Réu, Padilha é acusado de receber milhões de universidade do RS

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O ministro da Casa Civil de Michel Temer, Eliseu Padilha, é alvo de investigação na Justiça Federal do Rio Grande do Sul por pagamentos milionários de uma universidade privada. Padilha é réu, acusado de obter benefícios junto à Universidade Luterana do Brasil, quando era deputado federal.
 
O atual ministro teria recebido R$ 3,9 milhões (que equivalem a R$ 7 milhões hoje) da instituição por meio de duas de suas empresas, a Rubi e Fonte, sem a prestação dos serviços de consultoria.
 
Por Felipe Bachtold
 
Eliseu Padilha é alvo de ação no RS por receber dinheiro de universidade
 
Da Folha de S. Paulo
 

Pagamentos milionários de uma universidade privada do Rio Grande do Sul a empresas de consultoria do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) estão no centro de uma ação de improbidade na qual ele é réu na Justiça Federal.

Padilha tenta suspender a tramitação do processo, em que ele é acusado de beneficiar a Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) na época em que exercia mandato de deputado federal.

Duas empresas dele, chamadas Rubi e Fonte, receberam na década passada da instituição de ensino R$ 3,9 milhões (R$ 7 milhões em valores corrigidos). Uma auditoria na universidade não encontrou documentos comprovando a prestação de serviços de consultoria.

A defesa do ministro peemedebista argumentou, já na segunda instância federal, que o Ministério Público Federal não tinha competência para propor a ação e que o caso não envolvia a União.

Em outubro, os juízes do Tribunal Regional Federal rejeitaram pela segunda vez contestação do ministro. No mês passado, o tribunal determinou que o pedido de contestação fosse encaminhado a uma instância superior.

O ministro e testemunhas foram ouvidos no ano passado. As partes envolvidas já entregaram suas alegações finais na ação de improbidade, e o caso consta como pronto para sentença.

O Ministério Público Federal diz que o acordo entre uma universidade concessionária de serviço público e um deputado no exercício do mandato atenta contra a administração pública e acusa o hoje ministro de indicar pessoas para a concessão de bolsas.

Se for condenado, Padilha pode ser obrigado a devolver o dinheiro e a ter direitos políticos suspensos, a partir do momento em que não houver mais recursos.

FILANTROPIA

Na década passada, a universidade tentava reaver um certificado de filantropia que garante isenção de impostos.

No depoimento, Padilha disse que prestou consultoria para a implantação de polos de ensino à distância pelo país. O último contrato foi rompido em 2008.

Ele disse que, como tinha sido ministro anteriormente -comandou os Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso- tinha experiência e sabia para que regiões direcionar as atividades da universidade.

O ministro confirmou que, em uma ocasião, chegou a pedir ao Conselho Nacional de Assistência Social que fosse colocado na pauta um processo que poderia beneficiar a Ulbra, mas diz ter feito isso “como parlamentar” em defesa dos interesses do Estado, de modo voluntário.

O recebimento dos valores por Padilha chegou a virar um inquérito no Supremo Tribunal Federal, arquivado em 2014 por falta de provas.

O despacho de arquivamento falava que era “notória a indefinição e generalidade” dos serviços contratados pela universidade, a ponto de nem o reitor saber informar a natureza do trabalho.

A Procuradoria-Geral da República, no entanto, não viu elementos que provassem tráfico de influência.

Na acusação que tramita no Rio Grande do Sul, o Ministério Público Federal questiona o fato de as notas fiscais emitidas pelas empresas na consultoria serem sequenciais.

Também afirma que o hoje ministro promoveu na Câmara uma homenagem para a Ulbra, na época em que sua consultoria era remunerada, e diz que ele articulou uma reunião entre representantes do Ministério da Fazenda e da universidade para discutir as dificuldades financeiras da instituição.

A Ulbra passou por uma grave crise e foi alvo de execução fiscal.

Também são réus na ação o ex-reitor Ruben Becker e um antigo sócio de Padilha, Luiz Alberto Rosa.

Por não envolver a esfera penal, esse tipo de ação pode tramitar na primeira instância e independe do foro privilegiado do ministro.

Um dos mais poderosos ministros de Temer, Padilha também se vê sob ameaça da Operação Lava Jato. Na delação do ex-executivo da OdebrechtCláudio Melo Filho, revelada em dezembro, ele foi citado 45 vezes.

OUTRO LADO

Procurada, a Casa Civil informou, via assessoria, que o posicionamento do ministro sobre o assunto está “nos autos do processo”.

Na segunda instância, a defesa sustentou que a ação se baseia em provas que já foram consideradas nulas, como gravações telefônicas.

No depoimento, em 2016, Padilha disse que a lei não impede um deputado federal de exercer uma atividade de consultoria. Naquela época, disse o peemedebista, a universidade não era classificada como entidade beneficiária de assistência social.

O ministro afirmou que os serviços foram prestados à universidade e que a instituição conseguiu ampliar seus polos de ensino à distância no período em que atuou.

Suas atividades, disse na ocasião, eram de aconselhamento empresarial.

“Parte do que eu prestava era EAD [ensino à distância], a outra parte era aquilo que a universidade me demandasse do que poderia ser campo do meu conhecimento e que eu conhecesse, porque estive muitos anos em Brasília”, disse ao juiz, em 2016.

Ele disse que estava com frequência em contato com o reitor e com professores, “da forma que eles exigiam”.

Padilha negou ainda ter indicado pessoas para concessão de bolsas.

Folha procurou os advogados de Padilha no Estado, que não responderam.

O ex-reitor, em depoimento, disse que o acordo com o hoje ministro não teve participação sua e que assinou contratos porque era “obrigação” sua. Luiz Alberto Rosa negou irregularidades.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Até quando?

    Até quando “essa porra” das instituições brasileiras irão fingir que dormem, para evitar, por pura covardia e medo, o momento de por um ponto final no imenso e despudorado bacanal político/ jurídico e midiático, que implantaram no Brasil, através da usurpação do poder, com o golpe cuja característica se assemelhou a um estrupo coletivo? Até quando quadrilhas de canalhas, canalhas e canalhas continuarão ditando as ordens no país, sem que nenhum outro poder corajoso, decente, honesto e não conivente e/ou dependente, dessa corja atual possa cumprir a patriótica missão de enjaular todas essas bestas traidoras da pátria, que invadiram e saqueiam o poder, as riquezas e a soberana independência do Brasil?

  2. Interessante: desde os tempos

    Interessante: desde os tempos em que era (apenas) corretor de imóveis em Tramandaí e adjacências que o nome dele transita nas conversas criminais (não apenas atos tipificados, mas, no geral: baita bandido, diziam). Tanto fez que acabou prefeito de Tramandaí e “vendeu” quase todas as lagoas da região, inclusive. Virou deputado, ministro e o escambau. Nunca ninguém o “pegou” de maneira a ser condenado. Aliás, era espantoso que o “paridor de ratos discursivos” o tal Simon fosse, no Rio Grande do Sul, companheiro e cumpanheiro do referido político-sempre-em-causa-(im)própria. Exemplo perverso dos homens públicos (privados, no particular) do nosso país.

    Recebi hoje frase que bem traduz os nossos dias, mais ou menos, assim: “dizer que a morte do Teori não foi acidental é buscar respostas na teoria da conspiração, mas, com certeza, a conspiração há muito é real em nosso país”.

    Pois é…

  3. Fazem mais de 30 anos (TRINTA

    Fazem mais de 30 anos (TRINTA ANOS) que ele é conhecido no RS por E.Quadrilha. Praticamente ninguém o chama pelo nome correto. E não é de graça.  

  4. Lula

    foi impedido pelo STF de ir para a Casa Civil com Dilma pelas suspeitas de 2 pedalinhos, 1 barco de lata, 1 triplex e de ter comprado, junto com Dona Marisa, bacon, no lugar de mortadela, num acougue perto de onde mora; STF que teve agora um ministro (ministro esse responsável pela homologação ou não de um acordo de delação onde o Homem Bom MiSheel Temer aparece umas 43 vezes citado como benifeciário de dinheiro sujo) morto em “acidente aéreo” … é o Brasil.

  5. O Brasil é um galinheiro; Temer e Padilha, as Raposas gestoras

    Esse merda de país, que já não era sério, viou um galinheiro e entregaram as chaves para as Raposas Temer, Padilha, Moreira Franco e comandita.

    Mas como diria a prisidenta do $TF, não mude do Brasil, mude o Brasil

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