Oito de outubro, por Francisco Celso Calmon

Oito de outubro

por Francisco Celso Calmon

Graças a vazajato e a estratégia do Lula, estamos num momento no qual o STF está nas cordas, a lava jato desmoralizada, mas o Estado policial, mantido por milicianos, militares e togas deformadas, está de pé e avança no desmonte da economia e da democracia; contudo, a questão da prisão do Lula, no semiaberto ou não, está na pauta principal das atenções políticas e no acirramento da contradição principal. 

Lula livre, é livre de culpa, é Lula inocente, é pedido de perdão do Estado pelas ignominias praticadas contra ele.

Assim como o semiaberto não é liberdade, algumas afirmações estão espraiando como verdades, quando na verdade são erradas e contrariam a sucessão de fatos da lava jato. É preciso recompor a história.

Se Lula não tivesse sido impedido de assumir a Casa Civil do governo Dilma, a história seria outra.

E quem o impediu foi o fariseu Gilmar Mendes, que acreditou de pronto nas mensagens vazadas pelo consórcio Globo-lava jato. Este foi o ponto de partida, sem o qual o golpe não teria sido realizado, e muito menos sem resistência. 

Afirmar e reproduzir que “a lava jato transformara-se em projeto de poder” é uma cortina para encobrir os que a apoiaram e são cúmplices de todos os crimes de lesa-economia e das graves violações aos direitos humanos e ao devido processo legal que ela produziu, com STF, e tudo mais. (O mais vai até os EUA).

A lava jato não se transformou, ela foi criada como instrumento de um projeto de poder. A sua metodologia comprova a natureza da subversão à Constituição e ao devido processo legal, baseada em crenças e propósitos neofascistas e usando as leis como armas de guerra.  

Provocou intrigas entre os poderes, pregou a desarmonia e relativizou a independência de cada qual e de todos entre si, com o objetivo de criar o caos institucional, sobre o qual o projeto de um Estado policial entreguista se ergueria, como vem ocorrendo. 

 O subproduto da lava jato é o bolsonarismo.

Na semana passado o professor e ex-candidato a presidente da república, Fernando Haddad, afirmou “Depois de tudo o que veio à tona, não dá mais para esconder que a Lava Jato, ela própria, tem uma banda podre.”  Indago: onde está a banda não podre? Onde está essa banda, que, se existe, está calada, omissa, portanto, cúmplice?   

Se a lava jato transformou-se em projeto de poder e tinha uma banda decente, o que fez essa banda sã quando percebeu a transformação? 

Apoiadores incautos dessa força-tarefa, sim, existiram, e ainda alguns persistem em crer num projeto que se moveu e galvanizou adeptos do antipetismo e dos que atribuem os males da sociedade à corrupção. 

A praga da corrupção sempre fora usada como motivo para soluções extremas na história do Brasil: suicídio de Vargas, golpe de 64 e 2016. 

Desde que a sociedade se organizou em classes, a corrupção se tornou elemento estrutural da cultura dos negócios. No mundo privado do sistema econômico a corrupção faz parte do dia-a-dia.

Por isso, conhecer a história é tornar-se revolucionário. Por isso, manter o povo na ignorância é manter o povo submisso, anestesiado diante de tanta maldade e injustiça. 

Dourar a pílula da lava jato é remendar os crimes cometidos. O saldo dela é negativo para o Brasil, para o PIB e para as instituições ditas republicanas. É sobretudo um exemplo de corrupção! 

Esse viés de conciliação de classes já mostrou que é um método falido. Não que não possa existir acordos, consoante à correlação de forças, mas não pode ser sob narrativas deformadoras das verdades que ficarão para a história.

O golpe de 2016 evidenciou algumas verdades históricas que estavam submersas no mito da conciliação de classes. A primeira é a de que a classe dominante conspira sempre quando um governo implementa políticas públicas para as classes populares. A segunda é a de que no Brasil não há burguesia nacional com projeto social-democrata. A terceira é a de que quando o direito não serve mais, ele é a primeira vítima do golpe. 

A lei é obra da política, como a política é resultado da correlação de forças de cada período da história. E o Estado garante a lei dos mais poderosos conforme cada estação.

A atividade perene das forças democráticas é lutar para fazer com que a correlação de forças penda para o lado do povo.

8 de outubro, data que se lembra a morte do médico revolucionário, Che Guevara (embora tenha sido assassinado no dia 9), que, olhando para o seu virtual assassino, disse: Sé que vienes a matarme. Dispara, cobarde, que solamente vas a matar a un hombre.

Che Guevara inspirou várias gerações a serem solidárias e combatentes da injustiça.  Homenageio a coragem e coerência do comandante de Che Guevara reproduzindo alguns de seus pensamentos:  

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.

Os poderosos podem destruir uma, duas, até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera.

El capitalismo és el genocida más repetado del mundo.

Concluo eu: se querem acabar com a corrupção, destruam o capitalismo. 

Francisco Celso Calmon é Administrador, Advogado, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

 

 

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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