Para entender as administrações de alguns clubes de futebol, é preciso ler Nicolau Maquiavel acerca do poder e enxergar na contraluz das observações do filósofo florentino. No livro O Príncipe, Maquiavel descreve como o governante deveria agir e quais virtudes deveria ter a fim de se manter no poder e aumentar suas conquistas.
Com uma dívida aproximada em 1 bilhão de reais, o clube carioca Botafogo de Futebol e Regatas, que teve sua origem em 1894, detentor da maior galeria de ídolos dos clubes brasileiros, inclusive da seleção, é um caso interessante de contradições, obviedades e surpresas dentro de uma instituição esportiva.
Com gestões temerárias e polêmicas, o clube sempre viveu conturbados períodos financeiros e administrativos. As marcas da personalidade subjetiva do clube são a superstição, a genialidade, o pessimismo e a loucura.
Reflexo dessas gestões, são os atuais ‘cardeais’ que se revezam no poder desde a década de 1990 e que levaram o amadorismo às últimas consequências, retirando o protagonismo criado por Heleno, Garrincha e Nilton Santos, transformando a marca gigante em caquinhos de estrela.
Citando Maquiavel: “Os meios serão sempre julgados honrosos e por todos louvados, porque o vulgo sempre se deixa levar pelas aparências e pelos resultados, e no mundo não existe senão o vulgo; os poucos não podem existir quando os muitos têm onde se apoiar”.
Maquiavel sustentava a ideia de que o bom exercício da vida política dependia da felicidade do homem e da sociedade, pois nenhum príncipe, mesmo o mais sábio, podia ser tão sábio quanto o povo.
A boa administração do soberano depende de articulação política segura e de muita sabedoria, ligadas às características pessoais de quem está no poder. Essas características são a ousadia, perspicácia, sagacidade e carisma.
Os membros da diretoria, eleitos no último dia vinte e quatro, possuem o DNA das gestões que contraíram dívida bilionária por conta de planejamentos mal construídos, decisões erradas e passividade diante do monstro que cresce alimentado por eles próprios.
Para Maquiavel “…quando um príncipe deixa tudo por conta da sorte, ele se arruína logo que ela muda. Feliz é o príncipe que ajusta seu modo de proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos tempos.”
Ricardo Mezavila, cientista político
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