Jorge Alexandre Neves
Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.
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Mais um dia de vergonha, mais um passo para o brejo, por Jorge Alexandre Neves

Atribui-se a Nélson Rodrigues a afirmação de que “subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos”. A confirmação da absurda condenação do ex-presidente Lula no STJ mostra bem porque somos e continuaremos sendo subdesenvolvidos.

Mais um dia de vergonha, mais um passo para o brejo

por Jorge Alexandre Barbosa Neves

Esta semana, mais especificamente no último dia 23 de abril, tivemos o julgamento do ex-presidente Lula pelo Superior Tribunal de Justiça. Mais um dia de vergonha para a história do Brasil. Muitos já têm dito que, no futuro, olharemos para esses tempos atuais com vergonha, tentando mostrar a nossos netos tudo que ocorreu, junto com o apelo de que não se repita.

Como disse Luis Nassif aqui no GGN, o ex-presidente Lula não será solto, pois é um preso político. Para reforçar essa constatação, no dia seguinte ao julgamento no STJ, o novo juiz titular dos processos da lava jato em Curitiba enfiou o pé no acelerador para encaminhar ligeirinho o processo do sítio de Atibaia para o TRF-4, em Porto Alegre. Assim, uma nova absurda e ridícula condenação em segunda instância será proferida, sem a menor dúvida, antes de setembro, para que o ex-presidente não possa usufruir da possibilidade de progressão de pena.

O problema dessa perseguição política ao ex-presidente Lula, travestida de processos judiciais, é que terá terríveis consequências de longo prazo para o Brasil. Em outra coluna minha aqui do GGN (https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/lula-e-o-brasil-fraturado/), ressaltei que a perseguição ao ex-presidente Lula está criando uma fratura no país que irá se prolongar por décadas, um fenômeno parecido com o ocorrido na Argentina após a perseguição a Perón. Florence Fiúza, uma ex-aluna e hoje amiga, me enviou um texto do meu conterrâneo e amigo Sérgio Ferraz, publicado em seu Facebook (não tenho conta nessa rede social, portanto não posso acessar diretamente o seu conteúdo), que coloca de forma concisa e brilhante o que nos reserva o futuro próximo:

“Ao condenar em terceira instância sem provas o ex-presidente, premido por uma dinâmica da qual a lava-jato lhe fez refém, o judiciário passa inadvertidamente um recado nefasto ao futuro: quem quer que chegue à presidência, acumule capital político e fira interesses não deve nunca baixar a guarda e jamais pode pensar em entregar o poder, sem mais cautela, na alternância regular do jogo democrático. Jogar desse modo pode ser o passaporte para a desgraça pessoal. Os ‘maquiavéis’ togados cavam, assim, do alto de suas instâncias, a própria sepultura institucional futura ao ensinarem aos futuros líderes que o respeito às regras do jogo democrático – nas quais se inclui a divisão e o controle recíproco entre os poderes – pode se lhes revelar fatal.”

Atribui-se a Nélson Rodrigues a afirmação de que “subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos”. A confirmação da absurda condenação do ex-presidente Lula no STJ mostra bem porque somos e continuaremos sendo subdesenvolvidos. A base do Estado Democrático de Direito em um país capitalista liberal é o “Império da Lei”. Ao passar por cima, de forma absolutamente tosca, de todo arcabouço legal do país para perseguir politicamente o maior líder popular da história do Brasil, o estamento jurídico destrói qualquer possibilidade de desenvolvimento socioeconômico com institucionalidade política e higidez jurídica no país por, no mínimo, algumas gerações.

Também há poucos dias, li uma entrevista com o investidor Lawrence Pih. Ele afirmou que o Brasil está à beira do abismo. Proponho uma metáfora que acredito ser mais adequada: estamos caminhando a passos largos para o brejo. Iremos, por décadas, chafurdar em um pântano de incapacidade de concertação política e estagnação econômica. Tornar-nos-emos uma Argentina bem piorada, pois com um PIB per capita e um nível de desenvolvimento social significativamente mais baixos.

P.S.: Cadê Queiroz?

Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997.  Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG
Jorge Alexandre Neves

Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.

13 Comentários

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  1. Não olharei para estes dias com vergonha, se vivo estiver quando este pesadelo terminar. Eu estive do lado certo da história, dentro das minhas possibilidades como cidadão comum, protestei, manifestei-me e votei certo. Vou olhar para estes dias é com um ódio profundo pelos golpistas e total desprezo pelos coxinhas e pobres de direita.

  2. o stf já tem provas suficientes para colocar na cadeia toda a quadrilha de curitiba, começando pelo chefe, o Marreco de Maringá

  3. Lojistas…….senhores…..lojistas…….

    Delegado presidindo o tjd? Afffff…..

    E amanhã é dia de rodar mais que pião batendo bumbo para o cramunhão……….a noite é um bebê de rosemary……

  4. Não adianta falar que Lula foi condenado sem provas.

    Querer um rejulgamento é inconstitucional.

    Os tribunais superiores não apreciam as provas, apenas podem opinar e decidir sobre a lisura do processo, nulidades ou inconstitucionalidades.

    Quem deseja um rejulgamento está rasgando a Constituição e todo o sistema legal do país.

    1. Está muito claro que o processo deveria ter sido anulado. O próprio juiz de primeiro grau reconheceu que não havia vínculo entre a suposta propina recebida pelo ex-presidente Lula e o dinheiro da Petrobrás. Logo, o Dr. Sérgio Moro não era o juiz natural. Adicionalmente, o juiz condenou por algo alheio à própria denúncia apresentada pelo MP. Por último, há razões abundantes para reconhecer que o ex-presidente Lula não foi julgado por um juiz imparcial. Portanto, penso haver abundância de razões para esperar que o julgamento fosse anulado. Não há, pois, qualquer demanda de que a Constituição seja desrespeitada.

  5. Não adianta nada, só o mesmo caminho dos julgadores RADICAIS, a radicalização, pois essa turma não se importa com o que falam deles. Pensam ” sou melhor, superior”, e acabou. Então só a força contrária fará o equilíbrio.

  6. Lula está nas mãos do ressentido, vingativo e entreguista governo que quer criar menos escolas e universidades e mais cadeias e IMLs. Para isto já tem o ministro IML (indigno, medíocre e lamentável)

  7. Lula está nas mãos do ressentido, vingativo e entreguista governo que quer criar menos escolas e universidades e mais cadeias e IMLs. Para isto já tem o ministro IML (indigno, medíocre e lamentável) conforme foi dito em Portugal

  8. Todo Magistrado que se escuda em Súmulas restritivas de direitos para não debruçar sobre provas produzidas pode ser chamado de covarde, pusilânime, preguiçoso ou mal intencionado.
    O processo em relação ao Lula suscita sérias dúvidas tanto quando à existência dos fatos imputados, à prova concreta, firme e induvidosa dos fatos e da responsabilidade dos atos, à pertinência das acusações, a sua tramitação e reflexos produzidos, que justificariam de muito o reaxame total das provas produzidas e decisões dos juízos inferiores (13 Vara Criminal e TR2).
    Como tem-se afirmado Todo Magistrado que se escuda em Súmulas restritivas de direitos para não debruçar sobre provas produzidas pode ser chamado de covarde, pusilânime e preguiçoso.
    O processo em relação ao Lula suscita sérias dúvidas tanto quando à existência dos fatos imputados, à pertinência das acusações, a sua tramitação e reflexos produzidos, que justificariam de muito o reaxame total das provas produzidas e decisões dos juízos inferiores (13 Vara Criminal e TR2).
    Como tem-se afirmado seria dever dos magistrados a revalorização das provas produzidas e as que foram sonegadas à defesa

    1. Não gaste seu latim com minudências explicativas.
      A peça acusatória do ministério público (vulgo DD) não deveria sequer ser aceita por um juiz que se considerasse decente.
      Nenhuma acusação ali se sustenta.
      São ilações vazias e insinuações maliciosas pelo simples fato de o Lula ter sido presidente, e como tal, ter importantes relacionamentos, como sói acontecer a políticos populares. O normal exercício do poder o tornou suspeito, tanto quanto a Dilma, pelo simples fato de os elementos de curitiba acharem que eles NÃO MERECIAM o cargo que ocupavam.
      Claro que o nosso novo presidento bozo NÃO TERÁ bons relacioamentos futuros na qualidade de politico popular. A história lhe prepara um enorme e merecido apagão.
      Que seja breve.

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