A abertura da China a relações estratégicas com o Brasil, por J. Carlos de Assis

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por J. Carlos de Assis

Volto de uma viagem de dez dias à China, e não há como evitar a comparação com a situação econômica dos dois países. Entretanto, isso pode ser sabido antes de ir à China. O que mais me impressionou não foi a diferença física, mas a diferença de alma: os chineses transmitem um inequívoco sentimento de realização em todos os campos, reconhecendo insuficiências ainda existentes – no campo social, por exemplo -, mas revelando a certeza de que podem resolvê-las e que os resolverão em prazo relativamente curto.

O fato relevante é que a China, dirigida por um Partido Comunista pragmático, sabe para onde quer ir. Nós não sabemos. Não temos projeto nacional. Não temos planejamento estratégico. Comemos da mão para a boca, ao sabor de crises intermitentes. De todo o noticiário que li, recolhi um que atesta as nossas diferenças: o premier Li Keqiang anunciou um forte suporte bancário e financeiro à economia real que cresce a 6,5% ao ano, no mesmo momento em que o novo presidente do BC, Ilan Goldjan, anunciava mais restrição financeira (tripé) à economia brasileira em plena contração de 8% em dois anos!

Estive em Beijing, Shangai, Xian e Yan An. Em todos os lugares, invariavelmente, era imensa a curiosidade sobre a presente crise brasileira. Ninguém, entre os chineses, entendia nada. E o esforço dos três brasileiros presentes em explicá-la caía no vácuo de nossas próprias dificuldades em transmitir o que nós não tínhamos facilidade em compreender mesmo no Brasil, como o fato de uma presidenta sofrer impeachment sem exata caracterização de crime de responsabilidade. Imagine como explicar, para chineses, a corrupção na Petrobrás, o afastamento do presidente da Câmara, as prisões da Lava Jato!

De qualquer forma, a preocupação com o Brasil é genuína. Os chineses querem e se esforçam por estabelecer uma parceria estratégia com o país em todos os campos do desenvolvimento, de forma pragmática, acima de ideologias. Não se trata de comércio apenas, mas de integração econômica e, sobretudo, de integração logística. É algo que não nos oferece qualquer outra parte do mundo, sobretudo o bloco anglo-americano, dedicado quase exclusivamente à exploração financeira e à especulação privada, muito longe da integração física.

Quando esteve no Brasil, o premiê Li anunciou os quatro princípios que passaram a regular as relações externas e de cooperação chinesas: organização empresarial, manejo comercial, participação social e promoção governamental. Nos dois discursos que fez, em Brasília e no Rio, mencionou mais de dez vezes, em cada um, a palavra cooperação. Qualquer um com um mínimo de afinidade com o pensamento chinês sabe o valor que ele dá às palavras. É fácil perceber que os chineses estão atrás de alianças estratégicas, e não uma nova forma de imperialismo.

O instrumento para operar a cooperação chinesa é o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS. É um crime de lesa-pátria, para não dizer de extremo entreguismo ao sistema financeiro especulativo ocidental, não explorá-lo no limite de nossas necessidades financeiras, sobretudo em infraestrutura. Por isso a sociedade brasileira deve “vigiar e orar”, para que, aproveitando um interinato ilegítimo, os americanófilos de plantão não comprometam a possibilidade de fortes relações estratégicas com o Banco dos BRICS e com a China. 

José Carlos Assis é economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de livros sobre a economia política brasileira.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. a abertura da China….

    AMEM !!! Não é só o nosso país que parece não saber para onde ir. Nossa mídia, nossa imprensa, nossas discussões também. Totalmente vazias, revirando assuntos e épocas já abandonadas. O sr. abriu um caminho que parece que não enchergamos ou ignoramos. Se ignoramos, ignorantes somos.  Dificilmente teremos um socialismo como o da China, um país que é um grande deserto, e mesmo assim alimenta 1 de cada 4 bocas humanas da Terra. Um país comunista transformado em potência capitalista, parceiro do Brasil desde o primeiro momento. E abrimos mão disto. Nos perdemos em discussões rasas, procuramos caminhos viciados, e cujo final já sabemos é o precipicio. Mudemos enquanto é tempo, ficar na mão de incompetentes só nos levará à incompetência. O caminho já é sabido. Abs.

  2. Aproveite o texto
    E complemente mostrando um pouco de como são as relações trabalhistas, aposentadorias, previdência, saúde, etc.

  3. a submissao colonial do governo golpista e China
    Se a submisssao colonial do governo Temer quer reduzir papel do Brasil nos Brics, no Mercosul, na Africa e na integracao com os vizinhos latino-americanos esta aberta um enorme campo que o Brasil abandona para maior presenca chinesa nestes. Que a China ocupe o espaco abandonado pelo Brasil, antes que os estadunidenses o facam, talvez ate a pedido do governo subserviente interino.

  4. Exatamente!

    Mas, pelo visto, os golpistas adoram os imperialistas:  que viengan todos!

    O Brasil vai virar banana e será para sempre banana se permitirmos que continuem no poder.

    FORA ENTREGUISTAS, TRAIDORES!

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