Criminalização da pobreza e porque Lula vai para a “parede”, por Rogério Maestri

Banksy

Criminalização da pobreza e porque o cidadão Luiz Inácio vai para a “parede”

por Rogério Maestri

Não sei se a gíria é nacional, entretanto na cidade de Porto Alegre é corrente, “ir para a parede”.

O que consiste em ir para a parede, é a “técnica” de investigação policial empregada pela polícia militar e civil de achar “vagabundos”? É simples, colocam-se os “suspeitos” diante uma parede procede-se uma revista e verifica-se a documentação. Se o “indivíduo” apesar de não estar armado, de não ter nenhum produto de um crime no seu poder, de não ter nenhuma droga e de não ter nenhum mandato de prisão, ou seja, não tendo indício de nenhum crime se ele não provar ser um “trabalhador” de preferência com carteira assinada, conforme a forma que está vestido, ou o corte de seu cabelo ou mesmo alguma tatuagem ou piercing ele, ainda na “parede” vai escutar alguns comentários, como vagabundo ou outros.

O crime “vadiagem” era previsto já no tempo de Império através do Código Penal de 1890 (dec. no. 847, de 11 de out 1890), e com a Lei das Contravenções Penais – (Decreto-lei 3688/41 de 3 de outubro de 1941) renovou-se ainda esta arbitrariedade chamando-a de contravenção passível de prisão simples (ou seja, uma prisão que deveria ser diferente das prisões brasileiras).

Porém o que constituía a “contravenção vadiagem”? Segundo a lei no seu artigo 59:

Art. 59 – Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover a própria subsistência mediante ocupação ilícita:

Só o artigo desta lei já é uma piada, pois para uma pessoa ter um trabalho é necessário ter o emprego, e se não existe este emprego ele deve ser preso! Outra coisa, a lei fala de alguém que não apresenta renda suficiente para se manter, ou seja, se há uma pessoa em que o pai e a mãe não lhes legou uma série de propriedades que lhe permite a vida inteira no ócio, ele pode ser preso mesmo que viva sustentado por seu pai ou sua mãe, pois cairão na “contravenção da vadiagem”. Esta contravenção como a de “mendicância” é o que se chama a criminalização da pobreza.

Apesar de em 2012 a Câmara dos Deputados ter aprovado um PLC 81/2012, até hoje o senado não aprovou e a “contravenção de vadiagem” ainda resiste na Lei das Contravenções Penais.

Para que serve esta lei, simplesmente para poder jogar na parede qualquer cidadão brasileiro que seja suspeito de ser um “vagabundo”. Com isto a Polícia se acha no direito de mandar para a parede qualquer um se bem lhe aprouver, se não for será preso pelo crime de desacato.

Logicamente na saída de festas dos Countries Clubs brasileiros ou de outras sociedades finas, jamais foram colocados na “parede” os cidadãos que frequentam estas belas sociedades, pois se supõe que “vagabundagem” é uma situação do povo da periferia.

Agora o que acontece com o cidadão Luiz Inácio da Silva, alcunhado de Lula, ele e sua esposa são provenientes da categoria social que sempre vai para a “parede”, e na “parede” tem que demonstrar que os seus meios de sustento são provenientes de uma “ocupação lícita”, pois a lógica é simplesmente que quem não é proveniente das categorias sociais mais altas é sempre um suspeito.

Uma coisa que deve ficar clara, a criminalização da pobreza, tanto pela previsão de prisão para quem mendigava (revogada em 2009), como a permanência até hoje do crime de “vagabundagem” se deixa claro, que nosso país nunca foi e aparentemente nunca será um país democrático, pois alguém que é contraventor por estar desempregado não é o que se chama de país democrático.

Numa ditadura das leis que vivemos nos dias atuais, qualquer cidadão que provir de classes sociais desfavorecidas, como Lula e Dona Marisa, merecem ir para a “parede” até que provem que são cidadãos honestos.

Redação

Redação

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  • Existe uma diferença enorme

    Existe uma diferença enorme entre emprego e trabalho, se não tem renda licita suficiente para se sustentar evidente  que é por meio do ilicito que vive.

    Ir para a parede em Cuba é ser morto pelos comunistas.

     

    • Para não perder o meu tempo respondendo vou colocar um link....

      Para não perder o meu tempo respondendo vou colocar um link de alguém que nem simpatizante do PT é, Leandro Karnal, que fala da Teologia do Empreendedorismo. Esta história que as pessoas tem que procurar trabalho no lugar de emprego é uma grande falácia que qualquer estudante de economia (que não cola nas provas) pode desmanchar. Porém, assista o vídeo.....

      [video:https://youtu.be/CDkrkhhvOvY%5D

    • Palerma cínico

      Como essa nossa Milícia Racial daqui não matasse por ano 3x mais do que qualquer "comedor de criancinhas" já tenha matado naquela ilha-palavrão (para vocês cretinos do disco arranhado)...  paredão de verdade é o muro pixado da periferia, idiota amestrado

  • Opa!!!

    O Lula vai preso por isto mesmo: ser pobre e ter usufruido do estado!

    Pois quem nasce rico quando usufrui do estado é condição normal...É quase uma obrigação do estado dar emprego para filhos e netos de servidores públicos. Na política é igual...

  • Nenhuma novidade.Um escritor

    Nenhuma novidade.

    Um escritor europeu (Stefan Zweig, se não me engano) disse que o Brasil era o país do futuro. Hoje como em 1964 o Brasil segue sua vocação de se reencontrar com o passado.  

    O moderno "vagabundo" - um personagem socialmente construído pelas PMs para justificar sua existência - é a reencarnação do "negro vadio" e do "índio pinguço que não quer trabalhar". Como seus duplos do período Imperial e Colonial, o "vagabundo" é ferozmente perseguido e maltratado.

    Não por acaso, a maioria dos clientes dos novos maltratos são brasileiros pobres descendentes de negros e de índios, pois o Brasil naturaliza a pobresa com a finalidade de escamotear o racismo nauseabundo que orienta as ações daqueles que se dizem donos do Estado (os brancos bem nascidos).

  • Em São Paulo também é ir para

    Em São Paulo também é ir para a parede, perdi a conta das inúmeras que vi jovens negros irem para a parede em vários bairros e mesmo no centro. Se moram na periferia é usual. Recentemente um funcionário da empresa (negro) deu corona para outra funcionária que mora em Guarulhos ao voltar quase acabou preso.Como eles dizem "é dar uma dura". É uma policia extremamente violenta, racista, preconceituosa, despreparada à serviço da classe média branca, dos ricos e do governo estadual. A diferança de tratamento é brutal. Não vou nem comentar o já vi em relação a travesti, mulheres, ja passei por situações desagradáveis por intervir, acabei numa delegacia, muita ameaça e pressão, um BO por desacato que  não prosperou.

     

     

     

     

     

     

     

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