Pelo fim da unidimensionalidade na política brasileira, por Moacir de Freitas Junior

Pelo fim da unidimensionalidade na política brasileira

por Moacir de Freitas Junior

O destino do Brasil não é a alternância no poder entre PT, PSDB e PMDB e chegou a hora de abrirmos espaços para novas forças.

Relendo recentemente a obra de Hebert Marcuse (A ideologia da Sociedade Industrial, RJ, Zahar, 1964), tomei emprestado o conceito de unidimensionalidade, criado por para criticar a estrutura da sociedade americana dos anos 1960 e que nos serve em parte para interpretar a situação política atual do Brasil.

Segundo este pensador, o capitalismo desenvolvera de tal modo as estruturas sociais que criou em todos nós a percepção de que atingimos o ápice de nossas conquistas e desenvolvimento social, cabendo agora, apenas, ampliar e manter as conquistas já alcançadas. Nestes termos, a mudança social seria desnecessária: não haveria espaço para a proposição de rupturas. O que “interessaria à sociedade” seria a manutenção do status quo, reduzindo-se a luta social, portanto, a uma única dimensão: somos “livres” para escolher qualquer das alternativas políticas propostas, mas todas levam ao mesmo lugar, ainda que por caminhos diferentes.

Este me parece ser o caso da política brasileira, especialmente no campo da economia, no que toca aos partidos que nos governaram nas últimas décadas. Desde os anos 1980 temos adotado políticas que, ao invés de privilegiar o desenvolvimento dos nossos interesses, drenam nossos recursos para a especulação financeira internacional. Antes com a inflação e agora com os juros – os maiores do Mundo! – o Brasil tornou-se nas últimas décadas um paraíso para “investidores” que trazem ao país seu dinheiro na expectativa de vê-lo se multiplicar às custas do trabalho de todos nós. Verdade que este é um tema recorrente na história brasileira, mas antes ao menos haviam correntes diferentes de pensamento e atuação política. Hoje, nem isso temos mais.

A ascensão neoliberal dos anos 1990 criou na política nacional um efeito de unanimidade quando se trata de política econômica: juros, câmbio, recessão, crescimento pífio para conter a inflação. Desde a eleição de Collor, passando por FHC, Lula, Dilma e Temer, o esforço dos que “chegaram lá” é para manter a todo custo a mesma política econômica que nos condenou ao momento que estamos vivendo agora, ainda que por caminhos diferentes e com uma ou outra diferença que é mais de estética do que de essência. Nestes termos, tanto faz a força que nos governa hoje e a que nos governará amanhã: PT, PMDB e PSDB apresentam-se como formas diferentes de manutenção de uma política que acabou com o Brasil.

É preciso, portanto, que o campo progressista apresente um projeto que o difira de fato – e não só na propaganda eleitoral – dos demais. Mais do que radicalizar ou não as posições, precisamos ter uma posição, uma ideia, um projeto que nos diferencie. Na entrevista que deu ao GGN, Ciro Gomes apontou algumas direções; outros partidos também tem debatido quais seriam estes caminhos. O próprio Nassif tem de se dedicado a debater alternativas.

Logo, não há apenas uma única dimensão na política. Há outros caminhos e espaço para outras forças e é preciso romper com este maniqueísmo PT-PSDB, com o PMDB de “vela”, porque pelas mãos destas forças já sabemos onde chegaremos: ao mesmo lugar de agora.

Moacir de Freitas Junior é professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia.

Redação

7 Comentários

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  1. Perguntar não ofende.

    Cadê o Movimento Passe Livre?

    Já sei. Vou procurar um deles na FFLCH da USP.

    Ver se o playboy tá achando legal o serviço que fez.

  2. Política silogística 3.0 de

    Política silogística 3.0 de Joaquim Nabuco, : “É uma pura arte de construção no vácuo. A base são teses, e não fatos, o material, idéias, e não homens, e a situação, o mundo e não o pais, os habitantes, são as gerações futuras e não as atuais.”

  3. Impressiona o quanto avaliam

    Impressiona o quanto avaliam bem o coroné Ciro,Ciro passou por 9 Partidos,nasceu quietinho(ninguém se lembra)no berço da direita,fala mal de Deus e o mundo(parece da “collor” de quem?),não conseguiu um voto contra o golpe,Ciro é um falastrão nada além pois o Ceará progrediu porque?Não foram projetos e investimentos petistas federais?E Você Moacir;entre na fila pois são muitos a nos diminuir e tentar derrubar,quase que falas do piçol que defende o sionismo e bateu em Chavez e bate agora em Maduro.Aliás o que não falta na mídia de esquerda é má vontade,quem de vocês gritou volta Dilma?Assim como os movimentos sociais a mídia de esquerda finge-se de sonsa pois sabem muito bem que essa “picadinha”de reinvidicações e choro por perdas de direitos seria desnecessária se nunca houvessem perdido o foco e o foco sempre foi o retorno de DILMA mas e a má vontade?Seria o machismo?Personalismo?Inveja por ser uma mulher valente?

    Acredita que Ciro,LULA ou DEUS sendo eleitos retomarão os direitos e principalmente o pré sal?SOMENTE O RETORNO DE DILMA OU A TOMADA DO PODER VIA ARMAS(SIM REVOLUÇÃO POPULAR”)devolverão ao BRASIL E SEU POVO o vislumbre no horizonte de um brilhante futuro que se avizinhava.

  4. Trabalhar em cima da

    Trabalhar em cima da insatisfação, do desejo do novo, não é tão simples assim. Não apenas não há unidimensionalidade nas políticas praticadas pelo PT e pelo PSDB – se houvesse, o PSDB não estaria desmontando o pouco ou muito que o PT conseguiu criar – como Ciro Gomes não é novidade.

    Talvez se Ciro conseguisse mostrar que tem aliados, que não é o super herói autosuficiente que, de fato, não é mas que tenta vender que é, já ajudaria. Claro que, na verdade, ninguém faz nada sozinho. O problema é que o marketing de Gomes vem trabalhando em cima da ideia do super herói faz tempo, talvez fique difícil dar uma guinada agora. Mas isso seria, afinal, um novidade: Ciro, aquele que se cerca de um time incrível. Ciro, aquele que só é grande porque tem feras a seu lado.

    Por último, lembre-se de que política não é apenas economia, é economia também. Mas não só.

  5. pelo….

    Amém. É a evolução das discussões nacionais. Analfabeto que sou, já sabia que desnudando a última virgem da esquerdopatia nacional (Lula não Dilma. Dilma foi tentativa de sobrevida), abriríamos caminho para a democracia. Pena que todas tentaivas anteriores da nossa centro esquerda anticapitalista democrática resultaram neste Circo de Horrores que estamos constatando. 30 anos de uma Constituição dita Cidadã poderia ter apresentado resultados mais significativos. Somos uma das poucas nações do Mundo que tendo a liberdade à sua disposição ainda assim consegue regredir. Evoluamos. abs.  

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