É necessário defender e assistir o cinema brasileiro: alguns lançamentos
por Roberto Bitencourt da Silva
O badalado filme dirigido por Wagner Moura, “Marighella”, é ótimo, muito bem feito. Vale muito a pena assistir a essa cinebiografia, cuja narrativa restringe-se a um curto intervalo de tempo da trajetória de um notório líder das esquerdas do nosso país.
O filme enfatiza algumas experiências desse grande nacionalista, comunista e revolucionário brasileiro, que foi Carlos Mariguella. Um aguerrido ativista político que abdicou do conforto da vida pessoal para lutar pelos interesses nacionais e populares.
Na esteira do espírito de um personagem tão grandioso, tomo a liberdade de sugerir ao leitor que sejamos também revolucionários e ciosos com os rumos do Brasil. A respeito, um pequeno e modesto passo, mas importante, é privilegiar o cinema nacional, para que tenhamos capacidade de nos enxergarmos, nos vermos, percebermos a grandeza, as diversidades, nossas histórias, virtudes e os desafios e mazelas do Brasil.
Como defendiam os antigos cinemanovistas, um povo que não se vê nos cinemas, que não se enxerga na produção audiovisual, vai tender a estranhamente se perceber na imagem do outro, do colonizador. Uma imagem completamente distorcida, miseravelmente incompatível com as características e necessidades da nação.
Isso dito, não deixem de assistir a alguns recentes lançamentos feitos nas salas de cinema e nas plataformas digitais de streaming, tais como: “Acqua movie” e “7 Prisioneiros”. O primeiro é um belo filme de Lírio Ferreira, que conta com Alessandra Negrini como protagonista, uma película que é continuação de “Árido movie”. Trata-se de um filme potente, sobre um Brasil profundo, econômica, social e geograficamente desigual e perverso.
Igualmente recém-lançado nas plataformas televisivas e informáticas, “7 prisioneiros”, que conta com o ator Rodrigo Santoro, é uma produção que merece a mais absoluta atenção do espectador brasileiro. Em boa hora, em um contexto nacional marcado por formas cada vez mais acentuadas de exploração e precarização do trabalho, respaldadas por draconianas contrarreformas trabalhistas, a obra dirigida por Alexandre Moratto aborda a terrível experiência da escravidão por dívida no Brasil, no contexto da cosmopolita da cidade de São Paulo.
Do ponto de vista memorialístico, é importante assistir ao lançamento do curta-metragem de Emílio Domingos, intitulado “Moacyr Barbosa”, que descreve aspectos das vivências de uma das maiores vítimas do racismo no esporte do Brasil, um verdadeiro ícone do nosso futebol: Barbosa, grande goleiro da seleção brasileira. Celebrizado como craque do Vasco da Gama, Barbosa disputou e alcançou o vice-campeonato da Copa do Mundo de 1950. O filme de Domingos foi lançado no último sábado no festival CINEFOOT e está gratuitamente disponível na plataforma Inssaei.tv até as 19 h dessa segunda-feira (dia 6/12).
Também à disposição igual e gratuitamente provisória do público, encontra-se o filme da diretora Ana Maria Magalhães, que será exibido no festival de Brasília no próximo dia 7/12. O filme de Ana, “Já que Ninguém me Tira pra Dançar”, é um documentário sobre Leila Diniz, nos seus 50 anos de desaparecimento. Uma homenagem à grande atriz brasileira que é uma das maiores referências no tocante à realização de gestos, à promoção de ideias e ações a favor da ampliação das liberdades femininas.
Os dois referidos últimos filmes estão sendo ou serão lançados em festivais de cinema e momentaneamente disponíveis online na plataforma da Internet Inssaei.tv (https://play.innsaei.tv/). Aproveitem, degustem!
Roberto Bitencourt da Silva – cientista político e historiador.
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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