Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
[email protected]

“Não xingue minha mãe! Não fale de minha mãe, vagabundo!”, por Armando Coelho Neto

Bozo não fala com o interlocutor imediato, como, por exemplo, os jornalistas que têm o dever de cobrar dele explicações sobre o que diz, desdiz

“Não xingue minha mãe! Não fale de minha mãe, vagabundo!” 

Por Armando Rodrigues Coelho Neto

Não, leitor, não foi o palhaço Bozo (do Palácio da Alvorada) quem disse isso. Tudo bem, que não consigo contar essa história direito, mas aconteceu numa unidade da Polícia Federal. Há tempos, um policial queria dar uma porrada no seu superior, que segundo ele, o humilhava. Aliás, não só a ele, e por isso o tal superior contava com grande rejeição em significativa parte da PF. Não devo dizer o nome ou apelido do policial que queria dar a porrada nem de quem acabou levando. Mas, o que o humilhado me contara como simples hipótese, acabou acontecendo.

O policial tinha uma pecha de “louco” e acabou pondo em prática seu plano de lavar a alma. Ele estava sozinho no elevador com o seu chefe, quando o elevador já se aproximava do térreo, sabidamente concorrido de usuários. Subitamente, começou a gritar repetidas vezes: “Não xingue minha mãe não! Não fale isso de minha mãe não…” e… Pá! Deu o prometido soco na cara do chefe.

No térreo, os que esperavam pelo elevador ouviram tudo intrigados e logo na saída surgiram safanões seguidos do “deixa disso”.  Todos ouviram os gritos, enquanto o policial “louco” saiu de alma lavada. Surgiu o soco que, afinal de contas, foram raros os chefes dentro da PF que não mereceriam levar, nas mais de três décadas em que lá trabalhei.

O policial deu a porrada e todos que ouviram os gritos dele deduziram que o chefe havia ofendido a mãe do agressor. O soco (que não viram) fora uma reação à ofensa contra a mãe dele – uma das mais sérias agressões que se pode fazer até hoje em boa parte dos rincões brasileiros. Para ilustrar, assisti num supermercado de uma grande rede (São Paulo), um açougueiro ser insultado, humilhado por uma cliente, inclusive com preconceitos por ser nordestino.  Mas, quando ofendeu a mãe dele, de pronto deu a volta no balcão com a faca de cortar carne para um ataque…

Ninguém sabe, ninguém viu, só ouviu. O policial “lacrou” para o público “não xingue minha mãe!”, lavou a alma e de quebra ganhou a simpatia dos que como ele não suportavam o chefe. Lavou também a alma de simpatizantes, além de honrar um sentimento cultural materno. Sua frase pronta teve apoio da claque; virou, pois, uma verdade que não sobreviveria a qualquer análise mais inteligente. Mas, não era com pessoas inteligentes que o policial estava falando. Ele sabia que público queria atingir.

O policial, com ou sem razão, estava no exercício arbitrário de suas razões, usou de violência, jogou fundo e alto num valor cultural (respeito a mãe), valor que concorre – pau a pau – com o machismo e a condição de corno. Conseguiu emplacar sua narrativa. Criou pós-verdade e, como se diz hoje, “lacrou”. Sequer sei se está vivo, mas certamente poderia compor hoje a equipe do Palhaço-Mor da República. De outro giro, Steve Bannon, grande criador de maldades eleitorais no Planeta não sabe a engenhosidade que estaria perdendo.

Essa história não me sai da cabeça há tempos, sempre que ouço a piada do dia vinda do Palácio do Planalto. Pela Constituição Federal, o chefe do presidente da República é o povo, de quem todo poder dele emana, conforme o parágrafo único do primeiro artigo da Carta Magna. Mas, o ódio ao povo nutrido pelo Bozo contra o seu chefe (povo) muito lembra o policial raivoso do “causo” acima. Ao que parece, Bozo trama contra o povo dentro do elevador e ao chegar no cercadinho dispara socos, gritos, imprecações. Como no “causo”, o que ele diz não sobrevive a análises sensatas e/ou inteligentes.

Mas, quem disse que ele fala com sensatos e inteligentes? Como na história do policial, Bozo fala com o distante ou com seus botões satânicos. Ele desce o elevador com a porrada/frase prontas para agredir minorias e maiorias. Ele sabe que quando a porta do elevador abrir, sua claque insana estará lá para gritar êêêêh!! E o faz certo que seus asseclas publicarão nas redes sociais frases do gênero: “Presidente cala a boca de jornalista comunista… Petista… Ambientalista (ui!)”.

Bozo não fala com o interlocutor imediato, como, por exemplo, os jornalistas que têm o dever de cobrar dele explicações sobre o que diz, desdiz, pois vive de “disse não disse” que Moro iria pro STF, que a xendengue Regina Duarte “iria não iria” ter carta branca, que ele “estaria não estaria” infectado pelo coronavírus. Aliás, que palhaçada do seu filho na Fox News, não? Bozo “convocou não convocou”, mas desconvocou (ou não) o ato contra a República no fiasco de ontem. Seria a desconvocação possível desculpa pra iminente fracasso?

Coisas que as lacrações escondem, ninguém sabe ao certo por quantos dólares Bozo está vendendo o Brasil em suas idas e vindas para conversar com o seu patrão Trump. Nem o que fez na CIA, se é que foi. No submundo Bozó/Trump, não se sabe se iremos ou não atacar a Venezuela. Bozo, que já defendeu uma guerra de brasileiros contra brasileiros, e não à toa defendeu que cada cidadão tenha sua arma em casa, reafirma todos os dias seu propósito de acabar com o que ele chama de esquerda, sendo esquerda ou não.

Enquanto trama a porrada e/ou a frase feita no elevador – que de pronto ganha espaço na mídia corporativa nanica e redes sociais – o Brasil não sabe quando sai do buraco. Desconhece se ser de esquerda vai ser crime, se protestar será ato terrorista, se dólar alto é bom ou ruim. Onde anda Queirós? O dinheiro com o qual a XP pagou procuradores da Farsa-Jato é sujo ou limpo? Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes? O que Moro e Ronaldinho foram fazer no Paraguai? O que resta ser revelado pelo The Intercept e o que de novo pode trazer o caso Banespa? Que documentos foram falsificados para fraudar a condenação de Lula? O que é, afinal, crime de responsabilidade e se vai continuar sendo tolerado o ataque ao exercício dos Três Poderes…

Deixo ao leitor aumentar a lista acima sobretudo o quanto mais o diversionismo do Bozo esconde, enquanto faz lacrações.

Bozo, que se elegeu negando política e partidos políticos, fingiu ou arrumou mesmo uma mutreta para ficar sem partido. Incauta ou conivente, a mídia reafirma todos os dias: “o presidente Bozo (sem partido), disse que…”. Invariavelmente reafirmam motes eleitorais dele como apolítico, do sem partido, da escola sem partido, do sexo sem partido, coisa e tal.

Não! Bozo não é burro e não fala para pessoas sensatas e/ou inteligentes. Não fala sequer para usuários dos neurônios do “tico e teco”, e sim com pessoas abaixo disso. Aliás, nem fala com essas pessoas, ele lacra e a horda fascista reverbera. Vive em sintonia com a galera que o espera no hall do elevador, no pior estilo do indignado policial mencionado lá por cima…

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ouso uma pequena observação, que não desmerece o artigo: A Ética do policial “louco” e do presidente (até quando, “Catarina” ?) é a mesma. Ambos falam para “o distante”. A Moral não, diametralmente opostas. O que move o “louco” é um desejo de reparação, de Justiça, embora literalmente pelas próprias mãos. Na outra ponta, o “são”, sem nenhuma máscara, é movido por….deixe pra lá, não tenho intenção de explicar o que todos, exceto os “distantes”, entendem perfeitamente.

  2. Dei um murro na Rede Globo (todos os programas sem exceções)faz muito tempo. Não sei o que é o JN há anos, e mais recentemente suas notícias manipuladas(todas) no seu portal G1, alémdos seus programas fajutos nos canais pagos. Depois veio a Folha.Dei outra porrada na Folha e me livrei dela. Agora, me livrei também do UOL. Depois que vi ontem eles disponibilizando um link: “acompanhe aqui os protestos a favor de Bolsonaro” foi a gota d’água. Isso não é sério. Banana para eles. Todos eles xingavam diariamente meu discernimento, meu bom senso e minha cidadania.

  3. Tudo o que envolve esses Bolsonaro tem picaretagem, até o partido que estão tentando criar, tem mais morto-votando do que vivos! E tal carta testamento do Bebianno que não é uma?! Jogo no google “carta testamento” e antes de completar Bebianno, aparece Getulio. Agora temos duas cartas testamentos na historia: uma carta profética para o Pais e outra, ao que parece, profética para o Bozo. Aposto que Bebianno foi irônico em tudo o que disse sobre seu ex-chefe. Quanto ao Carluxo, vai ser mal assim la na casa do baralho! E nos seguimos confinados, ja morrendo de medo so de pegar o corona. Ê vida!

  4. Armando, li, reli o seu texto e entendi sua analogia com o louco da PF, porém eu sou mais o PF, pois tem cura para a sua loucura mas para o BOZOVÍRUS ainda não existe tratamento com prognóstico positivo para PSICOPATIA: este “cidadão” é perverso, possivelmente assassino, perigoso, sádico etc
    Hoje fiquei muito satisfeita, feliz, porque assisti uma LIVE ao vivo do DR Salomão GURGEL PINHEIRO, ele é psiquiatra, um bom psiquiatra formado em MOSCOU com pós em CUBA , e o melhor foi médico do PRESTES, tudo isso só para dizer que ELE tb analisa o tal CIDADÃO que joga o BRASIL num buraco, como um PSICOPATA.
    AH se realmente interditado esse sujeito e fizessem um PSICODIAGNÓSTICO com uma equipe competente, isenta e comprometida unicamente com suas profissões, tenho certeza que o diagnóstico seria esse e o encaminhamento seria para um MANICÔMIO JUDICIÁRIO… Bem teria outros de sua equipe que tb caberia esse diagnóstico…
    Por hoje é só… até quando vamos suportar essa situação?!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador