Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Crônica da traulitada no agronegócio, por Rui Daher

Lei Kandir, crédito rural, OMC, mercado externo. Será que os produtores e ambientalistas estão felizes com as mudanças sugeridas por Bolsonaro?

Nossas ironias não vêm do destino, mas do intestino, órgão que mais colaborou para produzir o atual Poder Executivo do Brasil. Tão escalafobético, que o setor do agronegócio é o que mais traulitadas tem tomado no lombo.

Pelo que ouço por aí, ruralistas, mesmo os mais empedernidos, não estão muito contentes. Desconfiam. Apenas acham ser muito cedo para dar o braço a torcer. Afinal, acreditavam em céu de brigadeiro ainda melhor do que ofertado pelo PT, sobretudo nos dois mandatos de Lula. Mais tarde, até mesmo Kátia Abreu foi aceita e apoiada pela ex-presidente Dilma Rousseff.

Como tenho muitos amigos e clientes na área, poderia estar repetindo a eles o “Eu avisei”, com um rápido sorriso de vitória. Mas não. É no agronegócio, sempre nele incluída a agricultura familiar, que estão a minha sobrevivência e a de todo um país.

Exportadores, contentes em perder os benefícios da Lei Kandir? E a não anistia R$ 17 bilhões de dívidas contraídas com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL). Se perdoar, Jair pode tomar impeachment. Apoiarão como o fizeram com Dilma, pelas suas pedaladas para favorecer o Plano Safra? Que tal a isenção de sobretaxa dada aos EUA para importação de trigo, abandonando o Mercosul, especialmente a Argentina, ao Deus dará?

Mais? O que acham do estreitamento de relações como nosso principal concorrente, os EUA, e o afastamento daqueles que verdadeiramente são nossos mercados compradores?

Sobre o absurdo equívoco de ceder benefícios na Organização Mundial do Comércio (OMC) para se fazer de riquinho na OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tratei em minha coluna no site de CartaCapital. Não irei repetir-me. Bem verdade, que Ernesto “Anedota” Araújo considera “inócuo” nosso tratamento especial na OMC.

Estarrece-me posição dúbia do ótimo jornalista, Assis Moreira, correspondente do Valor, em Genebra, 20 de março: “Proposta traz ganhos, mas adesão parece rápida demais”. Baita muro, Assis: “No mínimo, o governo vai ter de acelerar reformas para se enquadrar nas regras da OCDE”.

Desculpe-me, rio. Quais reformas? As que trarão inserção social e soberania? Aquelas que agradarão aos EUA? Ou aquelas que farão a China, deslocada politicamente, aceitar as carnes brasileiras? O mesmo Assis Moreira escreve, em 29 de março: “Os EUA (…) têm reclamado que os juízes da OMC tomam decisões que vão bem além do que os países aceitaram nas negociações. Washington sempre quis enquadrar o mecanismo de solução de controvérsias da OMC, para blindar a defesa comercial americana”.

Trump conseguiu de um atônito Bolsonaro.

O economista turco, Dani Rodrik, professor em Harvard, afirma: “O chamado neoliberalismo, fundamentalismo de mercado, é a perversão da teoria econômica, não a sua aplicação”.

E meus amigos ambientalistas, que sei não terem ido de 17, irão gritar pelos US$ 100 milhões que a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) acertou com nosso ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para investir na Amazônia? Ô Dona Marina Silva, sumiu?

Finalmente, ficamos sabendo que o governo quer diminuir a fatia do BB na área de crédito rural, algo como dizer que no futebol do Rio de Janeiro o Canto do Rio Foot-Ball Club nunca existiu.

Em 2017/18, a participação do BB sobre o crédito rural foi de R$ 80 bilhões, ou 47% dos recursos financiados. Se somados às cooperativas de crédito, chegaremos próximos aos 2/3 da grana. Sobrarão aos bancos privados 1/3 dos recursos.

De 2013/14 até 2015/16 os recursos do crédito rural cresceram 7,5%. Passadas duas safras Temer estão no mesmo patamar, crescimento zero.

Os bancos privados, quatro, encararão? Talvez. Mas a quem?

Agricultores familiares, dirijam-se ao MST, Movimento dos Sem Terra. Contem comigo!

 https://www.youtube.com/watch?v=Bb4-x9D5RIw

  

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

1 Comentário
  1. Seu Rui,
    Que papo mais comunista bolivariano, hein?
    “Será que os produtores e ambientalistas estão felizes com as mudanças sugeridas por Bolsonaro?”
    Claro! Agora é bolçodória, pohaaaaaa!
    “muito cedo para dar o braço a torcer.”
    Evidente! O homem assumiu faz só alguns dias e pegou o pais destruído pelo PT!
    “Que tal a isenção de sobretaxa”
    Ão, ão, ão, trumpe é nosso ermão!
    “inserção social e soberania?”
    Isso ai só serve para pobre vagabundo comprar cachaça!
    “Ô Dona Marina Silva, sumiu?”
    Sumiu de phato. Mas volta rapidinho. Em 2042 quando Osmarina será eleita presidente, Cristovam Buarque, vice … ui!
    “participação do BB sobre o crédito rural”
    Perfeito! Banco estatal é ineficiente e só dá prejuízo!
    “dirijam-se ao MST”
    Apesar de incompleta é a única coisa que se salva desse arrazoado. Favor completar: …e juntos, dirijam-se para Curitiba para somados ao povo do “Mariza Letícia” tirem o Lula da prisão política.

Comentários fechados.

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