O lulismo resistiu, por André Singer

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Folha

O lulismo resistiu, por André Singer

Encerrada a campanha do primeiro turno, verifica-se que a base lulista comportou-se como um rochedo diante das ondas que agitaram o período. No final de 2013, conforme escrevi neste espaço, Dilma Rousseff obtinha 50% das intenções de voto entre os eleitores cuja família tinha renda mensal de até dois salários mínimos. Passados dez meses, permanece com a mesma quantidade de sufrágios no piso da pirâmide social.

Reforça a convicção na estabilidade do voto do estrato mais pobre o fato de que, em novembro de 2013, Marina Silva tinha ali 21% das preferências e hoje conta com 20%. De forma semelhante, Aécio Neves moveu-se pouco no interior do núcleo que sustenta o governo desde 2006: tinha 12% em novembro passado e agora está com 16%, variação ainda dentro da margem de erro (dois para mais e dois para menos).

É verdade que ao longo da campanha houve alguma oscilação no pilar do lulismo, com a diferença entre Dilma e Marina, que hoje é de 27 pontos percentuais, chegando a um mínimo de 11 pp no final de agosto. Tudo indica que a propaganda política teve o efeito esperado de ativar a simpatia latente, atraindo de volta para Dilma eleitores que haviam “esquecido” qual era a sua preferência.

Da mesma maneira, cabe lembrar que, logo após os acontecimentos de junho de 2013, Dilma perdeu 20 pontos percentuais nesse grupo, tendo recuperado boa parte deles nos meses subsequentes. Pode-se inferir agora que os longos minutos de horário gratuito no rádio e TV completaram o ciclo, restituindo à petista a condição que tinha às vésperas do pleito de 2010.

Na ponta superior da estratificação por renda, ao contrário, a perda de popularidade sofrida pela presidente em junho de 2013 não foi revertida, aprofundando o fosso de classe característico do lulismo. Se há quatro anos Dilma tinha 31% das intenções de voto entre os eleitores com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos (bit.ly/dataf10), agora dispõe de 23% (bit.ly/dataf14).

Assim, iremos às urnas amanhã com uma polarização entre pobres e ricos pelo menos tão marcada quanto a de 2006. A classe média tradicional rejeita em massa a continuidade, a qual é em bloco sustentada pelos pobres.

ANDRÉ SINGER escreve aos sábados nesta coluna.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. Ricos x Pobres

    “A classe média tradicional rejeita em massa a continuidade, a qual é em bloco sustentada pelos pobres.”

    Desde quando quem ganha acima de dez salários minimos seria classe média?

  2. Não gosto dessa ideia de

    Não gosto dessa ideia de colocar os ricos contra os pobres. Conheço muitas pessoas que ganham mais de 10 mínimos que votam, e sabem bem porque o estão fazendo, na continuidade do governo. Votam assim, porque são lúcidos o suficiente para ver que é melhor ter um estado do bem-social do que ter um fosso entre as classes.

  3. Eu tenho um sonho…*Luis Inácio Lula da Silva

    Eu tenho um sonho…*Luis Inácio Lula da Silva

    Aonde estavam os 36 milhões de pessoas que saíram da miséria, no período anterior ao governo de Lula Dilma…

    Aonde estavam as 18 novas universidades, as mais de 400 escolas técnicas e os  7,5 milhões de universitários, antes de Lula e Dilma,  efetivamente priorizarem a educação…

    Aonde estavam mais de um milhão de casas que foram entregues as famílias brasileiras para assim se concretizar o direito constitucional de acesso a moradia, antes do programa Minha Casa, Minha Vida, ter sido implementado por Lula e Dilma…

    Aonde estavam os mais de 20 milhões de empregos que foram criados, durante estes 12 anos, do governo petista de Lula e Dilma, realmente direcionados aos trabalhadores..

    Aonde estava toda esta imensa riqueza chamada petróleo do pré-sal, antes que Lula e Dilma tornassem este sonho possível e viabilizassem a exploração e distribuição da riqueza para a educação e saúde do povo brasileiro.

    Aonde estava este imenso potencial para a produção agrícola e pecuária brasileiras, tornados realidade por estes governos Lula e Dilma, que finalmente deram uma oportunidade a vocação destes produtores rurais, pequenos e grandes..

    Aonde estavam os mais de 380 bilhões de dólares de reservas que hoje ostenta a nação brasileira, antes de Lula e Dilma,  tirarem o país das mãos do hoje quase esquecido FMI.

    Aonde estavam todos estes brasileiros, que através de Lula e Dilma aprenderam a se orgulhar deste país e o transformaram não somente na sétima economia mundial, mas no país com o povo mais otimista do planeta.

    E, neste momento.

    Aonde estamos todos nós, que ainda não estamos nas ruas defendendo este legado.

    Toda esta luta teve resultados imensos, mas a tarefa ainda esta longe de ser completada, o resultado final de algo que pode ser chamado de sonho.

    Para concretizá-lo, Lula, às vésperas de completar 70 anos, sai todos os dias às ruas, sem descanso, e transmite a mensagem essencial, tornar cada brasileiro um cidadão, ou seja, torná-los  pessoas conscientes de seus direitos e deveres, para que, por meio da politica, possam se inteirar das possibilidades econômicas e sociais deste país, e de seu povo excepcional,  e assim se tornarem senhores de seus destinos.

    Dedica-se, dia a dia a construir um sonho.

    Assim é que, a cada palavra de Lula, emerge aos poucos, um cidadão consciente, a cada gesto de Lula, sai um multiplicador da liberdade pelo conhecimento, a cada uma de suas manifestações de luta, saem redes de proteção social e, de todo este esforço incomensurável, nasce a consciência crítica e o sentimento solidário de povo, e, nesta longa jornada de uma vida inteira, para cada um e para todos, esta se construindo uma Nação, uma Nação fundada na prática cidadã do bem estar comum e na crença que somente a educação e o respeito ao próximo podem proporcionar uma sociedade que, ódios aplacados,  se mova pelo amor fraterno que servirá de herança para as futuras gerações.

    Sobre este imenso legado, em sua derradeira cruzada, faremos o discurso final…

    Aonde estavam estes milhões de brasileiros, antes de Lula realizar esta cruzada pela cidadania, e que, agora, se armaram de voz, de conhecimento, de participação, de solidariedade, de força politica e, com o país em suas mãos, o encaminharam para o caminho do bem estar de todos, dividiram os frutos e firmaram compromissos de vida e trabalho, e, dessa forma, tornaram possível o maior bem da terra, a felicidade sem culpa, pois dividida e compartilhada por todos.

     

    *Eu tenho um sonho – Marthim Luther King, (http://www.dhnet.org.br/desejos/sonhos/dream.htm) trecho:

    “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

    Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

    Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

    Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

    Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

    Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

    Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado,”

  4. Minha Homenagem

    O Lulismo resiste, mas também por mérito de companheiros esmagados. Inocentes quase todos das muitas acusações políticas, mas o seu maior mérito foi não cair na tentação “premiada” de culpara Lula ou o Governo popular. Esses são os meus heróis. Alguns deles pouco conhecidos, mas que receberam disparos do PIG e foram abatidos nestes 12 anos. O PSDB é cobrado por deixar parceiros feridos no meio da estrada, mas não temem, pois nunca são acusados de nada. No PT existem centenas de feridos “políticos” pelo PIG e de gente que dá a sua vida pela causa. Neste dia de reconhecimento ao Lulismo que resiste, vai a minha homenagem aos companheiros que morreram por isso ou que não conseguiram resistir. Graças a eles estamos próximos de mais 4 anos.

  5. É minha gente, se o PIG não

    É minha gente, se o PIG não fosse TÃO BANDIDO como É, este País já estaria muito além de onde está! Mas, graças a Deus, existe e existiu um Lula que nos mostrou como se governa e teve continuado o estilo de governar (com algumas diferenças) com Dilma! Infelizmente temos que lutar contra o PIG, os Neoliberais e/ou Rentistas, que não penasm o País, mas somente neles mesmos! Cânceres Nacionais e de outras Nações (Não é só no Brasil)! Viva o Brasil, o Lula e a Dilma!!!!!  

  6. Pobre contra rico, demagogia,

    Pobre contra rico, demagogia, um contra outro, e o BRASIL, um pais Estado, onde fica? Maduro tambem resiste, Evo Marales tambem resiste, Rafael Correa tambem resiste, o jogo é dividir o Pais e jogar uma classe contra outra.

    1.   E o que você sugere? – Além

        E o que você sugere? – Além daquela “acomodação” de país mais desigual do mundo, claro.

        Hoje em dia somos “apenas” o décimo país mais desigual do mundo, o que significa que tem uma penca de país africano menos desigual que o nosso. Você sugere que o povo aguente mais uns 2 ou 3 séculos para “o bolo crescer”?

  7. Enquanto o Brasil for um dos

    Enquanto o Brasil for um dos países mais injustos do mundo (e ainda é), o “lulismo” resiste. A direita achava que por rejeitar o comunismo, o povo brasileiro acha que pobre deve continuar pobre, e servir ao rico.

    Só que Lula encarnou o projeto de desenvolvimento capitalista em que o pobre tem reais chances de mudar de classe social. Começou a mudar em 2003, mas falta muita coisa. Esse projeto só balançou agora com Dilma, porque ela teve dificuldade de batalhar pela continuidade, sem a figura mítica de Lula. 

    Mas está mostrando agora que está aprendendo. A direita pode até conseguir ganhar agora, com Marina ou Aécio, o que é improvável, mas Dilma lutará até o fim, e dificilmente entregará a rapadura, como dizem nossos bravos nordestinos

  8. como disse o  lula, é preciso

    como disse o  lula, é preciso voltar a fazer política e

    não ficar nesse papo somente ligado

    aos assuntos economicos. 

    mesmo  com outros rótulos, a luta de classes existe,

    queirams ou não.

    e tenderá a se aprofundar,

    pode crer.

  9. Os … ismos

    Vamos ter cautela diante de … ismos quaisquer. Podem nos tornar seguidores sem desenvolver maior senso crítico além. Dizem que Marx não gostava de ismos, nem de termos enquadradores como “marxismos”. Isso vale pra este que vos fala que tem, sempre teve uma tendência anarquista, mas tendo em mente que também os anarquismos (há inúmeras correntes – remeto ao wikipedia) podem ser uma adesão acritica, um novo catecismo. Espero que no 2º turno (se houver) o blog, os comentaristas, visitantes, cadastrados ou não, moderem, não estamos numa corrida de cabvalo, nem numa guerra de vida ou morte – até numa guerra inimigos se respeitam e se sentam para negociar paz, ou tentam civilizadamente. Vamos divulgar incessantemente nos dias seguintes pra melhorar ainda mais o nível nos posts recentes. Deixemos que outros (adversários ou não) apelem pra vocabulários e brincadeirinhas, rótulos fáceis e cômodos e deseducadores (isso vale em primeiro lugar pra mim, torço pra que o espírito de irmandade, de grupo fechado, de iluminados seja atenuado).

  10.  
    Ave maria (osmarina?). Que

     

    Ave maria (osmarina?). Que coisa feia? Como os PTobas gostam dessa invenção maluca de luta de classe!…Que falta de amor ao próximo. E porquê não, ao distante também?  Eu, hem !

    Isso não se aplica nem fica bem no Brasil. Dizem eles. País em que seus filhos sempre viveram na maior harmonia. Inclusive, nos recomendando incluir aqui, algúns dos sinônimos harmoniosos: acordo, acomodação, adesão, ajuste, assentimento, entendimento, combinação, conchavo, concordância, consentimento, e um monte de etc…

    Este lenga lenga é muito cultuado como valor pelos donos do rebanho, e, são recomendados aos que recebem no lombo, a ponta oposta, ao punho do relho.

    Isto posto, vale relembrar parte do período de paz, que deve ter contribuido para tornar a luta por justiça social, algo desnecessário no país que a praticou durante longa experiência econômica da escravidão. Período que deve ter contribuido em muito para as excelentes relações entre os ricos e os muito pobres irmãos brasileiros. Copiemos um pouco os judeus. Ao não ouvidar o que fizeram no passado com os irmãos trabalhadores.

    Vejamos abaixo, pequeno trecho extraido da  A história da escravidão no Brasil:

    “Nas fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendo apenas trapos de roupa e uma alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia.”

    Um ilustre incauto poderá até dizer: Ah! Isso foi no passado….como não é no dele…ai fica facil .

    Orlando

  11. Preconceito puro , colocar o

    Preconceito puro , colocar o rico contra o pobre ou vice versa , demagogia barata, espero que os “ricos” e os ” pobres” que pensam assim mudem de opinião, pois não se construi nenhum pais com esta polarização.

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