Brasil: Dia Nacional da Inconsciência Branca, por Márcia Moussallem

Todos os dias, a cada hora, a cada minuto, a população negra desse Brasil tropical é humilhada, violentada e assassinada, não somente pela força e ausência do Estado, mas pelos “cidadãos de bem”.

do Observatório do 3º Setor

Brasil: Dia Nacional da Inconsciência Branca

por Márcia Moussallem

O dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, é atribuído à morte de Zumbi dos Palmares em 1695. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão. Marco importante na história do Brasil.

Mas o que falar de um Brasil que ainda mantém uma cultura de preconceito e racismo presentes na maioria do povo branco, dos bem nascidos, gente de Jesus, de cabelo loiro e liso, que moram bem, tem saúde, educação etc.

Falar especificamente do povo negro é também falar da maioria da população pobre que está excluída de uma vida digna de acesso aos direitos humanos na sua totalidade.

Lembro do grande Darcy Ribeiro (autor do livro “O Povo Brasileiro”) quando afirmava que não existe democracia social sem a democracia racial. Povo negro, que foi negada toda a sua existência e liberdade. Desigualdade presente até os dias de hoje.

Todos os dias, a cada hora, a cada minuto, a população negra desse Brasil tropical é humilhada, violentada e assassinada, não somente pela força e ausência do Estado, mas pelos “cidadãos de bem”.

Nas noticias diárias assistimos às atrocidades, como a violência sofrida pelo professor da Unesp, Juarez Xavier, xingado e esfaqueado no dia 20 de novembro; genocídio dos jovens da periferia; assassinatos de pessoas negras em situação de rua; assassinatos de ativistas negros. São tantas notícias que para a maioria da população passou a ser algo naturalizado, pois a grande maioria apoia a cultura da barbárie.

É essa cultura enraizada e cruel que está presente em muitas falas e comentários de alguns amigos, familiares e conhecidos. Entre elas: “uns nasceram para mandar, outros para servir”, “negro tem um cheiro horrível”, “o negro não tem cultura… não sabe comer direito”, “cabelo de negro é ruim”, “além de pobre e negro, é feio”.

Diante dessas aberrações pensei… refleti… e cheguei à conclusão que deveria ser criado o Dia Nacional da Inconsciência Branca. Momento de comemorar a ausência de lucidez, conhecimento e de moral com muito deboche e crueldade, e é claro de preferência saboreando uma comida maravilhosa, ou orando em um templo religioso cheio de “fiéis de Jesus”.

Porém, para o desespero dessa espécie desumana, a resistência e luta sempre esteve presente, e ainda continua com toda força. Na força e na união de brasileiros conscientes das suas raízes e da sua cultura. No caminho da justiça e da igualdade de oportunidades  para todos.

Viva Zumbi dos Palmares!

Márcia Moussallem – É socióloga, assistente social, mestre e doutora em Serviço Social, Políticas Sociais e Movimentos Sociais pela PUC-SP. Tem MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora da PUC-Cogeae/SP  e da FGV-Pec/SP. 

Redação

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