O cenário da economia depende do Covid de Bolsonaro, por Luis Nassif

Os cenários sobre o prazo de normalização da economia estão sendo atropelados pelo desenrolar da pandemia.

Há dois problemas centrais no Brasil.

O primeiro, a curva de crescimento das notificações, elevada mesmo com a óbvia subnotificação existente. O segundo, os índices de mortalidade, muito mais elevadas do que em outros países. Isso devido à carência de UTIs e respiradores.

A subnotificação ocorre no registro das mortes. Há uma elevação anormal nas notoificações de óbito por problemas respiratórios. Como não há nenhuma pandemia adicional, além do Covid-19, é evidente que parte relevante dos óbitos estão sendo subtraidos

Aqui, tem-se os dados organizados das informações divulgadas ontem à noite pelo Ministério da Saúde.

Há um crescimento de 4,5% ao dia na média diária semanal de novos casos, e de 3,7% ao dia na média diária semanal de novos óbitos.

Os dados internacionais, organizados pelo Centro Europeus de Prevenção e Controle de Doenças (e trabalhados pelo GGN) mostram um crescimento destacado do número de novos casos nos Estados Unidos e no Brasil, tanto nas curvas de curto prazo (média de 7 dias), quanto de longo prazo (média de 30 dias).

No caso do Brasil, há um pequeno acomodamento no crescimento da curva.

No entanto, a proporção de mortos por contaminados, no Brasil, é bem alto – e seria mais alto ainda se houvesse mais rigor no diagnóstico das mortes. Pela curva se percebe uma alta incidência de óbitos, quando a pandemia pegou as redes de saúde desarmadas. Depois, houve uma queda mais substancial nos Estados Unidos que no Brasil.

O percentual é calculado em relação às notificações totais. Levando em conta que 15% dessas notificações levam as pessoas a hospitais e 20% desse total leva às UTIs, percebe-se o tamanho da letalidade.

O fator Bolsonaro

Nesse quadro, o anúncio de que Jair Bolsonaro contraiu Covid-19 cria mais fatores de incerteza.

Trata-se de um presidente tão irracional, que todas as análises concentram-se nas reações psicológicas deles a dois desdobramentos da doença: se forem sintomas leves, a previsão de comportamento é um; se for grave, o comportamento será outro.

No caso de sintomas leves, Bolsonaro redobrará a aposta na campanha contra o isolamento e nas fantasias em torno da hdrocloroquina. Piorando a situação, é possível que caia a ficha e recolha as armas contra a ciência.

Dá-lhe, Covid!, no fundo, é a esperança de um mínimo de coerência à política de saúde, nas mãos de um general sem o menor conhecimento da matéria.

De qualquer modo, haverá uma pausa na ofensiva contra Bolsonaro. Nos próximos dias, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, analisará o pedido da defesa de Flávio Bolsonaro, de ter foro privilegiado e suspender as investigações do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. Pelo seu histórico, a tendência será Noronha conceder a liminar. O que interromperia as investigações até o fim do recesso do Judiciário.

Passado o recesso, o Supremo Tribunal Federal, o STJ e Tribunal Superior Eleitoral darão sequência às investigações. Enquanto isto, a pandemia continua prosperando e ciência. tecnologia. educação, meio ambiente continuarão sendo destruídos.

 

 

 

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Minha habilidade de pitonisa permite ver um outro cenário: Bolsonaro não contraiu covid 19, desviou a atenção do depoimento do filho das rachadinhas, fez propaganda da cloroquina estocada, mandou todo mundo trabalhar porque o vírus não causa mal maior e ele continua trabalhando e o Judiciário brasileiro e todos os poderes constituídos fingem acreditar.
    Corroborando a manipulação vem a informação que o embaixador americano, que almoçou com ele em comemoração a independência americana, não contraiu o covid. Então os americanos estão provando que o vírus não é altamente contagioso.
    Hoje o presidente eleito pela imprensa, pelo Judiciário e pela maioria do povo brasileiro em atendimento da plutocracia vetou atendimento aos indígenas brasileiros. Aos velhos que atrapalham a previdência já tinha sido recomendado o holocausto. 66 mil mortes e por ora o que importa é passar a boiada.
    Black Mirror na veia. Só que em Black Mirror sempre tem um castigo final e aqui não terá porque esse país é uma tragédia.

    • É. Achei seu comentário melhor que o próprio artigo. Quanto ao final, uma observação: um dia a casa cai: se eu acho o Brasil quântico, ainda mais a natureza!

      • Há aquí um pequeno engano
        Via de regra (êpa!), no GGN os artigos publicados suscitam
        duvidas, questionamentos, enfim cumprem o papel de trazer
        temas a discussão. Tese de doutorado é outra coisa.

  • Acho que o Nassif deveria ter analisado a hipótese do presidente não ter contraído a doença.

    Acho que esta hipótese tá meio que óbvia.

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