A crise pandêmica nos trouxe um ‘novo normal’?, por Saulo Barbosa Santiago dos Santos

A crise pandêmica nos trouxe um ‘novo normal’?

por Saulo Barbosa Santiago dos Santos

Antes de mais nada devemos entender o significado real da palavra “crise”. Se buscarmos o sentido etimológico, “crise” significa ser um desvio da normalidade, uma perturbação passageira que tende à suparação. Quando superadas, as coisas voltam à normalidade, ou não. O objetivo deste texto é demonstrar que, embora se fale que esta pandemia trará um “novo normal”, por enquanto ainda não há por que acreditarmos em tal coisa haja vista o comportamento da sociedade ainda é o mesmo diante do coronavírus.

Estudiosos afirmam que até haver uma cura ou vacina para o Covid-19, ela poderá ser sazonal. Mesmo que haja tratamento é muito provável o aparecimento de outras infecções, por isso será necessário que a sociedade mude culturas e costumes para combatê-las. Diminuiremos as aglomerações, contatos físicos, eventos festivos, e toda aquelas interações sociais: o distanciamento e a prevenção fará parte da pandemia.

Cada época tem seu modo de viver e com o passar do tempo vai mudando, seja de forma lenta ou rápida. Na maioria das vezes, sociedades mudam de forma quase imperceptível, porém, a pandemia acelerou estas transformações de forma dramática. Imaginávamos que o modo de vida que tínhamos ficaria estagnado por décadas, desconhecíamos outras alternativas simplesmente porque o sistema dificultava a descoberta deles. Contudo, no curto prazo pós-pandemia, não haverá o que se refletir sobre alternativas, o mundo estará aos cacos e com poucas chances de termos o modelo de vida anterior. O premiado professor Boaventura de Sousa diz em seu livro “A cruel pedagogia do vírus” a seguinte constatação: “tenhamos em mente que, no período imediatamente anterior à pandemia, havia protestos massivos em muitos países contra as desigualdades sociais, a corrupção e a falta de proteção social. Muito provavelmente, quando terminar a quarentena, os protestos e os voltarão, até porque a pobreza e a pobreza extrema vão aumentar. Tal como anteriormente, os governos vão recorrer à repressão até onde for possível e, em qualquer caso, procurarão que os cidadãos baixem ainda mais as expectativas e se habituem ao novo normal”.

Enquanto estivermos cumprindo as recomendações da OMS podemos pensar sobre nossas vidas, conversar mais com outras pessoas, consumir menos, ler mais, buscar novas habilidades, etc. Percebemos que shoppings, aviões, shows e festas são coisas que podemos conviver sem elas tranquilamente, encontramos um novo modo de viver. Sob determinadas características e circunstâncias é como se estivéssemos voltando a uma visão opaca do Estado de Natureza rousseauniano.

Podemos considerar que a descoberta deste novo “eu” que lê mais, consome menos e adquire novas habilidades é o lado bom que a pandemia trouxe para nós? Não, isto é só contenção de danos. E o novo normal? Bem, o novo normal seria parar de morrer milhares de pessoas, acreditarmos mais nas ciências e sermos generosos, como nada disso ocorre, então, ainda estamos no “velho normal”.

Redação

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