Estamos numa conjuntura excepcional? Se estamos por que a mesmice?, por Francisco Celso Calmon

Estamos numa conjuntura excepcional? Se estamos por que a mesmice?

por Francisco Celso Calmon

O desmonte realizado até o presente no Estado democrático de direito é normal?

As agressões à Constituição Federal desde o golpe de 2016 foram legais?

A balburdia institucional gerada pelo bolsonarismo tem ferido o princípio da independência e harmonia entre os poderes da República e as reações têm sido acanhadas.

As tentativas de intimidação pelo Executivo (e pelo bolsonarismo) ao Legislativo e Judiciário foram realizadas recorrentemente e a defesa do princípio constitucional foi tímida.

A política econômica do governo tem sido um fracasso, este ano é estimado o PIB decrescer em torno de 8% (-8), e com esse resultado os números sociais serão trágicos: desempregados mais desalentados e mais subocupados podem chegar à ordem de 50 milhões de brasileiros.

Do golpe do impeachment ao presente, alguns diagnósticos foram realizados, tais como: a esquerda perdeu conexão com a base social; os partidos secundarizaram a formação de seus quadros e não fomentaram a organização basal nas classes trabalhadoras; os partidos não priorizaram a luta social e sim a luta no campo institucional; que o teatro de operações principal na luta político-social são as ruas e não via o judiciário e o parlamento; que a defasagem entre a vanguarda que produz teoria e a sociedade é abissal; que sem o conhecimento da história – memória e verdade – o povo não constrói uma consciência de rejeição ao seu passado escravocrata e autoritário; que sem a construção de uma democracia de raiz, os ventos golpistas não serão impedidos ou rechaçados a tempo e hora; que é inevitável que a contradição entre democracia e capitalismo chegará a um estágio de antagonismo e decorrente disso a preparação da resistência deve ser permanente durante a construção da democracia sustentável; o golpe de 2016 evidenciou que a luta de classes é operado pela direita sempre, estando no governo ou não, enquanto a esquerda se perdeu  no viés da conciliação e na promoção de uma sociedade de consumidores, sem consciência de classe e organização cidadã, para o exercício do primado da soberania popular; que a pandemia demonstrou que o capitalismo não garante a vida e nem os direitos decorrentes dela, e apesar dessa comprovação a maioria da esquerda insiste  em acreditar na possibilidade de um capitalismo humanizado no Brasil e atribuir a responsabilidade à correlação de forças,  negando com isso pregar a necessária revolução social em qualquer estágio da correlação de forças.

O Brasil é majoritariamente negro e feminino, entretanto, as mulheres e os negros são os mais explorados e descriminados. A democracia real é um simulacro de democracia.

Por tudo, não seria de se esperar que nestas eleições as diretrizes e orientações ultrapassassem o objetivo de ganhar as eleições e de cada um por si?

Repetir que o primeiro turno é para todos os partidos se apresentarem e o segundo turno para realizar as alianças, não é agir como se não estivéssemos num Estado de exceção?  Não é colocar os partidos acima da necessidade de derrotar o nazifascismo do bolsonarismo o quanto antes?

Quando, através do canal resistência carbonária, entrevistei alguns presidentes de partidos de esquerda e perguntei se para além de eleger prefeitos e vereadores, não era necessário durante o processo eleitoral também organizar comitês de luta pela democracia e antifascistas, concordaram. Mas como fazer auferir se a orientação será seguida? Não caberia junto com o resultado eleitoral constar nas planilhas internas dos partidos quantos comitês foram organizados? E a criação desses comitês poderiam ser multipartidários?

A cancela eleitoral foi aberta, oxalá a nacionalização da campanha prevaleça, afinal, a educação, saúde, salário mínimo, emprego etc., são provenientes da política nacional bolsonarista, e junto com a vitória das forças democráticas ocorra também a elevação da consciência política e organização do sofrido povo trabalhador do país.

Foram 21 anos de ditadura militar, e a sociedade civil começou a se indignar quando os gemidos e estertores da morte nos cárceres romperam a censura e vieram ao conhecimento   da classe média; quantos anos serão necessários para os atingidos da política econômica e sanitária do governo romperem a paralisia e o medo e mostrarem a indignação necessária para dar fim a esse bolsonarismo nazifascista?

Serão mais ou menos anos a depender dos partidos políticos e de suas lideranças traçarem uma politica de agitação e propaganda que fomente a elevação da consciência e da indignação na sociedade, em especial nos mais atingidos: pobres, negros, mulheres.

Não basta apontar as armas desse golpismo, como a desinformação (a mentira), a guerra jurídica (lawfare), é essencial ir às causas e denunciar, é imprescindível combater quem usa essas armas, enfim, dar nomes aos inimigos: o sistema capitalista e os agentes promotores do golpismo.

“A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota.

A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante.

Se o inimigo deixa uma porta aberta, precipitemo-nos por ela.” Sun Tzu

Os líderes devem agir como querem que seus liderados ajam, evitando sinais contraditórios, como o de denunciar o judiciário e ao mesmo tempo acreditar que de lá sairá a redenção.

Ousar lutar, ousar vencer!

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador; membro do canal Resistência Carbonária; Coordenador do Fórum Memória/ Verdade do ES; ex-coordenador nacional da Rede Brasil Memória Verdade e Justiça.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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  • Ando tão envergonhado desde 2016 que nunca mais postei o poema de Miguel Torga pois eles passaram e sempre passarão.
    E nós não passamos de um nada.
    Dependemos sempre de uma justiça de rico a condenar o pobre,de um congresso eleito por desumanizados ,midiotizados ou descerebrados e de uma midia que tortura e atua só em sua defesa.
    Onde existe democracia nesse cenário de trevas?
    Farei 64 anos logo e vejo um filme que conheço de cor,vejo o povo ausente,assistente de sua desgraça,um povo que usa a palavra povo como se povo não fosse.
    Olhem para seus filhos,observem seus netos,pense em seus irmãos menores e imaginem o futuro,a herança da covarde omissão que a eles legaremos.
    Somos Pais,Tios, Irmãos e Avós de seus infortúnios de suas dores ou de suas loucuras,somos os que alimentam suas desgraças
    É nossa culpa,nossa máxima culpa.
    Eu me estranho nesse País,eu estremeço de vergonha diante do espelho,não tenho mais o orgulho de ser Brasileiro.

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