueçamos da proliferação de ONGs, financiadas por fundos europeus e estadunidenses. Na Ucrânia, como na Bielorrússia, explica um militante bielorrusso no jornal Rabochie Izvestiya (dezembro de 2013): “colossais recursos da mídia ‘independente’ foram colocados em movimento para promover a ‘via européia’ e, igualmente, as ONGs. A juventude civicamente ativa passa por seminários, por ‘trainings’, visando a orientá-la brutalmente para valores europeus, nos quais lhes são inculcados dogmas neoliberais e outros postulados do capitalismo contemporâneo. Tudo isso, bem entendido, é misturado aos contos de fadas da ‘sociedade civil’ e outros postulados do politicamente correto”.

     

    Em que medida o imperialismo utiliza esses intermediários para desestabilizar?

    O sangue correu em Kiev, a primeira vez, em fins de dezembro e, numa outra escala, em 18 e 19 de fevereiro. Esses banhos de sangue foram precedidos por dois fatos. Em meados de dezembro, antes dos primeiros mortos, houve a assinatura do acordo dos 15 bilhões de créditos entre Yanukovich e Putin. Foi também em 15 de dezembro que o senador republicano MacCain e seu colega democrata Murphy tomaram a palavra na tribuna da Euromaidan para declarar: “Nós estamos aqui para sustentar uma causa justa, o direito soberano da Ucrânia decidir livremente e independentemente seu destino, que é ligar-se à Europa”, acrescentando “Nós dizemos claramente que a ingerência da Rússia e do sr. Putin são inaceitáveis“. Em 10 de dezembro, o Strategic Forecasting Inc. (Stratfor, por vezes chamado de “gabinete encoberto da CIA”) escreveu: “O apoio estadunidense aos protestos na Ucrânia é um meio de fixar a atenção da Rússia em sua região e desviá-la de sua ofensiva contra os Estados Unidos”.  O embaixador dos EUA em Kiev havia ameaçado a Ucrânia com o “caos” caso fosse assinado o acordo com Putin… Dias após a assinatura do acordo caíram os primeiros mortos.

    Depois houve a manifestação armada de 20 mil pessoas dirigida pelas milícias do Svoboda e grupos neonazistas como o “Pravyi sektor”, em 18 de fevereiro. Podemos ignorar que isso ocorreu uma semana depois da visita de Victoria Nuland, secretária adjunta do Departamento de Estado dos EUA, que se reuniu com dirigentes do Svoboda em 13 de fevereiro? E isso imediatamente depois que a primeira parcela da ajuda russa havia sido entregue a Kiev? Nuland, numa conversa telefônica com o embaixador estadunidense em Kiev, sugeriu-lhe que passasse por cima dos europeus (“Foda-se a União Européia!”, ela exclamou elegantemente!) para constituir uma “oposição” sob medida. A conversa, provavelmente gravada pelos serviços secretos russos, foi tornada pública.

     

    Mas centenas de milhares de ucranianos não estão se manifestando há meses?

    Não podemos caracterizar a natureza dessas manifestações sem partir da luta de classes em nível internacional, das relações entre as classes, do imperialismo e da resistência ao imperialismo.

    Há uma campanha de desinformação habilmente orquestrada. Por exemplo, num jornal burguês um “especialista” explica doutamente: “Na Ucrânia, como na Bósnia, trata-se da revolta de um povo contra suas elites corruptas”. Que na Bósnia, como na Ucrânia (e também nos Estados Unidos e nas grandes potências “civilizadas”) existam “corruptos”, é indiscutível.

    No entanto, quando em 5 de fevereiro, os operários demitidos de cinco empresas privatizadas, em Tuzla, na Bósnia, se revoltaram e ocuparam a prefeitura do governo “cantonal” aos gritos de “Morte ao nacionalismo!” (retomando a palavra de ordem dos partisans da revolução iugoslava “Morte ao facismo!), a União Européia ameaçou enviar tropas suplementares da Eurofor para esmagar a revolta.

    Em Kiev, ao contrário, a União Européia e seus representantes, os representantes dos Estados Unidos, não cessaram, durante três meses, de jogar lenha na fogueira para empurrar a Ucrânia na via da desagregação e da divisão. É nesse sentido, por meio de seus intermediários locais, que foram dirigidas e orientadas as manifestações de Kiev (“Euromaidan”).  Essas manifestações são, portanto, reacionárias e pró-imperialistas.

     

    Isso quer dizer que todos os que se manifestam são reacionários e pró-imperialistas?

    Claro que não! O caráter reacionário das manifestações não significa que elas não tenham se desenvolvido num contexto favorável. De fato, já fazem mais de vinte anos que os sucessivos governos saídos da decomposição da burocracia e seus clãs mafiosos (Koutchma, Yanukovich), e também os governos saídos da “revolução laranja” (Youshenko, Timoshenko), privatizaram, liquidaram, destruíram, pilharam… a serviço do FMI. E, de passagem, locupletaram-se gulosamente, é claro. Lembremo-nos das campanhas internacionais das quais a 4ª Internacional participou em 2003-2004 contra as “reformas” destruidoras da legislação trabalhista, aplicadas por um certo… Yanukovich!

    Em tal situação, numerosos cidadãos, aposentados, camponeses, estudantes, e mesmo uma fração da classe operária, participaram das manifestações. Mas isso não é suficiente para dar a essas manifestações um sinal positivo.

     

    Qual é a posição do movimento operário?

    Uma parte do movimento operário chamou a participar das manifestações desde meados de novembro de 2013. Em particular, os dirigentes da Confederação dos Sindicatos Livres da Ucrânia (KSPU), que se constituiu ao redor do poderoso Sindicato independente dos Mineiros, o NPGOu. Um sindicato que tem suas raízes nas grandes greves de mineiros soviéticos dos anos 1989-1990 contra a burocracia “restauracionista”.

    E sindicatos inteiros vieram, de ônibus, de cidades mineiras para Maidan. Em meados de novembro, um mineiro entrevistado na praça Maidan, vindo com seus companheiros, explica: “Estou aqui porque nos queremos entrar na Europa, porque estamos cheios desse estado corrupto. Quando levamos a direção da mina aos tribunais para exigir que ela respeite nossos direitos, um mafioso chega, molha a mão do juiz na frente de todo mundo, e nós perdemos sempre. Então nós queremos a Europa para ter juízes independentes, que sejam obrigados a respeitar a lei”. Evidentemente, são ilusões. Porque, com a UE, esses mineiros ucranianos não terão um futuro diferente do que tiveram os operários dos estaleiros do Báltico, na Polônia, fechados do dia para a noite, por ordem da Comissão Européia que tinha proibido a concessão de subsídios pelo Estado polonês. Os estaleiros haviam sido o berço do sindicato Solidarnosc, da resistência operária polonesa contra a burocracia, e foram liquidados pela Comissão Européia, com apoio de uma parte dos dirigentes nacionais do sindicato Solidarnosc, contra os operários e seu sindicato Solidarnosc do estaleiro.

    São ilusões, elas existem. Mas os trabalhadores que foram à praça Maidan não podem ser responsabilizados. E, como testemunham militantes operários da Ucrânia e da Bielorússia: convocar os trabalhadores, seus sindicatos, para participar de manifestações junto com nostálgicos do nazismo, financiados pela embaixada dos Estados Unidos, isso não poderia terminar bem. E o que deveria acontecer aconteceu: no fim de dezembro, da tribuna da praça Maidan, os dirigentes do Svoboda proclamaram: “provocadores comunistas se concentraram na esquina da avenida Kreshatik!”. Imediatamente, uma centena de delinquentes se dirigiram ao stand da Confederação de Sindicatos Livres da Ucrânia (KSPU) e atacaram seus militantes, mandando vários deles para o hospital.

    Os responsáveis pela situação são aqueles que convocaram os trabalhadores, seu movimento sindical a colocar-se a reboque dos agentes da UE e da embaixada dos EUA, contando-lhes fábulas sobre a “Europa social”. Tal como na França, onde vimos recentemente, com o movimento dos “bonés vermelhos”, operários demitidos serem arrastados a se manifestar ao lado dos patrões que os haviam demitido, em nome da “regionalização”. Responsáveis, também, são os pablistas, cujo grupo na Ucrânia apoiou a decisão de alguns dirigentes sindicais de ir às manifestações na praça Maidan. E os pablistas ucranianos cobriram essa posição explicando que tratava-se do combate pelos “valores europeus”, “o internacionalismo” etc. Como na Síria, eles cobriram durante meses a ingerência imperialista de desagregação em nome de uma pretensa “revolução” contra o regime de Bashar al Assad.

     

    Qual é a política da 4ª Internacional ?

    Para a 4ª Internacional, trata-se aqui da questão central, internacional, a questão da independência do movimento operário.

    Por meio da publicação do jornal Rabochie Izvestiya (cujo número 42, publicado em 22 de fevereiro, traz um artigo dialogando com todas essas questões), por meio da participação de camaradas dessa região na Conferência Operária Europeia de 1 e 2 de março de 2014, em Paris, nós procuramos, modestamente, ajudar nesse combate, em relação com o conjunto de nossa intervenção política em escala internacional.

    De nossa parte, nós podemos, sem corar, republicar o que dizíamos em novembro de 2004, quando começava a pretensa “revolução laranja”:

    “Ninguém pode negar que há uma explosão hoje, na Ucrânia, que pode conduzir ao desmantelamento não apenas da nação ucraniana,mas de toda a Europa. (…) Há dez anos nós viemos explicando que, na Ucrânia, a própria natureza da burocracia estalinista só poderia conduzir não à restauração capitalista mas a essa política de desmantelamento das nações, de pilhagem do país, de destruição da força de trabalho e de sua própria destruição física.

    Hoje, o que vemos na Ucrânia, não apenas confirma essa apreciação, mas confirma que não há saída (inclusive no terreno democrático mais elementar da defesa da soberania da nação ucraniana, de sua unidade), não há saída fora do combate pela defesa e reconquista das conquistas de Outubro de 1917. Fora do combate sobre o terreno da propriedade social, indissociável da existência da classe operária e da própria nação ucraniana.” (trechos de um informe apresentado em 28 de novembro de 2004 à direção nacional da seção francesa da 4ª Internacional).

     22 de fevereiro de 2014, 16 horas

    [1] Esta carta foi escrita antes de chegar a notícia da reunião do Parlamento que “destituiu” Yanukovich.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador