Estraçalhamento dos partidos e o desafio da regeneração, por J. Carlos de Assis

Aliança pelo Brasil

Estraçalhamento dos partidos e o desafio da regeneração

por J. Carlos de Assis

Não choro por nenhum candidato derrotado nessas eleições municipais. Choro pela política. Como se podia prever, esta tem sido uma eleição de pessoas, não de partidos. Os partidos foram devidamente estraçalhados desde o mensalão, com a pá de cal adicional do petrolão. A política, confundida com partidos, foi criminalizada. Fomos convertidos a uma situação anômala na qual a direção do Estado acabará entregue a tecnocratas e burocratas não eleitos, já que, para grade parte da opinião pública, sequer vale a pena votar.

Talvez não houvesse algum outro caminho, do ponto de vista prático, para limpar a política brasileira de um extravagante sistema excepcionalmente corrupto.  Escrevi várias vezes, e mantenho essa opinião, que o juiz Moro, seus procuradores e sua polícia estão destruindo, junto com a política, o sistema jurídico brasileiro. Princípios como direito a habeas corpus, presunção de inocência e devido processo legal são conquistas seculares da civilização, e não podem ser jogados no lixo a pretexto de obter delações premiadas.

Não sei se o combate à corrupção no sistema político, por maior que ela seja, vale o custo da destruição do sistema jurídico e econômico. A corrupção é permanente em qualquer sociedade, e Moro e seus procuradores jamais acabarão com ela, embora podendo reduzi-la. Já o sistema jurídico, tendo em vista a segurança do cidadão contra arbitrariedades do Estado, deve ser um esteio permanente da convivência em qualquer sociedade democrática. Sempre se perguntará: O que vale mais a pena, condenar um inocente ou inocentar um culpado?

A proteção do inocente é óbvia em qualquer sistema jurídico. Mas também tornou-se um emblema civilizatório a abolição da tortura como meio de obter confissões. No caso da república de Curitiba isso se tornou letra morta com a inqualificável cobertura das instâncias superiores do Judiciário. Supor que a tortura psicológica representada por prisões indefinidas, em condições precárias, para arrancar confissões “voluntárias” é diferente de tortura física é uma simplificação. As duas torturas andam juntas.

O “sistema” da Lava Jato foi o grande vitorioso dessas eleições à custa de suas delações premiadas, muitas obtidas sob tortura psicológica. Mas o que isso significa exatamente? A curto prazo, significa, por exemplo, que Lula perdeu totalmente sua capacidade de transferir votos. Resta saber se fosse ele o candidato, e não um outro por ele preferido, sairia vitorioso. Essa, porém, é uma questão acadêmica por enquanto. As forças que derrubaram o esquema Lula dificilmente permitirão que venha a candidatar-se em 2018.

Entendo que a melhor lição a tirar dessa eleição sem política é prepararmos a política da eleição de 2018. A sociedade civil brasileira terá de reunir o máximo de suas próprias forças para reconstituir o sistema partidário e, a partir dele, varrer no sistema judicial os seus excessos. Em lugar de sentarmos no meio fio e chorar por candidatos ou partidos, vamos construir uma alternativa para o Brasil em termos de um projeto nacional consistente, que una uma economia forte, sem entreguismo, com um programa social generoso.

Há iniciativas em curso nesse sentido. A Aliança pelo Brasil, da qual sou um dos coordenadores, está determinada a apresentar seu programa político ao conjunto da sociedade. Nossa premissa é justamente o reconhecimento de que as instituições republicanas – Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público – estão derretidas, sem credibilidade. Uma regeneração passa necessariamente pela sociedade civil, mas também grande parte das instituições da sociedade civil, como OAB e ABI, estão em situação de baixa credibilidade.

Sobram poucas instituições da sociedade civil como suporte a um processo de regeneração política. Uma delas é a universidade. Outra, os sindicatos mais progressistas. Outra ainda, intelectuais e artistas. A universidade, sendo uma instituição espalhada nacionalmente, será o suporte principal para uma série de eventos que promoveremos nas capitais e grandes cidades, inicialmente de forma defensiva das pautas-bomba do Congresso, e posteriormente avançando em propostas de um novo projeto nacional para o Brasil.

J. Carlos de Assis – Jornalista, Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ. Coordenador da Aliança pelo Brasil.     

Redação

12 Comentários

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  1. Estraçalhamento dos partidos e o desafio da regeneração

    Um post cheio de boas idéias.

    Por aqui se tem ouvido falar da Aliança pelo Brasil. Um bom título para o movimento.

    Mas o que falta é ação.

    Mostrar a que veio, seu programa e como levá-lo aos brasileiros.

    Depois disso ouvir e considerar as dissonâncias para eventuais ajustes e trabalho junto ao povo.

    Aguardo como tantos outros.

    1. E é necessário o candidato

      E é necessário o candidato !!!

      Não temos mais o caboeleitoral, não faço a menor ideia de quem possa ser esse candidato.

       

  2. O meio acadêmico é

    O meio acadêmico é conservador, talvez com ilhas progressistas. Os professores das federais, assim como o grosso do funcionalismo público federal, tem o mesmo ódio ao PT que os paulistas/paulistanos.

    Portando, sem ilusões, o Brasil nào vai mudar para melhor, mas sim para pior.

    Meu filho formou na Alemanhã, sem dinheiro público é bom esclarecer, tinha chance de continuar na europa mas optou pelo Brasil.

    Essa semana, depois de 10 anos, está voltando para trabalhar na Alemanha, percebeu que aqui não há futura para ninguém.

    Minha filha providenciando documentação para cidadania italiana segue no mesmo rumo.

    Não faço o mesmo porque não tenho renda suficiente para bancar uma vida em euro.

    E a vida segue.

  3. “o juiz Moro, seus

    “o juiz Moro, seus procuradores e sua polícia estão destruindo, junto com a política, o sistema jurídico brasileiro.”

     

    A afirmação é correta, porem, talvez, incompleta.

    Levando-se em consideração que a “justiça” é o esteio principal de um sistema politico que mantem a injustiça social, poderiamos afirmar tambem que os justiceiros do Parana estão, sem saber, corroendo a propria sustentação daquilo que pretendem defender,

  4. Indiciados pela história

    Havia o “sentimento” de vencer, de impor derrota a quem se julgou acima do bem e do mal e apontava erros em várias mazelas da vida social de juizes, politicos e da elite no Brasil…

    Ainda que eu considere acertadas todas as críticas feitas pela esquerda…

    Agora eles têm a caneta e o diário oficial nas mãos!

    Ao judiciário, o maior vitorioso destas eleições caberá o ÔNUS de dividir a responsabilidade para o bem e para o mal e pelo que já fez será indiciado pela história.

    O PT caiu DEMOCRATICAMENTE, sem revoltas, sem tiros e acima de tudo INJUSTAMENTE!

    Coube aos vecedores a fraude, a deslealdade, a corrupção – a canalhice de sempre!

    Estamos menores diante do mundo que avançará!

    Nossa sociedade perderá valores que foram derrotados.

     

  5. O pêndulo vai e volta

    Não sou pessimista com o que aconteceu. Na verdade, achei até que as forças de esquerda, inclusive o PT, foram muito melhores nesta eleição do que imaginava-se. Vamos aos fatos:

    1) Haddad nunca teve chance real de se reeleger por mais brilhante que tenha sido a sua administração. Alías, a eleição dele já foi algo surpreendente e, a meu ver, mais decorrente do voto contra o Serra do que o apoio do Lula. Neste aspecto, o que chamou a atenção nesta eleição foi mais a vitória do Dória em 1º turno do que a derrota do Haddad.

    2) A vitória do Dória em 1º turno, como dito acima, foi bastante surpreendente, no entanto analisando retrospectivamente pode ter sido um recall da votação do Aécio para presidente em São Paulo. Foi uma forma dos setores conservadores e ainda contaminados pelo discursso anti Dilma ganharem no município de São Paulo a eleição que perderam para presidente.

    3) O PT está sob forte ataque há pelo menos 10 anos (desde o mensalão) e só agora sofreu uma derrota algo expressiva nas urnas, no entanto, está longe de ser “extinto” do processo político. É ainda um ator bastante poderoso, inclusive em São Paulo.

    4) Apesar da derrota do PT, outra força de esquerda teve um desempenho bastante razoável nesta eleição, o PSOL. Neste sentido, um dos grandes desafios futuros será um relacionamento pacífico e produtivo entre o PSOL e o PT, que poderá ser um aliança aos moldes do que deveria ter acontecido entre o PT e os setores progressistas do PSDB, mas que nunca aconteceu.

    5) Houve evidentemente uma derrota dos protagonistas do Golpe. Serra e Marta  perderam muito espaço político e agora vão ter que lutar para manter o que lhes sobrou. Marta vai ser no máximo deputada federal e o Serra dificilmente se reelegerá senador. Os traidores do PMDB do Rio não conseguiram ir  nem para o segundo turno da eleição. Temer vai ficar cada vez mais acuado e isolado na presidência. Aécio pode até eleger o prefeito de BH, mas perdeu o protagonismo dentro do PSDB. O Aécio destruiu a si mesmo no afã de se vingar do PT.

    6) Perde a ala histórica e outrora progressista do PSDB paulista (Goldmann, Aloísio, o próprio Serra e Matarazzo). Interessante que no passado este grupo perdeu o PMDB para o Quércia e agora perde o PSDB para o Alckmin. Este grupo não se recupera mais.

    7) Perde a Lava Jato, pois Dória, agora em um cargo político poderoso e não mais um empresário politiqueiro, tem ligações registradas com o Juiz Moro. A própria frase dele ontem, em que disse que visitará Lula em Curitiba, politiza bastante a operação, deixa claro que a Lava Jato tem sido usada politicamente por setores da direita com finalidade de obtenção do poder. Além disso, quando começarem a aparecer os escândalos do Dória, o Moro será questionado sobre a sua relação com os eventos do futuro prefeito.

    Desta forma, pessoal, não desanimemos. Daqui para frente temos o estilingue novamente nas mãos e eles tem imensas vidraças a serem defendidas. E o melhor é que finalmente conhecemos a verdadeira cara dos inimigos do estado democrático e de direito: O complexo Júridico-Policial, formado pelas castas do judiciário, ministérios públicos e aparatos policiais, associado as grandes corporações de mídia. Estes são aqueles que tem que ser derrotados a fim que o Brasil como um todo prospere. Alckmins e Dórias são só Avatares políticos destes grupos.

    1. O mandato de Serra vai até

      O mandato de Serra vai até 2022, e tenho muitas dúvidas se ele chega lá… hj tenho mais certeza que Temer chega a 2018 que Serra a 2022.

      Serra está meio esclerosado. A entrega do pré-sal será o último ato de vida pública dele. 

      Ele quer ser presidente, mas acho que não tem a menor condição física para isso.

      Creio que Serra vai chegar em 2022 no estado que Nelson Carneiro disputou sua última eleição, totalmente sem condições físicas…

      PAra Serra, ser reeleito é irrelevante. Creio que ele sequer seja candidato….

  6. Se o que está havendo é a

    Se o que está havendo é a “limpeza” do sistema político brasileiro, parece que estão utilizando papél higiênico usado para fazer essa “limpeza”.

    1. Sintonia

      Eu ia dizer a mesma coisa, mas como tô de saco cheio, tinha desistido.

      Então vamos lá.

      José Carlos de Assis, tenho certeza que sabe que não se vive ou só ensina área de Humanas.

      Mesmo nessa área, Humanas, nossas universidades tem criado figuras aberradoras como FHC, Pondé, Marco Vila, Gianete Giannetti e outros, o que dirá em outras áreas!

      A universidade virou um antro de reacionários, dos docentes aos seus alunos, na sua grande maioria originários das classes mais abastadas da sociedade.

      Qual a chance que nós temos de fazermos um país melhor, se a imensa maioria dos docentes das nossas universidades, fizeram ou vão fazer, mestrado, doutorado, pós doutorado nos principais países da Europa, EUA, Austrália, Canada, e nada capta lá fora o que é de bom para aplicar em nosso país. 

      Muito pelo contrário, ficam ainda mais vira latas, pois se um trabalhador ou uma empregada doméstica está presente no seu mesmo voo, vira a cara e fica com nojo.

      Vai ser difícil, pelo menos a médio prazo, me recuperar, se é que vou me recuperar do desastre que o país está vivendo.

      Siceramente não acredito mais nesse povo.

  7. Despolitização da politica

    Ha uma frase, atribuida a François Mitterrand, no final de seu mandato, na qual ele teria dito “Eu faço parte dos ultimos dos grandes presidentes. Daqui para frente teremos buracratas e finanancistas no comando das altas esferas do poder”. E a isso que Lava Jato nos leva. Despolitizar a politica e ocupar esse espaço.

  8. Manter a razão a esperança

    A universidade, sobretudo a pública, deveria mesmo ser o berço dessa regeneração social. Mas também ela está caindo de podre em meio à guerra de egos de um punhado de acadêmicos. Vai ter de se reinventar também. 

    Hoje o noticiário está de lascar: risco de guerra total a partir da Síria, esfacelamento da representatividade política brasileira, repressão sem trégua aos opositores do governo. Noto gente ficando abatida, pessimista ou raivosa. Abaixo o pessimismo; ele faz mal à saúde. Há muito tempo que a humanidade padece dessas fases negativas, mas tudo passa. Muita fé e paciência e bola pra frente. 

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