Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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Judeus, intelectuais, gays, negros, petistas, nordestinos… por Percival Maricato

Judeus, intelectuais, gays, negros, petistas, nordestinos…

por Percival Maricato

O presidente da Confederação Israelita no Brasil, Fernando Lottemberg, um intelectual respeitado, escreveu na FSP, pg 3, sobre o Holocausto e o reinício da perseguição a judeus na Europa nos tempos atuais, citou que no Brasil isso anda acontecendo com seguidores de religiões afro e homossexuais, o que preocupa. Esqueceu de citar as agressões a negros, nordestinos, petistas ou aos que os apoiam ou respeitam, até mesmo em cemitérios e hospitais, a que vitimou até Chico Buarque, que todos achavam ser unanimidade nacional, diversas outras em restaurantes, as faixas pedindo morte de comunistas em manifestações, volta da ditadura e etc.

Quanto aos problemas enfrentados por Israel no momento, há que se separar o antisemitismo fascista, inerente a ideologia, da insatisfação crescente entre outros setores da população  com a forma como o governo de extrema direita desse pais trata os palestinos.

Talvez, pelo artigo referido e pelo momento, seja relevante lembrar o que aconteceu na Alemanha com a tomada do poder pelos nazistas, em 1933, Hitler à frente, onde a tragédia do Holocausto iniciava. Eles assumiram o poder inicialmente dentro de normas constitucionais, com grande ajuda do exército, da nobreza, ainda poderosa, e  dos grandes industriais e políticos de direita, que pensavam em manipulá-los. Acrescente-se ainda as contribuições da França e da Inglaterra, que ignoraram ou até fizeram concessões explícitas as agressões do fuhrer, como na invasão das zonas desmilitarizadas, da Tchecoslováquia, a reconstrução da wehrmacht (exécito alemão), até que a frágil Alemanha pudesse rivalizar com seus países, e então era tarde.

Logo que se sentiram seguros, os nazistas extinguiram a Constituição, acabaram com eleições livres e começaram a liquidar seus inimigos por etapas.

Os primeiros foram os comunistas e os sociais democratas, expulsos do Reichstag, postos na ilegalidade, enviados para campos de concentração quando presos. Depois vieram até líderes católicos, protestantes, intelecutais, políticos da direita, generais,  diplomatas, até membros da nobreza, insubmissos. O destino de todos foi campos de concentração ou bala na cabeça. Sobrou até mesmo para os líderes das S.A., entre eles Ernst Rohm, o maior  parceiro de Hitler na organização de tumultos e disseminação do ódio como instrumento de fazer política. Rohn e dezenas de oficiais da milicia foram assassinados na Noite das Facas Longas por outra milícia, a SS. Na mesma noite liquidaram um general e um líder da direita, com sua esposa. Estes nada tinham a ver com as S.A. mas parece que os nazi resolveram aproveitar e já que tinham saído às ruas fizeram mais esse servicinho.  Aliás, a tática usada muitas vezes pela extrema-  direita era essa: causava tumultos, gerava insegurança, anarquia e então se apresentava  como mão forte para o retorno da ordem. No caso alemão os nazistas ainda acusavam os comunistas e judeus pela derrota na primeira guerra mundial. Nada a ver, mas a sociedade estava receptiva para achar culpados.

A perseguição aos judeus foi proposta pelos nazistas antes da tomada do poder, consta do Mein Kampf, sendo, portanto, previsível. Pode-se relatar episódios extremamente cruéis anteriores à guerra, como a formação de guetos, leis e práticas discriminatórias, a Noite dos Cristais e etc, mas foi só  após a liquidação das oposições políticas é que se deu o início da perseguição sistemática visando liquidar com os judeus, em todos os países dominados. E todos sabemos como acabou, um dos episódios mais trágicos da humanidade, ou da desumanidade, tanto como o que foi feito com os russos (26 milhões de mortos, três vezes mais que alemães) e demais povos dominados.

Os militares alemães também descobriram que estavam sendo dirigidos por pessoas desequilibradas pelo ódio e obtusas politicamente, mas era tarde. Um dos grupos que tentaram se insurgir, colocando uma bomba no bunker de Hitler, em julho de 1944, falhou. Foi o suficiente para os nazistas enforcarem centenas de oficiais (23 generais) e membros das classes sociais que tradicionalmente eram dominantes (nobres, diplomatas etc, num total de mais de cinco mil), em ganchos de açougue de um porão, com cordas de piano, para a agonia durar mais. As execuções eram filmadas, para que Hitler e asseclas pudessem assistir à noite. As vítimas eram levadas à forca sem cintas para segurar às calças para maior humilhação. Os demais generais que se comportaram foram, também, sendo humilhados nos meses seguintes, à medida que as derrotas se acumulavam. Todos eram chamados de incompetentes, traidores e etc e removidos de seus comandos. Como podia um povo tão inferior, com mentalidade de escravos (os russos), derrotarem os super-homens do exército alemão? A explicação seria a incompetência e covardia dos generais.

Somados, os mortos da II Grande Guerra são calculados em 66 milhões. A maioria era de cívis, milhões eram crianças. Se todos os que seriam perseguidos, ao ver o que os esperava, e era fato previsível, tivessem se unido,  muito provavelmente a tragédia tivesse sido evitada.

Perante certas manifestações de ódio exacerbado, equivocam-se aqueles que se omitem achando que serão poupados.

Percival Maricato

 

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Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

16 Comentários

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  1. “Perante certas manifestações

    “Perante certas manifestações de ódio exacerbado, equivocam-se aqueles que se omitem achando que serão poupados.”

     

    Isso é o que é mais difícil de colocar na cabeça desse pessoal que diz não ser petista ou simpatizante, acham que a escalada de ódio é algo que não irá atinji-los.

     

     

  2. A Ampulheta…

    O pior é que estamos caminhando pra isso…e pior ainda é que temos um judiciário dfe MERDA, inclua-se aí parte ou oelo menos UM Ministro do STF e o PGR Janot, o LENTO e TUCANO…Aécio comprova isso.

  3. Falando de “tática”….

    Amigos negros, PT, nordestinos, Gays e etc., somos todos “brothers” e tadinhos. Nos também somos minoria e fomos muito perseguidos, de modo que estamos todos juntos na mesma balança!

      1. Antissemita?

        É fácil desqualificar os outros com apelidos assim, sem sequer entrar no mérito do assunto.

        Não há contraditório?

        Existem muitas minorias e grupos oprimidos no Brasil, muitos deles citados no post. Acontece que não é correto colocar judeus no mesmo balaio, embora com trágicas histórias de muito tempo atrás. A rigor, não se trata nem de perto de um grupo desfavorecido.

        Esta tentativa mostra mais uma postura esperta de passar os judeus uma imagem de tadinhos do que uma defesa efetiva para grupos que realmente hoje são desfavorecidos e perseguidos, por razões muito diversas.

        1. Alexis, não fales pelo Brasil que este país é continental.

          Pensar que as perseguições aos Judeus no Brasil só ocorreram no Brasil Colônia durante a inquisição é um erro histórico, aqui no Rio Grande do Sul, antes do nosso país ter entrado na Segunda Guerra havia principalmente pela parte de imigrantes e descendentes de imigrantes um forte e explícito sentimento antissemita.

          Com a entrada do país na Segunda Grande Guerra as antigas associações nazistas foram devidamente eliminadas do mapa, e não pense que eram associações meramente sociais e culturais, há livros que mostram dezenas de fotos de reuniões de nazistas devidamente fardados e todos fazendo a saudação nazista para as fotos.

          Não esqueça que Getúlio Vargas era gaúcho e sabia muito bem o que havia aqui no RS e outros estados do Sul.

          Também o revisionismo histórico chegou há algumas décadas ser muito forte no estado, graças a ação do Estado e no fim a ação de populares contra estes neo-nazistas eles no momento são grupelhos muito pequenos que nem tem mais coragem de se manifestar, porém dizer que não há sentimento antissemita é ignorar uma história muito recente.

          Eu aqui, sou conhecido por parte da colonia judaica como um anti-sionista ao mesmo tempo que um ferrenho e ativo inimigo dos antissemitas, pois faço um combate claro e inequívoco de qualquer tentativa de críticas racistas.

          Temos que pensar no antissemitismo simplesmente como mais uma forma de racismo a ser combatido de forma dura e dentro da Constituição e leis brasileiras, logo tentativas de desqualificar o antissemitismo simplesmente porque os judeus brasileiros possuem uma posição social mais favorável entre a população brasileira, conseguida pela solidariedade da comunidade, é um erro.

          Antissemitismo é racismo e ponto final.

          1. Valeu

            Sua explicação é bacana. Grato por isso.

            Mas, acredito que não seja correto misturar este tipo de minorias tão diferentes, dentro do mesmo assunto. Acho assimétrico e acaba desfigurando a importância de causas individuais, como é da integração justa do negro dentro da sociedade. Por outro lado, o assunto do PT é político e não social-comportamental.

            Em suma, acho que o texto deste post não ficou muito legal e faço a minha crítica.

          2. O combate ao racismo pode até ser diferenciado, porém o problema

            O combate ao racismo entre diversos grupos pode até ser diferenciado, porém o problema do racismo é um só, pois a raiz é única.

            Talvez seja até importante ter um discurso unificado para atrair todos os grupos a uma só frente, a frente antidiscriminação.

            Se fosse possível criar uma frente única de negros, judeus, LGTB, nordestinos e demais para lutar contra a discriminação dos diversos grupos só fortaleceria as posições, jamais enfraqueceria o movimento.

            Chamo a atenção que no início do século XX, antes do sionismo ter enxovalhado o judaísmo, grandes lideranças pelas liberdades individuais em todo o mundo eram Judeus. As lideranças marxistas, socialistas, liberais (dentro do sentido norte-americano da palavra, não dos liberais tipo Von qualquer merda), sindicalistas, anarquistas, democratas em geral tinham grande número de Judeus engajados e sofrendo por causas que não eram focadas em seus umbigos.

            Querer desprezar, ou no mínimo esquecer esta bela história da luta de muitos Judeus por direitos universais, é fazer o discurso dos sionistas, estes judeus que lutavam lado a lado com qualquer um que se identificavam com suas causas, não lutavam por serem judeus, mas sim por serem pessoas humanistas, inteligentes e engajadas.

            Se começasse a citar uma lista destes grandes homens e mulheres que se estivessem vivos nos dias atuais estariam execrando a ação da direita israelense, começaria hoje e amanhã ainda não teria terminado. São tantos que misturar esta minoria com as demais seria como colocar tempero numa boa refeição, daria gosto e consistência, logo não devemos esquecer o passado, pois o povo judeu não tem cinquenta anos de história.

  4. Danton também foi ‘guilhotinado’…

    Qualquer coisa é valida nesse momento para a oposição ou antipetistas radicias para que o PT não ganhe as eleições de 2018. O problema com esse “qualquer coisa” e que ele pode ser, como a historia tem demonstrado, muito pior do que (eles consideram ser) o presente momento sob governo petista.

    Ah não ser pelo momento conturbado pelas operações juridicas-policiais e exponenciadas pela imprensa, o Brasil deveria ir bem neste momento, atravessando a atual crise econômica com maturidade.

    1. Mas será, amigo Vagalume do Brejo que…

      Mas será, amigo Vagalume do Brejo, que plantamos tantos filhos da puta assim? (leia-se, os preconceituosos e os leões de redes sociais)
      Honestamente, eu não me lembro de ter plantado filhos da puta!

  5. Ou seja, não adianta estar na primeira classe do Titanic.

    Por mais alto que estejam os decs o navio vai ao fundo.

    A geração alemã que esteve conseguiu sobreviver o fim da segunda guerra a maioria se transformou em anti-nazista, simplesmente porque viram que os nazistas raivosos desejavam o fim do povo alemão do que terminar com o sonho do terceiro reich. Pessoas raivosas sem o mínimo sentimento de solidariedade a quem quer que seja tem este comportamento psicopata, que talvez seja exacerbado pelo ódio ao diferente.

    Eu além dos tradicionais perseguidos judeus, negros, ciganos, gays, lésbicas e petistas eu somaria a eles duas categorias que são típicos da psicopatia brasileira e da atualidade, os católicos moderados e os muçulmanos.

    Ou seja, qualquer pessoa que se enquadre nestes grupos faça uma simples constatação, vá até um desses sites mais populares onde se pode colocar comentários e faça uma intervenção moderada e que induza as pessoas a reflexão, verão que as intervenções moderadas serão respondidas com palavras nada dóceis, onde a intolerância é que dita a resposta.

    Façam esta experiência, principalmente aqueles que acham que estamos exagerando que terão uma imensa surpresa.

  6. o alerta no  final é uma

    o alerta no  final é uma síntese primorosa do artigo.

    só os ingenuos se acham livres da sanha fascista-nazistóide

    e de suas catastróficas consequencias para a humanidade…

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