O jornal O Estado de São Paulo completa hoje 145 anos. Em seu editorial de 04 de janeiro de 2020, reafirma seus valores: o conservadorismo golpista.
É particularmente interessante como esse golpismo é apresentado como o seu principal valor. O jornal se orgulha dele tanto que o reafirma.
Façamos uma análise do texto – O “Estado” reafirma seus valores.
Valores e verdades – são sempre construções sociais. Só existem em função do grupo social que caracterizam. Ao defenderemos essas duas causas, inevitavelmente estaremos nos associando a algum grupo social. A qual grupo social pertence os valores e as verdades que o Estadão defende?
Um jornal nascido no Império, em 1875, defendendo valores republicanos “já desde o primeiro número” mostra bem a que veio.
Lembrando que “valores republicanos” nem sempre são o mesmo que “valores democráticos”. O que o editorial deixa claro ao apresentar um breve resumo da sua história
O golpismo sempre presente
O golpe da República.
Aqui a primeira inverdade histórica. O abolicionismo não foi um valor republicano. A abolição da escravatura se deu no Império – 1888 – por pressão da sociedade majoritariamente monarquista. Mas custou o próprio Império, já que os antigos senhores de escravos e donos das terras retiraram seu apoio ao imperador Pedro II – se alinharam aos republicanos.
A própria república, proclamada sintomaticamente no ano seguinte – 1889, não foi mais que uma quartelada – a primeira. E teve o apoio do Estadão. A manchete que resume os acontecimentos é do jornalista Aristides Lobo , mas não foi publicada por esse jornal:
“O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada” – publicada no Diário Popular em 18 de novembro de 1889.
E daí em diante, a cada golpe patrocinado pelo Estadão segue-se um novo golpe patrocinado pelo mesmo Estadão.
O Golpe da República Velha
Ainda haverá Floriano, após quem, os ex-senhores de escravos e donos das terras voltarão a assumir o poder e governarão uma oligarquia pelas três décadas seguintes, até serem apeados do poder por Getúlio Vargas.
Do golpe do Estado Novo e à derrubada de Getúlio.
Em 45, derrubado Getúlio pelos mesmos militares de sempre, os Mesquita ressumem o jornal. Os prédios estão lá e as máquinas estão funcionando. Não, o Estado Novo não destruiu o Estadão. Contam que ao contrário.
O Golpe de 64.
Do Golpe do Impeachment a Bolsonaro e ao novo golpe que virá.
O valor do Estadão
A mentira que fecha o artigo e reafirma os “valores do Estadão”
O Estadão teve participação relevante “na vida republicana do país”, nas suas próprias palavras, nos últimos 145 anos, não porque tenha defendido valores democráticos; mas porque sempre esteve ao lado dos golpistas de ocasião, todas as vezes que essa ocasião surgiu.
Esse é o valor do Estadão.
PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – em algum lugar sempre em frente e à esquerda.