A política institucional e a espiral do silêncio, por Rogério Mattos
Tento escrever direito…
É curioso publicar em blogs de esquerda e aqui e ali ser questionado sobre os motivos de eu não “escrever direito”. Não é por escrever mal: não se trata disso. O problema não é de linguagem: não há linguagem rebuscada nem linguagem mal articulada. Seria (talvez em resumo) um acúmulo grande de ideias que “esquerdizam” a cabeça do leitor. Seria, talvez, o contrapelo da informação objetiva e até das metas da boa consciência crítica, sempre calcada num determinado ideal de objetividade, que se quer chegar com – por favor – um não acúmulo, em demasia, de ideias. Para se ser “bem pensante” tem que se “escrever direito”, mesmo se você é de “esquerda”. Machado e não Lima Barreto, é o que penso. Ou José de Alencar (o “intelectual contente”, segundo Joel Rufino) e não Sousândrade (o “terremoto clandestino”, segundo os irmãos Campos). Não se vai muito longe assim…Mas eu resolvi falar em árabe
Se for para falar direito, portanto, melhor falar em árabe, ou seja, de trás para frente, de acordo com nossos padrões de escrita. Nesse sentido, queria ressaltar porque, segundo Lula, não se governa sem um partido político. Alguns podem compreender isso como uma mera proposição formalista ou até como um resquício de “desejo de poder” por parte do Lula. É como se ele estivesse sendo narcisista ao dizer que sem a construção de um grande partido de massas como o PT não se consegue governar com a mínima estabilidade. Me veio à memória agora esse posicionamento do Lula, porque parece que toda a torcida a favor da deposição do Bolsonaro se arrefeceu depois dos acordões que ele fez com Maia e Toffoli e, antes, à portas fechadas, com a Globo.Conclusão
Se O PSDB acabou, sobra Bolsonaro, Mourão, Dória, Huck… Não sobra nada. Daí a profunda crise de imagem das elites do país que não conseguem encontrar um líder para chamar. Saudosos tempos em que um príncipe francês, com seu selo real, imprimiu o governo dos sonhos – ao estilo República Velha – das classes dominantes. Como diz Paulo Henrique Amorim, FHC virou um personagem mitológico de Borges que só sobrevive das páginas do PIG. Se Lula acabou com esse partido, não derrubou o seu Real. Tarefa para os próximos anos, quando Bolsonaro, Trump e sei lá mais quem – todos eles – entrarem num caixão, numa caixa bem grande, e forem lançados definitivamente ao mar. Tarefa para uma sociedade não mais neomacartista, como a que ainda vivemos hoje, e a que Lula, com seus inúmeros “acordos”, soube muito bem negociar. Afinal, não importa qual tipo de Guerra Fria se viva, só com exaustivas negociações se consegue estabelecer pactos, ainda que provisórios. Sob essa égide pós-democrática ou de vigência do estado de exceção, não há paz duradoura. No caso específico do governo Lula, numa Nova Guerra Fria iniciada com o 11/09 e seu infame Ato Patriota, diretriz fundadora de todas as infrações à soberania dos Estados-nacionais cometidas de maneira recorrente nos últimos anos, como atesta seu episódio mais infame, a vigilância e a mineração massiva de dados. Que venha logo esse caixão, essa caixa bem grande, para depositarmos todos esses que jazem mortos por aí e fingem governar. A guerra acabou, agora se colhe seus amargos frutos. Vamos para os preparativos do pós-guerra. Afinal, o PSDB acabou… Rogério Mattos: Professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História (UERJ) e doutorando em Literatura Comparada (UFF). Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde publica alguns de seus escritos.0 Comentário
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