The Day After: coisas a Temer, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

O filme de 1983 marcou época ao retratar de forma cruelmente realista quais seriam as consequencias de uma guerra nuclear entre os EUA e a URSS. The Day After sugere que nos momentos de crise é preciso recuperar a racionalidade mediante uma boa dose de pessimismo para evitar os danos irreversíveis causados pela ambição desmedida, pela otimismo militar e pela ideologia da vitória a qualquer custo. Por isto, resolvi me inspirar neste filme norte-americano para criar um cenário plausível após o sucesso do golpe de estado disfarçado de impedimento.

Num primeiro momento, a banda podre da política brasileira representada por Michel Temer ficará eufórica e a esquerda afundará na depressão. Ocorrerá, portanto, uma inversão dos estados psicológicos vigentes no momento em que Dilma Rousseff ganhou a eleição e foi empossada.

Em consequencia, o novo regime será obrigado a cumprir sua promessa de garantir impunidade para os 300 ladrões que endossaram o golpe de estado. Todavia, isto não pode ser feito dentro dos limites traçados pela constituição federal sem que o Executivo exerça uma pressão ilegal e insuportável sobre as instituições. As primeiras vítimas do golpe serão, portanto, o Ministério Público e o Poder Judiciário.

A reação dos órgãos estatais às novas diretrizes impostas por Temer para garantir o bem estar e a tranquilidade da sua quadrilha provocará a primeira crise do novo governo. A flexibilização da constituição – instrumento que garantiu o impedimento sem fundamentação jurídica – será seguida pela flexibilização do Direito Administrativo. Juízes, procuradores e promotores que colocarem em risco a nova República de velhos ladrões serão pressionados, afastados e perderão seus cargos.

Os expurgos promovidos por Michel Temer irão necessariamente continuar enquanto autoridades do Judiciário e do MP demonstrarem independência e disposição de resistir à nova tirania. Em algum momento parte da imprensa terá que escolher entre ser esmagada pela opinião pública ao servir ao tirano ou ser esmagada ao lado de suas vítimas.

Outra consequencia necessária do golpe de estado será a flexibilização do Direito Penal. Além de criar exceções para salvar seus 300 ladrões parlamentares, Michel Temer será obrigado a restringir o espaço político mediante uma brutal repressão policial. O rigor da Lei Penal será então utilizado apenas com uma finalidade: calar os adversários do novo regime. Aqueles que se recusarem a instrumentalizar a “Penalização” discriminatória com finalidade política também serão degolados com base no Direito Administrativo flexibilizado. Delegados e policiais corretos logo começarão a sofrer os efeitos dolorosos golpe de estado.

Durante este período de crise provocada pela captura do Estado por um bando de marginais, a esquerda começará lentamente a se recuperar do torpor provocado pela deposição de Dilma Rousseff. Os moderados resistirão ao novo regime de exceção dentro da Lei. Muitos porém irão reagir de maneira violenta, sendo previsível a criação de grupos terroristas que terão como alvo as pessoas e instituições que fomentaram o golpe de estado e se beneficiaram em razão do mesmo.

A julgar pelas palavras dos comandantes militares, as Forças Armadas provavelmente não irão intervir contra ou a favor de Dilma Rousseff ou Michel Temer. Consolidado o golpe, porém, começarão a surgir e aumentar as rachaduras entre os militares. Oficiais comprometidos com a legalidade terão que escolher entre se submeter ou lutar contra a nova República dos mafiosos. É previsível a criação de organizações mistas, contendo militares e civis dispostos a usar a violência para derrubar Michel Temer. Depois que os combates começarem, como sempre ocorre, guerra se alimentará da própria guerra.

Michel Temer quer sair da História como presidente, mas ele conseguirá apenas uma coisa: entrar na infâmia como aquele que foi derrotado ou vitorioso no golpe de estado que articulou em benefício do banditismo político. Não haverá para ele qualquer possibilidade de ser tratado de maneira digna pelos historiadores ou pelos cidadãos que resistem ao golpe e resistirão ao governo dele. Os brasileiros irão urinar no tumulo de Michel Temer. Se morrer durante a guerra civil e seu corpo cair nas mãos dos defensores da legalidade ninguém ficará surpreso se o ex-vice presidente for exposto pendurado de cabeça para baixo como Mussolini. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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  • É uma possibilidade que nos

    É uma possibilidade que nos aguarda caso vingue o golpe. Mas não minoria no túmulo do temer, defecaria mesmo. Não esquecendo o resto da quadrilha 

  • Não podemos desisistir: GREVE GERAL POR TEMPO INDETERMINADO

    Existe uma conspiração muito maior do que imaginamos. A quadrilha de Cunha, junto com a máfia demotucana, são apenas operadores do GOLPE. Janot, Lava-Jato, grandes organizações e forças dos EUA estão manipulando cenário político no Brasil e comprando nosso Congresso através de várias propostas, inclusive livramento na justiça.

  • A ideia eh causar tudo isso

    A ideia eh causar tudo isso mesmo, Fabio.  De que outra maneira o Brasil vai se desestruturar mais que o Oriente Medio pra ser pilhado?

    (no dia, nao fui trabalhar pra assistir e...  detestei esse filme)

  • A questão não é essa

    A questão é a de trezentos e poucos ladrões quadrilheiros caçarem de forma ilegitima o voto de mais de 54 milhões de brasileiros.

  • Quero dar boas gargalhadas na

    Quero dar boas gargalhadas na cara de quem agora apoia a traição de Temer e depois for traído por ele.

    Só pode ser uma burrice incomensurável achar que alguém que trai uma vez, não vai trair de novo, de novo e de novo, de acordo com as circunstâncias.

  • Fabio boa análise,se for assim,que assim seja.Saravá!

    Michel Temer quer sair da História como presidente, mas ele conseguirá apenas uma coisa: entrar na infâmia como aquele que foi derrotado ou vitorioso no golpe de estado que articulou em benefício do banditismo político. Não haverá para ele qualquer possibilidade de ser tratado de maneira digna pelos historiadores ou pelos cidadãos que resistem ao golpe e resistirão ao governo dele. Os brasileiros irão urinar no tumulo de Michel Temer. Se morrer durante a guerra civil e seu corpo cair nas mãos dos defensores da legalidade ninguém ficará surpreso se o ex-vice presidente for exposto pendurado de cabeça para baixo como Mussolini. 

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  • Há um erro fundamental nas

    Há um erro fundamental nas premissas levantadas no texto, que é considerar um hipotético antagonismo entre um suposto governo Temer e órgãos da Justiça.  Tal antagonismo não existe, pois estão, como sempre estiveram, do mesmo lado. Vide a justiça de SP.
    O cenário traçado somente terá condições de vingar se e somente se o povo, a massa de desassistidos deste país entender a razão pelo seu estado de coisas, compreendendo que, não reivindicando espaço e direito, no grito e na luta, nada mudará.  Mas, para que isso ocorra, é fundamental driblar o poder de informação e de manipulação da grande mídia, o que não se observa no horizonte próximo.
    A luta do setor progressista da sociedade deve passar pela quebra do monopólio temático midiático e pela conscientização das massas.  Fora disso, não há salvação.

  • Há um erro fundamental nas

    Há um erro fundamental nas premissas levantadas no texto, que é considerar um hipotético antagonismo entre um suposto governo Temer e órgãos da Justiça.  Tal antagonismo não existe, pois estão, como sempre estiveram, do mesmo lado. Vide a justiça de SP.
    O cenário traçado somente terá condições de vingar se e somente se o povo, a massa de desassistidos deste país entender a razão pelo seu estado de coisas, compreendendo que, não reivindicando espaço e direito, no grito e na luta, nada mudará.  Mas, para que isso ocorra, é fundamental driblar o poder de informação e de manipulação da grande mídia, o que não se observa no horizonte próximo.
    A luta do setor progressista da sociedade deve passar pela quebra do monopólio temático midiático e pela conscientização das massas.  Fora disso, não há salvação.

    • Discordo. O antagonismo entre

      Discordo. O antagonismo entre MP/Justiça e os 300 marginais apoiados por Michel Temer na Câmara dos Deputados (aí incluído o próprio Eduardo Cunha) existe, pois eles foram denunciados e alguns já estão sofreram condenações na primeira e segunda instância. Sem dúvida alguma a tensão que você descartou ocorrerá no exato momento em que o tirano Michel Temer tentar proteger os membros de sua quadrilha sendo obrigado a atacar os referidos órgãos e seus membros (ou pelo menos os membros destes órgãos que trabalham de maneira honesta e digna). É um erro acreditar que todo o MP e o Judiciário estão podres, como também seria ingenuidade descartar a existência de criminosos dispostos a proteger criminosos nestes dois órgãos.  

      • A discussão jurídica-política já está ficando no passado.

        Não é tic-tac do relógio que está fazendo barulho, é o tic-tac de uma bomba relógio incontrolável que estamos ouvindo.

        Países como Estados Unidos, Inglaterra e França tiveram nos últimos quarenta anos inúmeros tumultos com saques, incêndios e mortes que foram contidos a duras penas por forças policiais, guarda nacional ou exércitos treinados e profissionais. Os motivos destes tumultos generalizados em relação ao que está se criando no Brasil eram extremanente fúteis, o grau de proteção social dos mais pobres destes povos era muito maior do que no Brasil, a raiva não tinha sido cultivada cuidadosamente durante dois anos, a quantidade de atingidos por esta raiva era muito menor, as cidades eram mais urbanizadas e as classes medias muito mais numerosas, as forças de repressão (polícias, guarda nacional ou mesmo forças armadas) eram muito maiores em relação a população e muito melhores treinadas do que as nossas.

        Vamos parar de brincar de Poliana, a discussão jurídica-política já acabou, agora só resta dois caminhos possíveis, o golpe com tumultos incontroláveis que podem simplesmente destruir nossas cidades ou a tentativa de concertação com o próprio governo Dilma e com o carisma de Lula.

        Estão brincando com fogo e simplesmente não sabem fazer contas, o aparato repressivo brasileiro, pois mais truculento que seja, será varrido até que as cidades queimem em grande parte.

        Estamos em cima de um barril de pólvora e ainda se discute abobrinhas.

        Chamo a atenção, o que pode ser prever não é uma revolução organizada com um ou mais partidos liderando e dando pelo menos uma ordem na revolta, o que se pode prever é um levante popular completamente desorganizado que ninguém saberá por onde começará e nem quando terminará.

        Ou seja, a direita brasileira está fazendo M.E.R.D.@, e pior, nem se dá conta disto.

      • Acho que é por aí, caro

        Acho que é por aí, caro Fabio. Haverá um racha também na MP e judiciário. Mesmo que a maioria dos procuradores e juristas sejam anti-petistas por fazerem parte da "opinião publicada", os movimentos claros do "governo Temer' para impor a impunidade de seus cupinchas, vai causar um enorme incômodo nessas instituições.

        O que já ocorre desde já, devido a evidente ilegalidade do impeachment. Muitos juristas, mesmo que não participem dos atos, por acharem estes muito "petistas", assinam manifestos e se posiciomam a favor do estado de direito, muito além de defender governos do PT. 

        Essa narrativa já começa a ser majoritária e a partir do momento em que a ficar claro que um dos objetivos do golpe é salvar o pescoço dos corruptos, mais indignação causará no meio jurídico, onde tem gente conservadora, mas séria. Só mesmo o coxinha mais fanático, facista e anti-petista concordará com isso.

        PS: Acho que o golpismo tenta se compor com o Janot para tentar barganhar alguma espécie de impunidade. Mas este terá condições de acorbertar essa porcaria toda?

  • Temer... não tem

    Temer... não tem dinheiro!

    Temer, não tem partido, já que o seu partido é mais esfarelado que xerém que se dá a pinto novo!

    Temer não tem votos.

    Temer é o novo Marechal Deodoro, colhido no meio de um vendaval.

    Se confirmado o golpe no domingo, ele será o "rainha da Inglaterra" até 2018; se não, serão apeados no TSE por Gilmar Mendes, ele e Dilma, obviamente. O que mais incertezas trará.

    Ah, outras instituições a que Temer venha pertencer são mais desunidas que seu partido.

    Receio que não estejamos voltando a 1964, mas a 1889; com o agravante de que São Paulo já é - continua a ser - a locomotiva do país; logo, agora tem muito pouco pra onde crescer e puxar o Sudeste-Sul.

    Em tempo: gostaria de ter dez por cento do otimismo do articulista.

  • Essa gente não tem saída.

    Essa gente não tem saída. Assim,em nada se sensibilizarão com os escritos e com o que poderá ocorrer ao país.

    O jogo deles é para salvar a própria pele e ainda levar uns trocados.

    Os golpistas mesmo,ainda nem mostraram a cara.

     

    Todo sacrifício pela democracia é pouco

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