Rede Nhandereko e o poder de estourar as bolhas que nos envolvem sem contaminar o outro, por Mariana Nassif

Rede Nhandereko e o poder de estourar as bolhas que nos envolvem sem contaminar o outro

por Mariana Nassif

Das melhores coisas de morar em cidade pequena, quase uma província, é poder estourar algumas das bolhas que me cercam. Vanessa Cancian, a Van, certamente é responsável por ampliar meus horizontes, especialmente os culturais e aqueles que dão conta do invisível e confiante que nos cerca. Vanessa é mãe da Yuna, a menina de olhos redondos e sorriso fácil que dorme ronronando no peito da gente e, sem saber, faz a gente mesmo descansar. Além disso, a Van é um mulherão daqueles que dá alegria de conhecer pela trajetória firme, forte, corajosa, madura, sem deixar de expor as dores (e as delícias) de ser quem é. Dá uma alegria tremenda conviver com gente assim e essa moça, que vai estar por aqui em mais alguns textos até o final de Julho, é essa pra mim: uma explosão de alegria, um presente que Ubatuba me deu e que, sem dúvida alguma, é alguém a ser observada, lida e escutada. 

Aqui, uma bela abordagem sobre a Rede Nhandereko, que integra cultura quilombola,caiçara e indígena em tramas de (r)evolução respeitosa. 

Rede Nhandereko avança com protagonismo das comunidades na construção do TBC

“Mostrar o turismo que queremos construir para o nosso território é uma das prioridades da Rede”, pontua Vagner Nascimento, coordenador do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) na abertura dos dois dias de planejamento da Rede Nhandereko, realizada no auditório da APA Cairuçu – que apoia essa iniciativa – em Paraty nos dias 15 e 16 de maio. O evento contou também com a parceria do Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS).

Durante os dois dias de atividade, cerca de trinta lideranças de comunidades diferentes estiveram presentes junto com técnicos e alguns parceiros elaborando de maneira coletiva o planejamento da rede para o próximo ano. Qualificar roteiros, trabalhar a mobilização interna, comunicar e ampliar as parcerias da Nhandereko foram algumas das tarefas listadas.

“A comunidade já está fazendo TBC, a partir do momento que se abre a sua casa, ou que se está recebendo, vendendo, produzindo. Fazemos isso há muito tempo. Eu comecei abrindo a minha casa e botando meu barco para transportar os visitantes”, destaca Ticote, permacultor caiçara do Pouso da Cajaíba. Ainda que diversas experiências que já são realizadas em cada território, a Rede vê a necessidade de qualificar os roteiros e de criar uma central para comercialização conjunta.

No primeiro dia de evento, foi apresentado o site da Rede Nhandereko que vem sendo construído é complementado a medida que cada comunidade organiza seus portfólios. 

Essa atividade faz parte de um projeto do Fórum de Comunidades Tradicionais em parceria com a APA Cairuçu para fortalecimento do TBC no território que essa área de proteção ambiental está localizada. Selecionada em nível nacional por um edital do ICMBio, a Rede Nhandereko foi aprovada em primeiro lugar como experiência referência no turismo construído com autonomia pelas comunidades.  

“O ICMBio abriu um chamamento para buscar experiências que possam gerar aprendizado para instituição e gerar um contraponto com as iniciativas privadas de turismo”, salienta Carlos Felipe da APA Cairuçu. Segundo ele, o projeto foi proposto pelo FCT em parceria com a APA Cairuçu para fortalecer a rede de turismo de base comunitária. Além disso, a iniciativa atende ao planejamento do Plano Gestor da APA e ao Plano de Manejo que elencou o TBC como uma das sua prioridades.

https://vimeo.com/270749073 

Planejar o TBC que buscamos faz parte da nossa luta

O turismo de base comunitária praticado pelo Fórum de Comunidades Tradicionais visa, sobretudo, a garantia do modo de vida tradicional e a defesa do território. Durante o planejamento, uma das necessidades levantadas pelos comunitários foi a formação e o fortalecimento do TBC para dentro de cada território. Cursos, atividades de mobilização, eventos culturais que atraiam a juventude e que possa chamá-la a construir esse novo olhar sobre o turismo são algumas das ideias da Rede.

“Tudo que estamos fazendo aqui faz parte de como iremos criar uma linguagem única com esse foco no nosso jeito de fazer turismo”, pontua Vaguinho de São Gonçalo. “Acredito que temos que criar, inclusive uma formação, um curso de guia local, com uma grade construída a partir do Ministério do Turismo e que também tenha a ver com o TBC das comunidades, baseada na região”.

Rede Nhandereko pelo Brasil

“Apresentamos a nossa rede e era uma das únicas experiência em que de ponta a ponta é feita pelas mãos da comunidade. Lá vimos que o que fazemos aqui é potente e que nosso trabalho é referência”, destaca Daniele Elias Santos do Quilombo do Campinho da Independência. Ela participou do V Seminário Internacional em Áreas Protegidas e o I Encontro de Boas Práticas em Turismo de Base Comunitária que aconteceu 7 a 9 de maio em Rio Branco, no Acre.

Segundo a liderança, o trabalho desenvolvido pela Nhandereko e apresentado nesse evento foi destaque pelo fato de integrar as três etnias – caiçaras, indígenas e quilombolas – em um processo único de construção do TBC. “O turismo que fazemos integrando esses povos e seus territórios, unidades de conservação e todos as demais questões que enfrentamos faz com que nossa Rede seja referência para muitos lugares”, finaliza.
 

Texto: Comunicação Popular FCT – Vanessa Cancian

Fotos: Comunicação Popular FCT – Eduardo Napoli
Editoração Eletrônica: Comunicação Popular FCT – Vanessa Cancian

 

 

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. Que beleza.

    ”O turismo de base comunitária praticado pelo Fórum de Comunidades Tradicionais visa, sobretudo, a garantia do modo de vida tradicional e a defesa do território. Durante o planejamento, uma das necessidades levantadas pelos comunitários foi a formação e o fortalecimento do TBC para dentro de cada território.”

    Obrigada por nos fazer conhecer isso.

    Abraço da Odonir

  2. A força do Reino

    A força do Reino –* 31 E Jesus contou outra parábola: «O Reino do Céu é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32 Embora ela seja a menor de todas as sementesquando crescefica maior do que as outras plantas. E se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e fazem ninhos em seus ramos.»     (Mt.13, 31-32)

     

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