Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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O PT na encruzilhada e a Jeremiada de Lula, por Aldo Fornazieri

O PT na encruzilhada e a Jeremiada de Lula

por Aldo Fornazieri

O encarceramento de Lula e a perspectiva de permanecer preso por tempo prolongado colocam o PT numa terrível encruzilhada de três estradas: seguir adiante com Lula como candidato até o fim; buscar um auto-resgate com um novo candidato; participar de uma frente de centro-esquerda apoiando um candidato de outro partido. Os três caminhos envolvem altos riscos e margens escassas de êxito.

Se o PT não marchar com Lula até o fim, não só abandonará o seu maior líder, mas será visto como traidor. O Lula encarcerado se constitui num paradoxo destinado a cobrar um alto preço ao PT ou às elites: se o PT não o mantiver como candidato, será ele a pagar este preço e será abandonado por muitos eleitores, simpatizantes e militantes. Se Lula permanecer candidato, serão as elites que terão que pagar o alto preço de impedi-lo ou, eventualmente, impedir sua posse em caso de vitória. Mas, se o PT o mantiver como candidato terá que ter a sabedoria e a competência de reinventar-se num processo de mobilização e de defesa da liberdade de Lula. O problema é saber se as atuais lideranças do PT têm as virtudes e as capacidades necessárias para reinventar o partido, mobilizando o povo.

Assim, o abandono de Lula por um plano B, na crença de que Lula transferirá votos, tende a produzir não só uma grave derrota eleitoral, mas uma descrença no PT. Já a aliança e o apoio a um candidato de centro-esquerda era algo desejável em circunstâncias determinadas, que deveria ter sido construído há mais tempo, num processo conjunto de integração de militância e formulação programática. Fazer isto agora, num processo de derrota, poderá aprofundar a debacle do PT. Mas fica a lição para ser desenvolvida no futuro. Hegemonia, afinal, implica concessões e alternância planejada de posições.

É preciso perceber que desde o início de 2015, quando se iniciou o processo de impeachment, cuja consumação completa dois anos nesta semana, o PT vem sendo derrotado em todas as suas consignas e lutas, numa conjugação de erros, apatia e defensivismo. A prisão de Lula, sacramentada com o objetivo último de impedir sua participação nas eleições, pode significar a derrota final do PT nessa conjuntura marcada pelo golpe do impeachment sem crime de responsabilidade e pela implantação do Estado de exceção judicial, que transformou o Judiciário em órgão de disputa político-ideológica, provocando a anarquia constitucional e institucional.

O “não vai ter golpe”, o “não passarão”, o “nenhum direito a menos”, o “mexeu com Lula, mexeu comigo”, tudo isso se transformou em ruína e fardos jogados sobre os sacrificados ombros de Lula que, escravizado na prisão, se parece como um Hércules a sustentar colunas, mas condenado a realizar os doze trabalhos ou muitos outros trabalhos para redimir os erros do PT e de todas as esquerdas.  Lula foi preso e a “convulsão social” propalada por dirigentes do PT não ocorreu.

A Jeremiada de Lula para o PT

Ainda em meados de 2015, (e até antes disso), Lula, com a clarividência dos líderes prudentes, anteviu a desdita que havia se apossado do PT e que se encaminhava para um colapso futuro se os rumos não fossem retificados. Numa verdadeira jeremiada para seu partido, ao lado de Felipe Gonzalez, advertia: “O PT precisa de novos líderes e de uma revolução interna”; “Queremos salvar a nossa pele, cargos, ou um projeto?”; “o PT precisa construir uma nova utopia”; “o PT precisa, urgentemente, voltar a falar com a juventude”; “fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido e ter lideranças mais jovens, ousadas, com mais coragem”; “é preciso aprender a lidar com as novas tecnologias para brigar melhor na internet, nas redes sociais, porque não há espaço na mídia tradicional para os grupos de esquerda”. E se o PT não fosse capaz de se reinventar, “que dos movimentos de hoje surja um partido melhor do que o PT. Mas que surja”, advertiu Lula.

Qual o profeta Jeremias, Lula não foi ouvido pelos petistas eles não se converteram de seus erros. A consequência foi trágica: a Jerusalém do PT ruiu e Lula foi levado para o cativeiro. Simbolicamente, todo o povo lulista está cativo na babilônia de Curitiba. Durante o processo do desfecho dessa crise, os sacerdotes do PT continuaram a queimar incenso a “deuses estranhos”. Acreditaram em advogados, nos desembargadores do TRF4, nos ministros do STF. Quando estes deram o salvo conduto por meio de uma liminar de pouco mais de uma semana a Lula, lideranças petistas, junto com outros analistas de esquerda, chegaram a dizer que o STF havia barrado as arbitrariedades da Lava Jato. Regozijaram-se dizendo, “estamos no caminho certo”; encheram-se de “felicidade comedida” e de falsas esperanças, nessa queima de incenso a deuses estranhos.

O fato é que quando um partido passa a acreditar em advogados e em juízes como salvadores e condutores de seus passos políticos é porque perdeu a noção do que é a luta pelo poder e perdeu a noção da lógica da ação política. Há uma inversão em tudo isso. São os advogados e juízes que precisam acreditar no partido ou no líder. Pois cabe a estes o papel de condutores. São eles que devem ser depositários da fé. Quando o partido, pelos seus erros, não é mais capaz de fazer-se acreditado, ver-se-á perseguido por seus inimigos e, seus líderes, ou terminarão aprisionados ou dizimados e mortos.

Em que pese estar preso, o poder simbólico e mítico de Lula sobrevive e poderá ser reforçado, tornando-se uma energia mobilizadora no presente e no futuro. Quanto mais evidente ficar o caráter persecutório do Judiciário, quanto mais fascista se mostrar a conduta de Sérgio Moro contra Lula, quanto mais injusta e parcial se mostrar Cármen Lúcia e seus asseclas no STF em sua sanha de ver Lula encarcerado, mais Lula agigantará para a história e mais contará com a solidariedade do povo. Quanto mais abnegado for Lula no seu sofrimento e na sua solidão, mais o povo o aquecerá com o seu calor e com o seu carinho.  

O poder de Lula pode dirigir-se para vários atores e movimentos. O PT não é seu herdeiro único e terá que mostrar-se digno dessa herança. O próprio Lula, de alguma forma, em sua resistência corajosa no Sindicado dos Metalúrgicos do ABC, investiu Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila como herdeiros de parte desse poder.

O poder de Lula sobrevive porque, se é verdade que ele sempre foi conciliador, é verdade também que ele sempre foi um líder corajoso – virtude política cardeal que falta a muitos outros líderes de nossos dias. A coragem política é uma virtude que é uma condição sine qua non para qualquer outra coisa de significativo, de eficaz e de grandioso na política. A coragem do líder incute confiança no povo e um povo confiante, que tem fé em seu líder, nunca o abandona.

Lula é energia ativa, mantém poder e a fidelidade do povo porque se fez necessário ao povo pobre do Brasil. Os líderes precisam compreender que a fidelidade é uma via de mão dupla: o povo se mantém fiel aos líderes que lhe são fieis. E os líderes serão fiéis ao povo se se fizerem necessários a ele, beneficiando-o e protegendo-o. Esta é uma relação que precisa ser sempre renovada, pois ela não sobrevive apenas das glórias do passado. Muitos líderes se espantam com uma suposta ingratidão do povo. Mas o povo só é ingrato com os líderes que não têm coragem, com os líderes que não lhe incutem confiança, com os líderes que não renovam os mútuos compromissos de fidelidade e com os líderes que não comandam o próprio povo. Os líderes que não comandam o povo não são líderes de fato.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 
Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

19 Comentários

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  1. Por tudo que li, pelo que

    Por tudo que li, pelo que está dito, não há outro caminho a ser trilhado, que não seja o PT ir à frente com a candidatura de Lula, até que se defina se os golpistas têm força política e meios (apoios e recursos) para, não contando, como mostram as pesquisas, com um candidato de direita ou disfarçado de esquerda com condições de vencer o pleito presidencial, cujos nomes estão sendo propalados, e deixará que as eleições sejam realizadas mesmo assim, ou como já tendo definido o seu arcabouço de segurança, visto que as Forças Armadas saíram do armário, e mostraram o seu apoio ao golpe, irão partir para a ditadura pura e simples, abandonando o atual disfarce pouco democrático, na esperança de continuar seu projeto de espoliação dos trabalhadores com desemprego, arrocho salarial e menores remunerações e entrega das riquezas nacionais, Cada vez fica mais claro que essas questões não serão definidas apenas em gabinetes, apenas tocando teclas para formar opinião contrária aos golpistas, Algo mais deve ser feito no sentido de impedir que o golpe se consuma de todo e, inclusive e principalmente, libertar Lula, tirá-lo do injusto calvário,  diminuir seu pesado fardo, principalmente porque nem o PT nem os demais partidos de oposição contam com um nome capaz de vencer o pleito.                                  

  2. O Lula talvez tenha decidido apostar na via jurídica para, justa

    O Lula talvez tenha decidido apostar na via jurídica para, justamente, forçar o Poder Judiciário a se desmoralizar e expor todas as arbitrariedades cometidas contra ele e contra seus aliados, como o José Dirceu, Vacari e José Genuíno. A decisão de apostar na via judiciária possibilitou expor a verdadeira face dos ministros do STF e de muitos outros membros do Poder Judiciário.

    Apesar de polêmica a decisão do Lula de aceitar ser preso, as circunstâncias as quais ocorreu a prisão permitiu ao Lula assumir o papel de mártir perante os seus apoiadores e seus inimigos. A foto dele sendo carregado por uma multidão ganhou o mundo e estampou nos principais jornais internacionais a realidade perversa da perseguição política que sofre o principal líder político brasileiro.

    A prisão do Lula foi um verdadeiro erro para seus algozes. Além de transformá-lo em vítima, aumentou seu poder de influência, assim como possibilitará acelerar a tramitação da denúncia feita na ONU contra a Lava Jato e o juiz Moro. É provável que com a sua prisão muitas lideranças mundiais comecem a se mobilizar em solidariedade, ou mesmo, o Lula acabe recebendo o prêmio Nobel da Paz.

    O ex-presidente entende como ninguém a alma do povo brasileiro, e por isso soube conduzir sua própria prisão de forma a atingir o coração das pessoas mais humilde e simples. Durante sua prisão não houve panelaço, o que houve foi muito constrangimento e muita gente parece ter caído na real do que realmente aconteceu, ou seja, tratou-se de uma prisão política e injusta.

    Resta saber agora o que ocorrerá até as eleições. O PT parece ter recuperado parte do seu prestígio e de sua base social. O partido disputará a eleição de outubro com outra imagem, bem diferente das eleições municipais de 2016. O PT disputará a eleição sob a influência do poder simbólico do Lula como um mártir.

    Quanto ao fato do Lula disputar ou não as eleições, penso que o PT deverá registrar a candidatura do Lula e forçar o TSE e o STF se desmoralizar ainda mais. Por outro lado, os dirigentes petista precisam indicar um nome forte para a vice presidência, como o governador Flávio Dino ou o senador Roberto Requião, para que mesmo impugnada a candidatura do Lula a eleição esteja assegurada.

  3. Lula é o Lider. Nem se

    Lula é o Lider. Nem se precisa ir aos que sairam da linha de fome, que chegaram às Universidades,  qjue se beneficiaram de Políticas Públicas. Um empresário fã de Bolsonaro, que não seja totalmente analfabeto, confidenciará ao seu travesseiro, “nunca ganhei tanto como naqueles anos !”. Uns dizem ser fanatismo, outros seita, só que TODOS foram beneficiados, mesmo os pecadores. Então, se deixassem Lula ser candidato, poder-se-ia economizar o dinheiro da eleicão, por desnecessária. Fácil entender porque a midia não consegue desconstruí-lo. O que é difícil de entender, e não se pode culpar só a midia, que também não tem esse poder divino da construção, é como uma pessoa como o ex-prefake de SP, que não beneficiou NINGUÉM (não valem os que rapinam, esses se beneficiam sempre), pontua nas pesquisas como o preferido para “governar” São Paulo estado. Seria sina, maldição, “estocolmo”, ou purgação de pecados pregressos dos paulistas ? 

  4. O PT tomou boa noite Cinderela.

    O Professor Fornazieri como sempre lúcido nos comentários. O PT infelizmente continua cometendo erros absurdos na sua marcha errática, sem nenhum planejamento, sem nenhum plano bem estruturado para enfrentar os acontecimentos. Tudo é feito de maneira amadora. O PT vive de palpites. Suas decisões são sempre tardias, reativas e na maioria das vezes equivocadas. O PT deveria antes de tudo criar urgente um comitê gerenciador de crise 24 horas. Definir os objetivos a serem alcançados, fazer uma análise de riscos da situação atual e futura. Criar planos alternativos para ação. Pelo desenrolar dos acontecimentos após o presidente ser preso, o jogo mudou de figura. A prioridade 1 seria criar alternativas imediatas para a libertação do Lula. Essas alternativas entretanto precisariam ser bem planejadas envolvendo várias frentes com comandos definidos. Movimentos populares, pressão jurídica e política  sobre o STF, Eventos internacionais, pressão da mídia alternativa, povo na rua, visitas de personalidades brasileiras e internacionais etc. Algumas dessas alternativas já estão sendo feitas, mais de forma desorganizada, aleatórias. Não dá por exemplo para que o acampamento de resistência em Curitiba fique às moscas de políticos importantes do PT. Tem que ter gente lá diariamente se revezando, encorajando e incentivando as pessoas que lá estão a continuarem a luta. Tem muita gente que pode participar, ajudar, tem que ter gente especialista nesse gerenciamento de crise que poderia colaborar.

  5. Qualquer um que falar em

    Qualquer um que falar em plano B, C ou D será um traídor ou um beócio político, ou seja, ambos imcapazes de entender o momento histórico. O Lula e o PT são hoje os donos da narrativa,  tem que manter a chama viva. A prisão dá ao Lula a oportunidade de questionar aquilo que é mais importante que a liberdade, o motivo da prisão. Um HC envergonhado tiraria o foco das questão principal, que foi a condenação irregular. Essa é causa, isso transformador.  Lembremos, após o período de ditatura militar o poder judiciário foi o único que não passou por grade transformação, visando se adequar aos novos tempos. Manteve seu regime de casta e afstamento daquilo que é mais impostante do uma nação, que é o seu povo.

  6. Este é um grande momento para o PT

    Concordo com o Wilton: é preciso manter a candidatura de Lula até que o TSE faça sua parte nesse golpe que não tem fim e o vice assuma a campanha. Tem que ser um vice realmente com capacidade para mostrar que o PT não é o partido da corrupção e de que tem sido perseguido juridicamente, além de levar a herança politica de Lula adiante, com olhos para os novos tempos.

    O PT e toda a frente progressista e anti-fascista no Brasil precisam reforçar o nome de Lula para o nobel da Paz.

  7. …durante o exílio… (Jeremias 10,23 e 25)

    Javé, eu sei que o homem não é dono do próprio caminhoque não pertence ao homem que caminha dirigir seus próprios passos.   …   Derrama o teu furor sobre as nações que não te conhecem, e sobre os povos que não invocam o teu nomePorque eles devoraram Jacódevoraram até acabar com ele, e devastaram o seu território. (Jer. 10,23 e25)

    Trata-se de um acréscimo feito durante o exílio. A comunidade exilada reconhece que só Javé pode dirigir o caminho do homem. Reconhecendo isso, a comunidade pede que Javé faça justiça, corrigindo seu povo com misericórdia e castigando as nações que o destruíram.             http://www.paulus.com.br/biblia-pastoral/_PPM.HTM

     

  8. A importância da individualidade consequente, no pós-exílio.

    Podemos dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Deus. Ele se tornou uma espécie de «anti-Moisés», sendo levado para o Egito e vendo seu povo perder as instituições e a própria terra. No entanto, sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de mostrar, ao povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco, sem precisar de instituições mediadoras (31,31-34).

    http://www.paulus.com.br/biblia-pastoral/_PPC.HTM

  9. Uma coisa é certa, na batalha

    Uma coisa é certa, na batalha tanto a mídia quanto o judiciário vão pagar o ônus lá na frente!

    O inconcebível é que as Forças Armadas estão ai para garantir o saque do brasil tanto para capital nacional(?) e estrangeiro, não se importando com os compatriotas que estão sendo jogados na miséria!

    A perda de soberania e empobrecimento da nação, de seu povo – isso é o que é pior!

  10. “Assim, o abandono de Lula
    “Assim, o abandono de Lula por um plano B, na crença de que Lula transferirá votos, tende a produzir não só uma grave derrota eleitoral, mas uma descrença no PT. Já a aliança e o apoio a um candidato de centro-esquerda era algo desejável em circunstâncias determinadas, que deveria ter sido construído há mais tempo, num processo conjunto de integração de militância e formulação programática.”

    Eu queria entender este raciocínio. Não vejo muita lógica nele. Apoiar um outro nome de seu partido é ruim mas apoiar o nome de outro é desejável. Considerando-se que a transferência de votos seja dada exclusivamente pela fidelidade do eleitorado, qualquer nome está valendo. Agora, se há outros fatores, parece que Fornazieri está dizendo que o PT está queimado com o eleitorado porque seria preferível um nome de fora do que um de dentro. Discordo também que apoiar um nome vá fazer o PT cair em descrença. Quem está com o PT até agora, vai com ele até o fim seja onde for o fim. A descrença está apenas em quem já o abandonou há muito tempo.

    Para mim, Lula e o PT até até começo de agosto (no limite a segunda semana do mês) para indicar um nome. Se passarem muito disso, a maioria de seu eleitorado que não é de militantes vai buscar outras opções e quando eles forem tentar indicar um nome as pessoas já terão migrado e de nada vai adiantar o apoio de Lula ao nome.

  11. E a missa de corpo ausente continua…
    Nassif, a missa de corpo ausente prossegue: “o PT vem sendo derrotado em todas as suas consignas e lutas, numa conjugação de erros, apatia e defensivismo” ; “Lula foi preso e a “convulsão social” propalada por dirigentes do PT não ocorreu”; “a Jerusalém do PT ruiu e Lula foi levado para o cativeiro. Simbolicamente, todo o povo lulista está cativo na babilônia de Curitiba”. Depois de ganhar por quatro vezes seguidas a Presidência da República, Lula e o PT são os grandes derrotados e fracassados nesta campanha eleitoral que pode culminar com o adiamento da eleição. Afinal,o povo não saiu às ruas armado, não houve derramamento de sangue e o grande velório sem defunto cobra deste último a nominação de seus sucessores ou beneficiários de sua herança. Isso aqui, pois no restante das redes sociais o paroxismo de ódio, mentiras e ultimatos para Lula revelar seu testamento e baixar à cripta se tornaram insuportáveis de há muito. Um exército de robôs ou zumbis à espreita afasta os comentaristas habituais e o acirramento dos ciristas-requiãonistas-fláviodinistas em busca da herança é surreal e macabro, talvez para contrabalançar a violência togada que nos preside. O Brasil virou um grande velório de um cadáver inexistente, eita 2018 mal-assombrado, sô!

  12. O recado de Fornazieri é

    O recado de Fornazieri é claro e preciso. O PT precisa ir com o Lula até o fim. Isso coloca em xeque todo o regime golpista. Lula, como gênio político que é, sabe disso, e até por isso se entregou. Poderia ele ter pedido asilo em alguma embaixada e hoje viver confortavelmente em outro país. Fez a opção política e deixou que os golpistas tivessem o ônus de sustentar sua prisão ilegal. Essa é a política acertada e Lula só vai crescer a partir daí. Somente Lula tem a capacidade, através da sua liderança, de impedir o golpe e restabelecer a democracia. A esquerda vai cometer erro histórico se buscar outras alternativas, todas elas capituladoras. 

  13. Eleições Ilegítimas

    – A única bandeira do PT nestas eleições deve ser a mensagem de que são eleições são ilegítimas.

    – Insistir na candidatura de Lula, até o fim, seja qual for seu resultado

    – Manter viva e potencializar sua liderança

    – Pesquisa IPSOS deste sábado (Estadão) comprova o que está na cabeça do povo: 73% consideram Lula um preso político

    – O PT precisa construir a narrativa da ilegalidade

    – Assim como o fez com a narrativa do Governo Temer/PSDB: É um projeto sem voto!

    – Taí o fracasso da reforma da previdência. A trabalhista é uma PEC e vence em breve. Quem se arrisca a votar com este governo? 

    – Desde 2016 não vivemos um abiente de normalidade democrática. O golpe segue em 2018.

    – Assim, não se deve pensar em “alianças”, projetos, etc. como nos anos anteriores

    – Estamos em um regime de exceção legalizado

    – O PT perder nas urnas nesta eleição não significa perder o poder

    – O Getulismo não morreu com o suícidio de Getúlio, em 54

    – Viveu até o assassinato de João Goular e Juscelino, em 76

    – O lulismo é hoje uma ideia, que não morre nas urnas em Outubro

    – É isso que o PT precisa pensar: vença quem for neste ano, terá que conviver com o lulismo

    – Terá que negociar as “reformas” com o povo que, assim como hoje, sabe: esse governo é fruto de um processo ilegítimo

    – Não vai ter reformas. Não vai ter governabilidade.

    – Por isso que muitos sentenciam: não vai ter eleições

  14. Compartilhando: Samuel Gomes – Carta a um amigo petista

    Por Samuel Gomes, Para o Duplo Expresso,

    Querido amigo

    Só agora encontro tempo para responder a você. As coisas estão quentes aqui no front do acampamento em Curitiba (https://www.facebook.com/samuelgomesg/videos/2057464161205102/).

    Aqui tive a alegria de levar o Jessé de Souza ao acampamento para prestar sua solidariedade a Lula e aos militantes (https://www.facebook.com/ptnacamara/videos/1406332822800650/ ), também pude aqui reforçar a luta dos petroleiros (https://www.facebook.com/samuelgomesg/videos/2058605064424345/ )

    e fazer avançar o Congresso do Povo (https://www.facebook.com/samuelgomesg/videos/2058847307733454/).

    Não havia lido o artigo do Romulus Maya ao qual você faz referência (https://duploexpresso.com/?p=92305).

    De fato, sou comentarista do Duplo Expresso, assim como o Samuel Pinheiro Guimarães e outros de semelhante calibre. Mantenho uma participação fixa na quarta-feira. Já tive como convidados Celso Amorim, Lídice da Mata, Celso Pansera, Glauber Braga, Luiz Gonzaga Beluzzo, Benedita da Silva. Respondo pelo que digo em meus comentários. Não respondo pela linha editorial.

    Excessos eventuais à parte, considero o Wellington Calasans e o Romulus Maya patriotas dedicados à defesa do Lula, da soberania popular e da soberania nacional. Não entro em polêmicas para defender ou secundar tudo o que dizem nem a forma como dizem, muito menos engulo o que alguns tiveram a pachorra de dizer no calor de conhecida refrega: segundo “informações da inteligência soviética”, ambos seriam agentes da CIA. Risível, no mínimo.

    Quanto ao tema da tua mensagem, a crítica do Duplo Expresso à decisão “jurídica” de entregar o Lula à masmorra da Lava Jato, o que posso te dizer é que, independente do que pense ou diga o Duplo Expresso, é grande o mal estar com a decisão tomada por Lula em razão da orientação dada a ele por advogados em São Bernardo.

    A primeira crítica a respeito a ouvi na mesma noite em que a decisão foi tomada. Um importante parlamentar democrata e nacionalista presente no Sindicato na discussão que antecedeu a decisão de entregar Lula expressou a mim por telefone a sua indignação com o que considerava ser um grande erro; e, pior, um erro fundado em informações não verossímeis, para dizer o menos.

    No acampamento de Curitiba, tenho ouvido lamentos profundos e críticas acerbas à decisão de Lula ter-se entregado, de parte de pessoas que estavam presentes no desenlace da ocupação do Sindicato e, como você certamente também acompanha, vejo duras críticas na nossa mídia (Paulo Henrique Amorim: https://www.youtube.com/watch?v=jhVafmu_tcg) e nas nossas hostes, como as do Lindbergh (https://www.conversaafiada.com.br/politica/podcast-lindbergh-lula-tinha-que-ter-resistido).

    Devo dizer que me impressionaram sobremaneira as informações que me apresentou, em longa conversa aqui no acampamento, o jurista Luiz Moreira (https://www.brasil247.com/pt/blog/luizmoreirajunior/350566/Lula-e-o-petismo-jur%C3%ADdico.htm) a respeito dos descaminhos e vulnerabilidades a que nos teria conduzido o que ele denomina “petismo jurídico” na formação de monstruosa articulação pluri-estamental, a Enccla – Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (http://enccla.camara.leg.br/acoes – etc), que fortaleceu absurdamente a face punitiva e de controle do Estado em detrimento da dimensão gerencial ou administrativa, com consequências nefastas para o nosso desenvolvimento e a soberania nacional.

    Analisando as informações do Luiz Moreira é de se concluir que a Lava Jato seria uma espécie de monstruosa, mas previsível, consequência de um ingênuo moralismo udenista de que foi acometido o PT e que o levou a fortalecer os estamentos e corporações policiais, jurídicas e judiciais do Estado como ilusório contrapeso a ação deletéria das oligarquias políticas e parlamentares regionais com as quais , mercê do presidencialismo de coalizão, o Partido esteve forçado a governar.

    Segundo as informações, o esquema teria iniciado pelo então Ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos (http://www.justica.gov.br/news/enccla-define-acoes-para-2015-e-se-despede-de-seu-idealizador), seguido por Tarso Genro, para quem o Brasil ficaria conhecido como prestigioso troféu de ser “o país que mais combate a corrupção” (http://www.douradosagora.com.br/noticias/brasil/enccla-aprova-22-metas-para-combate-a-lavagem-de-dinheiro) e aprimorado por José Eduardo Cardozo, para quem a Enccla seria “o mapa e a bússola” ( http://www.justica.gov.br/sua-protecao/lavagem-de-dinheiro/arquivos_anexos/enccla-10-anos.pdf). Mapa e bússola do que estamos percebendo com o lombo agora. É interessante que tanto Tarso Genro quanto José Eduardo Cardozo tenham sido obsessivos profetas da “refundação do PT”, mas essa é outra (e a mesma) história.

    A cruzada “anti-corrupção” conformada na Enccla envolveria o Ministério da Justiça (Thomaz Bastos, Tarso Genro e José Eduardo Cardozo), os PGRs do período Lula-Dilma, com especial ênfase em Gurgel e Janot, as associações de procuradores federais (ANPR) e de juízes federais (AJUFE), a Polícia Federal, a Justiça Federal e o Poder Judiciário.

    No Judiciário a personagem chave foi o ministro Gilson Dipp (https://stj.jusbrasil.com.br/noticias/100217706/gilson-dipp-homenageado-na-reuniao-anual-da-enccla). Moro era um dos conhecidos “meninos do Dipp”, jovens juízes federais catapultados para viagens, cursos e bolsas de estudo nos Estados Unidos. Dilson e Moro foram estrelas do execrável convescote “acadêmico” promovido pelo Departamento de Estado norte-americano, em outubro de 2009,em solo pátrio (Rio de Janeiro), no qual juízes federais e procuradores da República de 26 estados da Federação receberam treinamento e trocaram informações com autoridades estadunidenses a respeito da luta “global” contra a corrupção.

    Os objetivos, as atividades e os resultados do treinamento foram revelados em cabo diplomático vazado pelo Wikileaks (http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/wikileaks-eua-criou-curso-para-treinar-moro-e-juristas/15072017/). Tudo ali é repulsivo, tudo indigno, mas se há algo a destacar é a comemoração que as autoridades estadunidenses fazem da vitória de terem conseguido usar em solo brasileiro o termo “contraterrorismo” sem que fossem corrigidos. O Itamaraty jamais tinha aceitado o uso deste termo, claramente operacional da estratégia de hegemonia norte-americana. Mas Dipp e seus meninos gostaram e pediram mais treinamento, em Curitiba, claro.

    Com base na Enccla, Moro pode atuar com seletiva rapidez (http://enccla.camara.leg.br/noticias/a-rede-que-possibilita-o-sucesso-de-operacoes-como-a-lava-jato-e-o-cerco-ao-pcc). A Lava Jato, filha legítima ou bastarda da Enccla? O que se sabe é que a Lava Jato funcionava e funciona como uma espécie de agenciadora de delatores de empresas brasileiras para as autoridades estadunidenses (http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38172725).

    Tudo bem, afinal tratava-se do “maior caso de suborno internacional história”, já que a Odebrecht “sistematicamente pagou centenas de milhões de dólares para funcionários corruptos de governos em países de três continentes” ( http://g1.globo.com/politica/blog/matheus-leitao/post/departamento-de-justica-dos-eua-ve-maior-caso-de-suborno-da-historia.html). Uma orquestração terrível, gestada e executada pelo Brasil, um dos membros do Brics, jamais suspeitada pelo atilado John Perkins no seu festejado e revelador “Confissões de um assassino econômico” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Confiss%C3%B5es_de_um_Assassino_Econ%C3%B4mico).

    Numa trama antinacional a Globo não poderia faltar. Ah, a Globo não pode faltar! E não faltou. A Globo entra no esquema patrocinando o prêmio Innovare (https://oglobo.globo.com/brasil/nona-edicao-do-premio-innovare-lancada-nesta-quinta-4445570), uma parceria “inocente” entre a coalização estamental punitiva da Enccla e a pérfida organização criminosa dos irmãos Marinho (http://www.premioinnovare.com.br/conselho-superior).

    Ao que parece, com a louvação aos supostos poderes mágicos da Enccla o PT teria sido levado à ilusão de suportar-se num fantasioso “aggiornamento” tecnocrático do Estado punitivista para fazer avançar o seu projeto político. Nada mais descolado de uma leitura marxista, classista, do processo histórico. Como resultado do tal mapa e da tal bússola louvados pelo ministro José Eduardo Cardozo, eis que surge a Lava Jato, o monstruoso Mr. Hyde de um ingênuo, alegre, republicano e distraído petista, Dr. Jekyll.

    É possível que as hipóteses e argumentos acima estejam estilizados e seja claro o recurso à caricatura. Mas, de fato, o assunto desperta a preocupação de qualquer democrata e patriota não distraído, mas desejoso de conhecer mais profundamente as causas do tormentoso momento que a Nação atravessa.

    O fato é que a constelação de interesses em torno de um segmento ou setor da vida econômica cria um mercado. É assim no entorno das agências reguladoras e dos órgãos de controle do sistema financeiro. Como despir de significado o fato de um dos “meninos do Dipp”, o juiz Sérgio Moro, tenha sido destacado para escrever os votos da ministra Rosa Weber no processo do mensalão, aquela que disse não havia provas para condenar José Dirceu mas autorização literária (https://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/O-ultimo-julgamento-de-excecao-e-o-fim-de-uma-farsa/29577).

    É o mercado, estúpido! Daí que figuras proeminentes do chamado petismo jurídico e da Enccla passarem depois a advogar para réus em casos de delação premiada (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/02/1856898-acionistas-da-oas-e-executivos-que-farao-delacao-entram-em-divergencia.shtml) e destacar as virtudes da Lava Jato (https://www.jota.info/justica/lava-jato-se-tornou-novo-padrao-de-enfrentamento-ao-crime-23082017).

    Só ingressa no mercado de delações premiadas que mantém boas relações com os agentes de Estado que conduzem a Lava Jato, o que é denunciado amplamente, inclusive por ministros do STF (https://www.jota.info/stf/do-supremo/gilmar-corrupcao-mpf-lava-jato-11042018).Há quem diga que este espírito de contubérnio afetou negativamente a orientação jurídica a Lula nos momentos de tensão política extrema, como a de São Bernardo, nos quais a alternativa de esticar a corda e criar um impasse político foi descartada em favor de um republicanismo ingenuamente esperançoso na “ratio” democrática e constitucionalista do Judiciário. Uma “ratio” que, como o horizonte, nunca se alcança, mas esta alí, logo além.

    A partir da conversa com o Luiz Moreira e outros companheiros fui à internet e revi uma curiosa entrevista do então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, na qual ele expunha alegremente uma “profunda” e sintomática reflexão: “Recentemente, numa reunião da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, eu usei uma metáfora. Comparei a corrupção a um câncer. No começo, é indolor. Entra no corpo e a pessoa não percebe. Depois, quando vem o diagnóstico, muitas vezes, o paciente se revolta contra o médico. Numa reação inconformada, não aceita o diagnóstico, questiona os exames e os próprios médicos. Mais tarde, quando se confirma a gravidade da doença, aceita o tratamento e fica agradecida ao médico. Eu acho que é isso que está acontecendo.”

    Era janeiro de 2016. Lendo hoje o diagnóstico e a terapêutica do dr. Cardozo não estranha que o fatídico ano tenha terminado como terminou (https://exame.abril.com.br/brasil/caiu-dilma-sofre-impeachment-e-nao-e-mais-presidente/).

    O dr. Cardozo disse que o câncer “entra no corpo e a pessoa não percebe”. Pois é. Foi o que aconteceu. E não é da corrupção que estou falando, mas do obstinado e cooperativo “combate” a ela pela iniciativa pluri-estamental nacional e estrangeira. Por ironia, na mesma entrevista o doutor Cardozo celebrava o combate à corrupção como um dos maiores legados do governo Dilma (http://www.pt.org.br/combate-a-corrupcao-sera-um-dos-legados-de-dilma-afirma-cardozo/). Deu no que deu.

    Impossível não lembrar o belo samba do Chico: “e a nossa Pátria, mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em poderosas transações …” Mãe tão distraída, a Pátria não percebeu que, desde a descoberta do pré-sal, estava no epicentro da guerra híbrida (https://jornalggn.com.br/noticia/o-brasil-no-epicentro-da-guerra-hibrida-por-pepe-escobar). E não tem Enccla que resolva isso. Antes pelo contrário, como já se percebeu, a tal Enccla nos colocou numa encalacrada.

    Minha cartinha fica por aqui, amigo. Espero que tenhamos um tempo para conversar a respeito do assunto, assim que eu voltar daqui a Brasília daqui do front de Curitiba.

    Por ora, bola prá frente! A luta nos impõe lamber as feridas na própria marcha. Caminhando e fazendo caminho ao andar. Cumpramos o que nos cabe, pois.

    Quando puder venha ao acampamento de Curitiba dar bom dia para o Lula! Mas agora, com o acampamento de Brasília, você pode fazê-lo daí.

    Afetuoso abraço

    Samuel da Ferrovia

    Paraná, um estado de amor pelo Brasil

      

  15. Wanderley Guilherme dos
    Wanderley Guilherme dos Santos pensa diferente.

    http://insightnet.com.br/segundaopiniao/a-hora-do-lobo-de-luiz-inacio/

    A HORA DO LOBO DE LUIZ INÁCIO
    16 de Abril de 2018Segunda Opinião
    A direita só chegará à presidência da República com o auxílio involuntário do Partido dos Trabalhadores. A estratégia do PT obedece às diretivas de Lula. Segue-se que o obstáculo a que Joaquim Barbosa – o cavalo de Troia que a direita busca contrabandear – impeça a reconstituição democrática, encontra-se no discernimento do ex-presidente Luiz Inácio. Submeter a plebiscito algumas das aberrações decretadas por Temer, por exemplo, jamais seria cogitado por tal demofóbico. No momento, fragmentar a esquerda equivale a criar inesperada oportunidade a uma direita sem rumo. Não é centralizando frentes de siglas sem voto ou efetiva representatividade que se evitará o abismo autofágico. Ao contrário, este talvez resulte da ambição de parasitas inoculados em movimentos de massa. Lula pode implodir a manobra de concentração burocrática, ou submeter-se a ela, vencido pelo estalinismo historicista que o cerca.
    A sagacidade do emergente líder metalúrgico conquistou sólida adesão do lado esquerdo da política. O cálculo do sapo barbudo manteve os liderados na senda favorável aos pobres e à democracia. Embora desconfiando dos que cursaram universidades, foram muitos os diplomados que, com ele, colaboraram na construção do primeiro partido visceralmente trabalhista. A Universidade o adotou. Adotou-o, garantindo-lhe a tribuna negada pela mídia e, ainda, considerável fatia de votos surrupiados à classe média. A esquerda isolada não elege presidente da República. Foi Lula, seu discernimento, que dobrou o sectarismo da opinião vigiada e punida quando, antigamente, divergia do velho Partidão.
    A barafunda de junho de 2013 gerou confusão ideológica na esquerda. Anônimos e mascarados abriram a porta das ruas à direita. E delas a direita não mais saiu, contribuindo para o baixo nível da campanha eleitoral de 2014. Pormenor relevante: a Lava Jato, a rigor, não existia. A demonstração de força da direita, com indisfarçada simpatia da mídia, animou o periférico time curitibano. Tinha padrinhos poderosos. Tinha jogo.
    À difícil vitória de Dilma Rousseff, apesar da hesitação petista, seguiu-se a contestação de sua legitimidade pelo derrotado Aécio Neves. O mandato de Dilma passou às mãos do Judiciário. Não do STF, mas da Lava Jato curitibana. Sergio Moro reduziu toda atividade política dos brasileiros ao Partido dos Trabalhadores, e comprimiu esse complexo partido aos operadores associados à quadrilha de Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Jorge Zelada, com coordenação do doleiro Youssef. Foram dois anos de conduções coercitivas, prisões humilhantes, vazamentos ilegais e ameaças apocalípticas, tolerados a pretexto de revelar o saque patrocinado pelo PT. Indiferente, destruiu segmentos estratégicos da infraestrutura brasileira, de onde os atuais desemprego e abulia empresarial. Escrevia-se o capítulo inicial da saga “Prendam Lula”, só encerrado com o impedimento da presidente Dilma Rousseff, com prelibação na Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016.
    A lembrança não é ociosa porque poucos participantes das libações não estão presos ou em vias de sê-lo, em arrastão que incorporou parte ladravaz do empresariado. Consumado o impedimento, o pelotão curitibano aliviou a exclusiva malignidade do PT, descobriu quadrilhas operando fora da Petrobrás, e, em êxtase, vem anunciando que a sociedade e a economia brasileiras se transformaram em vasto cupinzeiro de corrupção. A Lava Jato replica raros tumores de efeitos colaterais positivos, sem, contudo, promover reparação aos caluniados e arbitrariamente presos. A meta, como sempre, era Lula. Mas nesta gigantesca facciosidade parte da esquerda embriagou-se com o rancor da psicologia reacionária.
    Em 2010, a alegada marola de 2008 submergiu o planeta. Não obstante, Dilma acrescentou programas à pauta social petista. Ousada ou imprudente, seu primeiro mandato sustentou a generosidade da era de abundância em contexto econômico de soma zero. O conflito consistia em saber quem pagaria a conta social. Ao fundo, a ganância estrangeira pelo pré-sal e o incômodo do Império com as fumaças brasileiras de autonomia nuclear. A hesitação do segundo mandato, com ministério formado com decisiva influência de Lula, espelhou a intensidade da queda de braço. O impedimento de Dilma assinalou a derrota de toda a esquerda.
    Os petistas aceitaram a tese da hierarquia partidária, debitando o infortúnio à incapacidade de Dilma Rousseff e sua personalidade belicosa. Defeitos nada triviais, embora sem contribuição significativa para a essência do conflito central. Na versão em uso, todavia, a maioria dos militantes imagina que, fosse Lula presidente, o desastre seria evitado. Ilusão sebastianista, exceto se o imaginário presidente cumprisse o programa de Michel Temer.
    Intrigas à esquerda, o enredo curitibano avançava, valendo-se de excepcionalidades quando necessárias. Surpreendentemente, as derrotas jurídicas extraíram das lideranças de esquerda a reclamação de que a direita estava se comportando como direita! Desde 17 de abril de 2016 ficara selado o destino de Lula e, sem Judiciário e Legislativo, ruas lotadas não comprometeriam o sucesso do projeto “prendam Lula”. Nem as ruas foram lotadas, mas repartidas com a direita em lua de mel com Moro, em Curitiba, e as polícias militares locais.
    A associação entre inocência penal e direito à candidatura respondia ao ataque direto ao ex-presidente. Mas, apesar da reiteração de que as leis concluiriam pela prisão de Lula, o clamor contra a injustiça penal continuou, por interpolação de cálculo eleitoral, subordinado ao reconhecimento de seu direito à candidatura. Com a condenação em segunda instância, a guilhotina da “ficha suja” vedou a essencial via de sucesso jurídico. O sebastianismo adquiriu, então, uma dimensão mística, exigindo conversão dos eleitores a credo contrário à racionalidade. Sustentar a candidatura Lula “até o fim” não tem sentido político claro.
    Ou melhor, algum sentido faz. O silêncio de Lula, ignorando a fúria vocabular do “sebastianismo evangélico” contra os que discordam, mantem sitiada grande parte das esquerdas. A chantagem emocional com que assediam históricos apoiadores decepciona. Levantar o sítio à esquerda se impõe como urgente medida reunificadora, indispensável à vitória contra a avalanche reacionária.
    Não importam os bumbos acampados em Curitiba. O cárcere solitário sadicamente imposto a Lula não é único. A hora do lobo é a hora da solidão interna. A hora de Lula.

  16. Confesso que tenho poucas

    Confesso que tenho poucas certezas e muitas dúvidas. Uma certeza é que Lula é inocente. Ninguém resistiria a uma devassa na sua vida e ainda assim nada foi encontrado. Certeza então de que ele deveria estar solto. Certeza de que a esquerda precisa ter uma agenda minima comum. Mas tenho duvidas de uma candidatura Lula. Sei que ela fala ao simbolico, sei que é o justo, sei que ele ganharia fácil, mas tenho um sentimento muito forte de que os golpistas vão impedir a candidatura de qualquer modo.

    Mas tenho certeza de que não entendi nada desta artigo…

     

  17. Também não entendi nada. O PT

    Também não entendi nada. O PT sofre um golpe, prendem sua maior liderança, perseguem seus outros quadros e militantes. E a culpa é do PT, o PT que trairá seu líder.

    Parece até que estamos sózinhos em campo, e não enfrentando adversários poderosos, endinheirados, com a mídia, o Judiciário e a PF nas mãos.

  18. UMA DISPUTA QUEM VAI SER O LINGUAMEN DO ANO, ALDO OU CIRO

    Nem é hora disso, estando o partido sobre pressão, injustiçado focado na liberdade do LULA, sai mais essa JEREMIADA do LULA e PASTELADA do autor do texto. ALDO o profeta do acontecido.

  19. Fora de propósito

    Fornazieri, o Prof. Wanderley e Paulo Henrique Amorim estão nesta cantilena de Jermiada do PT.

    Deste 2005 eu diria que esta foi o melhor posicionamento do PT ao fazer o enfrentamento político ideológico.

    A proposta dos 3 acima citados significa legitimiar o golpe.

     

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