Uma década vencendo a fome, por Luiz Inácio Lula da Silva

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O Brasil comemorou recentemente o 10 º aniversário do Bolsa Família, um modelo para muitos programas recentes de distribuição de renda ao redor do mundo.

Por meio do Bolsa Família, 14 milhões de famílias, ou 50 milhões de pessoas – um quarto da população do Brasil – recebem uma renda mensal desde que mantenham as crianças na escola e que dêem a elas assistência médica, incluindo todas as vacinações regulares. Mais de 90% dos pagamentos são feitos para as mães.

Nesses dez anos desde o início do programa, aproveitamento escolar das crianças melhorou, as taxas de mortalidade infantil caíram e 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza.

Os números são eloquentes, mas não bastam para expressar a transformação na vida de cada um.

Não existe estatística para medir a dignidade – e é disso que se trata quando a mãe e o pai podem oferecer aos filhos três refeições por dia. Não há nos orçamentos uma rubrica chamada esperança – e é disso que se trata quando os pais veem as crianças frequentar a escola para ter um futuro melhor.

Por ter proporcionado essa mudança na vida das pessoas, o Bolsa Família está mudando o curso da História em meu país; as Nações Unidas o consideram o maior programa de distribuição de renda do mundo. Muitos governos têm adotado a transferência de renda no combate à fome. Por isso é importante compreender as razões do êxito do Brasil e os obstáculos que ele enfrentou para colocar o Bolsa Família em prática.

Como em tantos países da América Latina, da África e da Ásia, durante muito tempo o Brasil foi governado só para uma pequena minoria de seus habitantes, a elite. A maioria dos brasileiros era virtualmente invisível, vivendo em uma não-pátria, que desconhecia seus direitos e lhes negava oportunidades.

Nós começamos a mudar esta isso implementando um conjunto de políticas sociais combinado com a valorização do salário mínimo e a expansão ao crédito bancário. Isso dinamizou uma economia que criou 20 milhões de empregos formais nos últimos 10 anos, finalmente integrando a maioria da população ao processo econômico e social.

O Bolsa Família ajudou a provar que sim,  é possível acabar com a fome quando os governos têm vontade política para colocam os pobres no centro de suas ações. Muitos achavam utópico esse objetivo. Talvez não compreendessem que isso era absolutamente necessário para colocar o país na rota do desenvolvimento.

Alguns diziam, de boa fé, que para combater a fome o correto seria entregar alimentos às famílias, e não dinheiro. Mas não basta receber alimentos para matar a fome. É preciso ter a geladeira para conservá-los, o fogão e o gás para cozinhar. E as pessoas precisam se vestir, cuidar da higiene pessoal e da limpeza da casa. As famílias não precisam do governo para dizer a elas o que elas devem fazer com o dinheiro. Elas sabem quais são suas prioridades.

Ainda hoje, certas reações ao Bolsa Família mostram que é mais difícil vencer o preconceito do que a fome. A mais cruel dessas manifestações foi acusar o programa de estimular a preguiça. Isso significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real. Significa transferir, para o pobre, a responsabilidade por um abismo social que só favorece os ricos.

Na verdade, mais de 70% dos adultos inscritos no Bolsa Família trabalham regularmente,  e complementam a renda com o dinheiro do programa. O Bolsa Família constitui o apoio indispensável para começar a romper o ciclo da pobreza de pai para filho.

Críticos comparavam a transferência de renda a uma simples esmola, nada além de caridade. Só quem nunca viu uma criança desnutrida, e a angústia da mãe diante do prato vazio, pode pensar dessa forma. Para a mãe que o recebe, o dinheiro que alimenta os filhos não é caridade: é um direito de cidadania, do qual ela não vai abrir mão.

Um efeito de longo prazo do Bolsa Família é que ele dá poder a quem é pobre:  eleitores que têm uma renda básica garantida não precisam mais pedir favores. Eles não precisam trocar seus votos por comida ou por um par de sapatos, como era comum nas regiões mais pobres do Brasil. Ele se torna mais livre, o que, para alguns, não é conveniente.

Há, por fim, os críticos que acusam o programa de elevar o gasto público. São os mesmos que dizem que cortar salários e destruir empregos é bom para a economia. Mas dinheiro público aplicado em gente, em saúde e educação não é gasto: é investimento. E o investimento no Bolsa Família está na raiz do crescimento do Brasil.

Cada 1 real – cerca de US$ 0,44 – investido no programa agrega 1,78 real ao PIB, de acordo estimativas do governo brasileiro. O Bolsa Família movimenta o comércio e a produção dos bens consumidos pelas famílias. Muito dinheiro, nas mãos de poucos, serve apenas para alimentar a especulação financeira e concentrar riqueza e renda. O Bolsa Família mostrou que um pouco de dinheiro, nas mãos de muitos, serve para alimentar pessoas, impulsionar o consumo e a produção, atrair investimentos e gerar empregos.

O orçamento do Bolsa Família para este ano é de 24 bilhões de reais, cerca de US$ 10 bilhões, o que é menos de 0,5% do PIB brasileiro. Desde 2008, Estados Unidos e União Europeia já gastaram US$ 10 trilhões para salvar bancos em crise. Apenas uma fração desse dinheiro investida em programas como Bolsa Família poderia acabar com a fome no mundo e lançar a economia global numa nova era de prosperidade.

Felizmente, cada vez mais países estão escolhendo o combate à pobreza como caminho para o desenvolvimento. Já é tempo de os organismos multilaterais estimularem isso promovendo a troca de conhecimento e o estudo das boas experiências de transferência de renda ao redor do mundo. Seria um grande impulso para a vencermos a fome em todo o mundo.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

15 Comentários

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  1. “Cada 1 real – cerca de US$

    “Cada 1 real – cerca de US$ 0,44 – investido no programa agrega 1,78 real ao PIB, de acordo estimativas do governo brasileiro. O Bolsa Família movimenta o comércio e a produção dos bens consumidos pelas famílias.”

    Os que são contra só podem ser seguidores de:

    http://bahiaempauta.com.br/wp-content/uploads/2012/04/jUSTO1.png

    1. “Cada 1 real – cerca de US$

      “Cada 1 real – cerca de US$ 0,44 – investido no programa agrega 1,78 real ao PIB, de acordo estimativas do governo brasileiro”

      Cada real investido em assistencialismo eleitoreiro custa 5 reais ou mais para a sociedade.

      1. Tu sabes que não é verdade

        Tu sabes que não é verdade essa matemática, Aliança Liberal. 

        Tudo bem, respeito, mas não acato, as tuas profundas crenças no Liberalismo como o sistema – o único – que pode transformar e conduzir os destinos da humanidade. Mas, convenhamos: o modelo já se esgotou. Provou não ser capaz, ao contrário, de promover o que é básico numa sociedade civilizada: a justiça social. O progresso econômico, sim, mas a subsequente divisão do “bolo” com mais equidade.

        Sim, são ricas em termos quantitativos as nações que o adotam na forma mais radical, a começar pelos EUA. Mas vejamos com uma lupa como mesmo lá o liberalismo já cedeu os anéis. Hoje a sociedade americana é, em todos os sentidos, uma sociedade profundamente entremeadas de chagas sociaisme função desse apego ao liberalismo in extremis. Já há, mesma de forma incipiente, mimetização de políticas sociais usadas em outras pairagens, inclusive aqui no Brasil. 

        Apesar do teu estado(RS), dado como rico, possuir mais de quinhentas mil famílias cadastradas no programa(o que não é nenhum desdouro),que tal fazeres uma viagem pelas regiões mai pobres do Brasil e ver in loco não só os benefícios, mas a própria essencialidade desse programa.

        A sociedade, Aliança, para fazer jus a este nome, não pode cindir seus cidadãos e cidadãs em duas categorias como o fazes. O cadastrado no programa também faz parte dessa sociedade. Mas acima dela própria, sociedade, há uma instância muito mais vital: a responsabilidade social. Que não é só um dever do Estado, mas de toda essa sociedade que ora tu abstrai como Ente autônomo. 

        Não sou devoto do Estado como a esfera redentora do Homem na face da Terra. A meu ver deve, deverá ser sempre complementar ou acessório ao indivíduo, ou indivíduos(sociedade) enquanto sujeitos máximos e únicos das ações desse mesmo Estado. Este foi concebido, fundado e deve atuar como instância mediadora de contenciosos. 

        E para que contencioso maior do que a iniquidade social, fonte de tanta miséria, sofrimento e injustiça?

         

  2. O bolsa família um programa

    O bolsa família um programa que foi idealizado no governo FHC , e implantado plenamente no governo do PT , foi sem a menor sombra de dúvida muito oportuno naquele momento , era um paliativo que acabou se efetivando .

     Agora é sempre bom lembrar que  o resgate da dignidade do individúo so sera completa quando ele ganhar o pão de cada dia com o próprio suor , fora disso é assistencialismo e clientelismo que causa sérias distorções na nossa joven democracia .

     Para a valorização do cidadão , o estado tem a responsabilidade constituicional de lhe dar educação de qualidade e saúde e é isso que estamos esperando de governos que se sucedem , mas isso não acontece , basta vêr nossos índices de IDE , que são ridicúlos em comparação com outras nações . É sempre bom lembrar que o investimento em educação aqui do Brasil não chega a 5% do PIB , enquanto outros emergentes aplicam mais de 10%.

    Agora a implantação de instituições de ensino em quantidade pouco adianta , queremos qualidade e não temos nenhuma universidade entre as cem melhores do mundo.  

    É sempre bom lembrar que estamos no caminho correto da democrácia e da civilidade quando nos permitimos discordar de um ex. presidente que teve seu destaque na nossa evolução como nação de primeiro mundo .

     Saudações a todos do Botelho.

    1. “Agora é sempre bom lembrar

      “Agora é sempre bom lembrar que  o resgate da dignidade do individúo so sera completa quando ele ganhar o pão de cada dia com o próprio suor”

      Ah, tá legal, e perder um montão de votos!!!

      1. OH OH OH OH OH ! Sinto uma

        OH OH OH OH OH ! Sinto uma pena de pessoas como vc, que trazem na testa o partido  que tinha a faca e o queijo na mão p/ mudar o país, mas preferiu aderir aos sábios conselhos dos gringos – aqueles que só vêem seus próprios interesses.

        1. Cara Lenita esta polarização

          Cara Lenita esta polarização da politíca Brasileira é anti produtiva , a critíca construtiva deve existir pois a democrácia é construida com uma oposição forte sem polarizar no entanto .

           O contexto de cada governo é único e ai voce inclui o panorama mundial no momento com a economia em destaque . Portanto não poderemos nunca deixar de considerar o momento propício que no vulgar seria o dito popular gaucho sobre oportunidade : Quando o cavalo passa encilhado, é a hora .    O governo ptista pegou o melhor momento da economia mundial nos últimos tempos , com a China comprando tudo , pulamos para a 6° economia do mundo a reboque , e indepedente de quem estiver no poder numa hora desta , tem que se fazer o planejamento para nossas carencias , mas isso não foi feito , e o cavalo passou e não fizemos o que se deveria . 

          A nossa infraestrutura aeroportuária  assim como a mobilidade urbana das grandes cidades ficou esquecida e hoje estamos com os maiores congestionamento do mundo , então valtou a visão de um estadista para perceber que aquela era a hora de se fazer acontecer .

          Quanto ao Lula , é lógico que ele teve seus méritos em formar uma equipe eficiente que muito contribuiu e isso ele próprio não esquece e sempre resalta.

          1. Tucano invejoso ll

            O FHC continua a ser muito melhorrrrrrrr do que o Lula!

            O Lula só deu certo por conta do Itamar com o plano Real e porque a China comprou tudo que o Brasil tinha para vender.

            O FHC não teve esta sorte, mas é bondoso e deixou tudo prontinho para o Lula, este sim um ingrato que não reconhece o grande FHC.

          2. Eu concordo com a primeira

            Eu concordo com a primeira parte do que o sr. diz, porém  os partidos são feitos de seres humanos, bons e maus, com seus erros e acertos. E o principal causador desta polarização existente hoje em dia é o sr. José Serra, um mau político e uma má pessoa, que fez uma campanha p/ a presidência calcada nos moldes americanos, onde o que valia era a desclassificação do oponente, não uma campanha de proposições e programas. Com a grande contribuição da mídia, esta campanha continua até os dias de hoje, passando para o STF e  deixando-nos preocupados c/ o que possa ainda acontecer no próximo ano.

            Sobre a “sorte” do presidente  Lula com o panorama externo durante a gestão dele, não concordo. Afinal ele pegou o país dominado pelo FMI e c/ o dólar nas alturas e o Plano Real já fazendo água. Acredito mais em sua intuição política, e a nomeação de uma equipe que lhe deu o suporte necessário p/ fazer (conforme dito pelo sr.) , não o que pretendia, pois teve de levar consigo o PMDB, mas o que deu para fazer. Já o sr. FHC  sempre achou que tudo o que vem dos EUA é bom e constituiu uma equipe econômica em sua maioria formada ou especializada lá. É um  homem que pode até  ser boa pessoa, mas não passa de um deslumbrado e s/ visão política nenhuma, porém tb com sorte, pois ganhou o Plano Real do Itamar Franco e “conseguiu” uma reeleição.

            Sobre a infraestrutura, o pres. Lula “pressentiu” em Dilma a pessoa certa p/ fazê-lo e é o que está acontecendo, apesar de toda má vontade dos vários setores que sempre mandaram no país. O que ele prometeu em sua posse foi que toda pessoa teria condições de fazer 3 refeições ao dia e foi muito, não para nós, mas para quem necessitava tanto.

    2. Tucano invejoso

      Todo o tucano tem que dizer que  o bolsa-família foi do FHC e o Lula, sem querer, por mera sorte, percebeu que ela dava votos e a intensificou por conta eleitoral. FHC fez filhos nos outros dos outros e pagou bolsa-pensão- quanta nobreza e fidalguia! E o Lula, quanta esperteza e imoralidade !

      Admita que o Lula, por ser um cara sofrido, que veio de baixo, que não é  elitista, que muito provavelmente é um intuido divino em potencial maior do que as pessoas normais, veio com a missão de melhorar a vida dos mais pobres e miseráveis e tem sido referência para o mundo e para o Papa pedir o fim da fome mundial – se um humano conseguiu no Brasil por que um Papa, representante de Deus na terra, não vai conseguir ?

      Agora, tem que cobrar sim: mais médicos, mais hospitais , mais escolas e tudo mais que os FHCs, Alkmins, Cerras, Aécios, Campos< ACMs, C.Maias,Álvaros Dias , todos que quando no governo só pensaram em mercado financeiro como atividade mor e cag. e andaram para o povo.

      Cobrem, cobrem sim, mas com honestidade e senso de justiça e não com inveja e despeito – você não consegue mudar um seu da noite para o dia, nem na porrada- mas os dos outros, hipocritamente e mediaticamente, deve cobrar. Inveja pura !

      Viva  todos que se dispuserem a acabar com as misérias e indignidades no planeta – viva Gandhi, São Francisco de Assis, Sai Baba, Papa Francisco, M.T. Calcutá, Luther King e queiram ou não os tucanos elitizados e invejosos: viva Lula, viva Dilma e viva o PT.

    3. FHC teve 8 nos para implementar um bolsa família de verdade

       ..portanto essa história não tem pé nem cabeça, se FHC tivesse méritos ele teria o reconhecimento do povo.

  3. O Bolsa-família na órdem do dia.

    Esta análise do ex-Pres. Lula, sobre o efeito benéfico dos seus programas sociais e especialmente do Bolsa-família, veio “in time” pois concomitantemente a estas divulgações do ex-Presidente, vem a conclamação do Santo Padre, o Papa Francisco, para que a igreja católica do mundo inteiro, comecem a unir a evangelização dos povos, com a busca eleiminação, ou diminuição da fome no mundo, que ora mata cêrca de Hum Bilhão de pessoas, anualmente no mundo.

    A nos brasileiros, pediu que a CNBB, acentue esta campanha, em nossas igrejas e comunidades católicas, e que os cristãos do mundo, foquem esta missão: diminuir a fome dos nossos irmãos, não doando as “migalhas que caem de nossas fartas mesas” mas separando generosas doações, para diminuir esta praga, que é a maior vergonha de uma sociedade que se díz evoluída.

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