Being Jair Bolsonaro – O mito narcisista condenado a desmoronar

Mesmo que consiga se impor como tirano absoluto, o mito narcisista está condenado a desmoronar assim que ele morrer

Só podemos conhecer alguém prestando atenção àquilo que ele disse e analisando cautelosamente o que ele fez.

Eu não sou coveiro…
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/20/eu-nao-sou-coveiro-diz-bolsonaro-sobre-numero-de-mortes-por-covid-19.htm
Eu não sou médico…
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/03/11/bolsonaro-nao-sou-medico-pelo-que-ouvi-outras-gripes-mataram-mais.htm
Eu não sou economista…
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/quem-ferrou-o-brasil-foram-os-economistas-diz-bolsonaro.shtml
Eu não sou advogado…
https://exame.abril.com.br/brasil/estao-fazendo-um-esculacho-em-cima-do-meu-filho-diz-bolsonaro-nos-eua/
Eu não sou jornalista…
https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2019/12/17/interna_internacional,1108846/bolsonaro-se-recusa-a-explicar-tuite-que-compara-venezuela-e-argentina.shtml
Eu sou a constituição…
https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2020/04/20/bolsonaro-em-versao-luis-14-a-constituicaosou-eu.htm

Todas essas frases proferidas por Jair Bolsonaro tem um denominador comum: o uso do pronome pessoal de primeira pessoa do singular. O mundo é apenas um espelho em que a imagem de Bolsonaro é refletida ora de maneira negativa (eu não sou), ora de maneira positiva (eu sou)?

“Mais do que contar, como faz a história, o papel do mito parece ser o de repetir, como faz a música.” (As estruturas Antropológicas do Imaginário, Gilbert Durand, Martins Fontes São Paulo, 2001, p. 361).

Se levarmos em conta a tese de Durand, podemos concluir que o presidente brasileiro repete insistentemente o mito de Narciso.

Esse mito tem várias versões, mas em todas elas o final é trágico. Orgulhoso, arrogante, vaidoso e insensível, Narciso foi condenado por Nêmesis (a inevitável; deusa grega do destino e da vingança divina) a se apaixonar pela própria imagem.

Além de mim nada existe. Eu sou tudo e me basto… Entorpecido pela própria beleza, Narciso definha possuído por seu reflexo.

O Brasil, entretanto, não é e nunca será um reflexo de Bolsonaro. Mesmo que consiga se impor como tirano absoluto, o mito narcisista está condenado a desmoronar assim que ele morrer. O poder de Jair Bolsonaro só pode ser pessoal e nunca será transmitido.

O lulismo tem uma característica marcante: a elevação do povo brasileiro à condição de protagonista de sua História e beneficiário do exercício do poder político. Portanto, o lulismo poderá perfeitamente continuar existindo depois da morte de Lula.

Nada disso pode ser dito em relação ao bolsonarismo. Ele é apenas o reflexo da imagem projetada por Bolsonaro. Quanto mais nítida e hipnótica essa imagem for maior será o poder do mito narcisista e menor sua capacidade de desvincular-se do presidente-constituição.

Bolsonaro não é a Constituição Cidadã. Mas ele está certo ao dizer que é uma espécie de constituição. O bolsonarismo só pode existir como um reflexo do presidente. Sem Bolsonaro o poder mito se desvanece. O vazio político que ele preenche está fadado a ser esvaziado assim o tirano morrer.

“For what is your life? It is even a vapour, that appeareth for a little time, and then vanisheth away.” King James Bible

Quanto mais Bolsonaro exalar e inalar seu próprio vapor maior será o poder do narcisismo e menor a possibilidade dele de se perpetuar. Narciso foi transformado numa flor. O mito é uma erva daninha que precisará ser removida do campo político para que a agricultura brasileira volte a ser lucrativa.

A tragédia encenada por Jair Bolsonaro no Brasil parece uma paródia do filme Being John Malkovich (1999). No exato momento em que encontra a si mesmo dentro de sua consciência, John Malkovich fica completamente transtornado https://www.youtube.com/watch?v=lIpev8JXJHQ.

O transtorno político, econômico, social, institucional, jurídico e militar criado pelo narcisismo tirânico é evidente. Enquanto esse problema não for encarado o Brasil não conseguirá superar o estrago causado pelo presidente eleito em 2018.

O PIBinho brasileiro é Bolsonaro. A queda das exportações é Bolsonaro. A destruição da indústria é Bolsonaro. O aumento da letalidade da pandemia é Bolsonaro. O fracasso da política externa é Bolsonaro. O isolamento diplomático é Bolsonaro. A redução da credibilidade das Forças Armadas é Bolsonaro. A fragilização de todas as instituições é Bolsonaro. A preservação dele na presidência não pode ser a solução.

Fábio de Oliveira Ribeiro

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador