O xadrez do fim da novela Mandetta, por Ricardo Cappelli

O xadrez do fim da novela Mandetta

por Ricardo Cappelli

1 – Um presidente visivelmente constrangido finalmente demitiu um ministro que sai forte, eufórico, sorrindo, feliz.  Mandetta, um inexpressivo ex-deputado do baixo clero, alcançou um nível de estrelato jamais imaginado por ele. E ainda deu um xeque-mate no Capitão.
2 – Mandetta deitou e rolou, ditou o ritmo e definiu o momento de sua saída. A espiral da doença começou. Alguns estados já estão entrando no desespero com 100% dos leitos de UTI ocupados. O agora ex-ministro sai como herói, competente e antes da catástrofe que parece iminente.
3 – Jair conseguiu a proeza de transformar um político inexpressivo do DEM, que votou pelo impeachment de Dilma, ligado aos planos de saúde, no maior defensor do SUS, um quase novo Oswaldo Cruz. Uma proeza.
4 – Com Mandetta no ministério o Capitão tinha com quem dividir a conta dos óbitos. Agora chamou tudo pra si, integralmente. Não cabe mais apontar falha de gestão de ninguém. O Marechal resolveu comandar a linha de frente. A batalha ganha cada vez mais contornos de vida ou morte.
5 – Do ponto de vista pragmático não havia outra saída para o presidente. Mandetta estava sangrando ele diariamente. Só existiam duas possibilidades. Bolsonaro mudar de posição ou demitir o ministro. Resolveu realizar o prejuízo, unificar o governo e manter sua aposta política arriscadíssima.
6 – Mais de metade das emendas parlamentares são destinadas para o Ministério da Saúde. É a pasta mais visitada por deputados e prefeitos. O novo ministro não sabe onde fica o Congresso Nacional. Nunca foi gestor público. Nada. Não conhece a máquina nem o seu funcionamento. Assume um jumbo no meio de uma guerra. Vai funcionar?
7 – O que faz um oncologista e empresário assumir uma bola divida, com mais da metade do estádio xingando o time que lhe deu a camisa e sob uma tempestade histórica? Vaidade? Compromisso público? Afinidade ideológica? Que interesses moveram a indicação e o “sim”?
8 – Tudo indica que Bolsonaro decidiu anular o Ministério da Saúde. Não vai correr o risco de promover outra estrela que se rebele mais a frente. Escolheu um cabo para a missão. O protagonismo daqui pra frente deverá ser cada vez maior do general Braga Neto, sob as rédeas curtas do Capitão.
9 – É cedo ainda para prever o destino de Mandetta. Virou um nome nacional, conhecido, meio caminho andado. Mas política exige exército e força material. A partir de amanhã ele sai dos holofotes. Vai para onde? Surfou muito bem na onda, mas é cedo ainda para afirmar que entrou na disputa pelo campeonato. O mais provável é se firmar com um nome em seu estado.
10 – Foi um embate basicamente entre a direita e a extrema-direita. Mandetta é do DEM. Bolsonaro atacou no seu pronunciamento Doria, do PSDB. O governador de São Paulo é o mais novo defensor da “vida acima de tudo”. O DEM virou o pai do SUS. Dividida e sem um rumo claro, a esquerda vai assistindo suas bandeiras, uma a uma, serem seqüestradas pela direita. “Loucura, loucura, loucura.”
Redação

Redação

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  • O que temos pra combater o vírus? Quase nada, apenas se isolar e esperar que caia um remédio do céu. O Mandetta, como médico, admitia isso, virtude que levava boa parte da população aderir à sinceridade dos seus conselhos. Como politico, pelo simples fato de ter estado no staff do Bozo, é apenas um malfeitor igual ao resto da sucia.

  • Sempre que necessário a direita toma as bandeiras da esquerda, isso não é novidade. Acontece sempre nas eleições quando a direita sempre defende educação e a saúde. Acho que a esquerda deveria aproveitar a oportunidade de comparar o que ela e a direita fazem quando tem essas bandeiras.

  • Não muda nada! O Mandetta não comprou testes!!!! Não monitorou aeroportos!!!! Em 11 de março, mendigava 5 bi de emendas parlamentares para implantar UTIs. 5 bi pro Brasil todo!!! Por ele, trabalharia dentro do teto e do orçamento, de onde saíram 20 bilhões do SUS nos últimos anos. Isso para não ser mais desagradável e repetir que o cara acabou com o Mais Médicos e queria implantar um plano de saúde popular para agradar seus patrocinadores. Seu discurso era de que saúde universal era inviável no Brasil. Além disso, o cara cavou sua demissão na véspera do circo pegar fogo, exasperando o presidente em entrevistas para seus opositores. Não muda nada! Quem vai organizar a luta contra a pandemia está na ponta desde o início. São governadores e prefeitos a quem caberá recolher os corpos. Nem todos por respeito à vida ou pelos idosos que podem até representar um ônus a menos. Mas todos serão responsabilizados diretamente pelo caos. O que nos cabe é combater Paulo Guedes, combater a LRF e dar condições a governadores e prefeitos para fazerem os gastos necessários. Não temos nenhuma chance de chegar a qualquer lugar sob Bolsonaro e seu Exército Brasileiro de destruição nacional.

  • Ricardo Cappelli, sinto muito mas, discordo de você sobre o desfecho da esquer, temos que pensar que não é a hora de sair por aí chamando o povo para rua, mesmo porque neste caso estaremos rompendo a quarentena, temos que ter paciência e apostar no desgaste da extrema-direita que a nossa hora vai chegar porque já plantamos nossas sementes, principalmente nos primeiros dois mandatos do presidente Lula, nosso povo não vai esquecer o que foi feito por eles.

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