Expurgar e explodir para transformar, por Mariana Nassif

Expurgar: fazer expurgo, limpar. Vômitos, alergia, choro, palpitações, palavras. Esta semana, a última antes do recolhimento para a iniciação no candomblé, tomou esta forma. Longe de estar satisfeita com a limpeza, ando atenta ao que, em mim, necessita ser modificado. Não se trata apenas de confiar que as coisas vão sumir de acordo com os movimentos físicos do corpo, do mundo, mas de me comprometer com identificações psíquicas e de funcionamento pessoal.

São 21 dias extremamente atípicos, os que vem por aí. Mais ainda para uma personalidade extrovertida, mas especialmente importantes para que, dentre outras coisas, possa observar aquilo que pede mais maturidade. Iansã é um orixá quente, do fogo e, então, fica simples compreender que os impulsos esquentados, estes que tanto atravancam meus caminhos, pedem atenção.

Andei vivendo num modo meio falso, oprimindo sensações em nome de um bem-estar que, verdadeiramente, não chegava. Insatisfeita por dentro com situações que me são de extrema valia, a bomba se formava. Explodir, a essa altura do campeonato, não estava nos planos mas, começo a entender, a natureza não toma bem este tipo de desafio.

Sentir na pele o chamado para me observar ao invés de encontrar culpados externos vem sendo exercício constante nessa reta final. Um dos pontos principais que, acho eu, preciso urgentemente aprender é um tal de categorizar relações, de forma a não ceder espaço maior do que tal troca pede – isso porque quando o meio de campo embola, saio sempre perdendo, especialmente por causa do impulso e de uma espécie de revolta por ter entregue o coração sem bem verificar merecimento. Tantas questões íntimas e profundas envolvidas em relações superficiais e não encontro outro sentimento a não ser olhos de oportunidade misturados com um pouco de arrependimento. Optar entre um e outro? Não sei se é assim que funciona mas, de qualquer forma, sigo tentando alterar em mim o que incomoda na relação com o outro, cada vez mais verdadeiramente. Se vai funcionar ou não é uma questão de treino, mas uma vez identificado o equívoco, existe a promoção e o desejo de mudar.

É bastante provável que me confronte com estas sensações tempestivas lá dentro, e compreendo que caso escolha pela transformação, a oportunidade de acertar os ponteiros comigo mesma e, então, por consequência, com meus arredores, será mais assertiva e potente por conta das energias da iniciação. Enquanto isso, sigo pedindo desculpas pelos transtornos por aqui, coração apertado e pedindo mudanças. A tempestade me cai bem, mas machucar quem anda comigo é carta fora do meu baralho. Iansã, que é búfalo e também borboleta, tem muito a me ensinar – e eu, encantada que estou com este momento, me disponibilizo para aprender.

 

Mariana A. Nassif

4 Comentários

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  1. No espaço, por falta de

    No espaço, por falta de atmosfera, as coisas não explodem. Explosões espaciais só ocorrem nos filmes. Entretanto, as ficções cinematográficas as vezes se tornam mais ou menos reais, pois alteram nossa percepção de um outro espaço. Aquele que existe dentro de nós mesmos. A transformação pode ser vista como uma explosão, mas a imagem dela nesse caso não corresponde a sua essência. No espaço sideral e no espaço extra-sensorial que criamos dentro de nós mesmos somente as implosões são verdadeiras. A borboleta aparece porque a lagarta foi progranada geneticamente para implodir sua existência biológica. A implosão não provoca limpeza, nem expurgo, e sim transformação. Pronto. Você já foi transformada.

     

  2. CONHECIMENTO E TRANSFORMAÇÃO

    A visão espiritualista, lecionada por pensadores como Alan Kardec e Paramahansa Yogananda, sustenta que a existência humana tem por finalidade a evolução espiritual através do conhecimento e da transformação, movida pelo livre arbítrio.

    Creio que a vida é uma sucessão de provações, que se assemelha com um interminável exercício de paciência, e que deve resultar num aprendizado constante.

    Faço votos de que o Deus Pai, e todas as deusas e deuses de todos os credos benignos, e todos os espíritos iluminados, abençoem e auxiliem a sua caminhada na busca do auto conhecimento e da realização pessoal. Para ilustrar, peço licença para transcrever a seguir uns versinhos poético-filosóficos que cometi há algum tempo.

    [segue transcrição do breve poema, com nove versos na métrica 4/8 e rima repetida, presente também no título]

    PODEROSA DIFERENÇA DIVINA

    A natureza, feminina,

    É a montanha… e é colina.

    É tempestade e chuva fina…

    É praia e sol… e neve alpina.

    É lua azul, é flor andina.

    É alvorada que ilumina…

    É a doçura que fascina.

    É ser, mulher, que nos ensina…

    Sutil leveza… e adrenalina.

    Salvador, junho/2017.

  3. uma boa é dedicar 2 ou 3 dias para um viver contemplativo…

    de preferência em um local muito tranquilo, bonito, limpo ou de pura natureza, com árvores, flores, pássaros e tudo mais que habita o silêncio e o olhar dos que lá estão……………………………

    procure educar o olhar para que pouco a pouco ele revele os pequenos detalhes de tudo que habita o local, detalhes pequenos mas em um espetáculo belíssimo, que muitas vezes escapam aos que estão tensos ou apressados

    nas 2 ou 3 noites anteriores, dedique 2 ou 3 horas para deixar oscilar o silêncio, as sombras e os pontos iluminados, apague tudo de luz elétrica ao redor, ponha-se confortável e fixe o olhar na pequena chama de um vela, de preferência azul

    se o olhar foi realmente educado com os pequenos detalhes que mencionei anteriormente, ele acompanhará as oscilações sem que você se dê conta, algo assim como instintivamente

    sinceramente desejo muita paz, saúde e muita luz nesta travessia

    1. mas depois não me venha com esse papo furado…

      de que viu fadinhas, duendes e ouviu cânticos angelicais…………………………

      deixe o smartphne longe de tudo isso, pô!

      e não se atreva a acender a vela com isqueiro, tem que ser com fósforo ou fogo tirado de lareira

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