Elias Jabbour
Elias Jabbour é professor Associado dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) e em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Autor, com Alberto Gabriele, de "China: o socialismo do século XXI" (Boitempo, 2021). Vencedor do Special Book Award of China 2022.
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O maior feito da história humana, por Elias Jabbour

A China é uma das únicas sociedades humanas onde a ciência não é somente uma forma de apoio ao governo e empresas. Não. A China é uma nação e sociedade guiadas pela ciência.

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O maior feito da história humana

por Elias Jabbour

Artigo produzido em colaboração com o Grupo de Mídia da China.

Não são poucos os analistas que ao discursarem sobre o crescimento econômico chinês nos últimos 40 anos o designam de “milagre chinês”. Este mesmo tipo de observação coube à época em que países como o Japão e o Brasil mantiveram, por largos períodos de tempo, altas performances econômicas. Todos já ouviram falar de “milagre japonês” ou do “milagre econômico brasileiro”. Enfim, até aqui nenhuma novidade explicativa, apenas ilustrações sobre as reações generalizadas sobre um fenômeno que não se encontra explicação teórica fácil. Na verdade, o termo “milagre” é uma forma de se referir a algo cujas teorias não nos entregam explicação em sua totalidade.

Mas seria mesmo o crescimento econômico chinês um “milagre” ou melhor, o resultado derivado dele, sim, poderia em uma primeira vista ser chamado de “milagre”? Sim, o crescimento econômico médio acima de 9% nas últimas quatro décadas é feito sem precedentes na história das grandes nações. Mas o que torna a China diferente não é somente esse fato, mas sim, a forma como esse crescimento econômico atingiu diretamente a vida de mais de um bilhão de pessoas. Para exemplificar, o “milagre econômico brasileiro” foi seguido por grande endividamento externo e concentração de renda. Já o crescimento econômico chinês proporcionou o maior feito da história humana em séculos: a superação da pobreza extrema em um país das dimensões populacionais, vicissitudes geográficas e com uma história recente muito particular.

Evidente que uma explicação deste feito passou pela manutenção de taxas expressivas de crescimento econômico por um longo período. Este crescimento transformou-se em desenvolvimento econômico na medida em que ele foi combinado com uma planificação de todos os passos do processo. Ao contrário do Brasil onde o “milagre econômico” levou a um processo desordenado de urbanização seguida por fenômenos de caráter social cuja causa residiu justamente na falta de planificação.

Na China a agricultura camponesa, e sua transformação em agricultura de grande escala é objeto de atenção especial do governo. Dada as difíceis condições geográficas do país (mais da metade do território chinês é composto por montanhas e desertos) a recomposição da agricultura de porte familiar orientada ao mercado foi constituída mediada pela abertura de mercados proporcionada por imensos investimentos em infraestruturas em todos os níveis. A planificação da abertura de novos mercados rurais é um ponto fundamental à compreensão deste processo.

Outro elemento que agregamos ao debate sobre a eliminação da pobreza extrema na China como o maior feito da história humana está no socialismo se reproduzir enquanto forma histórica como expressão da transformação da razão humana em instrumento de governo. Em outras palavras, a China é uma das únicas sociedades humanas onde a ciência não é somente uma forma de apoio ao governo e empresas. Não. A China é uma nação e sociedade guiadas pela ciência. Essa ciência pode ser observada não somente na planificação da economia, mas principalmente nos grandes projetos que o país executa, entre eles o de expansão das linhas ferroviárias de alta velocidade a utilização de plataformas como a Inteligência Artificial para fins de melhoria das condições de vida do povo.

Neste ponto onde a ciência joga papel fundamental na governança da China é que podemos entrar mais fundo no verdadeiro “milagre” chinês. O país conta com um corpo de pelo menos dois milhões de engenheiros, economistas e profissionais de alto nível voltados à elaboração e execução de grandes projetos. Trata-se de um trabalho delicado, pois ao mesmo tempo em que o país tem demandas por catching-up tecnológico, também precisou gerar 13 milhões de empregos urbanos por ano na última década. O trabalho deste corpo de cientistas foi fundamental no combate à pobreza extrema no país.

A transição planificada de uma agricultura baseada na produção familiar para outra com maior escala de produção foi acompanhada pela planificação e abertura de novos campos de acumulação nas grandes cidades. Esse foi um ponto fundamental à estratégia chinesa de eliminar a pobreza e garantir trabalho digno para mais de 130 milhões de camponeses que migraram do campo para a cidade. No Brasil e na Índia, a título de exemplo, esse movimento ocorreu de forma não planificada incorrendo em desequilíbrios e tensões sociais de grande monta.

A ciência explicativa para este grande feito que a China entregou à humanidade tem como base as categorias e conceitos relacionados à planificação econômica, tendo como base a política e objetivos estratégicos claros. De fato, a eliminação da pobreza extrema na China é o maior feito da história da humanidade. Uma vitória do socialismo que tem a ciência seu principal instrumento de governo.

Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ).

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Elias Jabbour

Elias Jabbour é professor Associado dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) e em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Autor, com Alberto Gabriele, de "China: o socialismo do século XXI" (Boitempo, 2021). Vencedor do Special Book Award of China 2022.

1 Comentário

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  1. Há outro detalhe que poucos conhecem, na liderança do órgão central do PCCh há sempre uma preponderância de ENGENHEIROS das mais diversas formações de inúmeras escolas de engenharia civis e militares. Chegou uma época que era 100%. Atualmente há economistas, historiadores e outras profissões. Mas o que se nota é que não fazem parte de famílias com nível universitário, diversos são de famílias camponesas, operárias. O próprio Xi Jinping é engenheiro químico tendo a sua formação na Universidade de Tsinghua como “estudante trabalhador-camponês-soldado”.
    Mas essa preocupação com a formação das lideranças vem de séculos, pois os funcionários da máquina estatal no tempo da China Imperial tinham que passar por rigorosos exames tipo vestibular que era baseado em preceitos “religiosos”. O que o PCCh simplesmente modificou as exigências curriculares.
    Também para chegar aos níveis máximos os administradores tem que passar por níveis inferiores da administração pública para provar a sua capacidade.

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