As vozes do meu silêncio, por Mariana Nassif

Na PUC, apresentei o Vozes do Silêncio de um jeito que eu achei esquisito (por mais que minha irmã Luiza insista em dizer que se a gente não conta que está nervoso quase ninguém percebe...), e reencontrei algo de expressão que há algum tempo procurava espaço pra reaparecer.

As vozes do meu silêncio, por Mariana Nassif

Eugênia Augusta Gonzaga, Procuradora da República e querida do meu coração, me escreveu no sábado convidando para falar no evento que lançara o curta metragem sobre a I Caminhada do Silêncio – eu estava em Ubatuba e o evento foi em São Paulo.

Domingo, final de tarde, subo a serra de carona e encontro uma filha amorosa, coração grande, me cabendo num dos abraços mais importantes da vida. Axé, Clara, agradeço sua existência por aqui, cada dia mais.

Já na segunda-feira de manhã, encontro Eugênia em casa e comento que aquele é o dia de Xangô. Sem piscar, ela inclui linhas que me celebram indivíduo no texto de apresentação de um projeto pra lá de especial. A generosidade em abrir espaço para que me manifestasse de forma tão inteira sem esforço algum surtiu efeito mágico por aqui. Fui vestida de branco e, de cima do palco de um TUCA quase cheio, pedi a benção a meu pai de santo. Em tempos de tamanha intolerância, inclusive religiosa, este é sim um ato político, de resistência, e ambos os fatores me animam intimamente por serem estas características que desejo explorar com potência e atenção nesta fase onde finamente me sinto extremamente próxima de mim, de casa.

Quase sem medo e um pouco mais curiosa. Chorando, desaguando, cada vez um choro mais calmo, apesar de profundo. Algumas lágrimas povoam nascentes existenciais e, como a natureza ciclicamente costuma fazer, aparecem e saem pelos olhos, apertando o peito na passagem, promovendo uma ou duas temporadas de vontade de não sair debaixo das cobertas e questionamentos e, eis que o Tempo é mesmo Rei, pra estes últimos, pelo menos, o que não tem resposta, aceito está; além do que, em Ubatuba mesmo quando faz frio, quente está meu coração. Que time, pessoal, que time!

Aceito.

Na PUC, apresentei o Vozes do Silêncio de um jeito que eu achei esquisito (por mais que minha irmã Luiza insista em dizer que se a gente não conta que está nervoso quase ninguém percebe…), e reencontrei algo de expressão que há algum tempo procurava espaço pra reaparecer. Pronto, pode vir. Fui. Entregue, verdadeira, intensa. Eu, inteira. Se você deseja se associar ao movimento e conhecer o MANIFESTO, é aqui. Neste texto, conto a experiência sensorial, que tenho: sou do romance crônico muito mais do que do informativo.

Se alguma vez na vida você já experimentou os bosques da tristeza mais densa que pode haver, e eles têm nomes e formas diferentes, mas a gente sabe sobre o que está falando – e se não, axé, axé, axé, axé nove vezes porque deve ser bom demais vibrar muito mais tempo no amor do que no medo – bem, se você já passeou por estas escuras florestas, você pode entender a alegria que é sentir-se inteira. Se ainda não, afirmo: é possível. Demora? Provavelmente sim, mas olha, vale cada dia tenso.

Vale cada dia. Insista. É possível estar inteira sim, garanto.

Combinei com a procuradora que contaria pra ela a história sobre como alguém “animada como eu pode ter questões tão estruturais”, e aqui está um pouco dessa seara que é de reencontro, coroada com o presente de dar voz a estas linhas tão bonitas que vêm sendo escritas em tempos sombrios num evento com o propósito de devolver dignidade à história das pessoas, as que foram e as que ainda estão por aqui.

Não dá pra não enxergar poesia mágica nesta vida aqui, acontecendo dessa forma, desse jeitinho, bem diante de mim. E que bom, que bom que é assim.

Mariana A. Nassif

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