Roberto Setubal, possível ministro de Campos, vê futuro na infraestrutura

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Meses antes de a disputa presidencial chegar efetivamente às urnas, é natural que a imprensa dispenda alguma energia na tentativa de apontar quem deve compor o primeiro escalão do governo federal na hipótese da atual chefe do Executivo, Dilma Rousseff, não emplacar a reeleição.

No caso de Eduardo Campos, presidenciável do PSB, não é certo que pasta seria destinada a Roberto Setubal, atual comandante do Itaú Unibanco, embora a Fazenda seja a mais cotada. Mas é certo que “Bob” – apelido empregado por Campos para se referir ao presidente do maior banco privado do país – é tão visado pelo pessebista que ele poderá escolher o ministério que achar conveniente. Pelo menos é nisso que aposta a grande mídia até o momento.

Para reforçar a tese, os jornais evidenciam que a postulante a vice-presidente na chapa do PSB, Marina Silva, é amiga muito próxima a Maria Alice Setubal, irmã do banqueiro. Ele se aposenta compulsoriamente da chefia do Itaú Unibanco em 2015, quando completa 60 anos de idade e duas décadas de casa.

Há quem destaque, também, que Setubal sempre viu com simpatia o PSDB do presidenciável Aécio Neves, tendo estreitado laços com o ex-governador de São Paulo, José Serra. Mas entrevistas recentes também provam o empresário como admirador da gestão do ex-presidente Lula e de sua sucessora no Palácio do Planalto.

Falando descompromissadamente sobre eleição, em dezembro passado, Setubal chegou a dizer ao jornal O Globo que apostava na “maior probabilidade de reeleição de Dilma”. Em relação ao PSDB, considera-o um partido sem perspectiva de poder. Em almoço recente, afirmou a um interlocutor que o PSDB só ganhou eleições porque tinha o DEM para articular a campanha.

O possível ministro de Campos também minimizou as críticas ao atual governo quando a equipe de reportagem lhe perguntou se ele concordava que o Brasil perdera parte das conquistas acumuladas nas gestões de Fernando Henrique Cardozo e Lula nos últimos anos. “Não é uma questão de perder as conquistas. Acho que a conjuntura é diferente”, respondeu. E acrescentou que o país caminha nos trilhos certos, devendo, no próximo período, fazer “correções de rumo” para se adaptar ao cenário econômico mundial. 

“Correções de rumo”

Na entrevista ao O Globo, em dezembro passado, Setubal avaliou que é necessário ao Brasil abrir mão da política de investimentos alicerçada na ampliação dos gastos públicos (sem ampliação proporcional da receita) em detrimento dos investimentos em infraestrutura, com apoio do capital privado. Nesse quadro, ele sugere ainda que o BNDES deve reformular seu papel de agente financiador do desenvolvimento e selecionar melhor os projetos que irá subsidiar. 

Na visão do banqueiro, o Brasil conseguiu, nos últimos anos, respirar melhor enquanto todos os países que mantém fortes relações econômicas com a Europa e os Estados Unidos registraram crescimento relativamente baixo. Mas fez críticas à gestão de Guido Mantega na Fazenda, alertando que é “preciso um controle mais rigoroso dos gastos públicos” e que “algum tipo de ajuste fiscal (deve ser) feito mais à frente”. “Com um ajuste fiscal teríamos condições para reduzir os juros, tirar a pressão da inflação, criando condições melhores para o crescimento”, sustentou.

Mais de um ano antes, em janeiro de 2012, ao jornal O Estado de S. Paulo Setubal disse que estava gostando de tudo o que via a respeito do governo Dilma Rousseff, principalmente o fato de a presidente tentar despolitizar alguns setores do governo para dar margem a uma equipe mais técnica. Além disso, avaliou que o país consolidou a estabilização econômica. “Está institucionalizada no Brasil a intenção de manter isso, não é mais uma preocupação”, pontuou.

O que atacar no Brasil

Questionado pelo Estadão no início do segundo ano do governo Dilma sobre quais os grandes problemas que devem ser atacados no país, Setubal disse que vê duas áreas como fundamentais: infraestrutura, no curto prazo, e educação, no longo prazo. Ele também ressaltou a importância de manter os juros na casa de um dígito e fazer a inflação voltar à meta de 4,5%.

“Acho que existem duas formas de criar condições para o investimento. Na parte regulatória, o governo vem mexendo no marco, como no caso dos aeroportos. Mas, na área macroeconômica é preciso criar condições de termos juros de longo prazo mais baixos no Brasil. A redução dos juros para um dígito ajuda muito porque, quando os juros são muito elevados no curto prazo, o juro de longo prazo tem de ser ainda mais elevado, pelos riscos envolvidos, o que torna inviável o financiamento de longo prazo”, comentou naquela ocasião.

Um ano depois, na entrevista ao O Globo, o banqueiro reforçou que o governo federal deve aumentar o volume de investimentos em infraestrutura ao invés de continuar subsidiando o consumo com ampliação do acesso ao crédito, mas reconheceu que essa política foi corrigida e que devemos sentir os efeitos nos próximos anos.

“Iniciamos a troca desse modelo. Acho que a política de concessões mudou nesses últimos dois anos, tornou-se mais atraente para os investidores. E acredito que vamos ter uma mudança muito grande na infraestrutura do país. Todos os aeroportos importantes já passaram pelo processo de concessão. Acredito que em três anos veremos uma mudança relevante na infraestrutura brasileira”, projetou.

Um BNDES mais seletivo 

Setubal criticou, entretanto, o atual papel do BNDES. “O Brasil tem uma necessidade gigantesca de investimentos em infraestrutura, e é impossível imaginar que esses investimentos serão financiados pelo BNDES, que todos terão subsídios da ordem de 5% ao ano. Os volumes são muito grandes e seria inviável para as contas públicas. Precisamos rever isso, uma boa parte desses investimentos não precisa de subsídios. Seria o caso do aeroporto de São Paulo (Cumbica), a iniciativa privada teria todo o interesse em investir nele. Acho que o BNDES tem um papel a cumprir, mas deveria ser mais seletivo. Acho que ele deveria se concentrar em projetos que o mercado não financiaria naturalmente”, pontuou.

À Folha, em dezembro de 2012, Setubal fez proposição similar, e acrescentou que o papel do investidor privado é de suma importância nesse contexto. Para ele, o governo deveria “flexibilizar”  o quanto antes as condições de investimento, para que o empresariado seja atraído e tenha mais expectativas de retorno.

“Diria que estamos ainda na fase de encontrar os modelos melhores (para a economia), essas coisas não nascem prontas, tem que ter um aperfeiçoamento e o próprio governo reconhece. Aí o importante é a direção, ou seja, permissão e flexibilização da legislação no sentido de permitir o capital privado. Ao fazer isso, o governo reconhece a importância dos capitais privados, a agilidade e a capacidade de realizar os investimentos, coisa que o setor público tem dificuldade de fazer.”

O banqueiro ainda destacou que o Brasil, após o crescimento do mercado de trabalho, tem que reforçar a produtividade, o que casa completamente com a necessidade de investimentos. “A produtividade terá que ser um driver muito importante daqui pra frente, não vamos ter mais preço de commodities e crédito puxando a demanda (como tínhamos no governo Lula), num país que tinha uma situação de emprego com grande folga, grande oferta de mão de obra. Esses motores puxaram muito bem a economia até esse nível de emprego. Daqui para a frente, sem investimentos para ganhar produtividade, não conseguimos criar riqueza e crescer”, finalizou.

Colaborou Tatiane Correia

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

24 Comentários

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  1. Setubal sonhar com o

    Setubal sonhar com o ministério não é proibido. Mas se ele chegar lá apenas o pesadelo do povo brasileiro estará garantido.

  2. Mais uma dica de Campos de

    Mais uma dica de Campos de como será o seu governo e mais um aceno para os rentistas.

    Cego não vê, burro não enxerga.

    1. Quem sabe o Dudu Traíra não

      Quem sabe o Dudu Traíra não está pensando na “sobra de campanha”? Os clientes do Itaú podem se prepoarar para um bom aumento nas tarifas do banco, após a eleição.

  3. Se ele pagasse os 18 bilhões

    Se ele pagasse os 18 bilhões que deve de impostos sonegados, daria para investir em muita infraestrutura.

    1. Não é ele quem foi autuado,

      Não é ele quem foi autuado, foi o Banco Itau e autuação não significa divida, cabe defesa na esfera administrativa e depois na judicial, raramente uma autuação se sustenta integralmente, toda grande empresa tem muitas autuações, devida à extrema complexidade da legislação tributaria, há diferentes interpretações do Fisco e do contribuinte, a Petrobrás tem

      dezenas de bilhões de reais de autuações e toda empresa de capital aberto, inclusive o Itau e a Petrobrás, TEM OBRIGAÇÃO LEGAL DE CONTESTADAR ATÉ O FIM toda autuação fiscal, se não fizer isso o administrador pode ser processado por desidia.

      Grande parte das autuações fiscais (dizem que 70%) caem após recursos.

  4. Empossar Roberto Setúbal como

    Empossar Roberto Setúbal como ministro, seria o mesmo que Tio Patinhas contratar os irmãos Metralhas para serem os seguranças de sua caixa-forte…….Precisa dizer mais?

  5. Tunel do tempo!

    “Diria que estamos ainda na fase de encontrar os modelos melhores (para a economia), essas coisas não nascem prontas, tem que ter …permissão e flexibilização da legislação no sentido de permitir o capital privado. Ao fazer isso, o governo reconhece a importância dos capitais privados, a agilidade e a capacidade de realizar os investimentos””

    Voltamos a 1989!!!!! Perdemos tudo que aprendemos na década de 90 e o que foi feito para abrir o mercado? Acho que não! Quem perdeu é quem está no poder! Como disse um candidato, aprendizado que está nos saindo caro!!!!

  6. Vade retro.
    …e fazer a

    Vade retro.

    …e fazer a inflação voltar à meta de 4,5%

     

    O normal sempre foi a inflação ficar acima da meta.

  7. RAPOSA QUERENDO MUDAR A TRANCA DO GALINHEIRO.

    Esses baqueiros se superam, quando você pensa que já se sastisfazeram de tanto enfiar as mãos nos bolsos nacionais, querem mais. Mudar o BNDES, será porque? Será que eles ainda pensam que só tem tolo no Brasil, ninguém mais esta estudando? Esse Eduardo verdadeiramente não quer ganhar a eleição, associar a banqueiro e pedir voto do povo…esse é meio tapado mesmo, que o diga Pantaleão….É mentira Terta? É não….

    1. Talvez mudando o BNDES não se

      Talvez mudando o BNDES não se veria esse banco, com recursos do Tesouro, emprestar dinheiro para pagar quando quiser para um grupo frigorifico se tornar o maior do mundo e que hoje é controlado por uma holding que fica no

      Estado de Delaware nos Estados Unidos  e quer por sua vez é controlada por outras duas holdings em paraisos fiscais do Caribe, cujos donos finais ninguem sabe quem são. O BNDES enfiou uma fabula de bilhões nesse grupo, o que ganhou o contribuinte brasileiro com isso?

  8. Campos não tem quadros para

    Campos não tem quadros para dirigir o país. Vai apelar para vários Setubals.

    Evidentemente essa indicação do provável ministro banqueiro apenas demonstra a imensa ameaça que a candidatura Campos representa para o país. Se os banqueiros já fazem estrago sem serem ministros imagine o que fariam de dentro do governo.

  9. That’s the wishfull thinking…

    Quem lê a manchete não precisa ir além.

    Futuro ministro de Campos? Uai, o “home” tá eleito?

    Não seria, candidato a minstro do candidato a presidente?

    Mas aí não seria uma traquinagem semiótica do nosso blog preferido.

  10. Desperdício de tempo.

    Sou aposentado, mas tenho outras coisas pra fazer ,antes de ler a materia. A possibilidade é tão remota, que não dá para perder tempo com esse texto.

  11. O assunto não é o possível ministro mas o que pensa o Banqueiro

    Achei o artigo informativo e equilibrado. Dá pistas concretas de que ele quer manter o crescimento e em nenhum momento acena com arroxar salários embora esteja rasoavelmente implicito mas não mandatório. Mandatório é o rumo do investimento público. Uma visão empresarial bem equilibrada e luta pelos juros de 1 dígito….já deve ter o Piketty na cabeça e não exagera no neoliberalismo.

  12. O AEIOU disse assumindo o

    O AEIOU disse assumindo o governo a economia volta a crescer…

    Vendo o Financista falando em infraestrutura, deixa um ‘LEVE” GOSTO DE TRAMOIA dos PESOS PESADOS DA ECONOMIA NO AR…

    O 1% do Brasil não gosta apenas de ter dinheiro a rodo, de ser muito rico…

    Ele ADORAM ALMOÇO GRÁTIS… e de preferência bancado pelos 99% restantes…

    Isso fez com que o Brasil fosse o último a abolir os escravos…

    Que tivessemos uma das maiores concetrações de renda no mundo…

    Que os banqueiros não foram afetados pela crise americana, é um fato, por que mais confortavel que o almoço gratis no Brasil?

    O pré-sal é risco na mão de raposas…

  13. Dar independência ao BACEN

    Dar independência ao BACEN como promessa de campanha e colocar um banqueiro no ministério da fazenda significa a implantação do anarquismo sem fazer plebiscito.

  14. Torcida à parte…

    Achei que a entrevista boa. Nem parece que é um banqueiro. Falando em reduzir juros!!! Enfim…apenas a única nota do discurso comum do empresariado brasileiro: “investimento em infra-estrutura” e “arrocho fiscal”. Que são duas necessidades, de fato, mas não ataca parte dos problemas que impedem combater isso – a tributação injustamente distribuída e o excesso de atribuições – e recursos – concentrados na União. 

    Acho que há um certo exagero em criticar cegamente alguém que faz parte “do outro lado”. Até porque, a rigor, ele elogiou tanto a gestão Lula como a de Dilma – talvez por ter ganho muito dinheiro em ambas. Mas o fato é que tanto Aécio como Campos só tem figuras desse perfil (ricos, empresários, empreiteiros, banqueiros, etc) para compor seus ministérios – o que demonstra bem o lado que eles escolheram. 

  15. Pena de Morte

    Queria ter sido assaltado, roubado, sequestrado ou até mesmo morto, do que esta MORTE LENTA E DOLOROSA E VERGONHOSA IMPOSTA PELO BANCO ITAU CONTRA MIM VERIQUE O PROCESSO 0170435-81.2012.8.26.0100 DE SÃO PAULO

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