Lava Carne & Jato Fraco, por Marcelo Auler

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Por Marcelo Auler

Não faltou aviso. Em 2015, quando da indicação de um novo presidente para o IPL 0136/2015-4 – SR/PF/PR – que gerou a Operação Carne Fraca -, o diretor -geral do Departamento de Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, foi alertado para não permitir que o delegado Mauricio Moscardi Grillo assumisse o caso. Isto, segundo fontes de Curitiba informaram ao Blog, lhe foi encaminhado por escrito, por meio de ofício. Mas ele fez ouvidos moucos e não se intrometeu. Dois outros delegados passaram pelo caso até que o IPL caísse nas mãos de Moscardi, responsável por deflagrar a Operação, hoje considerada desastrosa.

No dia em que ela foi executada – 17/03, sexta-feira – a Superintendência gabou-se de ter sido a maior das operações. Só esqueceu-se de dizer que a falta de planejamento fez com que muitas equipes dessem com o burro n’água: bateram em endereços onde os alvos já não moravam e até procuraram por pessoas já falecidas. Ou seja, faltou exatamente coordenação operacional.

Esse IP passou pelas mãos dos delegados Wiliam Tito Schuman, de Paranaguá, Roberto Biazoli, de Curitiba, Mario Renato Castanheira Fanton, de Bauru. O primeiro a presidi-lo foi justamente Maurício Moscardi Grillo que depois conseguiu a requisição de Fanton junto à DPF de Bauru (SP), passando-lhe o caso. Mas a Fanton também entregaram o Inquérito 737/2015, que o Delegado Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR) do Paraná, Igor Romário de Paulo, instaurou para investigar os chamados “dissidentes” da Polícia Federal. Nesta investigação, o delegado de Bauru bateu de frente com a cúpula da Superintendência ao narrar ao superintendente Rosalvo Ferreira Franco o que considerou “armações” no curso daquela investigação. Percebeu que armavam algo contra quem estava questionando métodos ilegais na apuração da Lava Jato.

Ao obter ainda a confissão do agente de polícia federal Dalmey Fernando Werlang de que ele próprio instalara um grampo – sem saber que era ilegal – na cela de Alberto Youssef, a pedido de Rosalvo, Igor e do delegado Márcio Anselmo Adriano, que presidia a Lava Jato, Fanton acabou afastado de Curitiba e retornou a Bauru. Antes, foi à Corregedoria em Brasília, quando relatou tudo o que percebera de ilegal. Procurado pelo Blog, recusou-se a comentar o caso da Carne Fraca.  Mas, não demorará muito para falar. Segundo o deputado Aluísio Guimarães Mendes (PTN/MA) já foram colhidas assinaturas no requerimento proposto pelo deputado Julio Delgado (PSB/MG) para a Câmara criar uma CPI sobre essa operação. Nela, todos os delegados que estiveram à frente do IPL 0136/2015-4 – SR/PF/PR serão convocados a prestar esclarecimento. Fanton não poderá manter seu silêncio.

Moscardi, embora acusado de ter conduzido irregularmente a Sindicância 04/2015 que investigou o grampo ilegal achado na cela de Youssef – seu trabalho indicou que ele era antigo e estava desativado, o que hoje se sabe que não era verdade -, continuou recebendo o apoio da cúpula da Superintendência. Afinal, como várias denúncias foram feitas, o resultado de sua investigação atendeu aos interesses da cúpula da SR/DPF/PR, justamente por negar algo que todos sabiam que existiu e era ilegal. Só não esperavam que a mentira acabasse sendo descoberta. De qualquer forma, ele não comprometeu os três delegados autores da ordem da instalação da escuta ilegal.

Falta de perícia – Foi para evitar o constrangimento de uma investigação melindrosa cair nas mãos de um delegado sob suspeita por conta de um trabalho, no mínimo, mal feito, que alertaram Daiello sobre o risco do mesmo delegado conduzir a investigação em torno dos frigoríficos.

Por conta de outra sindicância que refez o trabalho inicial de Moscardi no caso do grampo da cela, o próprio Daiello já determinou a instauração de um processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar o fato de ele ter “trabalhado mal”, como indicou o presidente dessa investigação da Corregedoria, delegado Alfredo José de Souza Junqueira.

Um dos motivos deste Processo Administrativo foi por Moscardi ter deixado de solicitar perícia no aparelho de escuta apreendido na cela. Agora, na Operação Carne Fraca, conforme nota divulgada pela Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais – APCF, cometeu erro parecido. Apesar de mexer com algo sensível por tratar de produtos com peso na pauta de exportação do país, fiou-se em apenas um laudo preliminar, tal como atestou a associação em sua nota pública onde consta:

“Diante do exposto, a APCF tem o dever de esclarecer publicamente que as afirmações relativas ao dano agudo à saúde pública, divulgadas por ocasião da deflagração da “Operação Carne Fraca”, não se encontram lastreadas pelo trabalho científico dos Peritos Criminais da Polícia Federal, sendo que apenas um Laudo Pericial da Corporação, hábil a avaliar tal risco, foi demandado durante os trabalhos de investigação, sem que se chegasse, no entanto, a essa conclusão”.

Em outras palavras, Moscardi colocou na rua aquela que ele classificou de “maior operação da polícia” fiando-se em apenas um laudo, que ainda por cima não era conclusivo. Ainda assim, generalizou, levantando suspeita sobre todos os frigoríficos, o que provocou a suspensão da importação de carne por diversos países, com reflexo direto na balança comercial do país.

Curioso é o fato de Daiello não ter se preocupado com isto, sabendo, como é do seu conhecimento, que Moscardi, com apenas cinco anos na condição de delegado, ainda não merece total confiança para casos mais complicados. Como o Blog vem mostrando ao longo dos últimos 20 meses em várias das 67 reportagens feitas sobre os bastidores da Operação Lava Jato – veja lista das postagens ao final desta reportagem – além do despreparo, há a falta de credibilidade. Não à toa, recentemente, a Justiça Federal do Acre anulou todo o trabalho por ele feito na Oper5ação G-7, há três anos, quando quis jogar nas costas do PT caso de corrupção. Ele também ainda não foi cobrado, por exemplo, da até hoje não explicada reforma do prédio do Grupo de Investigações Sensíveis – GISE – Polícia Federal, sem verba para a luz, mas com mordomias.

A falta de coordenação da Operação Carne Fraca evidencia-se nas ilustrações ao lado, mostrando que as equipes foram para a rua executar mandados de prisão ou de condução coercitiva de alvos já falecidos. Repassaram ainda endereços errados, onde não foram achadas as firmas procuradas, ou as existentes não guardavam relação com a investigação.

É, porém, muito simples querer responsabilizar apenas Moscardi pelos erros da generalização na Operação Carne Fraca, que acabou provocando grande prejuízo à economia nacional. Não se pode esquecer quem está por detrás dele, deixando passar livremente as irregularidades ou, pelo menos, indisciplinas. Lembre-se, por exemplo, que o PAD que foi pedido contra ele, caso não seja instalado até maio, poderá provocar a prescrição.

As falhas na coordenação de uma grande Operação podem ser explicada pela mudança ocorrida na Polícia Federal, ainda no governo Lula, quando o delegado Luiz Fernando Corrêa, em agosto de 2007. Foi ele quem, para desmobilizar as grandes operações, acabou descentralizando a coordenação das mesmas, deixando a cargo de cada superintendência, forma bem diferente da adotada pelo seu antecessor, em cuja gestão as operações policiais de grande porte passaram a ser adotada. Na época de Lacerda, dificilmente se correria atrás de alguém já falecido.

Em um texto que circula nas páginas e grupos de policiais e delegados federais, a responsabilidade por tudo o que vem acontecendo é creditada ao diretor geral do DPF. O autor é desconhecido. Em determinado momento apresenta-se como jornalista que dia a dia faz a cobertura do trabalho da Polícia Federal. Para, pelo menos, três delegados diferentes que se manifestaram ao Blog, reflete a realidade. Mostra um desencadear de fatos que, aparentemente, parecem isolados, mas estão interligados. Joga a responsabilidade  maior nas costas do diretor geral do DPF, Leandro Daiello Coimbra.

Embora Daiello possa ser responsável maior, também não está sozinho. No Paraná tanto o superintendente, Rosalvo, como o DRCOR, Igor Romário, têm sua parcela de culpa, pois deram asas a Moscardi, por ele ter agido como agiu na Sindicância que investigou o grampo na cela de Alberto Youssef. Encobriram aquilo que a Corregedoria Geral (COGER) depois classificaria como indisciplina do delegado, embora haja quem diga que houve até crime, como mostramos em Armação Federal II: “indisciplinas” do DPF Moscardi. Há ainda um personagem que quase nunca aparece no noticiário, mas tem forte atuação nisso tudo.

Curioso é o fato de Daiello não ter se preocupado com isto, sabendo, como é do seu conhecimento, que Moscardi, com apenas cinco anos na condição de delegado, ainda não merece total confiança para casos mais complicados. Como o Blog vem mostrando ao longo dos últimos 20 meses em várias das 67 reportagens feitas sobre os bastidores da Operação Lava Jato – veja lista das postagens ao final desta reportagem – além do despreparo, há a falta de credibilidade. Não à toa, recentemente, a Justiça Federal do Acre anulou todo o trabalho por ele feito na Oper5ação G-7, há três anos, quando quis jogar nas costas do PT caso de corrupção. Ele também ainda não foi cobrado, por exemplo, da até hoje não explicada reforma do prédio do Grupo de Investigações Sensíveis – GISE – Polícia Federal, sem verba para a luz, mas com mordomias.

A falta de coordenação da Operação Carne Fraca evidencia-se nas ilustrações ao lado, mostrando que as equipes foram para a rua executar mandados de prisão ou de condução coercitiva de alvos já falecidos. Repassaram ainda endereços errados, onde não foram achadas as firmas procuradas, ou as existentes não guardavam relação com a investigação.

É, porém, muito simples querer responsabilizar apenas Moscardi pelos erros da generalização na Operação Carne Fraca, que acabou provocando grande prejuízo à economia nacional. Não se pode esquecer quem está por detrás dele, deixando passar livremente as irregularidades ou, pelo menos, indisciplinas. Lembre-se, por exemplo, que o PAD que foi pedido contra ele, caso não seja instalado até maio, poderá provocar a prescrição.

As falhas na coordenação de uma grande Operação podem ser explicada pela mudança ocorrida na Polícia Federal, ainda no governo Lula, quando o delegado Luiz Fernando Corrêa, em agosto de 2007. Foi ele quem, para desmobilizar as grandes operações, acabou descentralizando a coordenação das mesmas, deixando a cargo de cada superintendência, forma bem diferente da adotada pelo seu antecessor, em cuja gestão as operações policiais de grande porte passaram a ser adotada. Na época de Lacerda, dificilmente se correria atrás de alguém já falecido.

Em um texto que circula nas páginas e grupos de policiais e delegados federais, a responsabilidade por tudo o que vem acontecendo é creditada ao diretor geral do DPF. O autor é desconhecido. Em determinado momento apresenta-se como jornalista que dia a dia faz a cobertura do trabalho da Polícia Federal. Para, pelo menos, três delegados diferentes que se manifestaram ao Blog, reflete a realidade. Mostra um desencadear de fatos que, aparentemente, parecem isolados, mas estão interligados. Joga a responsabilidade  maior nas costas do diretor geral do DPF, Leandro Daiello Coimbra.

Embora Daiello possa ser responsável maior, também não está sozinho. No Paraná tanto o superintendente, Rosalvo, como o DRCOR, Igor Romário, têm sua parcela de culpa, pois deram asas a Moscardi, por ele ter agido como agiu na Sindicância que investigou o grampo na cela de Alberto Youssef. Encobriram aquilo que a Corregedoria Geral (COGER) depois classificaria como indisciplina do delegado, embora haja quem diga que houve até crime, como mostramos em Armação Federal II: “indisciplinas” do DPF Moscardi. Há ainda um personagem que quase nunca aparece no noticiário, mas tem forte atuação nisso tudo.

Continue lendo aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. sujaram a ordem nas exportações…

    com a desordem e os atritos internos lavados a jato

    até quando a sociedade continuará bancando altos salários para o mau desempenho?

  2. Comentário.

    Os problemas ocorridos nas operações da Lava Jato e da Carne Fraca – sem querer diminuir a gravidade, deixo claro – ocorre em empresas particulares e instituições públicas em que o poder é “dado aos pedaços”, mas sem controle, com o fim de manter uma situação de pressão interna e disputas.

    O texto do Marcelo Auler é um primor em apontar claramente estes aspectos no âmbito da Polícia Federal.

    Em nível estadual, o problema das contas da Universidade de São Paulo tem o mesmo caráter.  E insisto nisto, pois se trata de: a) concentração de poder nas mãos de alguns docentes; b) funcionários alçados à posição de “gestores”; c) uma conivência em relação a beneficiários de relações de docentes, com favores particulares aqui e ali; d) uso constante das iniciativas e ideias de funcionários menos graduados pelos “gestores”, esquentando seus currículos e posições dentro da hierarquia; e) desqualificação dos funcionários sem poder de mando, ao mesmo tempo em que os explora; f) crise financeira e política derivada do controle das tomadas de decisão sem assumir a responsabilidade pela crise; g) solução vinda dos causadores da crise financeira e política com base no bode expiatório (funcionários sem poder de mando).

    O uso da violência é um adicional, um excesso para não demonstrar que não se tem muita certeza naquilo que se está fazendo.

  3. Esse pessoal aí apoiou o

    Esse pessoal aí apoiou o golpe,

     

    tomaram na tarraqueta, é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandar dar,  como diria o grande Vandré…..

  4. Excelente trabalho do Marcelo

    Excelente trabalho do Marcelo Auler. Está cada vez mais difícil saber se tem mais bandidos dentro ou fora da polícia. Trágico é o destino do país que tem essa polícia federal a defendê-lo. 

  5. Alguém consegue explicar?

    Como uma presidente da república e um ministro da justiça não conseguem ter autoridade suficiente para exigir a conclusão de uma sindicancia na policia federal? Esse caso do grampo na cela do Youssef teria que ter sido investigado com toda profundidade e de forma celere. Ou o delegado geral da policia federal conclui ou é exonerado. Simples assim, esse é o principio da autoridade, que Dilma e Zé Eduardo tragicamente não usaram. Não falo nem em exigir a conclusão de algum vazamento da lava jato. Estou falando de uma simples sindicância. Realmente, o Brasil não é para amadores…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador