Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

A tragédia neoliberal de Brumadinho, por Andre Araujo

Foto El Pais

A tragédia neoliberal de Brumadinho

por Andre Araujo

Os fanáticos das privatizações só veem vantagens em qualquer privatização. A máxima de uma empresa privada consagrada pela segunda onda do capitalismo é MAXIMIZAR O VALOR PARA O ACIONISTA. Dento dessa lógica a ferramenta central é a redução de custos dos fatores de produção, a redução de custos está por trás da recente tragédia do rompimento da represa de Brumadinho.

Nem sempre foi assim. O capitalismo imperial nascido na Inglaterra na virada do Seculo XVIII para o XIX tinha uma lógica de poder ligado à visão civilizatória de mundo que vinha do “ethos” britânico. Os ingleses espalharam pelo mundo suas ferrovias, plantações, docas (até o porto de Manaus era inglês). Junto com o investimento vinha um estilo, uma postura de orgulho da civilização inglesa espalhada pelos territórios primitivos.

As obras de engenheiros britânicos eram de extraordinária qualidade como as represas que deram energia a São Paulo, a Gurapiranga e a Billings, sem um único acidente em mais de um século, a ferrovia da Serra do Mar de São Paulo a Santos, a maior do mundo em cremalheira em um declive impossível, linhas de navegação, serviços de águas, companhias de bondes, gás e eletricidade. Pelo caminho abriam mercado para os produtos da crescente indústria inglesa. Era uma visão de conquistadores mais do que de contadores. Cecil Rhodes criou um País e o Império britânico dominava 1/4 da superfície terrestre.

O atual capitalismo de matiz americanizada tem uma lógica mais estreita ligada ao valor das ações na bolsa, não há interesse na glória de um império, por isso veem como normal vender uma empresa símbolo como a MONSANTO, ícone de St.Louis para os alemães da Bayer. O negócio foi bom para os acionistas da Monsanto e isso é a única coisa que interessa. O orgulho americano e os 14.000 empregos cortados nos EUA não valem nada.

O estouro das represas da VALE se insere nessa lógica. É óbvio, evidente, cristalino, que o desastre nasceu da INSUFICIÊNCIA da barragem de contenção dos rejeitos. Não houve trovão, tempestade ou terremoto para culpar. A pressão do material contido foi maior do que a resistência da barragem e essa só rompeu porque o muro deveria ser maior e mais espesso, o que custa mais investimento e MENOS VALOR PARA O ACIONISTA. É simples assim.

Técnicas de barragem são conhecidas desde os sumérios e assirios, há 10 mil anos. O cálculo é perfeitamente possível, o animal castor constrói barragens que não se rompem, os romanos e árabes construíram barragens precisas, as grandes hidroelétricas brasileiras têm barragens monumentais e seguras.

Hoje, o executivo é treinado para economizar no CURTO PRAZO, mesmo com o risco de prejuízos no longo prazo. Mas aí o executivo pode ser outro.

Toda, absolutamente toda a bússola da administração de uma EMPRESA DE MERCADO está no valor das ações. Essa é a religião dos administradores. Não há nenhum valor social, humanitário, patriótico no código dos rapazes com MBA, são mentes estreitas, focadas em um só objetivo.

Citemos um exemplo, a ELETROPAULO. Quando estatal a falta de energia durava 1, 2 ou 3 horas, quando havia. Hoje leva no minimo 10 horas e há muitos casos de falta de energia por mais de 24 horas ou até 4 dias. Qual a explicação? Para maximizar o lucro, e portanto o VALOR PARA O ACIONISTA, desmontou-se todo o valioso sistema de manutenção das redes, que vinha da antiga companhia São Paulo Tramway, Light and Power, de espírito inglês. Os funcionários tinham orgulho do uniforme LIGHT, orgulho que continuou na ELETROPAULO, estatal que tinha 27.000 empregados, número compatível com a extensão da concessão, uma das maiores do mundo, atendia a Grande São Paulo com 20 milhões de habitantes. Depois de privatizada o número de empregados caiu para pouco mais de 3.000, a manutenção foi terceirizada para quem cobrasse o menor preço. Obviamente que nesse esquema a qualidade dos funcionários caiu de 100 para 5, o serviço ficou péssimo, tudo em função de criar o MAIOR VALOR PARA O ACIONISTA.

Enquanto isso os Sardenbegs & Tecos da mídia só veem vantagem nas privatizações, continuam alardeando que o Brasil tem 400 estatais, nenhum Pais tem tantas, etc., o que é PURA LENDA. Os Estados Unidos tem estatais em numero de 8.600 mas com outro nome, são entes públicos que cuidam de águas e esgotos, aeroportos, portos, transportes coletivos nas cidades, usinas hidroelétricas, rodovias pedagiadas. O FORMATO LEGAL é de ente público mas têm a mesma função de estatais no Brasil. Aqui é SABESP, lá é NEW YORK WATER DEPARTMENT, mas fazem exatamente a mesma coisa, fornecem água, emitem fatura casa a casa, tem reservatórios, consertam as tubulações na rua, só que nos EUA não tem o nome de ESTATAIS, aqui seriam estatais.

Nos EUA são raríssimos aeroportos privados, no Brasil os maiores já são privatizados, nos EUA as rodovias com pedágio são do Estado e não de companhias como a CCR, os transportes coletivos são das Prefeituras, as represas e usinas hidroelétricas são Federais, os portos são estaduais. Os EUA, matriz do capitalismo neoliberal, NEM COGITAM DE PRIVATIZAR aeroportos, serviços de água, portos, ônibus e metrô, REALIDADE QUE OS NEOLIBERAIS BRASILEIROS ESCONDEM.

Por que os americanos não pensam em privatizar? Porque eles sabem que certos serviços públicos devem ter como prioridade o atendimento ao interesse publico e não o MÁXIMO VALOR AO ACIONISTA, certos serviços não se prestam a ser financeirizados.

A Companhia Vale do Rio Doce tem origem no governo Arthur Bernardes e foi estatal por 60 anos. NÃO HOUVE ROMPIMENTO DE REPRESA nesse período. A Companhia tinha um viés de interesse público e era assim dirigida por engenheiros com foco no Pais e não na Bolsa de Nova York.

A privatização da VALE foi um banquete da especulação financeira, os grupos mais piratas do Brasil se sentaram à mesa para trinchar o porco, ninguém estava minimamente interessado em produção e País, o único que queria disputar e que era do ramo, Antonio Ermirio de Moraes, foi posto para fora do leilão.

Conclusão, hoje a VALE é uma empresa de financistas, sua única lógica é a de mercado de ações, é dirigida por financistas desde a privatização.

E ainda o novo governo tem como bandeira AFROUXAR OS CONTROLES AMBIENTAIS para estimular a mineração na Amazônia.

Na verdade as BARRAGENS DE CONTENÇÃO DE REJEITOS deveriam ter regras de RECUPERAÇÃO DE SOLO para evitar que nas áreas de mineração só fiquem crateras lunares, as áreas deveriam ser replantadas para uso ao menos recreativo, é assim que fazem países civilizados, como o Canada.

A mineração no Brasil rende dólares hoje, mas deixa para trás uma ruína ambiental muitas vezes maior do que o que o Brasil ganhou com a exportação de minério barato. Qual a vantagem para o povo brasileiro? Mineração desse estilo é para países primitivos, o Brasil deveria ter outro rumo para seu futuro.

Por ironia da História, o desastre se dá exatamente no início de um governo que tem como uma de suas bandeiras RELAXAR a fiscalização ambiental que já é quase nula no Brasil. Hoje, no espasmo do desastre, se verifica que só 3% das barragens brasileiras foram fiscalizadas nos últimos dois anos.

País que não liga para dano ambiental é país primitivo, incivilizado. Essa atitude é indigna do Brasil moderno e com pretensões de grande Pais.

29 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Paradoxo
    Tudo o que você

    Paradoxo

    Tudo o que você falou esta certo  ..mas você esta ERRADO

    A manutenção de aumento do VALOR da VALE, de há muito, passa pelo critério sustentabilidade, MEIO AMBIENTE 

    ..negligenciar estes pontos significaria a derrocada de qq administração

    Não acho que foi o caso ..difícil será enquandrar no direito, se negligência, omissão, imperícia, descaso, imprevidência, sei não ?

    FATO, a arrogância dos economistas em pensar modelos estanque e previsíveis só encontra um adversário a altura no mundo, a certeza carteziana dos engenheiros (INSUPORTÁVEL)

     

  2. Pior não pode ficar.

    Nosso quadro de regressão civilizatório arruinadopelo neocapitalismo instalado a anos vem recebendo extrordinário reforçode um judiciário cooptado. Daí podemos coopreender a evolução dos eventos de Mariana para Brumadinho ou de Temer para Bolsonaro.

  3. “Papo MBA”
    Há muito tempo que eu nao falo “cortar custos”. Pra mim, a expressão correta é “empurrar custos”, afinal, esses custos vao para alguém, trabalhador, consumidor, Estado, ou, pro ambiente, e seja o que deus quiser.

  4. Tem até uma anedota sobre o

    Tem até uma anedota sobre o modelo de gestão americano:

    Você tem duas vacas.
    Você vende uma e força a outra a produzir leite de quatro vacas.
    Depois você contrata um consultor para analisar porque a vaca morreu.

  5. Exatamente. Muitos dos CEOs

    Exatamente. Muitos dos CEOs de hoje são idiotas mimados que NUNCA entenderam a importância de pensar no longo prazo, eles se comportam como GAFANHOTOS que só sabem destruir ao invés de construir.

    1. Perfeito o complemento Ricardo

      Afinal apenas a  existência conjunta do Teco e do Tico e suas sinapses poderiam explicar as incoerências e contradições

  6. Aqui em Sampa há um exemplo

    Aqui em Sampa há um exemplo de como no Brasil o governo serve às corporações e não ao país = o monotrilho que não foi concluído para deixar o passageiro no embarque de Guarulhos, obrigando o passageiro a dar quase uma volta ao mundo pra poder ficar na área de embarque, a não conclusão foi porque a concessionária do aeroporto disse que não ia deixar ( alegando que ia construir no lugar um shopping, mas a verdade é que é pra manter o lucro pornográfico do estacionamento ) e o governo do seu Geraldo Alkimin ( que é um caso a ser estudado = um político que ficou 12 anos tomando conta de Sampa e teve a manha de não deixar UMA eu disse UMA marca no Estado, como deixaram Ademar de Barros e o HC e MAluf e as marginais – políticos que eu nunca votaria, mas que seria desonesto dizer que não deixaram algum legado pro Estado de sP. Roosevelt com o mesmo tempo criou os EUA que até Trump conhecíamos  ) pôs o rabo entre as pernas e disse – “tudo bem” – o mesmo governo que não pensou duas vezes em destruir o bairro de Pinheirinho do dia pra noite pra atender o dono do terreno, o Naji Narras. Veja as pontes de sampa que sem manutençaõ estão literalmente caindo ou pra cair ( por sorte ninguém morreu até agora ) . Sequer se sabe de quem a ponte é responsabilidade, a que caiu nem acharam o projeto original.

  7. A CENSURA É O 1.o TIJOLO NO ALICERCE DA DITADURA

    Mas pelo menos são fiéis à Hipocrisia. Mariana e Brumadinho não são bem a ‘Humanidade ‘ que interessa preservar com nosso Meio Ambiente, nem as Pessoas e Povo que queremos impressionar, não é mesmo Gisele Bundchen?! Brasil de muito fácil explicação. abs.  

  8. Não aprenderam nada, ou se
    Não aprenderam nada, ou se fazem de estúpidos……por cobiça.

    Citando a Eletropaulo, que também já era, ao fim do contrato com a light a situação dos postes e da fiação era uma tragédia………tudo velho e carcomido……o pessoal que tecem loas as privatizações fogem desses exemplos….. é mais uma artimanha dos jornalixos para dizimar o orgulho e a autoestima nacional, é estatal? Não presta!

    Deveriam fazer um estudo sério sobre as privatizações do desgoverno do ociólogo, quais verdadeiramente reverteram em benefício da população?

  9. Falta Educação

    Mais uma vez, parabéns André Araújo.

    Seria tão bom se os jovens brasileiros lessem seus instrutivos artigos. Mas eles estão muito ocupados em mandar e receber mensagens pelo WhatsApp…

  10. Todas as vezes que o PT abriu

    Todas as vezes que o PT abriu mão de suas bandeiras históricas o resultado foi catastrófico. Os governos petistas deveriam reestatizar a Vale, assim como a Embraer e não pulverizar as ações da Petrobras. Agora o que temos é esse caos. A Vale se transformou em uma empresa criminosa e predatória e a Embraer foi praticamente doada para a Boeing.

    1. Fumaça?

      É claro que o ideal seria o PT ter revogado as verdadeiras doações, como  se definiram as “privatizações” do governo FHC, para iludir os incáutos. Mas, nestes lamentáveis tempos militarizados do nosso país, querer culpar o PT não passa de “cortina de fumaça” ou “manobra diversionista” para desviar a atenção do crime de lesa pátria que foi a doação da Vale por valor irrisório. Crime, inexplicavelmente, impune até hoje, graças à deliberada omissão de todos os órgãos de controle, a começar do seletivo MPF. 

  11. Um outro aspecto das

    Um outro aspecto das privatizações pouco observado é que elas levaram ao maior desperdício de mão de obra altamente qualificada de que tenho notícia. Refiro-me a funcionários de empresas estatais, que eram pejorativamente denominados de tecnocratas.

    Numa das primeiras reuniões com o alto escalão de antiga empresa paulista privatizada, o representante do financismo, que assumia o poder e anunciava como seriam “os novos tempos”, encerrou o encontro dizendo algo do tipo “vamos nos encontrar no próximo mês… os que ainda estivem aqui”. E riu sarcasticamente.

    Muitos altos funcionários, que haviam sido responsáveis pela excelência da empresa, foram sumariamente despedidos, outros decidiram simplesmente se aposentar.

    Durante algum tempo, os financistas “consumiram” aceleradamente a reserva técnica da empresa (mais ou menos 10 anos de reserva em condições normais, segundo me contou um desses altos funcionários), transformando depreciação em lucro. Paralisaram também o planejamento; como disse o Araújo, o objetivo era o lucro imediato.

    Quando os problemas começaram a se manifestar, e as reclamações do público pressionaram os políticos, os financistas não sabiam o que fazer. Recorreram a alguns dos indivíduos que haviam despedido e que eram consultores privados. Mas grande parte dessa mão de obra altamente qualificada simplesmente se aposentou, alguns por volta dos 50 anos de idade! Essa foi a opção do meu amigo, engenheiro de excelência, que hoje simplesmente especula no mercado financeiro com recursos próprios. E não é feliz… ainda lamenta a perda daquele sentimento de estar a fazer algo de realmente importante, de colaborar para a construção de um país.

  12. Aço

    Quanto aço produz atualmente a COSIPA, seus dois alto fornos e as duas aciarias?

    Não é mais COSIPA, virou USIMINAS e passou de 12 mil empregados para 1 mil?

    Os alto fornos e a área siderúrgica foi desativada porque comprar da China dá mais lucro?

    Deve ser porque o aço passou a ser produto supérfluo, que caminha para a obsolescência.

    Os técnicos e engenheiros, hoje, vendem caipirinha nas praias!

  13. Desculpe, caro André, mas os

    Desculpe, caro André, mas os ingleses a que você se refere não foram senão bárbaros primitivos, incivilizados e hostis que sabiam fazer conta. Por isso técnica é tida como sinônimo de civilidade até hoje. Segundo essa lógica, por exemplo, os EUA são o melhor país do mundo porque têm a NASA, mesmo que promovam a mais ampla destruição de povo e culturas de que se tem notícia até hoje.

    Mas se sairmos da “novilíngua” que põe a técnica acima da humanidade, veremos que a Índia já tinha milênios de história de apuração cultural quando uma proto-sociedade inglesa começava a se formar. Como têm os árabes, também. A álgebra, base da engenharia, é invenção árabe, entre tantas outras.

    Por sorte nós podíamos andar nas mesmas calçadas que os ingleses que aqui vendiam suas engenharias. A Índia não teve essa sorte. Não consta que ser pisoteado por botas mais bem fornidas e engraxadas doa menos… De todo jeito o que Mohandas Gandhi fez foi estimular a Inglaterra a mostrar sua verdadeira – e bárbara e primitiva e hostil – face. O mundo desde então sabe o que há por trás de aparência fleumática e “bacanuda”.*

    De qualquer forma, o que aconteceu em Brumadinho e Mariana pode ser, sim, considerados desastres, mas não acidentes. Quantas mais empresas brasileiras a gente ainda vai ter que ver sendo depauperadas para, ato contínuo, serem compradas pela turma do dólar para começar a desconfiar que não é acidente?

    (***)

    Ontem Ricardo Boechat, falando do lamaçal de Brumadinho, fez uma retrospectiva das chuvas que assolaram Petrópolis há alguns anos. Será que ele acha que é todo mundo bobo? Nem a saudosa velhinha de Taubaté aguenta mais essas baboseiras. E como diria a Emília, do Sítio do Pica-Pau Amamrelo, “bobo é quem acha que os outros são bobos”.

     

    * Tanta a aparência já não engana mais ninguém que os caras do Capital largaram mão de usá-la. No Brasil, nos EUA, na Itália e em muitas outras partes do mundo onde o dólar ainda manda, a ordem é tosqueira bárbara, incivilizada e violenta bolsonaro-trumpiniana.

  14. A barbárie em alta

    O novo dogma desta aloprada financeirização do capitalismo é que lucro de acionista é sagrado. Nesta nova religião o investidor lá de Chattanooga é protegido por advogados atentos às apostas de seus clientes. O próximo passo será os acompanhar em Las Vegas. A Vale já é conhecida deles. Preocupante imaginarmos a existência de diferentes formas de apostas, perdão pela palavra, investimentos. Entre tantos, um é o put option. Compra-se agora para pagar em data futura. Se acontecer algo como com a Vale, ganha-se fortunas. O que nos reserva o futuro? Existirão guerras entre acionistas? Ou serão os mesmos, defendidos pelos mesmos advogados? Quem nos protegerá? 

    1. O Acionista é tudo; o Trabalhador, nada
      “A gente nunca trabalha olhando o curto prazo. O nosso objetivo é gerar valor para o acionista no médio e longo prazo”. – Pedro Parente

  15. Brumas Democráticas versus Trevas Neoliberais…
    Nassif, a barragem de Brumadinho havia sido aposentada pela Vale do Rio Doce desde os anos 80, quando a estatal passou a operar na região do rio dos Feijões o mínimo possível, sob pena de colocar em risco aquele cartão de visita que apresentava à todos visitantes. A localização do restaurante e área administrativa logo abaixo da mesma era uma garantia de que estava tudo sob controle. Com a privatização, os novos donos retomaram a produção, enquanto aguardavam licença para construir a Barragem de Rio Acima, dez vezes maior que a barragem do Fundão que desabou em Mariana (também por excesso de rejeitos ao término de sua vida útil). Como a nova barragem provocaria o colapso d´água em Belo Horizonte, afetando todos os mananciais tombados do rio das Velhas, foi criada até uma frente parlamentar há três ou quatro anos, mas desde então a vida dessas 360 vítimas de Brumadinho estava condenada à morte em nome da lucratividade anglo-australiana. Qual seja, a antiga Vale que não era suicida ao ponto de destruir seu cartão postal, se tornou assassina neoliberal. Como essa história poderia provocar o desmoronamento da credibilidade da sanha privatizante que assola o país, em momento algum tivemos a oitiva do MP mineiro e muito menos a Câmara de Vereadores de BH foi instada a se manifestar sobre essa tragédia programada; muito menos a população assassinada, claro – que ultimamente se preocupava com a preservação da bacia do rio Manso, sem jamais perceber (diante dos relatórios de vistoria dando conta de que estava tudo sob controle) o risco que corria. Sem jamais perceber que o MP de há muito se tornou um “fiscal da lei” omisso e cúmplice dos poderosos que a desrespeitam; que a mídia que acompanhava o assunto deixou de fazê-lo e que as antigas ONG´s que fiscalizavam e exigiam a proteção da saúde pública e meio ambiente foram engolfadas pelo neoliberalismo e se transformaram em coadjuvantes do desmonte das instituições que davam sentido à Nação republicana brasileira. Afinal, quanto vale o silêncio sepulcral do Centro de Conservação da Natureza de MG e da Fundação Biodiversitas (agora empenhada em apoiar e receber dividendos de uma cervejaria que lançou a cerveja da arara-azul-de-lear, que tinha seu habitat inclusive nessa região calcinada para sempre pela lama contaminada que recobre as antigas matas cheias de brumas que davam nome ao antigo cartão postal de BH e desse ex-orgulho nacional privatizado por FHC & Serra); cadê os ilustres integrantes do Ministério Público? Cadê o histórico de lutas pela água corrente nessa região integrada pelos municípios de Brumadinho, Rio Manso e Itatiauçu? Será que as tropas israelenses nos ajudarão a resgatar essa realidade ou a névoa e neblina dessas serranias do Curral del Rei se transformaram em trevas permanentes, desde que induziram seu povo a votar contra Fernando Hadad, um integrante da velha SBPC que ali realizava a maioria de seus congressos anuais?

  16. Terra arrasada

    Todo esforço de dotar o pais de um setor de engenharia competitivo, criativo capaz de produzir riqueza e bem estar  ao Brasil foi deliberadamente reduzido a nada.

    Brumadinho é o retrato desta condição.

     

  17. Como o lema é o do Lucro

    Como o lema é o do Lucro acima de qualqueR outra coisa, temos: 

    PRESIDENTE DA VALE GANHOU R$ 1.587.280,70 por mês em 2017. É 3 maior vencimento do pais

     

    •   1. ITAÚ: R$ 3.409.833,33 por mês;

    •   2. SANTANDER: R$ 2.498.795,76 por mês…

    •   3. VALE R$ 1.587.280,70 por mês

    •   4. Bradesco: R$ 1.329.375,00 por mês

    •   5. TIM: R$ 681.137,80 por mês

    •   6. Iguatemi: R$ 673.880,37 por mês

    •   7. Alpargatas: R$ 611.350,00 por mês

    Fontes:

    https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/06/25/maiores-salarios-diretores-companhias-abertas.htm

    https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/382026/Presidente-da-Vale-ganha-R$-16-milhão-por-mês-e-avalia-a-vida-dos-mortos-pela-empresa-em-R$-100-mil.htm

  18. De um “analista de mercado”

    Declaração de um analista de mercado no Globo de hoje:

     

    Rafael Panonko, analistachefe da Toro Investimentos, afirma que um dos impactos será a demora no licenciamento de projetos.

    — As próximas licenças serão mais burocráticas. Tudo fica comprometido após esse novo desastre e é preciso mensurar os impactos—disse.

    Traduzindo em linguagem humana: “as próximas licenças serão mais criteriosas e cuidadosas. Os nossos ganhos ficarão comprometidos após esse novo desastre e é preciso medir o tamanho da merda que nós fizemos”.

      1. Empresas privadas e estatais cometeram desastres ambientais

         

         

         

        Dependendo da situação:  – Nem sempre o serviço público tem mão-de-obra tão especializada ou verba suficiente quanto empresas privadas; – Por questões de custos, pois nem sempre estado tem verbas pra investir, fazer manutenção de infra-estrutura, etc;  – As verbas públicas vem de impostos do povo e noutra parte de commodities. e numa época onde cada vez mais clamam “Imposto é roubo”.

         

         

         

         

         

         

         

         

         

         

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador