Golpe não se comemora. Repudia-se, por Henrique Matthiesen

Por Henrique Matthiesen

Nada mais adjeto, repugnante, indecoroso, abominável, entre outros adjetivos cabíveis e impublicáveis, sobre a decisão do Presidente Jair Bolsonaro em comemorar o golpe de Estado de 1964, que derrubou o Presidente João Goulart do poder; exatamente, no ano em que se celebra o centenário do seu nascimento.

Jango morto no exílio, e longe de sua pátria e de seu povo.

As calúnias, injúrias e as mais atrozes mentiras voltam a se avolumar contra a biografia do Presidente golpeado.

O tuiteiro Presidente ou Presidente tuiteiro deve comportar-se, dignamente, com o Estado Democrático de Direito, além dos princípios da Administração Pública como determina o Decreto 4.081, de 11 de janeiro de 2002, que Institui o Código de Conduta Ética dos Agentes Públicos em exercício na Presidência e Vice-Presidência da República, em seu artigo 4º, item I: “… pautar-se pelos princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade, eficiência, moralidade e probidade.”

Ordenar a comemoração de uma das páginas mais vergonhosas e infames da História brasileira é agredir a memória daqueles que lutaram pela democracia; aos que sofreram no pau-de-arara e nos crimes cometidos contra a humanidade.

Um ataque a nossa própria democracia, em um mundo que tem repulsa por ditaduras e golpes de Estado.

Contrariamente às infâmias e inverdades cometidas sobre a pessoa e o governo de João Goulart – de que era comunista – isto é uma mentira; e se também o fosse, não seria desonra nenhuma. Jango nunca envergonhou sua pátria e sempre teve projeto de desenvolvimento nacional e pensou no trabalhador brasileiro.

João Goulart, ao contrário do que vivenciamos atualmente, teve um projeto de nação; um projeto de desenvolvimento nacional e industrial para o país; um projeto educacional, com o revolucionário método Paulo Freire, a fim de combater o analfabetismo brasileiro; um projeto agrário, quando criou a SUPRA e desapropriou duas, de suas próprias fazendas, para incentivar o pequeno produtor rural; um projeto estruturante de reformas de base; e não de subserviência e mendicância ao mercado estrangeiro.

Homenagem ao golpe de 64 e reverenciamento aos criminosos torturadores são uma desonra à memória dos mortos e desaparecidos que lutaram contra a ditadura.

Desviar o foco da população com um tema tão assombroso da história brasileira, para aprovação de medidas que afrontam o trabalhador brasileiro, não é digno de um ocupante do posto mais alto de nossa nação.

Jango foi golpeado sim, mas com certeza, muito mais pelos seus acertos do que pelos seus erros, e jamais, durante sua trajetória política, foi na contramão do trabalhador brasileiro.

Porquanto, golpe não se comemora. Repudia-se.

Henrique Matthiesen é bacharel em Direito e jornalista.

Redação

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