Vidas paralelas: Calígula e Michel Temer

Texto republicado em homenagem a capa da revista Época que, com seis meses de atraso, reconheceu finalmente o verdadeiro caráter do usurpador que ela mesma ajudou a colocar na presidência. Eu já havia republicado este texto em 18/05/2017, pois sire Michel Temer confirmou que é um duplo de Calígula. Em 29 de novembro de 2016 ele mandou seus soldados atacar ferozmente a manifestação pacífica da UNE e UBES contra a PEC que vai excluir o povo brasileiro do orçamento da União. Em 17/05/2017 o reinado de terror de Michel Temer foi finalmente abalado: a imprensa noticiou que ele foi gravado pelo dono da JBS pedindo propina para silenciar Eduardo Cunha.

Assim que se sentiu seguro na presidência, Michel Temer fez três coisas:  distanciou-se do povo; cercou-se de ministros milionários e; passou a governar levando em conta apenas os interesses da classe alta. A estrutura sócio-econômica-estatal imposta ao país pelo usurpador é semelhante à que existiu durante a Pax Romana. Sobre este fenômeno leia mais em https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/uma-breve-pax-romana-no-brasil.

Já que fomos obrigados a viver numa Roma tropical governados por um homem que age como se fosse imperador dos romanos tupiniquins, senti a inevitável necessidade de reler A Vida dos Doze Césares, de Caio Suetônio Tranquilo (Prestígio Editorial, 4a. edição, Rio de Janeiro, 2002). Lá encontrei o modelo em que Michel Temer parece estar se inspirando.

Suetônio diz que Calígula “Fechava-se em si mesmo com uma dissimulação incrível” (p. 250). A mesma característica pode ser encontrada em Michel Temer, pois ele não revelou sua intenção de participar da conspiração para derrubar Dilma Rousseff antes de conseguir ser nomeado vice-presidente na chapa por ela comandada. Antes da eleição ele se comprometeu com o programa de governo do PT. Eleito ele manobrou em silêncio para modificar a orientação sócio-econômica do PMDB a fim de se apresentar como uma opção para o mercado.

Michel Temer conseguiu o apoio das oligarquias estaduais e de diversos oficiais das Forças Armadas. Calígula “…era bem o príncipe desejado, acima de tudo, pela maior parte das províncias e dos soldados, que em geral, o haviam conhecido criança…” (p. 252).

Calígula “Exaltou pessoalmente o ânimo dos romanos, procurando por todos os meios a popularidade” (p. 253) Michel Temer procura ser popular, mas somente entre aqueles que considera brasileiros (milionários, empresários, banqueiros, donos de empresas de comunicação, investidores, etc…). Assim como Calígula, Temer não quer ser popular entre os brasileiros pobres que pretende reduzir à condição de semi-escravos terceirizados desprovidos de direitos trabalhistas, previdenciários e sociais.

A vida conjugal Temer tem sido agitada. Ele se separou da primeira esposa e casou-se com uma mulher 43 anos mais jovem que ele. Como no caso de Calígula “Não se pode afirmar se foi mais imprudente quando realizou seus casamentos, quando os anulou ou ainda quando os manteve” (p. 263).

Michel Temer é impassível e gosta de dizer que não tem medo de adotar medidas impopulares. Ele demonstrou isto revogando ou reduzindo direitos sociais (Mais Médicos, Ciências sem Fronteiras, Bolsa Família, incentivo à Agricultura Familiar, FIES, Prouni, etc…). O usurpador já começou a estrangular o orçamento das universidades públicas. O bem estar dos trabalhadores e dos familiares deles não é desejado por Temer, tanto que ele quer reduzir o salário mínimo, revogar a CLT, universalizar a terceirização e desmantelar a Justiça do Trabalho.  

Calígula “Aliava à monstruosidade dos seus atos a atrocidade dos seus propósitos. Afirmava nada encontrar melhor para louvar e aprovar no seu caráter do que (para empregar o termo de que se valia) a sua ‘impassibilidade’ ” (p. 267). A semelhança entre o imperador romano e o usurpador brasileiro  no quesito “impassibilidade” é, portanto, evidente.

Diz Caio Suetônio Tranquilo que certa feita, irritado contra a massa, Calígula disse “Quem me dera que o povo romano tivesse apenas um pescoço!” sugerindo assim que gostaria de matar todos com um só golpe de machado. Michel Temer não disse isto, mas a PEC que ele enviou ao Congresso para congelar investimentos em saúde e educação sugere que o usurpador quer de fato degolar gerações inteiras do povo brasileiro com um só golpe orçamentário.

Instalado no poder, Michel Temer concentrou as verbas de publicidade da União e das autarquias e empresas federais nas mãos dos donos das grandes empresas de comunicação que apoiaram o golpe de estado de 2016. Os blogueiros independentes ousaram protestar. Em seguida o usurpador disse numa entrevista que iria combater as redes sociais. Ao fazer isto ele se declarou inimigo de todos os homens que não pensam como ele e que noticiam o que ele não quer que seja noticiado. Calígula fez algo parecido, pois “Declarou-se não menos por inveja e malícia do que por orgulho e ferocidade, contra quase todos os homens de todos os séculos” (p. 270).

Calígula não foi um imperador econômico e moderadoPelas suas despesas extravagantes, superou tudo quanto os pródigos pudessem imaginar. Inventou uma nova espécie de banho e os gêneros mais extraordinários em matéria de iguarias e jantares” (p. 273). Michel Temer tem sido fiel ao seu modelo romano.

O primeiro ato do usurpador foi extinguir a Controladoria Geral da União. Em seguida, ele fez o Congresso aprovar a descriminalização das pedaladas fiscais. E então o usurpador começou a gastar dinheiro público feito um insano, provocando o maior déficit orçamentário desde os tempos de FHC. Para aprovar seus projetos ele dá banquetes caríssimos. Ninguém sabe quanto ele e seus ministros estão gastando com cartões corporativos.

Michel Temer subiu ao poder dizendo que reduziria despesas e as aumentou, prometendo que não aumentaria a carga tributária e já fala em aumentar impostos ou criar novas taxas. Calígula também “Cobrou impostos novos e dos quais jamais se ouvira falar…” (p. 276).

Segundo seus biógrafos, Calígula nomeou o cavalo Incitatus no rol dos senadores romanos e até ponderou transformá-lo em consul. A prometida recuperação da economia com base em investimentos estrangeiros não ocorreu. O desemprego aumentou, a atividade industrial caiu, os juros bancários dispararam e as finanças públicas se deterioram rapidamente em razão da explosão dos gastos estatais e da queda da arrecadação. Tudo bem pesado é possível dizer que Michel Temer nomeou um asno para comandar a economia brasileira.

No final de 2016, o duplo de Calígula disse que está cansado de apanhar injustamente. Como Michel Temer não tem a coragem de Getúlio Vargas e de Dilma Rousseff ele não vai nem cometer suicídio, nem enfrentar seus inimigos com tranquilidade. Não creio que ele seja suficientemente civilizado para renunciar, até porque ele tem medo de acabar numa cela de prisão como Eduardo Cunha. É provável, portanto, que o usurpador esteja compilando as listas de brasileiros e brasileiras que serão mortos pelos soldados do general Sérgio Etchegoyen. Isto, contudo, apenas reforça as semelhanças entre o usurpador brasileiro o imperador romano.

Calígula nomeou seu cavalo Senador de Roma. Seu duplo brasileiro conseguiu enfiar no STF um jumento xucro que plagia textos de outros juristas.

Em 24 de janeiro do ano 41 dC Calígula morreu após sofrer vários golpes de espada dos seus próprios guardas pretorianos. Ele havia brutalizado, maltratado e atormentado os romanos por 3 anos, dez meses e 8 dias. Espero que Michel Temer caia antes de completar 10 meses e 8 dias de governo.Tudo indica que a saga do usurpador brasileiro chegou ao fim. Só falta agora o golpe mortal do guarda pretoriano. Se o usurpador ficar mais tempo no poder uma guerra civil certamente irá matar milhões de brasileiros.

Nos últimos dias, após ser criminalmente acusado pelo MPF, Michel Temer tem se apresentado abatido e cabisbaixo. 14 milhões de desempregados, depressão econômica, metrópoles ameaçadas pela fome, queda de arrecadação e Michel Temer só pensa na sua reputação. Vocês entendem agora porque comparei Temer a Calígula?

Fábio de Oliveira Ribeiro

3 Comentários

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  1. Verdade

    kkkkkkkkkkkkkkkkkk Não é que eu queira defender o vampiro, mais na moral essa é uma das comparaçoes mais ilarias da fasse da terra .é comprarar um cavalo a uma lagarta..caligola odiava as classes dominantes, Humilhava os mesmos, fazia de escravos amigos intimos, chegou no poder  inicialmente mentindo,e só depois que conquistou o povo,( comprando os mesmos com festas e praseres )  que começou suas atrocidades… e no final de tudo  quando comessou sua carnificina, O Povo já se via emcurralado e mesmo sem dever eram obrigados a adora-lo por ser o unico ( governador) ..

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