Crise hídrica e Estado de exceção

Jornal GGN – O Comando Militar do Sudeste (CMSE) está preocupado com a crise hídrica de São Paulo. No final do mês passado, o Exército promoveu um debate sobre o tema, tratando-o como assunto de segurança nacional. Durante mais de três horas, oficiais, soldados, professores universitários e simpatizantes dos militares discutiram a questão.

Mas por que as Forças Armadas estariam preocupadas com uma questão tão distante de sua responsabilidade? A não ser que não esteja tão distante assim. Parece ser o caso. O diretor da Sabesp, Paulo Massato disse que, se as obras emergenciais que estão sendo feitas pela companhia não derem resultado, e se chover pouco, São Paulo ficará sem água a partir de julho deste ano. Será um cenário de caos, digno de intervenção militar.

Do Opera Mundi

Possibilidade de caos social por falta de água em SP mobiliza comando do Exército

Por Lúcia Rodrigues

‘Painel sobre defesa’ organizado pelo Comando Militar do Sudeste tratou possibilidade de capital paulista ficar sem água a partir de julho deste ano como assunto de segurança nacional

Por que o Comando Militar do Sudeste (CMSE) está interessado na crise da falta de água em São Paulo?

A resposta veio na tarde da última terça-feira, 28 de abril, durante o painel organizado pelo Exército, que ocorreu dentro de seu quartel-general no Ibirapuera, zona sul da capital paulista.

Durante mais de três horas de debate, destinado a oficiais, soldados e alguns professores universitários e simpatizantes dos militares que lotaram o auditório da sede do comando em São Paulo, foi se delineando o real motivo do alto generalato brasileiro estar preocupado com um assunto que aparentemente está fora dos padrões de atuação militar.

A senha foi dada pelo diretor da Sabesp, Paulo Massato, que ao lado de Anicia Pio, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), e do professor de engenharia da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, traçaram um panorama sobre como a crise hídrica está impactando o Estado paulista.

Massato foi claro. Se as obras emergenciais que estão sendo feitas pela companhia não derem resultado e se chover pouco, São Paulo ficará sem água a partir de julho deste ano. O cenário descrito pelo dirigente da Sabesp é catastrófico e digno de roteiro de filme de terror.

“Vai ser o terror. Não vai ter alimentação, não vai ter energia elétrica… Será um cenário de fim de mundo. São milhares de pessoas e o caos social pode se deflagrar. Não será só um problema de desabastecimento de água. Vai ser bem mais sério do que isso…”, enfatiza durante sua intervenção, para na sequência lançar uma súplica de esperança: “Mas espero que isso não aconteça”.

Ele destaca que na região metropolitana de São Paulo vivem 20 milhões de pessoas, quando o ideal seriam quatro milhões.

Blindagem

Nenhuma crítica, no entanto, foi dirigida ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) pelos presentes durante todo o evento. Apenas uma pessoa se manifestou durante a fala de Massato, afirmando que faltou planejamento estatal. Mas foi interrompido por uma espécie de mestre de cerimônias do comando militar  que ciceroneava o evento, pedindo que ele deixasse a questão para as perguntas a serem dirigidas aos debatedores. A pergunta não voltou a ser apresentada.

Mas o resultado pela falta de investimento e planejamento do governo paulista já provoca calafrios na cervical do establishment do Estado. As cenas de Itu podem se reproduzir em escala exponencial na região metropolitana de São Paulo. E é contra isso que o Exército quer se precaver.

O dirigente da Sabesp citou um caso que ocorreu na região do Butantã, zona oeste da capital. De acordo com ele, houve uma reação violenta porque a água não chegou em pontos mais altos do bairro. “Não chegou na casa do ‘chefe’, e aí ele mandou incendiar três ônibus. Aqui o pessoal é mais organizado…”

Em sua intervenção, a dirigente da Fiesp, Anícia Pio, frisa que muito se tem falado sobre a crise de abastecimento da população, mas que não se pode desconsiderar o impacto sobre a indústria paulista. “A crise só não foi maior, porque a crise econômica chegou (para desacelerar a produção).”

De acordo com ela, o emprego de milhares de pessoas que trabalham no setor está em risco se houver o agravamento da crise hídrica.

Se depender das projeções apresentadas pelo professor Zuffo, da Unicamp, a situação vai se complicar.  Segundo ele, o ciclo de escassez de água pode durar 20, 30 anos.

A empresária destaca ainda que não se produz água em fábricas e que, por isso, é preciso investir no reuso e em novas tecnologias de sustentabilidade. E critica o excesso de leis para o setor, que de acordo com ela é superior a mil.

O comandante militar do Sudeste, general João Camilo Pires de Campos, anfitrião do evento, se sensibilizou com as criticas da representante da Fiesp e prometeu conversar pessoalmente com o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB),  sobre o excesso de legislação que atrapalha o empresariado.

Ele também enfatiza que é preciso conscientizar a população sobre a falta de água e lamenta a grande concentração populacional na região. “Era preciso quatro milhões e temos 20 milhões…”, afirma se referindo aos números apresentados por Massato.

O general Campos destaca a importância da realização de obras, mas adverte que “não se faz engenharia para amanhã”. E cita para a plateia uma expressão do ex-presidente, e também general do Exército, Ernesto Geisel, para definir o que precisa ser feito. “O presidente Geisel dizia que na época de vacas magras é preciso amarrar o bezerro.”

“Não há solução fácil, o problema é sério”, conclui o comandante.

Sério e, por isso, tratado como assunto de segurança nacional pelo Exército. O crachá distribuído aos presentes pelo Comando Militar do Sudeste trazia a inscrição: Painel sobre defesa.

Redação

18 Comentários

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  1. “Será um cenário de caos,

    “Será um cenário de caos, digno de intervenção militar.”

    Ué? Mas não era isso que estavam pedindo?

    1. A Culpa é dos NORDESTINOS…

      Agora entendi o que tanto eles pedem… intervenção militar para resolver o problema da falta de água em São Paulo.

      Sim? E os militares vão fazer o que? Tomar o governo estadual?

      Fazer pressão para Alckmin aprenda a trabalhar?

      Essa discussão é totalmente infrutífera.

      Querem resolver um problema sem analise profunda?

      Onde está a causa? Como mitigá-la? Ou resolvê-la definitivamente?

      Os militares estão cientes que a falta de água no NORDESTE está quase resolvida nos 12 anos de PT?

      Fiquei realmente curioso. Qual a solução?

      Não li essa parte na reportagem…

      Vão culpar os NORDESTINOS… são sempre eles o culpados pelos erros dos jênios paulistas…

      Essa turma é extremamente conservadora, e eles não gostam da esquerda, dos comunistas dos comedores de crianças.

      Ou deixam as ideologias de lado ou vão continuar errando.

      Os milicos são muito bons na teoria, na pratica é diferente.

      Afinal devolveram o Brasil quebrado, totalmente endividado.

      De novo essa história???

      1. Intervenção só pode ser

        Intervenção só pode ser decretada pelo Governo federal que pode nomear quem quiser como interventor, até um militar.

        Enquanto durar a intervenção, há sérias consequências para a normalidade política, como por exemplo a impossibilidade de modificação da constituição(PECs) durante o período de intervenção.

         

        Não haverá intervenção! Porque o Governo Federal é do PT que, de acordo com o dicionário aurélio, é sinônimo de fraco.

        1. Athos, vc fala como se nossa

          Athos, vc fala como se nossa democracia fosse sólida, vc fala como se o congresso e o próprio judiciário seguisse a risca constituição.

          Lembre-se do Batiman… a Constituição é o que Joaquim quer que seja!

          Então meu caro… 

    1. Como vai faltar água bem

      Como vai faltar água bem primeiro em São Paulo, grande parte do Estado vai entrar em colapso, diminuindo muito o consumo de energia. Simples.

  2. Crise hídrica e o estado de excessão

    Não cabe estado de excessão em momento algum. Cabe sim a responsabilização pelos desvarios cometidos pela SABESP e pelo GOVERNO DO ESTADO.

     

    Estado de excessão JAMAIS.

  3. Crise hídrica e o estado de excessão

    Não cabe estado de excessão em momento algum. Cabe sim a responsabilização pelos desvarios cometidos pela SABESP e pelo GOVERNO DO ESTADO.

     

    Estado de excessão JAMAIS.

  4. Comentário simplista.
    Se

    Comentário simplista.

    Se fosse um governo (estado) petista, a intenvernção já teria acontecido há anos.

  5. Presentão

    Um presentão para os coxinhas: “intervenção militar constitucional”.

    No mais, apenas um evento onde se discute atacar os efeitos, e não a causa.

    Na causa não se pode nem falar …

  6. A culpa é da população que

    A culpa é da população que decidiu se aglutinar na cidade de São Paulo. Bando de irresponsáveis!

    Não sei não, mas essa história dos militares se imiscuindo em assunto estadual não cheira bem. E se essa crise atingir MG, RJ, PR, BA…, será o salvo-conduto para tomarem as rédeas da nação por um “breve” período, da mesma forma que foi em 64?
    E por que os militares também blindam o PSDB, logo ele que quando esteve no poder entregou o Brasil e esteve a rastejar aos pés dos americanos?

    Mais uma vez, como há muito tem sido, a imprensa nacional agindo contra o país e o povo. Uma crise catastrófica batendo à porta e agem como se fosse um probleminha, pois o problemão é a corrupção na Petrobras.

  7. Dizer que a culpa é do número

    Dizer que a culpa é do número de habitantes não faz o menor sentido. A SABESP ganha dinheiro com o consumo de água, tanto que armazenou mais do que podia com as chuvas torrenciais de 2010/2011. A fartura de água era tão certa, que o capital aberto foi um sucesso. Só não foi direcionado para manutenção do negócio. Nessa hora que se questiona o capitalimo, pela falta de bom senso dos gestores. Se abrir capital é uma forma de angariar recursos, se o negócio é sólido e da retorno, justamente porque há um número enorme de consumidores, então por que não ter a visão de fazer a gestão correta e com visão de longo prazo?

    A própria SABESP disse que o uso do volume morto podia ser evitado. A limpeza de alguns rios e interligação entre eles com antecipação poderia ter evitado essa situação. Até mesmo , o estudo de viabilidade de longo prazo traria gana aos investidores, de entender a escassez da chuva, antes que ela prevalecesse. Fora os vazamentos, que provavelmente continuam acontecendo. 

    Não importa o sistesma de gestão (estadista ou mercadista), se não há visão, não há saída, apenas remendo e reza.

  8. É dura a vida dos coxinhas no

    É dura a vida dos coxinhas no Tucanistão. Sem água, sem luz, sem professores, sem salas de aula, sem metrô. Vão bater panelas pedindo Fora Alkimin? Acho difícil. Vão correndo comprar a veja para ler que a culpa é da Dilma. E, pasmem; vão acreditar.

  9. os coxinhas paulistas vão adorar

    se houver uma intervenção militar no tucanistão, os coxinhas paulistas vão ter orgasmos múltiplos.

  10. Olha o que ja vi de caminhão do exercito

    moro no último andar, da janela do meu apartemento tenho visão da marginal, do lado de trás do prédio a saida pra dutra/ayrto sena, da janela da sala a vista da marginal inclusive a saída para o RJ.

     

    Sempre dirito o carro na mesma hora pela marginal, isso a uns 7 anos, entre 22:50 e 23:30 já identifiquei diversas vezes caminhão do exercito de carga pesada, ontem um parou as 4 pistas da marginal e so uma passando, homens armados e aquele show. chegando em casa barulho de helicoptero, vou a janela e não é um helicoptero comercial, um que aparentemente parece do exercito, pelas cores, tamanho, design e barulho…

     

    entrei no site do 2 comando e estava lá uma atividade em parceria com a segurança pública de SP entre 6 e 8 de abril, ocorrer que esses fatos aconteceram bem depois disso.

    Pode não ser nada, pode ser transporte de carga ou armamento de rotina, mas em um país que já sofreu um golpe com um governador que so sabe falar que não tem falta de agua, que esta´tudo bem, que todos estão bem, sobra especulação sobre qualquer coisa.

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