O pé-de-moleque e a planta tenra da democracia

O escritor O. Henry tinha um conto sobre uma menina que precisa de toda energia interna para superar uma grave doença no inverno rigoroso dos Estados Unidos. Da sua janela, ela passa a acompanhar uma folha, de uma trepadeira do muro em frente seu quarto.

 Todo dia ela abria a janela para conferir se a folha resistia. Outras folhas caiam, mas a folha companheira resistia. E resistiu até a menina se curar.

Curada, foi até o muro e descobriu que alguém da família, percebendo a simbiose emocional, simplesmente havia colado a folha no muro.

Vendo a crise econômica surgir, a democracia desmoronar, minha folha de inverno é um pé-de-moleque na padaria perto de casa. Diariamente saio de casa, passo na padaria, compro dois pés-de-moleque e dou minha caminhada diária.

Em 2010 enfrentei uma audiência hostil, em uma palestra em Fortaleza para um fabricante de produtos agrícolas. Coronéis vociferavam contra o Bolsa Família. Calei-os recorrendo ao pé-de-moleque: mensalmente, dois pés-de-moleque por dia útil era mais do que o valor de uma pessoa acolhida pelo Bolsa Família.

Através do pé-de-moleque, acompanhei dia a dia a vida do dono da fábrica, mesmo sem saber quem era. Era uma empresa pequena, sim. Mas o produto era gostoso, a embalagem caprichada. No início, ele tinha dificuldades em definir o padrão. Às vezes acertava em cheio, às vezes não. Com o tempo, conseguiu manter o mesmo padrão. E eu acompanhando seu aprendizado.

Quando a crise começou, o pé-de-moleque sumiu da prateleira perto do caixa. O caixa me indicou outro, de marca conhecida. Não era a mesma coisa.

Fiquei imaginando a saga do empreendedor. Provavelmente uma pequena empresa que decidiu dar um passo maior. Juntou dinheiro, conseguiu um financiamento bancário, no curtíssimo período em que o crédito barateou, adquiriu uma máquina, depois outra, montou um departamento comercial perrengue e partiu para a luta, colocando o pé-de-moleque como quem coloca um filho no mundo.

Lembrei-me de meu pai em Poços de Caldas, com sua Farmácia Central Salva Sempre, ou de meu tio Léo, com o Doces Mesquita, Coma e Repita, que nasceu do talento de minhas tias Rosita e Marta de reeditar o doce-de-leite argentino.

De repente, a crise surgiu como um ogro faminto, avançando sobre os pequenos, arrebentando os sonhos de crescer, os credores avançando como harpias ensandecidas.

Creio que foi essa loucura, fruto do plano de estabilização de Roberto Campos e Bulhões, que me fez mais tarde enveredar pela economia. Queria entender esse monstro que aparecia no horizonte durante as crises de estabilização, que eliminava empresas, empregos, arrebentava com a tranquilidade familiar.

O monstro que se abateu sobre a farmácia era filho direto de Campos. Comprava-se o remédio e se proibia de reajustar os preços, em um quadro inflacionário. Quando o farmacêutico ia repor o capital de giro, a indústria já havia aumentado de novo seus preços. A cada renovação do estoque, realizava-se o prejuízo.  Com giro maior, e adquirindo direto nas fábricas, os grandes varejistas nadavam de braçada. Os grandes tinham acesso a Campos; os boticários do interior, não.

Na época cheguei a compor uma peça com um título tirado de Carlos Drummond de Andrade, o “Congresso Internacional do Medo”, que começava com um arremedo da Cavalgada das Valquírias, e as palavras rituais, “juro, lucro, multa, mora, déficit / ágio, avo, quota, conta, prejuízo / muralhas de Jericó, trombetas de Josué / o imprevisível”.

Agora, indo diariamente na padaria, fico conferindo o pé-de-moleque com a mesma ansiedade da menina tísica apreciando a folha, com a mesma ansiedade do adolescente testemunhando a agonia diária do velho.

Dias depois, voltou o pé-de-moleque original. Imaginei que o dono tivesse se encalacrado com falta de capital de giro, fruto do desastroso plano Levy. Ou então, tivesse voltado com outra razão social, para se livrar do fisco. Era a mesma marca, a mesma razão social. Provavelmente vendeu algum bem para recompor o giro.

De lá para cá, o pé-de-moleque aparece, some por algum tempo, mas volta, persistente como a folha no muro, valente como a menina na cama.

Fico imaginando quanto tempo resistirá. E fico imaginando a democracia brasileira.

Desde a Proclamação, o país conviveu historicamente com golpes. Mas havia explicações históricas, sociológicas. Floriano endureceu para consolidar a República. Vargas veio no bojo da Aliança Nacional, uma mobilização do país. Mesmo 1964 foi fruto de uma corporação militar aliada com setores políticos. Mas, hoje? Hoje há o episódio inédito do país ter sido entregue a um grupo que, se não estivesse com o poder, estaria metido em inquéritos e processos, alguns deles mofando na prisão.

É inédito, é humilhante.

Fico imaginando em qual folha me agarrar, enquanto persistir a escuridão sem fim.

Luis Nassif

73 Comentários

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  1. Ao ler os últimos posts do

    Ao ler os últimos posts do Nassif, fico preocupado com o país. Nassif é como aquele jogador de futebol que é o antichinelinho, que vai pra toda a partida com a mesma vontade mesmo que esteja cheio de dores por causa das contusões e carrinhos e jogadas sujas dos adversários, e que não é cai-cai e aguenta firme as porradas. Quando você vê um jogador deste estilo com rosto de dor, mancando, depois de sofrer faltas violentas e desleais, você fica na hora de cabelo em pé, pois sente que a porrada foi feia mesmo. 

    As quebras instituicionais, como disse no post, tinham um objeto, um projeto de nação – concordar com ele e a forma que foi implementado são outros quinhentos. Hoje se tem é o mais puro saque, butim, com as pessoas mais desqualificadas que há no país, em todas as áres ( vide o ministro da saúde e da justiça ) . E pra piorar não há um nome na política em que você veja alguma esperança. É a materialização da Terra Devastada de TS Eliot, mas escrita pela Chalita [rs] Tamo fodido 

    1. Convergencia de avaliaçoes (infelizmente!)

      Acho que estamos todos convergindo para o mesmo tipo de avaliação.

      Veja o que coloquei num post que escrevi em resposta ao capitulo do “Xadrez” de ontem:

      (Mordacidade atroz contra MPF, PGR e STF: quem me culpa?, por Romulus)

      – O subdesenvolvimento é trabalho devotado de gerações.

      O golpe de 2016 – e tudo o que ele significa – é, sem dúvida, a maior contribuição dos últimos 50 anos para o subdesenvolvimento do Brasil. Em termos econômicos e de projeto de país, por mais que doa dizer isso sendo de esquerda, é infinitamente pior do que o golpe de 64 e os 21 anos de regime militar. Ali havia, ao menos, um projeto de país – por mais que discordássemos da própria concepção deles para país.

      E agora?

      Há justamente contrário: o desmonte.

      E com o beneplácito de gente que se sente segura na transição para a nova ordem.

      Gente pequena que – mesquinha – topa ser downgraded a elite (neo) colonial de um país não (mais) emancipado. Como também não emancipado será o maior contingente da população.

      E daí?

      Não consta que senhores de engenho, seringalistas e barões do café vivessem mal a seu tempo, não é mesmo?

      *

      >> Nassif: de quem era a frase: “O subdesenvolvimento é trabalho devotado de gerações”? E qual era a forma exata?

  2. Democracia?

    Nasci em 1975. Cresci ouvindo meu pai dizendo que esse país é de quinta categoria e a democracia uma brincadeira. Discordava, discutia, brigávamos por isso. Hoje, tenho a tristeza de dizer “você tinha razão”.

  3. Compartilho da sua perplexidade

    Prezado Nassif,

    Compartilho da sua perplexidade. É difícil entender por que a plutocracia perpetrou esse golpe contra a nossa jovem democracia. Não foram só os deputados e senadores corruptos. Incluo nesse grupo a mídia hegemônica, que há vários anos perseguiu os governos do PT com ferocidade e fingiu ignorar malfeitos de outros partidos. Nesse rol também incluo a PGR, que mal consegue disfarçar o partidarismo e a seletividade. Incluo também juízes dublês de promotores, que desonram a justiça com seu partidarismo e desrespeito às normas do estado de direito. Esse grupo demonstrou além disso um interesse em inviabilizar empresas, em vez de punir somente seus donos. Isso vai gerar efeitos negativos de longo prazo para a economia e para a tecnologia nacional. Parece que estão se lixando para isso, enquanto estiverem sendo endeusados pela nossa patética mídia. Incluo também o STF, cuja falsa neutralidade ratificou uma punição totalmente desproporcional ao Executivo e que compromete os que ocuparem futuramente a presidência. Algumas decisões do STF pareceram emanar de calouros do curso de Direito, sem qualquer visão do país. Vou evitar falar da Fiesp e da OAB. Foram patéticos.

    Ao mesmo tempo eu penso: um país com instituições tão ruins assim, é muito frágil. Não tem mecanismos de controle que impeçam um golpe com bases super frágeis. Nem no Congresso, nem no Judiciário, muito menos na mídia. Para voltarmos a ter uma democracia digna desse nome vai ser preciso melhorar muito essas instituições. Sem isso, vamos ser só um arremedo  de democracia. Na prática uma plutocracia, um país miserável, republiqueta de bananas, em que qualquer tentativa de democratizar minimamente o país é escorraçada como um cão.

     

     

    1. Pois é, o mundo dá voltas, as

      Pois é, o mundo dá voltas, as pessoas erram, a inocência grassa e a vileza se manifesta…

      Se em vez de tanta ironia tivéssemos mais autocrítica, talvez não estivéssemos tão mal…

    2. E era chamado de “petralhas”

      E era chamado de “petralhas” pelos cretinos moralistas das panelas “brand new”… agora são os “técnicos” que vão salvar o país com sua mesóclise em sua política ultraconservadora “não ideológica”. Você é um desperdício dos meus impostos, “comentarista” de aluguel

  4. E o pior, a classe

    E o pior, a classe jornalistica tem muita culpa

     

    não há um segmento que não colocou lenha na fogueira, até em programas de esporte tentavam derrubar o PT, vi apresentadoras bufando contra o governo petista enquanto ensinavam receita de suflê de frango e entre uma fofoca e outra, como esquecer o classico e patético colar de tomates, a plutocracia só fez o que se esperava dela, conservadora, golpista e genocidas que sempre foi, mas, a classe jornalistica terá muito o que explicar no futuro já que entrou com os dois pés no golpe, ensandecida.

  5. Temer e a Cadeia

    A elite que detém o poder econômico está acobertada nos bastidores da política, determinando o que a quadrilha deve fazer.

    Se Cunha e Temer e a quadrilha não entregarem o que os donos do poder desejam, os membros da quadrilha vão mofar na cadeia.

  6. É Nassif, ontem fiquei sabendo

    que só as universidades federais vão somar um corte de 50% entre 2015/2017. Com este ritmo, talvez em 2018 já tenhamos nos tornado uma mistura de Etiópia com Ucrânia de dimensões continentais enquanto nossos algozes se lambuzam nas mansões de Miami – além de golpistas são bregas.

  7. ” Mas, hoje? Hoje há o

    ” Mas, hoje? Hoje há o episódio inédito do país ter sido entregue a um grupo que, se não estivesse com o poder, estaria metido em inquéritos e processos, alguns deles mofando na prisão.”

    Isto deve ser perguntado ao Moro e o MPF.

    Para mim, o grupo no poder é RESPONSABILIDADE DIRETA destes dois golpistas e corruptos.

    Corruptos porquê?

    Porque os golpistas não são do PT, então não vem ao caso.

  8. A facilidade desse golpe, a

    A facilidade desse golpe, a pouca resistência ao governo Temer, me dá a sensação de que os Donos do Poder simplesmente resolveram não mais terceirizar a encenação de democracia.

    Agora o teatro está exposto em sua face mais gotesca, projeto de país não existe, consumido por uma miríade de projetos pessoais de enriquecimento.

    O que mais me assusta é a resignação do brasileiro, assistindo passivo à decretação de subdesenvolvimento por mais um século. Parece que as pessoas assimilaram a ideia de que vivem num capitalismo americano, suportando a terceirização via abertura de PJ, as jornadas cada vez maiores e sempre com serviço para casa, a redução do tempo de lazer e com a família, a impessoalidade como traço de convívio social, a fluência em inglês acompanhada de falta de discernimento sobre qualquer tema que implique a coletividade. Contudo, se esquecem de que o Brasil não tem o mercado nem a cultura empreendedora dos EUA, e que sem o Estado, protagonista imprescindível, e na mão de uma horda, estamos hipotecando o futuro. Povo se tornou produto de propaganda, tão bem retratado naquele comercial da FIAT do “vem para rua”.

    É triste constatar que todos os avanços promovidos por Lula, como bolsa família, FIES, PROUNI, Minha Casa Minha Vida, manutenção do poder aquisitivo com reajuste real/anual do salário mínimo, revitalização da indústria naval (dizimada pela Lava Jato), e principalmente, a abordagem institucional do Poder com viés social, não foram capazes de dobrar a indiferença cultural do brasileiro à solapação de suas garantias e direitos. Quando a massa se der conta, toda sua rede de proteção social terá sido esfacelada, o arcabouço jurídico da CF/88 desconfigurado, e toda inignação se aglutinará em um novo messias ungido pelo sistema Globo para aplacar a situação.

    Enquanto houver prevalência do discurso do oficializante produzido pelo sistema Globells de Comunicações não vejo esperança.  

  9. Ainda não é o fundo do poço..

    Nassif, ainda não é o fundo do poço, veja o que aconteceu no Paraguai, anos após o Golpe em F.Lugo, lá a elite escolheu um novo Golem para próximas eleições que acontecera depois do golpe para esmaecer os corvos que da renda da pátria se nutrem a séculos. Esse produto inventado jogou o Paraguai para a maior desigualdade social e terratorial da história do mundo moderno.

    Quem será o novo Golem brasileiro para 2018? Alguem arrisca? É são esses heróis mesmo da Lava Brasil..

    A luta deve ser, estrategicamente, a de conquistar a confiança da classe média, esta é a única capaz de deter o ultra-retrocesso que está em curso no Brasil, para reveter o quadro sombrio que virá após 2018, só dois ou três nomes importantes da esquerda são pouco para debelar a quadrilha  oligárquica quatrocentona brasileira. 

     

    http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/retrato-do-paraguai-tres-anos-depois-de-lugo/

  10. Parece Nassif que no momento

    Parece Nassif que no momento só nos resta mesmo a folha pregada na árvore. Impossível enfrentar essa multidão de brasileiros catequisados pela mídia e esperar pra ver se algum dia notem na “esparrela ” que caíram.  No momento só temos consolo nos blogs progressistas sendo que o seu para mim é insuperável. Obrigada por você existir.

  11. Proposta

    Oi Nassif, aqui é o Gustavo.

    Vc fez o portal, o blog e o Brasilianas, que é tudo junto e muito mais.

    Fez Saraus e os seminários.

    Está na hora de fazer uma coisa nova.

    Não sei o que é, mas se vc chamar, muitos irão se juntar e fazer algo novo e que fará o enfrentamento.

    É só chamar.

    Nos juntamos e pensamos no que será feito.

    Abraços.

  12. ” Do Bem “

        Sempre procurava comprar sucos integrais, e as marcas disponiveis eram de grandes empresas, como Coca Cola ou Pepsi, até encontrar disponivel em São Paulo a marca carioca ” Sucos do Bem “, de acordo com eles “feitas por jovens empreendedores cariocas cansados da mesmice “.

         Uma empresa pequena, empreendedora, que adquire suas matérias primas de pequenos agricultores do estado do Rio de Janeiro, que já estava com uma boa receptividade inclusive fora do Rio.

          O que ocorreu com ela : Foi adquirida pela AMBEV, em abril deste ano, e concomitamtemente a AMBEV já conseguiu um acordo/ Termo de cooperação, com a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuaria do RJ, para aumentar a produção dos pequenos proprietários, visando, caso o CADE aprove, envia-los para processamento em sua fabrica na cidade de Cachoeira de Macacú.

            Caros agricultores, liguem para os produtores de cevada americanos, e vejam o que a InBev fez com eles.

    1. Utameeerd…
      Se voltasse no
      Utameeerd…

      Se voltasse no tempo teria me especializado em concorrência. Estudei no LL.M.

      Não sei o mercado de trabalho é bom.

      Mas acho lindo o casamento do direito com a economia e a matemática. Ali mais que em qualquer outro lugar.

      E te digo por ter ouvido de autoridades internacionais na matéria: o CADE era extremamente respeitado pelos pares internacionalmente. Hoje virou piada.

      Advinha com qual fusão começou o fim?

  13. Não há uma folha verde para

    Não há uma folha verde para você Nassif, há várias! 

    Suas filhas e neta que têm você como exemplo.

    Leitores que necessitam de jornalismo de credibilidade, algo raro no nosso país.

    Futuros colegas de profissão seus, estudantes conscientes de seu papel, movimentos sociais, pessoas que protestam(memso que pacificamente) na Olimpíada e/ou no dia a dia.

     

    A nossa derrota, assim como nossa vitória, nunca será completa!

     

    E nem definitiva.

  14. Não há uma folha verde para

    Não há uma folha verde para você Nassif, há várias! 

    Suas filhas e neta que têm você como exemplo.

    Leitores que necessitam de jornalismo de credibilidade, algo raro no nosso país.

    Futuros colegas de profissão seus, estudantes conscientes de seu papel, movimentos sociais, pessoas que protestam(memso que pacificamente) na Olimpíada e/ou no dia a dia.

     

    A nossa derrota, assim como nossa vitória, nunca será completa!

     

    E nem definitiva.

  15. Pé-de-moleque

    Kepler (1571 – 1630) trabalhou com um homem muito rico, cujo nome me escapa, e que tinha o maior acervo de observações astronômicas da época. No seu leito de morte, ele pedia para não deixarem parecer que ele tinha vivido em vão.

    Nassif, dê uma olhadinha na história. Quem sabe o nome dos que condenaram Sócrates? Alguém sabe quem foi o Gal. Artur Oscar? Mas certamente todos conhecem Antônio Conselheiro.  Na minha juventude, David Nasser fazia sucesso. Quem se lembra dele. Como será citado Assis Chateaubriand?  Café Filho, talvez o Temer da época? E Torquemada?

    Alguns são até lembrados: Carlos Lacerda, Médici, ACM, como o são Joaquim Silvério dos Reis, Calabar, Judas. Todos conhecem o Padre Cícero. Mas quem foi mesmo D. Quirino? Alguém pode citar o nome de alguém que massacrou povos indígenas no passado, na América espanhola? Mas sem dúvidas o nome de Frei Bartolomeu de las Casas está inscrito para sempre na História dos gigantes dos direitos humanos.

    Cristovam Buarque, Caiado, Ana Amélia, Martha, Magno Malta, Moka…(Controla-te, estômago!)  Como se falará, no futuro, do atual Senado ou do STF? A OAB? Como era mesmo o nome do juiz do Caso Dreyfuss? Mas seu advogado de defesa, Anatole France, todos conhecem. E Emile Zola, com seu J’Accuse?

    Talvez não seja uma folha para se agarrar, mas o importante não seria a resposta à pergunta: “Não deixem parecer que eu vivi em vão”.

  16. Kepler (1571 – 1630)

    Kepler (1571 – 1630) trabalhou com um homem muito rico, cujo nome me escapa, e que tinha o maior acervo de observações astronômicas da época. No seu leito de morte, ele pedia para não deixarem parecer que ele tinha vivido em vão.

    Nassif, dê uma olhadinha na história. Quem sabe o nome dos que condenaram Sócrates? Alguém sabe quem foi o Gal. Artur Oscar? Mas certamente todos conhecem Antônio Conselheiro.  Na minha juventude, David Nasser fazia sucesso. Quem se lembra dele. Como será citado Assis Chateaubriand?  Café Filho, talvez o Temer da época? E Torquemada?

    Alguns são até lembrados: Carlos Lacerda, Médici, ACM, como o são Joaquim Silvério dos Reis, Calabar, Judas. Todos conhecem o Padre Cícero. Mas quem foi mesmo D. Quirino? Alguém pode citar o nome de alguém que massacrou povos indígenas no passado, na América espanhola? Mas sem dúvidas o nome de Frei Bartolomeu de las Casas está inscrito para sempre na História dos gigantes dos direitos humanos.

    Cristovam Buarque, Caiado, Ana Amélia, Martha, Magno Malta, Moka…(Controla-te, estômago!)  Como se falará, no futuro, do atual Senado ou do STF? A OAB? Como era mesmo o nome do juiz do Caso Dreyfuss? Mas seu advogado de defesa, Anatole France, todos conhecem. E Emile Zola, com seu J’Accuse?

    Talvez não seja uma folha para se agarrar, mas o importante não seria a resposta à pergunta: “Não deixem parecer que eu vivi em vão”.

    1. O nome que você não se

      O nome que você não se recorda é Tyco Brahe, que inclusive tinha nariz de ouro ( o original fora perdido em um duelo). Apesar de rico e autoritário, teve seus méritos científicos, sendo uma sumidade comparado com essas figuras que você menciona.

  17. Não consigo incluir um

    Não consigo incluir um comentário em seu blog. No final, fala para Salvar. Sigo em frente e nada acontece. Poderia orientar-me?

    1. Arivaldo Para não
      Arivaldo

      Para não cadastrados no blog a moderação as vezes demora.

      Se cadastre que a publicação do seu comentário é imediata.

  18. Como Brasileiro me sinto
    Como Brasileiro me sinto humilhado com vergonha do q ocorre aqui
    mas sei que depois de uma grande derrota haverá uma grande vitória,novas lideranças surgirão neste processo todo no Brasil!!

  19. Sem ideologiaSem
    Sem ideologia

    Sem pensamento

    Tudo passa a ser igual

    Anos e anos a lavagem cerebral da mídia

    Ódio ao PT

    E o PT se entrega

    E a culpa é da Dilma

    Nada é por acaso

    A verdade nunca foi dita

    Terá que ser arrancada

    A depuração virá

    Sem partidos

    Sem organizações

    Muitas dores

    Muitas dores.

  20. Nassif, peço licença pra
    Nassif, peço licença pra fazer um desabafo pessoal.
    Ao contrário do que querem alguns, para ser não basta querer. O site de opinião DCM que propagandeia ser a Suécia um modelo a ser seguido agiu como a Coréia do Norte ao bloquear, sem nenhuma justificativa ou aviso, meu acesso ao provedor de comentários assim como ao remover todos os que fiz naquele site. Não por acaso isso se deu hoje à tarde, em meio a troca de idéias em que a abordagem desproporcional e tendenciosa do site sobre a polêmica com o Haddad era discutida e outras pessoas questionavam a posição editorial. Possivelmente pra aliviar as críticas que o site sofreu, e não apenas de minha parte, divulgou, coincidentemente nesta data, reportagem com a primeira dama, como é do feitio do site, numa atitude de morder e assoprar ao sabor das repercussões, pra atender as diversas clientelas que o site consultam.
    Não é de admirar vindo de ex colaboradores da família Marinho – por quem parecem nutrir, pelas referências explícitas que fazem, um misto de orgulho, nostalgia e ressentimento pela convivência que desfrutaram. Os mesmos que exigem de Haddad um adesismo típico de neófitos radicais e demagogos do progressismo, quase numa emulação de programas policiais que usaram da mesma tática contra ele (houve quem identificasse, não por acaso, a atitude do site como patrulha…) e elegem como heroína a controversa Patricia Lelis por sua piada sexista com seu algoz-aliado Feliciano. Sensacionalismo como plataforma para atrair atenção, repercussão e patrocínio, receita conhecida no jornalismo da era Veja-FAlha-JN, com o mesmo respeito e espaço (nenhum) para a divergência.

    Pedi ao site explicações sobre o bloqueio e sua remoção e avaliarei junto ao provedor de comentários quais meus direitos como cidadã em manter no site os comentários anteriores – aceito que o site faça o bloqueio a partir de data comunicada à interessada mas a atitude com efeito retroativo parece querer apagar do arquivo as participações que os incomodam, inclusive deixando outros comentários incompreensíveis porque ausente uma parte da conversa.

    Agradeço ao GGN por ser jornalismo de verdade que não só produz conteúdo de qualidade como respeita a divergência e a opinião de seus leitores comentaristas.
    Que o DCM seja um exemplo do que não deve ser feito na busca de forjar um jornalismo plural, progressista, democrático e responsável.
    Vida longa ao GGN e a quem mantém a esperança apesar dos embustes cotidianos.

    SP, 13/08/2016 – 21:18

    1. Censura
      Esclarecimento: o serviço online de comentários informa na seção”help” que a opção de banir usuário, restrita ao moderador do site, é independente de apagamento dos comentários anteriores (num período de 30 dias) e opcional, o que ocorreu no meu caso; notificação ao usuário não é feita.
      O que explica a opção de removerem meus comentários dos últimos trinta dias? E o fato de o banimento ser feito após críticas contundentes, mas embasadas e civilizadas, ao perfil editorial e ao viés de algumas reportagens? Que o site se manifeste. Usei o espaço deste site para que pessoas que fizeram comentários aos meus e estejam, por ventura, esperando resposta, conheçam o motivo. E que se conheça quem são os lobos em pele de cordeiro da imprensa dita independente. A Suécia manda lembranças.

      SP, 14/08/2016 – 00:57

  21. Nassif, seu texto me remete a

    Nassif, seu texto me remete a Janot, Moro e o quanto o poder absoluto pode levar as pessoas a um fanatismo emburrecedor, mesmo quando pensam que no jogo de xadrez pelo poder, seu lances estão sendo brilhantes e o xeque mate está próximo!

    Analisando o atual panorama político-judiciário brasileiro, vemos que a dupla Janot/Moro não percebeu duas coisas: primeiro quem era “o rei a ser derrubado” (focaram-se na dupla Lula/Dilma o tempo todo…), segundo que este “rei” não era exatamente uma pessoa física, mas todo um grupo de interesses próprios, político-financeiros, com um elemento chave nas mãos que os blindariam dos ataques da dupla, quando chegasse a hora.

    Vamos interpretar a metáfora: quem é o rei afinal? Penso que o grupo formado pelas famílias donas dos grupos midiáticos e os grandes empresários e especuladores que desejavam sim, o fim da era-PT no poder, mas jamais o aniquilamento da classe política, pois esta é sua aparência de legalidade, caricato ou não, que se tenha um presidente, um Congresso, funcionando “normalmente”, votando as leis, editando decretos, cum rpindo enfim a burocracia necessária aos eventos que interessam a esses grandes grupos.

    Portanto, quando Jano e Moro derrubaram Dilma, e agora aguardam ansiosos o fim da Olimpíada para aprisionar Lula numa inegibilidade de oito anos, com ou sem prisão, pensam os dois funcionários públicos que a parceria feita com Gilmar Mendes, a Globo, a Veja e outros, seria “automaticamente renovada” – e aí está seu equívoco, que provavelmente já intuíram, quando Janot tentou sua sacada extra de prender Renan, Jucá e Sarney e em nome da governabilidade, da paz até para que tudo o que foi prometido seja logo entregue ao mercado, mídia e Supremo blindaram os três, deixandoJanot com cara de bobo pela primeira vez.

    Podemos concluir portanto, que na verdade “não há rei” a ser derrubado, em se tratando de políticos, Lula e Dilma eram apenas empecilhos, Temer até prova em contrário, não, tem se mostrado subserviente e nada lhe acontecerá se mantiver esse papel de mordomo dos verdadeiros donos do poder – o que Janot e Moro achavam que eram, inflados em seu narcisismo e vaidade, alimentados pela mídia e por “terem calado até o Supremo Tribunal”, acovardado este, pelo sucesso da dupla.

    A verdade social e política do Brasil, sua realidade, continua EXATAMENTE A MESMA QUE RESISTE HÁ SÉCULOS: algumas poucas cabeças, os donos das maiores fortunas, os grandes especuladores, os barões da mídia, estes sim, acham-se – com todo o “direito”, pois está provado que sabem usar as brechas sociais para esmagar toda a resistência…. – e agem como “o rei soberano” no tabuleiro do jogo – o país, por asim dizer, eterno butim a ser dividido e preservado para eles.

    As empreiteiras foram como “uma torre que se sacrifica” para destruir a “rainha adversária” (Lula/Dilma/PT), mas não há a mínima chance de Janot e Moro ou qualquer outro subsistirem, em enfrentamento contra a Globo, de longe a maior protagonista do jogo, por seu poder de destruir rapidamente mesmo as reputações que ela mesmo tenha construído com todos os afagos e elogios.  Nem Moro nem Janot resistiriam a um embate desse tipo, se um dia ousassem enfrentá-la, mesmo com asprovas que por ventura tenham tido acesso. Gilmar Mendes e outros seriam imediatamente convocados em aliança com o atual Congresso, para a destruição dos dois funcionários públicos – que é o que são em última análise.

    Será algo interessante, apesar do infinito horror a que estyamos todos subjugados, assistir o que virá, quem o mercado e a Globo consideram imprescindíveis para a manutenção do poder real através da roupagem política e quem pode eventualmente sere queimado como incenso à opinião pública.

    O irônico, portanto, é que nem Moro nem Janot provavelmente escapem dessa realidade brutal: de serem eles, tão protagonistas de eventos tão terríveis, apenas marionetes a quem se deu grande liberdade, que pode ser retirada quando bem quiserem os reis do mercado, os que mandam no país.

    Destruíram nossa democracia, tiraram uma presidente do poder, perseguem Lula covardemente, tudo em suas cabeças doentias-narcisistas, por acreditarem combater a corrupção e trazer para o Brasil uma “nova visão política”, e acabam, os dois auto-heróis patéticos, por entregarem o Brasil ao grupo mais corrupto, arcaico e velhaco de sua História, e o poder de volta às mãos seculares de sempre.

    Janot e Moro, com uma visão vaidosa de si mesmos, talvez ainda saboreando seu “imenso poder”, ainda enxergarão que nada mais fizeram, que matar o novo, a chance de um país melhor inclusive para as instituições, e entregá-lo de graça, embrulhado para presente, para as velhas mãos soberanas de sempre e sempre.

     

  22. Uma homenagem a Nassif e aos amigos do blog
    Não te rendas
    Não te rendas, ainda estás a tempo
    De alcançar e começar de novo,
    Aceitar as tuas sombras,
    Enterrar os teus medos,
    Libertar o lastro,
    Retomar o voo.

    Não te rendas que a vida é isso,
    Continuar a viagem
    Perseguir os teus sonhos,
    Destravar o tempo,
    Remover os escombros,
    e destapar o céu.

    Não te rendas, por favor não cedas,
    Mesmo que o frio queime,
    Mesmo que o medo morda,
    Mesmo que o sol se esconda,
    E se cale o vento,
    Ainda há fogo na tua alma
    Ainda há vida nos teus sonhos.

    Porque a vida é tua e teu também o desejo
    Porque o quiseste e porque eu te quero
    Porque existe o vinho e o amor, é certo.
    Porque não há feridas que não cure o tempo.

    Abrir as portas,
    Tirar os ferrolhos,
    Abandonar as muralhas que te protegeram,
    Viver a vida e aceitar o repto,
    Recuperar o riso,
    Ensaiar um canto,
    Baixar a guarda e estender as mãos
    Abrir as asas
    E tentar de novo,
    Celebrar a vida e retomar os céus.

    Não te rendas, por favor não cedas,
    Mesmo que o frio queime,
    Mesmo que o medo morda,
    Mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
    Ainda há fogo na tua alma,
    Ainda há vida nos teus sonhos
    Porque cada dia é um começo novo,
    Porque esta é a hora e o melhor momento.
    Porque não estás só, porque eu te amo.

    MARIO BENEDETTI

    1. Agradecimentos

      Assis Ribeiro e Nassif, obrigado pelo post e pelos comentários, um completou o outro, foi um verdadeiro bate-bola. Nassif se mostrou baleado (normal, foi só um momento), Assis Ribeiro não deixou a peteca cair.

      Todos unidos somos de muita ajuda neste hora.

  23. CAI, CAI, INTERINO! CAI! CAI!

    Vi um enorme balão escrito “FORA TEMER”  quando passava pela Av. Brasil, perto da Favela Parque União, entre Ramos e Bonsucesso. Foi o primeiro balão politicamente correto que eu vi. Soltou muitos fogos e lagrimas cintilantes. Acho que foi solto de uma favela dos arredores, talvez da Maré, onde um morador inocente foi morto depois que as tropas do Careca invadiram a comunidade.

    Será que a resistência virá da favela?

    Será que os céus do Brasil e do RJ ficarão apinhados de balões como esse?

    Já pensou se essa forma  barata e eficaz de protesto pega?

    Uma vez, ao viajar  para São Paulo vi um desses enormes balões pela janela do avião. É assustador! Alguns gringos que  estavam no voo também tremeram na base. O danado devia ter uns 15 metros de altura e espirrava fogos como um canhão.

    Imaginem o Careca do ABC correndo atrás de balões por todo o estado do RJ ou por todo o Brasil?

    Imaginem o governo do Interino proibindo a venda de papel de seda em todo o país, só para detonar com os velhos e lindos balões juninos?

    Imaginem os gringos vendo da janela dos aviões, balões reluzentes com os dizeres “COUP IN BRAZIL” ou “GO OUT TEMER”?

    Não adianta. Se você tenta calar o povo, mesmo silenciosamente, mesmo amordaçado, ele resiste.

    Quem sabe, caro Nassif, esses balões não sejam um indício de que o socorro chega de onde menos se espera?

    Na escuridão do céu da nossa parca democracia, um balão reluzente trouxe boas novas pra gente.

    Resistamos.

     

  24. Ilusão 
    Quem sou eu além

    Ilusão

     

    Quem sou eu além daquele que fui?
    Perdido entre florestas e sombras de ilusão
    Guiado por pequenos passos invisíveis de amor
    Jogado aos chutes pelo ódio do opressor
    Salvo pelas mãos delicadas de anjos
    Reerguido, mais forte, redimido,
    Anjos salvei
    Por justiça lutei
    E o amor novamente busquei

    Quem sou além daquele que quero ser?
    Puro, sábio e de espírito em paz
    Justo, mesmo que por um instante,
    Forte, mesmo sem músculos,
    E corajoso o suficiente para dizer “tenho medo”

    Mas quem sou eu além daquele que aqui está?
    Sou vários, menos este.
    O que aqui estava, jamais está
    E jamais estará
    Sou eu o que fui e cada vez mais o que quero ser
    Mudo, caio, ergo, sumo, apareço, bato, apanho, odeio, amo…
    Mas no momento seguinte será diferente
    Posso estar no caminho da perfeição
    Cheio de imperfeições
    Sou o que você vê…
    Ou o que quero mostrar.
    Mas se olhar por mais de um segundo,
    Verá vários “eus”,
    Eu o que fui, eu o que sou e eu o que serei.

     Christian Gurtner

  25. Os Tempos Estão

    Os Tempos Estão Mudando

     

    Venha se reunir povo por onde quer que andem
    E admitam que as águas que nos cercam se elevaram
    Aceitando isto
    Logo estaremos ensopados até os ossos

    Se o tempo para você vale salvar
    Então é melhor começar a nadar
    Ou você afundará como uma pedra
    Pois os tempos, eles estão mudando

    Venham escritores e críticos
    Que profetizam com suas canetas
    E mantenham os olhos abertos
    Que a chance não se repita

    E não fale cedo demais pois a roda continua girando
    E não há como saber quem será nomeado
    Pois o perdedor de agora
    Estará mais tarde a ganhar

    Pois os tempos, eles estão mudando
    Venham senadores, congressistas, respondam ao chamado
    Não aglomere na porta, não congestione o corredor
    Pois aquele que se machuca será aquele que atravanca

    Existe uma batalha lá fora urrando
    Logo ela estará sacudindo suas janelas
    E tremendo suas paredes
    Pois os tempos, eles estão mudando

    Venham mães e pais por toda a terra
    E não critiquem o que não consegues compreender
    Seus filhos e filhas
    Estão além de seu comando

    Sua velha estrada está rapidamente deteriorando
    Por favor saia da nova
    Se você não pode contribuir
    Pois os tempos, eles estão mudando

    A linha foi traçada, a maldição foi praguejada
    O lento agora mais tarde será veloz
    E o presente agora mais tarde será passado

    A ordem rapidamente se desbota
    E o primeiro agora
    Mais tarde será o último
    Pois os tempos, eles estão mudando

    Bob Dylan

  26. E o que é um autêntico louco?

    É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana.

    Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusavam a ser seus cúmplices em algumas imensas sujeiras.

    Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.

    Nesse caso, a reclusão não é sua única arma e a conspiração dos homens tem outros meios para triunfar sobre as vontades que deseja esmagar. Além dos feitiços menores dos bruxos de aldeia, há as grandes sessões de enfeitiçamento global das quais participa, periodicamente, a consciência em pânico.

    Antonin Artaud.

  27. “Aos que vão nascer” 

    “Aos que vão nascer”

     

    I
    É verdade, eu vivo em tempos negros.
    Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
    Indica insensibilidade. Aquele que ri
    Apenas não recebeu ainda
    A terrível notícia.

    Que tempos são esses, em que
    Falar de árvores é quase um crime
    Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
    Aquele que atravessa a rua tranqüilo
    Não está mais ao alcance de seus amigos
    Necessitados?

    Sim, ainda ganho meu sustento
    Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
    Me dá direito a comer a fartar.
    Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)

    As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
    Mas como posso comer e beber, se
    Tiro o que como ao que tem fome
    E meu copo d’água falta ao que tem sede?
    E no entanto eu como e bebo. 

    Eu bem gostaria de ser sábio.
    Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
    Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
    Levar sem medo
    E passar sem violência
    Pagar o mal com o bem
    Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
    Isto é sábio.
    Nada disso sei fazer:
    É verdade, eu vivo em tempos negros. 

    II
    À cidade cheguei em tempo de desordem
    Quando reinava a fome.
    Entre os homens cheguei em tempo de tumulto
    E me revoltei junto com eles.
    Assim passou o tempo
    Que sobre a terra me foi dado.

    A comida comi entre as batalhas
    Deitei-me para dormir entre os assassinos
    Do amor cuidei displicente
    E impaciente contemplei a natureza.
    Assim passou o tempo
    Que sobre a terra me foi dado.

    As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
    A linguagem denunciou-me ao carrasco.
    Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima
    Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
    Assim passou o tempo
    Que sobre a terra me foi dado.

    As forças eram mínimas. A meta
    Estava bem distante.
    Era bem visível, embora para mim
    Quase inatingível.
    Assim passou o tempo
    Que nesta terra me foi dado.

    III
    Vocês, que emergirão do dilúvio
    Em que afundamos
    Pensem
    Quando falarem de nossas fraquezas
    Também nos tempos negros
    De que escaparam.

    Andávamos então, trocando de países como de sandálias
    Através das lutas de classes, desesperados
    Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.

    Entretanto sabemos:
    Também o ódio à baixeza
    Deforma as feições.
    Também a ira pela injustiça
    Torna a voz rouca. Ah, e nós
    Que queríamos preparar o chão para o amor
    Não pudemos nós mesmos ser amigos.

    Mas vocês, quando chegar o momento
    Do homem ser parceiro do homem
    Pensem em nós
    Com simpatia.

    Bertolt Brecht

  28. Temos que manter a esperança

    O futuro que está sendo formado a partir do golpe de 2016 – democracia mitigada (não uma ditadura explícita porque pega mal ditaduras explícitas no ano da graça de 2016), ultraliberalismo, darwinismo social sem controle, militarização completa das polícias – é absolutamente sombrio.

    Temos que manter a esperança: os bolsões de rebeldia nas cidades, os pequenos negócios, plantar um futuro menos cruel na alma das crianças.

    Sem essa esperança, é o caso de perguntar se estamos apenas existindo, esperando a nossa morte.

  29. nosso xadrez sem regras

    Quando me deparo com um texto “xadrez” da série do Nassif me pergunto : Como comparar o nobre e bem regrado jogo de xadrez com esta orgia moral e cívica totalmente desregrada que domina o Brasil ? Penso que temos nos apegado a metáforas totalmente desfuncionais e equivocadas. Uma comparação vagamente fiel do Brasil atual é a do faroeste americano, onde prevalece a lei de quem saca mais rápido. Não é um cenário para os nobres, honrados ou sofisticados. É terra de brutos, desajeitados e amorais que não exitam em jogar o tabuleiro para o alto ao menor sinal de desvantagem, mais afeitos ao jogo da purrinha, onde basta acertar os palitinhos nas mãos dos adversários. Padrões para os quais os educados não estão dispostos a se sujeitar. Nas grandes nações os conceitos de pátria e soberania foram colocados acima de qualquer moral nobre ou burguesa. Hoje assistimos a desintegração da nossa pátria por excesso de escrupúlos. 

  30. Legal seus artigos Nassif,

    Legal seus artigos Nassif, parabéns! Neste caso fico só com o penúltimo parágrafo: se estivéssemos num país minimamente sério essa turmo que chegou ao poder com o golpista deveria estar todos (TODOS), respondendo a inquéritos e acabarem na cadeia, não sem antes devolver cada centavos que surrupiaram; se aqui fosse ao menos um país.

  31. Olá Nassif: imagino o teu

    Olá Nassif: imagino o teu desencanto, maximizado porque tentastes no teu jornal on line atender aos brasileiros naquilo que mais precisavam para não se tornarem as presas fáceis que se tornaram diante de uma quadrilha tào pouco sofisticada. AS TUAS INICIATIVAS, inclusive o blog sempre tiveram a marca da cultura, da seriedade e da franqueza, tudo que falta desde a sub elite no Brasil reinante , como os seus milhòes de servicais voluntários.

    Mas, convenhamos que essa quadrilha que assume a governanca e se auto fagocita diuturnamente nào é nova no congresso, nào é nova nos meios empresariais, não é nova no sistema judiciário, e muito menos nova na mídia.Qualquer um com 2 neurônios conectados sabe que aos olhos do hegemon externo, que cintilaram com o pré-sal, mostrou-se todas as condicões de possibilidade para eclodir uma situacão, que de tão surreal, é difícil de ser assimilada, mas é real.

    A gente fica pensando, eu sei: um país deste tamanho, uma economia tão grande, uma populacão de mais de 200 milhões, grande demais para cair em tamanha e acredito eu duradoura escuridão moral, ética, política, econômica, social. Mas uma escuridão havia, houve sempre e poucos se deram conta que sua superacão seria a única arma disponível em horas fatais: a escuridão cultural, alimentada, amamentada fartamente e duradouramente pelas mídias comerciais e formas de entretenimento.

    Perdemos.

  32. Como você Nassif estamos

    Como você Nassif estamos envergonhados e indignados. Como um país que até ontem era respeitado pelo mundo tinha um presidente respeitado e uma presidente que chegou a ser chamda de “A mulher mais poderosa do mundo” pode ter agora na presidencia um cara acusado de crimes de corrupção?

  33. Folha

    Nassif traduziu, de forma brilhante, o que tenho tentado expor, o espanto.

    Meu índice “Brasil”, imaginava-o no nível -10, pós-golpe.

    Sim,  o golpe era inevitável e por dois motivos: o submarino nuclear (vivi a era Othon I) e a pueril insistência em um pré-sal brasileiro  em águas internacionais, segundo “eles”.

    Ora, “eles” existem!

    Cedessem.

    A facilidade com que ocorreu, o M.O., o “apoio” da Justiça.

    Meu índice chegou no nível -30.

    Houve motivo para o Golpe de 64?

    Sim.

    E para o atual?

    Sim.

    Mas os atores… inimagináveis.

    E a forma, a serenidade com que ocorreu, a passividade, o conjunto me surpreendeu.

    A Pátria, incipipiente, se desfez.

    O controle absoluto, pleno, despudorado, floresceu.

    O golpe de 2016 poderá ter consequências inimagináveis se um outro poder não se manifestar, o poder militar.

    Urge.

    O resto, eleições, etc, podem esquecer.

    O Brasil será fatiado após o impeachment de sua rainha.

    Com certeza, o quadro é assustador.

     

     

  34. Senti-me agora na pele do

    Senti-me agora na pele do Chico e do Garoto:

    “Eu que não creio, peço a Deus por minha gente. É gente humilde, que vontade de chorar.”

     

  35. Uma sobrinho meu

    Um sobrinho meu acabado de se formar em administração de empresas chegou pra mim e disse que havia surgido uma oportunidade de emprego e que iria pra uma entrevista em uma empresa que consertava ar condicionados

    Retornou pra casa triste, pois o dono do negócio  havia lhe entrevistado, dizia que já era o décimo na fila e lhe ofereceu as vantagens do cargo de administrador da oficina: salário mínimo + vantagens que não chegavam a 400 reais 

    Meu sobrinho ficou estremamentr decepcionado e pediu a minha opinião sobre a oportunidade e eu lhe disse que basicamente iria pagar para trabalhar e lhe falei para aguardar um pouco pois tínhamos condições de lhe suprir as necessidades até uma oportunidade melhor chegar

    Agora fico pensando em outros jovens que não tem esse suporte em casa e tem de pegar o que aparece, quantas pessoas se sujeitam nesses empregos humilhantes oportunizado por empresários inescrupulosos 

    Nem todos têm uma visão desenvolvimentista da situação do Brasil e esta chegando o tempo da exploração do trabalhador que vão da terceirização à demissão voluntária

    Será o ápice, no governo temer, da falta de apoio ao pleno emprego e o sustento do trabalhador, público ou privado e o surgimento dos empresários coxinhas 

     

    Viva as fiesps do brazil..

     

    http://www.brasil247.com/pt/247/economia/234224/CUT-ataca-Plano-Temer-Fiesp-aplaude.htm

     

     

  36. A proposta do leitor lembrou-me Pasolini

    O leitor Gustavo (13/08/2016 – 18:24) com a sua proposta ao Nassif lembrou-me da entrevista a Pasolini feita pelo jornalista Furio Colombo em novembro de 1975. O contexto histórico italiano daquela entrevista era o da estratégia da tensão articulada pela Cia, Nato, mafia e neofascismo italiano mas acho que tem a ver também com o nosso, atual.

    Dez anos antes da entrevista (1964), a classe dominante italiana lacaia (sinônimo de atlantista), seguindo um programa de desmantelamento industrial do próprio país (a morte de Enrico Mattei em 1962, fez parte desse programa), vendera para a General Motors um setor da Olivetti, por ordem do governo estadunidense.  Muitos brasileiros não sabem mas o primeiro personal computer da história é invenção exclusivamente italiana. Foi imaginado, progetado e realizado por quatro rapazes piemonteses e comercializado pela Olivetti  —  Alta traição: os Serra, os FHC, os Temer e banqueiros italianos, blocaram a novidade obedecendo ordens expressas da Casa Branca: retiraram o PC do mercado, desmontaram a produção, venderam o progeto a preço de banana pra General Electric e destruiram a Olivetti. O PC chamava-se PROGRAMMA 101 e foi usado anos depois até pela NASA. Hoje, desinformados e coxinhas consideram o astuto Steve Jobs muito engenhoso e inovador como o Leonardo da Vinci!! :-))

    Pasolini: ”estamos todos em perigo”. Furio Colombo lembrando aquela entrevista, escreveu: ” O tom quase profético de certas respostas às minhas perguntas foram típicas de um personagem que sempre esteve avante do seu tempo e que possuia notável senso de premonição que era claramente intelectual antes de ser interior, que permitiu-lhe uma leitura veloz da sociedade capaz de antecipar os fatos”.

    Tres anos depois dessa entrevista e da morte de Pasolini, sequestraram e assinaram Aldo Moro (1978). Giovanni Galloni, ex Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura, confirmou numa entrevista transmitida pela RAI News 24, no dia 5 de julho de 2005 que tanto a CIA como o Mossad tinham infiltrados nas Brigadas Vermelhas, daí a impossibilidade de ter localizado em tempo a prisão para salvar Aldo Moro — video em http://www.pandoratv.it/?p=9216  — Agora se sabe que a morte de Moro foi operação de falsa bandeira para incriminar comunistas. Foi um golpe de Estado e fez parte do programa anglo-estadunidense contra a República italiana, desviando-a permanentemente do seu normal percurso histórico. Giovanni Fasanela, jornalista: ”Depois da morte de Moro, viu-se desmoronar muitas diques políticas, diplomáticas e culturais, e a sociedade italiana conheceu um progressivo empobrecimento da própria classe dirigente em todos os niveis acabando por fazer desaparecer qualquer noção de interesse nacional e de soberania.”
    O ato final daquele programa do qual fazem parte os citados Mattei, Olivetti e Moro, foi Mani Pulite. Santayana, escreveu: ”Há acusações de que os EUA estavam por trás da operação Mani Pulite, baseadas em declarações do próprio embaixador dos Estados Unidos, na época; de que a operação serviu para fatiar e auxiliar a venda de empresas italianas ao exterior; e de que a operação levou o país a uma enorme decadência, com o enfraquecimento de sua soberania e de sua influência política no contexto europeu. E, mais do que isso: do ponto de vista moral, a Operação Mãos Limpas, que aqui se tenta vender como uma unanimidade na Itália, não acabou com a corrupção coisíssima nenhuma, como se pode ver pelos escândalos que se sucederam depois, entre eles o da Máfia Capitale, que mobiliza, agora, mais uma vez, a justiça daquele país.”

    Retornando à proposta do leitor ao Nassif, cito um trecho da entrevista ao Pasolini.

    Pasolini: Sim, entendo. Você fala de um pensamento mágico que não apenas procuro mas no qual acredito, e não porque me considere uma espécie de feiticeiro, mas porque sei que batendo sempre no mesmo prego é possível derrubar uma casa. Aqueles que mudaram a história não foram nem os cortesãos nem os assistentes dos cardeais, mas aqueles que souberam dizer “não”. A recusa sempre foi um gesto essencial e, na verdade, para funcionar deve ser grande, absoluto, absurdo. O bom senso nunca conseguiu parar a “situação”. Veja bem, são três os discursos: qual é “a situação” a razão de pará-la ou destruí-la e de que forma.

    Colombo: Bem, agora descreva “a situação”. Você sabe bem que seus escritos e sua linguagem tem o efeito da luz do sol que atravessa a poeira. Que é uma bela imagem mas é difícil de entender.

    Pasolini: Obrigado pela imagem do sol, mas minha pretensão é bem menor. Pretendo simplesmente que você se dê conta desta tragédia. Qual é a tragédia? A tragédia é que não existem mais seres humanos, somente estranhas máquinas que se batem umas nas outras. E essa tragédia começou com aquele universal, obrigatório e perverso sistema de educação que forma a todos nós, desde as ditas classes dirigentes até os pobres. Que nos joga a todos dentro da arena do “querer tudo” cada coisa a qualquer preço. Daí a razão pela qual todos querem as mesmas coisas e se comportam do mesmo modo. Por isso, se tenho em mãos um conselho de administração ou uma manobra financeira, uso tudo isso. Ou posso usar um porrete. E quando decido usar um porrete eu uso minha violência para obter aquilo que quero. Por que eu quero? Porque me disseram que é uma virtude querer. Eu exercito meu direito, minha virtude. Sou um assassino, e sou um grande homem. Dessa forma, hoje as pessoas se matam sem escrúpulos. Por isso o panorama mudou agora existe o desejo de matar e esse desejo nos liga a todos como irmãos sinistros na derrocada sinistra de um sistema social inteiro que fabrica gladiadores, todos educados para ter, possuir e destruir.

    Colombo: Você nos vê como pequenos pastores sem educação escolástica ignorantes mas felizes.

    Pasolini: Vou lhe dizer francamente: eu desço ao inferno e sei muitas coisas que ainda não tiram a paz dos outros. Mas fiquem atentos. O inferno vai chegar em vocês. É verdade que ele usa uniformes diversos e coloca diferentes máscaras. Somos todos vítimas e somos todos culpados. Mas a vontade, o desejo de dar a porretada, de agredir, de matar, é forte e está em todos. Não vai restar por muito tempo a experiência privada e arriscada de quem como posso dizer tocou “a vida violenta”. Não se iludam. Vocês com a sua escola, a televisão, a pacatez dos seus jornais, vocês são os grandes conservadores dessa ordem horrenda baseada na ideia de possuir e na ideia de destruir.

    ——————

    Video sobre o caso Moro:   http://www.pandoratv.it/?p=9216
    Sobre Pasolini:   http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/Pasolini-sempre-atual-Estamos-todos-em-perigo/39/34973

    Entrevista citada no filme:   https://cultureinjection.wordpress.com/2015/07/03/trecho-de-uma-entrevista-encenada-no-filme-pasolini-abel-ferrara-2014/

    Entrevista completa, em italiano:   http://www.lastampa.it/2015/10/31/cultura/tuttolibri/speciali/tuttolibri40/pasolini/siamo-tutti-in-pericolo-enIvKLU3pJLOLmVzrtsNgK/pagina.html
     

  37. the end

    winter is now. as folhas caíram. na escuridão do abismo em que nos afundam, junto com a queda da Democracia brasileira, procuramos algo para nos agarrarmos.  mas no colapso institucional nada restou em que se apoiar, a não ser uns nos outros. é nesta solidariedade radical que devemos firmemente nos agarrar.

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