Luta por direitos no Chile começa em 2020 com as mulheres

De Santiago, Chile

Jornal GGN – O 8 de março no mundo inteiro foi dia das mulheres fazerem lembrar seu papel na sociedade, gritar por direitos equitativos e denunciar abusos, violações e o feminicídio que mata uma mulher a cada 6 horas no planeta, segundo dados das Nações Unidas. Mas no Chile, foi dado a elas também a missão de inaugurar o ano de paralisação social, uma nova jornada que, desde este mês, promete repetir o impacto de outubro passado pela insatisfação popular contra o atual modelo econômico.

As estimativas da Coordenadoria 8M deram conta de um total de 2 milhões de mulheres presentes na histórica marcha deste domingo, em Santiago. Do outro lado, a polícia chilena, os Carabineros, diminuiu em 125 mil pessoas, cifras oficiais, que conforme o GGN pode averiguar, são muito distantes do presenciado nas ruas centrais da capital.

A concentração começou a ter movimento na antiga Plaza Itália, hoje conhecida como Plaza Dignidad, espaço que recebeu as centenas de manifestações desde 18 de outubro de 2019 até o fim do ano, na que ficou conhecido como a maior crise sócio-política do país latino-americano, desde a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

Antes das 12h, horário divulgado para iniciar, centenas de mulheres de todas as idades já formavam seus grupos, encontravam-se com conhecidas e se preparavam para marchar em direção ao Palácio da Moneda. Diferente dos atos registrados no final do ano passado, a estratégia da polícia chilena desta vez era não atuar com repressão, pelo impacto da multitudinária representação feminina aos olhos da imprensa nacional e internacional.

Cantos como “Ni una a menos” (nenhuma a menos), “la culpa no era mía, ni donde estaba, ni como vestia” (a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia), “Chile despertó” (o Chile acordou), “Que muera Piñera, y no mi compañera” (que morra o presidente Piñera, e não a minha companheira) clamavam pelas lutas das mulheres, ao mesmo tempo que exigiam mudanças na política do país.

Os cartazes também davam o tom, muitos deles com a chamada “Sí, apruebo”, uma referência ao voto positivo no plebiscito que decidirá, em abril, se o Chile aprova ou não uma nova Constituição. Danças e gestos com as mãos tapando os olhos lembravam, a cada instante, de todas as mulheres que perderam a visão ou foram violadas pelas forças de Segurança do país durante as manifestações do último ano.

Foto: Patricia Faermann
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Foto: Patricia Faermann
Foto: Patricia Faermann
Foto: Patricia Faermann
Foto: Patricia Faermann

O calor de mais de 32°C, atípico para este período do ano, não impediu as 5 horas de caminhada de milhões de mulheres e alguns homens que decidiram ir em gesto de apoio, conscientes de que eram acompanhantes, mantendo o protagonismo nelas. Das janelas, mulheres e homens ajudavam a melhorar a sensação térmica da rua, jogando baldes e mangueiras de água, e recebendo em troca o agradecimento debaixo.

Neste 8 de março, a praça Dignidade foi palco para elas, uma vez mais na história, serem as precursoras da luta, que neste 2020 decidirá os rumos constitucionais e econômico-político no país latino-americano. Para a data de hoje, foi aprovada a Greve Geral das Mulheres e são esperadas mais manifestações.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  • A população do Chile é de cerca de 18 milhões de pessoas. Metade é de mulheres e pouco mais de 5 milhões delas está entre os 14 e os 55 anos. Segundo os organizadores, 40% desse público se reuniu numa única cidade e num único dia para participar da manifestação.

    É mais fácil acreditar nos 125 mil dos carabineiros.

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