Professores se tornam voluntários para ajudar estrangeiros

 
professor Helion CovaPollyanna Brêtas
 
Jornal GGN – Professores universitários brasileiros se voluntariam para ajudar estrangeiros haitianos a aprender o português. O educador Helion Póvoa Neto, da UFRJ, ensina lições básicas desde como produzir um currículo, até como se deslocarem pela cidade. As aulas são financiadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), através da organização  Cáritas/RJ. 
 
Segundo a coordenadora do programa de refugiados da entidade, existe uma dificuldade maior de ensinar as mulheres exiladas a aprenderem o português, porque a maioria delas vive mais como dona de casa, cuidando das crianças.
 
Jornal Extra

Sugerido por Cláudio José 

Mesmo diante das greves e da crise nas universidades, professores dedicam suas horas vagas a ajudar os estrangeiros

Ele é um professor voluntário que ensina português a refugiados cujo idioma é o francês. Mas seu método de ensino troca a gramática, a interpretação de texto e a leitura por aulas que tratam de mobilidade urbana, mercado de trabalho e serviços. A rotina do educador Helion Póvoa Neto — que enfrenta muitos desafios para ensinar — não é fácil. Mas ele é um dos brasileiros que, mesmo em tempos de crise, se dispõem a ajudar asilados a reconstruirem suas vidas no Brasil, trabalhando de graça, como mostra a série de reportagens publicada pelo EXTRA desde ontem.

Em sala de aula, Neto explica aos refugiados como se deslocar pela cidade, produzir um currículo e até se comportar numa entrevista de emprego:

— Sou professor da UFRJ, mas na Uerj, onde as aulas acontecem, sou só um voluntário que duas vezes por semana dedica três horas a ensinar Língua Portuguesa. Muitos são analfabetos ou nunca apreenderam sequer o francês. Só sabem falar lingala, o dialeto mais comum na África.

Um de seus alunos é o fotógrafo congolês James Mayele Atel, de 44 anos, no Rio há dois meses. Ele se perdeu da mulher e dos cinco filhos durante a fuga de um vilarejo atacado por rebeldes no leste de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. E recebeu ajuda de um missionário para chegar ao Brasil, onde pediu refúgio. Após desembarcar com US$ 30, ele vagou pela cidade, pegou um ônibus para Bonsucesso, entrou num trem e desceu na estação de Gramacho, em Duque de Caxias. Lá, pediu ajuda a um desconhecido na rua, de quem nem lembra o nome, mas que lhe deu abrigo por uma noite, antes de levá-lo à Cáritas/RJ, entidade que presta ajuda humanitária.

— Até as roupas que uso são fruto da ajuda de brasileiros. Preciso de um trabalho para reconstruir minha vida — diz.

Multa trabalhista financia o projeto com R$ 300 mil

O curso de Língua Portuguesa para refugiados é promovido pela Cáritas/RJ e vem sendo financiado por recursos de multas trabalhistas aplicadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) a empresas que infringem a legislação. São cerca de 80 alunos em cinco turmas de francês, inglês e espanhol. Eles recebem o dinheiro da passagem e um lanche para frequentar as aulas. Muitos chegam em jejum. O material didático, o dicionário, a mochila e o caderno são dados.

Para viabilizar o projeto, foram destinados R$ 300 mil, dinheiro oriundo da execução de uma multa aplicada a uma empresa de home care, por descumprimento de normas trabalhistas. O curso é ministrado sempre às terças e quintas-feiras, em salas cedidas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

— Os recursos estão sendo aplicados em benefício dos refugiados, pois, ao aprenderem nosso idioma, eles têm mais chances de ingressar no mercado de trabalho — explica o procurador do Trabalho Cássio Luís Casagrande.

Para a coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas/RJ, Aline Thuller, um dos maiores desafios é convencer mulheres asiladas a aprenderem o português:

— Elas ficam mais em casa, cuidando das crianças. A maioria dos alunos é composta por homens, mas, recentemente, tem aumentado o número de mulheres, principalmente aquelas vindas do Congo, onde a violência sexual é usada como arma de guerra.

Ajuda voluntária que virou trabalho

A estudante Ariadne Bittencourt, de 25 anos, transformou seu voluntariado em profissão. Depois de três anos auxiliando gratuitamente refugiados que chegavam ao Rio, ela se tornou uma recrutadora de voluntários.

— Para ajudar o próximo é preciso coragem e uma oportunidade de acolhimento de pessoas que estão desamparadas. Hoje, eu ganho dinheiro, mas me doo também — afirma Ariadne.

A maioria dos brasileiros que atuam como voluntários ajudando refugiados é composta de mulheres de 20 a 50 anos. São pessoas com curso superior e emprego fixo. Trinta e seis voluntários já passaram pela Cáritas/RJ esse ano. A maior parte dedica oito horas por semana à atividade.

 

 

Redação

3 Comentários

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  1. Helenice

    Que bom ver uma reportagem falando de gente ajudando gente, de atitudes dignas solidárias. Em meio ao turbilhão de iniquidades que vemos/ouvimos todos os dias, isso funciona como um bálsamo para a alma.

  2. Sou professor universitário

    Sou professor universitário aposentado. Falo inglês e francês e moro em Fortaleza. Alguém sabe como eu poderia participar desses grupos de ajuda a imigrantes?

  3. Quero lecionar Sou pós graduanda da PUC-RJ no Cursoformaçãode

    Quero lecionar Sou pós graduanda da PUC-RJ no Curso de formação de Professores para estrangeiros. curso o segundo semestre de 4 semestres. Possui

    graduação em Comunicação socila/Jornalismo,

    pós-graduação Medicina, especialização em Geriatria/Gerontologia, na UERJ;

    pós graduação em Terapia Junguiana (UVA)

    Dip´loma  em lìngua alemã; Universidade de Munique Ludwig-Maximilians.

     

     

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