Deputada eleita teve placa em favor de Lula censurada pelo cerimonial do TRE de Minas

Jornal GGN – A deputada estadual eleita Beatriz Cerqueira (PT) relatou nas redes sociais um episódio de censura que protagonizou em sua diplomação, no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, na quarta (19). Segundo ela, após reclamação de parlamentares anti-PT e vaias de convidados presentes, uma funcionária (não identificada na postagem) do cerimonial retirou a placa “Lula Livre” de suas mãos. 

Cerqueira também relatou momentos de hostilidade contra outros parlamentares de esquerda, inclusive contra a deputada Aurea Carolina, que prestou homenagem à ex-vereadora Marielle Franco, defensora dos direitos humanos assassinada no início do ano, no Rio de Janeiro.

Por Beatriz Cerqueira

Eu acompanhei com respeito e educação a diplomação do Governador eleito Romeu Zema. Ouvi seu pronunciamento sem manifestar qualquer deselegância ou agressão. Ele foi eleito. Mesmo que eu não concorde com suas ideias, não teria o direito de lhe arrancar o discurso das mãos.

Também assisti com o mesmo respeito e educação a diplomação dos senadores eleitos que representarão Minas Gerais. E assim me comportei com todos os deputados estaduais e federais. Vi gente batendo continência num ambiente que não caberia tal gesto. E nem por isso saí gritando para que não o fizesse.

Quando a deputada federal eleita Aurea Carolina foi anunciada para ser diplomada, parte do público presente agiu com extrema hostilidade. Isso não incomodou o cerimonial do TRE. A hostilidade a uma mulher, negra, que tem uma forma de fazer política que cada vez aglutina mais pessoas não foi um problema para a Cerimonial. A mulher com maior votação para a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte! Uma mulher com a representatividade de mais de 160 mil votos! Ela ter sido ostensivamente hostilizada pareceu normal à maioria dos que estavam na Cerimônia. Ela fez uma bela homenagem a Marielle Franco. As pessoas que a vaiavam estavam aplaudindo o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro?

Após manifestações de parte do público presente para eu escondesse a placa que levava junto a bolsa onde estava escrito ‘Lula Livre’, a moça do Cerimonial (não sei o seu nome), pela segunda vez, me solicitou que retirasse a placa. Respondi que não faria. Ela me disse que meu comportamento estava tumultuando a cerimônia. Discordei. Eu estava apenas com a placa. Não tinha feito, até aquele momento, nenhum gesto com ela além de carregá-la comigo. Era a hostilidade de parte do público que estava atrapalhando, incapaz de conviver com pensamentos divergente do seu. Após ouvir a opinião do deputado estadual que estava ao meu lado e que era favorável que a placa fosse retirada, ela arrancou a placa da minha mão e saiu. Seu comportamento foi aplaudido por parte do público.

Li todas as orientações e recomendações para a cerimônia da diplomação. Eu fui pessoalmente ao Cerimonial do TRE buscar isso. Em nenhum lugar estava escrito que eu deveria esconder a minha identidade partidária, ideológica e de pensamento.

A exceção de estado fica nítida quando uma mestre de cerimônia toma partido, concorda com a opinião de convidados que gritavam na plateia e de outro deputado que estava sendo diplomado e se sente no direito de arrancar das mãos de uma deputada eleita que estava sendo diplomada a sua identidade partidária.
Eu ouvi, sem agredir ninguém, inúmeros insultos, piadas, ironias durante o período da cerimônia. Isso também parece não ter incomodado o cerimonial. Os gestos simulando metralhadora também não significaram uma problema para o Cerimonial.

A tentativa de arrancar das mãos do deputado federal eleito Rogerio Correia a outra placa também não foi um problema.

Espero que, nesta quinta-feira, o Cerimonial do Tribunal Regional Eleitoral me devolva a placa que ilegitimamente foi arrancada das minhas mãos. É um objeto que não lhe pertence e não tem o direito de ficar com ele. Fica apenas com a responsabilidade do que fez hoje e com silêncio e omissão que teve diante da hostilidade que pessoas com pensamento diferente vivenciaram.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • O esgoto fascista corre a céu

    O esgoto fascista corre a céu aberto e ainda estamos a 12 dias da posse do capitão. Os generais já deram sinal verde, a manada fascista foi liberada.

  • Grande defeito dos petistas, a sujeição a humilhação.

    Se fosse uma deputada dos bolsonaros, tinha descido o pau na mulher do cerimonial.

    Mas a petista aceitou a ousadia da mulher de retirar-lhe a placa.

    Isso acontece nos restaurantes, muitos petistas aceitam, se sujeitam a humilhação.

    Sujeito levantou, começou falar qualquer coisa em direção a ti. Levanta e enfia-lhe a mão na fuça sem dó.

    Essa gente não tem o direito de humilhar ninguém, isso acontece por conta de que se deixa.

  • Os dias são assim

    Quadro do pintor mexicano Siquieros "Nascimento do Facismo". Uma embarcação no mar agitado e a mãe do fascismo pari as três cabeças do monstro: Hilter, Mussolini e Hearst (o magnata das comunicações retratado por Orson Welles em Cidadão Kane). O quadro tem mais elementos que explicam o "nascimento do fascismo", como o livro que retrata a religião e a moral burguesa. 

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