Ucrânia está fadada a pertencer à Otan, por Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva

A questão é que, perdedora ou vencedora, a Ucrânia sairá endividada. As armas e munição, mais cedo ou mais tarde, a conta deverá ser paga.

Ucrânia está fadada a pertencer à Otan

por Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva

Antes de comentar o tema desta matéria, é preciso lembrar por que, nesta coluna, só se usa o PIB em paridade do poder de compra. A paridade do poder de compra ajusta o consumo de uma cesta de produtos (bens e serviços), mundialmente consumidos, ao preço efetivo nos Estados Unidos. Duas coisas se podem aferir daí, se a moeda local está super ou subavaliada, bem como se o consumo local pode ou não ser alvo de investimento internacional. Isso é uma aproximação merecedora de críticas porque a composição de consumo não tem o mesmo peso por todo o planeta, seja por motivos religiosos, seja por questões climáticas. Muçulmanos, por exemplo, não consomem carne de porco; ao mesmo tempo, os brasileiros não têm, no aquecimento residencial, um custo significativo. De qualquer forma, o uso da PPC desconsidera choques cambiais, como ocorrido no Brasil recente, ou mesmo por um país estar ou não em guerra.

Nessa base, antes do conflito, o PIB da Ucrânia era de US$400 bilhões aproximadamente. Na base nominal, que é a divisão do PIB em moeda local pela taxa de câmbio histórica para o período, seriam somente US$131 bilhões, demonstrando que a moeda local estava, já em 2021, subavaliada em cerca de 65%. As previsões, que costumam ser feitas em PIB nominal, trabalham com uma perda de 35% devido à guerra contra a Rússia. Provavelmente, não ultrapassará, em PPC, os 20%, mesmo assim, uma queda significativa. Tenha-se em mente que haverá uma depreciação ainda maior da moeda local, o que justifica parcialmente a diferença entre as expectativas de retração.

A questão é que, perdedora ou vencedora, a Ucrânia sairá endividada. As armas e munição estão jorrando a partir do Ocidente e, mais cedo ou mais tarde, a conta deverá ser paga. Ademais, a destruição agrava-se a cada dia a mais de guerra. Supondo-se que, se o Ocidente não tivesse enviado armas, o país já tivesse caído em mãos russas, a destruição teria cessado e a reconstrução seria muito menos custosa, provavelmente paga com concurso de verbas russas. Não resta dúvida de que o Ocidente concorrerá com recursos vultosos para financiar a reconstrução. Resumindo, a Ucrânia, ganhando ou perdendo a guerra, sairá endividada. Se ganhar, o credor será o ocidente,  cuja cobrança será, fatalmente, condicionada à entrada na Otan. Se perder, deverá para ambos, Rússia e Ocidente, pois o vencedor não vai deixar de buscar ressarcimento. Como a tendência é que o resultado seja uma perda de território, o restante terá de arcar com a conta, criando um vínculo indissolúvel com o Ocidente, consequentemente, com a Otan.

Em nome da paz, só resta esperar que tudo o que está escrito aqui esteja errado.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou mestrado na PUC-SP, é pós-graduado em Economia Internacional pela Columbia University (NY) e doutor em História Econômica pela USP. No terceiro setor, sendo o mais antigo usuário vivo de cão-guia, foi o autor da primeira lei de livre acesso do Brasil (lei municipal de São Paulo 12492/1997), tem grande protagonismo na defesa dos direitos da pessoa com deficiência, sendo o presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas (MO4P). Nos esportes, foi, por mais de 20 anos, o único cavaleiro cego federado no mundo, o que o levou a representar o Brasil nos Emirados Árabes Unidos, a convite de seu presidente Khalifa bin Zayed al Nahyan, por 2 vezes.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva

2 Comentários

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  1. A Ucrânia deixará de existir; a Rússia sai baqueada; a Europa entrará em crise e em um novo ciclo de nazismo raivoso. Os Estados Unidos permanecerão inteiros mas em crise. E a Índia crescerá ainda mais e a China passa definitivamente o ser a dona do mundo. O Brasil? continuará sendo república de bananas com sua elite agora dividida entre bajular Pequim e Madri.

  2. Prezado Luiz Alberto, em nome do lucro, tudo o que aí está escrito está certo.
    A guerra é mais lucrativa – ou, pelo menos, gera resultados mais rápidos – do que a paz.
    A guerra destrói – é necessário reconstruir; a caixa registradora tilinta.
    A guerra mata, de bala e susto – alivia-se a folha de pagamento previdenciária; a caixa registradora tilinta.
    A guerra é oportunidade de negócios; que, em tempos como estes, metamorfoseiam-se em sanções, embargos, e tantos outros eufemismos que designam uma coisa só: LUCRO.
    A guerra é o paraíso do banqueiro, que empresta a um e outro, e, ao fim e ao cabo, é pago por ambos – um como quitação pura e simples, e outro, como indenização ao vencedor. Ambos tem como destino final o bolso do banqueiro.
    A guerra é a sessão de cinema do fabricante de armas, na plena segurança de uma sala privativa de cinema, com seus convidados e escorts glamurosas.
    A guerra dá lucro.
    A paz é a recessão, a guerra é o aquecimento – da economia.
    Na história da humanidade, e guerra é permanente, a paz é um intervalo; “Vinte anos a rigor desperdiçados, os anos de l’entre deux guerres” – T.S.Eliot e o epitáfio da Europa, 1918-1939.
    O que vem a seguir, para a Ucrânia, é a irrelevância – caso entre para a OTAN; (o que a entrada para a OTAN representou para os povos da antiga Cortina de Ferro, além de sua transformação em bases militares americanas, e a permanente perspectiva de transformarem-se em teatro de guerras futuras, desde que convencionais?) e a submissão, caso permaneça sob a influência russa.
    A perspectiva de entrar para a OTAN pode fazer as delícias das onipresentes quintas-colunas nativas; para o povo, apenas mais alguns postos de trabalho como garçons, camareiras – a mais perfeita tradução individual do papel de seus países nesta honrada instituição.
    Há um tempo para matar, e há um tempo para lucrar (geralmente, logo depois).
    Há um tempo para deixar morrer, e há um tempo para lucrar ainda mais.
    E não há um tempo para a paz – senão alguns breves intervalos, enquanto os jovens chegam à idade de pegar em armas e morrer – porque tempo é dinheiro.
    Tempo de lucrar=tempo de matar (ou deixar morrer).

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