Foto: Reprodução
Por Maíra Vasconcelos
Talvez o sol esteja forte demais nas cabeças. E isso aumenta as intempéries de cada qual. Talvez isso explique o frequente estado de queda do mundo exterior a esta janela. Não sei. Mas todo este lado de fora tem-me tomado as mãos, todos os dias. Prossigo e abro as janelas. Tenho as mãos dormentes por entregar margaridas amarelas. Aceitem-nas, mais uma vez, por favor. Aqui estão: presentes. As flores não se despedem, apenas ensaiam a morte. Mais uma vez.
Narro sobre flores por deter propriedade para. Meus espelhos ficaram tão cansados, passaram a flores, estas que cumprem a mesma função. Acreditem. Mas também como se flores nunca fossem suficientes para conter tudo o que afora de mim se desfaz. Não se segura o mundo porque simplesmente se detém tantas flores. São duas coisas assim opostas: flores conversam com o sol enquanto o mundo de nós se aniquila ante seus raios.
Talvez o sol esteja forte demais nas cabeças. O lado de fora desta janela tem-me tomado as mãos, todos os dias. Por isso, tantas margaridas, tantas rosas. Contei que as margaridas são aquelas de Mário e Anita? Quem viu? Vejo e revejo cada uma dessas flores-pintadas até me formar dentro das pétalas, essa proteção. Mais uma vez, essa veste floral, mais uma vez, o desejo de nunca mais me vestir, mais uma vez, a nudez que me espreita carnal e espiritualmente. Assim. Permanecer desnuda do início ao fim e em todos os ciclos da vida. Eis o fracasso determinado pelo simples fato de ser humano. Talvez o sol esteja forte demais nas cabeças.
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