Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Os mercados caminham para o centro, por Andre Motta Araujo

Os mercados têm focos, prazos e mecanismos diferentes, MAS existem temas mais ou menos consensuais HOJE e um deles é a preferência por regiões e governos ESTÁVEIS, PREVISÍVEIS, SENSATOS.

Os mercados caminham para o centro

por Andre Motta Araujo

Há uma notável incapacidade de leitura do que seja essa entidade definidora de contextos geopolíticos conhecida como ” mercado”. Não é um centro de poder com comitê gestor ou com um grupo de sábios determinando o que vai acontecer. O “mercado” é um conjunto de agentes e interesses nem sempre organizados, da mesma forma que esse outro ente conhecido como a “comunidade internacional”.

A vontade do mercado se manifesta por determinados núcleos consensuais, há um núcleo da MACRO-FINANÇA, representado pelo FMI,  BANCO CENTRAL EUROPEU, BANCO DE COMPENSAÇÕES INTERNACIONAIS (Banco da Basileia), BANCO DA INGLATERRA, OMC, OCDE, Board do Federal Reserve System, Federal Reserve Bank of New York (braço internacional da autoridade monetária americana), SECRETARIA DO TESOURO, SECRETARIA DO COMERCIO,  BANCO MUNDIAL, BANCO DO JAPÃO.

Há outro conjunto de núcleos com interesses específicos, fundos hedge, fundos especulativos, firmas de alta tecnologia e negócios de recente estruturação como a Amazon, a Facebook, a Google, há o mundo das corporações de produção de bens e serviços, as FORTUNE 500, as grandes multinacionais presentes em todo o mundo, como NESTLE, UNILEVER, SIEMENS, L´OREAL, BAYER, com sólida experiência em diferentes épocas e territórios, sobreviventes de guerras, conflitos, golpes de Estado, mudanças de regime, são todos GRUPOS de agentes econômicos com diferentes ciclos, tempos e horizontes.

Depois há outra confraria, a dos fundos de investimento conservadores e de renda fixa, como PIMCO, fundos de pensão americanos, ingleses, canadenses e holandeses, os grandes bancos internacionais como JP Morgan, Paribas, Deutsche, UBS, as grandes seguradoras como ALLIANZ, ZURICH, PRUDENTIAL.

Os mercados têm focos, prazos e mecanismos diferentes, MAS existem temas mais ou menos consensuais HOJE e um deles é a preferência por regiões e governos ESTÁVEIS, PREVISÍVEIS, SENSATOS. Países párias podem ter alguma preferência especulativa, MAS no longo prazo são evitados. É o caso hoje da Turquia e do Brasil, com regimes erráticos, confusos, aventureiros e imprevisíveis. NÃO VÃO ATRAIR INVESTIMENTOS EM LARGA ESCALA.

Não adianta colocar um Ministro da Economia com diploma americano, o problema é do conjunto, do Estado, da LIDERANÇA POLÍTICA. Ninguém quer arriscar dinheiro alto em regimes sectários, cruzadistas, ideológicos. O “mercado”, no seu conjunto de núcleos, quer NORMALIDADE, SOBRIEDADE, SENSATEZ, CIVILIZAÇÃO, os financistas, executivos, banqueiros podem até arriscar apostas em situações especiais, mas no geral querem operar em território seguro. É da lógica da História do capitalismo, dos grandes ciclos de crescimento e elevação de padrões de vida e civilização. É a lição da História.

O Brasil com alta inflação dos anos 50 atraiu empresas do mundo inteiro porque tinha um JK com sua cativante simpatia como estadista, criou a Aliança para o Progresso, ideia dele para Kennedy, criou o Banco Interamericano de Desenvolvimento, um liderança de padrão mundial que elevou o nome do Brasil com sua refinada diplomacia, seu assessor internacional era Augusto Frederico Schmidt, intelectual, poeta e empresário, criou  marca mundial ao construir, por sua visão e decisão, a nova capital de um grande Pais, feito raro e notável no século, foram anos de ouro do Brasil na economia, nas artes, na sua expressão internacional de maior País do Hemisfério Sul, maior pais católico, maior pais multiétnico, JK teve a simbologia do otimismo e do futuro.

A alta inflação não atrapalhou JK e nem a crise cambial, a percepção de um País vai MUITO ALÉM DOS INDICADORES, é de sua alma e momento civilizatório, inserção e presença internacional, prestígio de seus dirigentes. É uma ilusão pensar que os “mercados” operam fora da GEOPOLÍTICA, ao contrário, eles dependem da geopolítica para existir, está aí a guerra comercial EUA x CHINA afetando os mercados mundiais e até os países alheios ao conflito.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

2 Comentários

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  1. Um ótimo post. Elucida o chamado “mercado” e dos valores que conformam a modo de atuação daqueles que, de fato, detém o chamado “poder de mercado”.

    Poucos do chamado baixo clero do mercado aqui no Brasil (os ditos operadores, analistas e economistas de mercado, os sabidos da Globonews) não tem a menor noção daquilo que está por trás da estrutura de poder de mercado. Mesmo nas ditas confrarias da Faria Lima, nos happys hour nas Varandas Grills-Barbacoa, nos intervalos dos MBAs nas Inspers/IBMECs da vida, nos comentários “iluminados” dos progrmas Conta Corrente e Fim de Expediente (Teco-Schwartsman-Sardemberg-CBN) prevalecem a pajelança Zé com Zé, a discussão miúda dos days trade ou uma e outra conjuntura que “impactou o trade de hoje”. Nada se discute de grande. Nenhuma ideia mais sofistica que não o dia-dia; para piorar, ainda entrelaçam querelas política-partidárias com aquilo que eles chamas de “macroeconomia”. E ainda se acham os sabichões que conformam os rumos do país. É impressionante a falta conhecimento sobre a história cultura, artes, literatura, tudo aquilo que distigue eles – os “Zés de Mesa”, com suas posturas boquirrotas e de novos ricos – do refinamento, sobriedade e discrição de banqueiros da Paradeplatz, em Zurique, detentores do poder de fato dos rumos do mercado financeiro mundial.

    OK, ficamos com provincianice supostamente cosmopolita do condado da Faria Lima.

  2. Professor André!
    Pois é meu caro: e são raros os presidentes/dirigentes de uma nação que tem está visão de longo prazo na história, de geopolítica e de nação.
    Se não forem as 3 potencias (China, Rússia, EUA, sendo que Brasil e Índia deveriam ser as outras duas mas são Estados fracos perto dos primeiros) tudo pode acontecer. Estão aí Brasil e Bolívia de “exemplo”.
    Os donos do dinheiro ganham ele com o país bem ou mal, a curto ou longo prazo, de uma maneira ou de outra.
    As empresas… Querem ganhar dinheiro ****-se quem está no governo…

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