Sem soberania nacional, os militares perdem sentido, por Roberto Bitencourt da Silva

Nunca os militares brasileiros foram tão submissos a poderosos interesses estrangeiros. Nunca se pareceram tanto com um exército gringo de ocupação, quanto agora.

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Sem soberania nacional, os militares perdem sentido

por Roberto Bitencourt da Silva

O general Villas Bôas manifestou, no início dessa semana, grande descontentamento com os ataques recebidos pelas Forças Armadas, desferidos pelo guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho. Uma controvérsia que mais parece trica de aliados de véspera, entre um alto oficial do Exército – que alega a necessidade de que o Brasil estruture um “projeto para o país” – e um ideólogo civil do obscurantismo liberal colonizante, que despreza empiria, saber, ciência.

Sintomaticamente, o grotesco ideólogo reacionário e obscuro faz suas pregações e acusações a partir dos EUA.  Difícil identificar coerência maior para um projeto de rendição e subserviência plena ao imperialismo, aos gringos do Norte, como o instaurado e em execução hoje no Brasil.

Em todo caso, o general, assim como o personagem autodeclarado “filósofo”, deliberadamente ou não, preconiza medidas sociais e econômicas e atua politicamente rumo à destruição do Brasil como Nação. Sua participação direta nas condições da eleição do vende pátria, ultraentreguista e reacionário Bolsonaro, não dão margem para se pensar outra coisa.

O desconforto manifestado pelo general Villas Bôas, em sua conta no Twitter, ficou claro. Um incômodo motivado pela percepção de gestos de humilhação dirigidos às Forças Armadas. Nesse sentido, por razões muito distintas daquelas que se expressam nas hostes dos (ex?) aliados lesa pátria e reacionários, cabe assinalar que a posição dos militares merece críticas. Os militares nunca estiveram tão distantes das necessidades e das realidades nacionais.

Nunca os militares brasileiros foram tão submissos a poderosos interesses estrangeiros. Nunca se pareceram tanto com um exército gringo de ocupação, quanto agora. Nunca estiveram a serviço de tamanho desmonte de direitos populares e de instrumentos de soberania nacional, como nesses tempos. Nunca optaram por um projeto colonial tão ultrajante e ofensivo.

E não me venham dizer que tenho má vontade com militares! Reconheço ações históricas – diretas e indiretas – muito construtivas para o País, na esteira da Revolução de 1930, como a CLT, a siderúrgica CSN e a criação da Petrobras. Tratam-se de frutíferas e importantíssimas iniciativas engenhosas e de atendimento claro ao interesse popular e nacional. Do mesmo modo, se deve salientar a honrada posição nacionalista, democrática e legalista, dos cerca de 6 mil militares perseguidos, presos, reformados, expulsos, pelos golpistas entreguistas de 1964.

Mas, hoje, convenhamos, os militares estão muitíssimo longe de tais padrões de pensamento e preocupação patriótica. O perfil anda tão rebaixado, tão lesivo à dignidade e aos interesses nacionais, que, se hoje, como nos estertores da monarquia, fossem mandados agir como capitães do mato e “caçar escravos” que fugiam, em vez de dizerem não e se sentirem ofendidos, é plausível que tomassem a iniciativa de propor ao governo ação tão imoral e indigna. A aventura inócua da intervenção militar na segurança do Rio talvez seja espelho.

Sobretudo, a alta cúpula do oficialato tem plena responsabilidade pelas escolhas que fez, permanece fazendo, e pela péssima imagem que estão construindo, para instituições militares que a cada dia se distanciam, mais e mais, da função elevada de assegurar a defesa e a soberania nacional. A persistir no mesmo caminho, tenderão a perder sentido de existência.

Dar sustentação a um governo que age para destruir qualquer laço de sociabilidade, cooperação e responsabilidade social, identidade, cultura e conhecimento nacional, bem-estar coletivo, que entrega o patrimônio público para o capital internacional, sem qualquer justificativa, não pode proporcionar boa imagem aos militares.

Com efeito, mirar o próprio Povo como potencial inimigo e se dedicar a policiamento urbano, é o que vai restar aos militares, na sequência do projeto neocolonial de governo em curso e que estende, amplia as ações e perspectivas do golpista governo anterior, de Michel Temer. Convenhamos, não representam razões que deem nobre significado às Forças Armadas.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Redação

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