Não é mais a ignorância que atravanca o progresso?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Se Bolsonaro não for detido, em uma década o Brasil formará menos universitários, professores e doutores. Em duas décadas, voltaremos, na educação, ao ponto em que estávamos no princípio do século XX

Foto: Agência Brasil

Em meados do século XIX, a bisavó da minha mãe – que pertencia à nobreza rural paulista – foi enviada ao Rio de Janeiro para estudar no Colégio Pedro II. Ela sempre demonstrava orgulho por pertencer à mesma turma que a princesa Isabel. Quando estava brava por algum motivo, ela falava com os bisnetos em francês. Minha mãe, que durante algum tempo foi criada pela avó que morava com a mãe refinada, ficava magoada quando não conseguia entender nada do que a bisavó havia dito.

Meu bisavô concluiu a Faculdade de Direito do Largo São Francisco e se tornou promotor e, depois, juiz provincial. Já falei um pouco sobre ele aqui mesmo no GGN. O percentual de brasileiros com nível superior naquela época era ínfimo. Cento e vinte anos depois, quando eu mesmo comecei a fazer Direito, apenas 6% da população brasileira tinha curso superior completo.

Se fosse brasileira, a avó da mãe de Jair Bolsonaro provavelmente não teria o mesmo privilégio que a avó da minha mãe. O pai do presidente era “dentista prático” sem diploma. No Império e durante quase todo período republicano, a educação não foi um direito universal que podia ser exercitado pela maioria dos brasileiros.

No Brasil, o processo de inclusão da população pela educação foi lento. Durante a República Velha a educação infantil começou a ser universalizada. Depois contingentes populacionais maiores foram admitidos no ginásio. A educação até os 14 anos somente se tornou obrigatória a partir da Constituição de 1967. O segundo grau somente se tornou um direito do cidadão com o advento da CF/88. Os governos petistas foram responsáveis pela expansão da educação universitária.

Se for comparado aos países europeus e a Cuba, nosso país ainda tem muito a fazer em relação a educação. Entretanto, nada do que precisa ser feito será realizado pelo desgoverno Jair Bolsonaro. Muito pelo contrário.

Após declarar que não quer jovens politizados, o novo presidente desferiu um ataque mortal ao sistema educacional brasileiro. Se Bolsonaro não for detido imediatamente, o resultado será catastrófico do ponto de vista humano, social, econômico, científico e até militar. Em uma década o Brasil formará menos universitários, professores e doutores. Em duas décadas, voltaremos ao ponto em que estávamos no princípio do século XX.

Esse grande salto para trás não será interrompido pelo mercado. Os mercadores do ensino podem perfeitamente maximizar seus lucros reduzindo a quantidade de vagas disponíveis à medida que a procura pela educação privada diminuir em virtude do empobrecimento da população. Além disso, é evidente que a reforma trabalhista e a reforma previdenciária não foram concebidas para melhorar a situação econômica das pessoas mais pobres.

É uma estupidez acreditar que a internet fará alguma diferença. O acesso pessoal à informações dispersas sem qualquer estruturação curricular ou método pedagógico não é capaz de garantir um processo de aprendizado eficaz. O YouTube não vai formar professores, doutores, cientistas… no máximo ele irá produzir clones virtuais de Olavo de Carvalho, um pseudo-filósofo que acredita que a terra é plana e que os comunistas estão prestes a dominar o mundo porque voltamos aos anos 1950.

A destruição da educação universitária não vai destruir o PT. Ela destruirá o Brasil. Se o nosso país continuar sendo mutilado pela paranoia política de um presidente e de ministros que agem sob a influência do retorno dos seus próprios recalques, em pouco tempo uma elite intelectual envelhecida causará estranhamento às poucas crianças que tiverem acesso à educação. Não é possível desenvolver um país condenando a esmagadora maioria dos adultos a sofrerem na miséria para criar filhos semi-analfabetos como ocorreu durante a geração do pai do presidente.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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