A solidão disfarçada das redes sociais

Enviado por Nickname

Solidão no Facebook

Por Marcos Flamínio Peres

Da Folha

As redes sociais mascaram a ausência de comunicação entre as pessoas, diz o sociólogo francês Dominique Wolton

Agora que o Facebook virou filme e as redes sociais parecem ter liberado o homem para toda forma possível de comunicação, vem um intelectual francês dizer que vivemos sob a ameaça da “solidão interativa”.

Dominique Wolton, 63, que esteve no Brasil há duas semanas, bate ainda mais pesado. Para ele, a internet não serve para a constituição da democracia: “Só funciona para formar comunidades” -em que todos partilham interesses comuns-, “e não sociedades” -onde é preciso conviver com as diferenças.

Sociólogo da comunicação e diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (Paris), ele defende na entrevista abaixo que, depois do ambiente, a “comunicação será a grande questão do século 21”. Em tempo: “A Rede Social”, de David Fincher, estreia nos cinemas brasileiros no início de dezembro.

Folha – Como vê a internet?

Dominique Wolton – Faço parte de uma minoria que não é fascinada por ela. Claro, é formidável para a comunicação entre pessoas e grupos que se interessam pela mesma coisa e, do ponto de vista pessoal, é melhor do que o rádio, a TV ou o jornal.

Mas, do ponto de vista da coesão social, é uma forma de comunicação muito frágil. A grandeza da imprensa, do rádio e da TV é justamente a de fazer a ligação entre meios sociais que são fundamentalmente diferentes. Nesse sentido, a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário.

Mas e as redes sociais?

Elas retomam uma questão social muita antiga, que é a de procurar pessoas, amigos, amor. São um progresso técnico, sem dúvida, mas a comunicação humana não é algo tão simples.

Porque em algum momento será preciso que as pessoas se encontrem fisicamente -e aí reside toda a grandeza e dificuldade da comunicação para o ser humano.

Então a solidão é um risco nessas redes?

Sem dúvida: a “solidão interativa”. Podemos passar horas, dias na internet e sermos incapazes de ter uma verdadeira relação humana com quer que seja.

Isso tem a ver com o conceito que criou -o de “sociedade individualista de massa”?

Sim, porque na comunicação ocidental procuramos duas coisas inteiramente contraditórias: a liberdade individual -modelo herdado do século 18- e a igualdade por meio da inserção na sociedade de massa -que é o modelo do socialismo.Usamos a internet porque ela é a liberdade individual. Na internet, todo mundo tem o direito de dar sua opinião, mas emitir uma opinião não significa comunicar-se.

Porque, se a expressão é uma fase da comunicação, a outra é o retorno por parte de um receptor e a negociação que implica -e isso toma tempo!

Há um fascínio pela rapidez da internet e por sua falta de controle.

Mas essa falta de controle é demagógica, porque a democracia não é a ausência de leis, mas a existência de leis utilizadas por todos.

A internet foi decisiva para a eleição de Barack Obama?

Acho que se projetou um sonho que não correspondeu à realidade. Obama sempre foi ligado às questões sociais e sabia de sua importância. O que fez foi usar a internet para multiplicar a eficácia dessas relações. Usou a internet de modo bastante clássico.

O Google está nos tornando estúpidos?

Ele está se tornando a primeira indústria do conhecimento, concentrando de forma gigantesca a informação e o saber -o que é um perigo.

Se um grupo de mídia quisesse concentrar toda a distribuição de informação, alguém diria: “Atenção, monopólio!”. Mas não se faz isso em relação à internet, tamanho é o fascínio pela técnica na sociedade atual.

O papel está condenado?

Ao contrário! Porque internet é rapidez, livros e jornais são lentidão e legitimidade -informação organizada. A abundância de informações não suprime a questão prévia de que educação é formação.

Redação

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Atenção!

    Atenção, muita atenção; Ele pode ter razão, especialmente quando diz:

    “Na internet, todo mundo tem o direito de dar sua opinião, mas emitir uma opinião não significa comunicar-se”.

    O Google está nos tornando estúpidos?

     

    Ele está se tornando a primeira indústria do conhecimento, concentrando de forma gigantesca a informação e o saber -o que é um perigo.

     

  2. Concordo em parte, discordo
    Concordo em parte, discordo na essência em relação ao Brasil. A solidão pode realmente ser mascarada pelas redes sociais, pode até mesmo ser causada pelo vício nas mesmas. Quanto ao resto – a formação de comunidades virtuais de pessoas semelhantes e não de sociedades de pessoas diferentes – é preciso levar em conta as características específicas de cada país. No Brasil, a elite sempre procurou se distanciar, se diferenciar, se isolar e se separar social, geográfica e urbanisticamente dos “outros” (negros, mulatos, índios e brancos pobres). A sociedade brasileira sempre foi uma categoria “não existente”. Cá só existem comunidades e a comunidade dos abastados sempre hostilizou, segregou e brutalizou o quanto pode as “outras” comunidades.Quando perde as eleições apela para golpes e sabotagens sistemáticas como se apenas uma comunidade – a da elite – fosse dona do Estado.

    1. Não vi no que você disse razão para a discordância

       

      Fábio de Oliveira Ribeiro (quarta-feira, 07/01/2015 às 16:25),

      Você apresenta um fato da sociedade brasileira em que as elites segregam outras comunidades. Agora não penso que esse fato seja razão para discordar da afirmação de Dominique Wolton de que a Internet não nos leva a uma verdadeira comunicação humana, formando antes comunidades ou grupos de pessoas que se interessam pela mesma coisa.

      Ao ver a chamada para este post “A solidão disfarçada das redes sociais” de quarta-feira, 07/01/2015 às 15:35, pensei no esforço que Luis Nassif faz em manter o blog bem plural e ia da como exemplo o que aconteceu com o seu post “É Natal: cristãos sanguinários estão felizes e isto me deixa preocupado” de quinta-feira, 25/12/2014 às 11:58, e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/e-natal-cristaos-sanguinarios-estao-felizes-e-isto-me-deixa-preocupado

      Lembrei-me dele porque Luis Nassif fez a partir de comentários no seu post pelo menos mais três posts com opiniões bem discordantes da sua. No caso eu não entendi as razões das críticas nem mesmo méritos dos comentários para serem elevados a posts, pois me parecera que os comentaristas não haviam entendido o que você dissera. De todo modo, a escolha dos comentários para serem elevados a posts estava dentro desse esforço de Luis Nassif em evitar que o blog dele se torne um pequeno feudo de opiniões semelhantes.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 07/01/2015

  3. bateu pesado dominique

    bateu pesado dominique wolton

    o francês 

    o que ele disse aos 63

    aos 74 traduzo :

     

    redes integram

    gentes

    sem gerar sistemas

    diferentes

    d’antigos sobreVIVENTES

     

    pés no chão

    FAZER

    usar as mãos

    requer – botões

    + conexões

     

     

  4. a solidão é evidente – a da

    a solidão é evidente – a da elite é ainda pior, como alguém já disse.

    o gogle é um monopólio assustador.

  5. É, a internet tem limitações que enganam o desprevenido

     

    Nickname,

    Boa a chamada para este texto da Folha de S. Paulo.

    Esta questão de comunidades na internet vem sendo discutida há muito tempo. Lembro-me de um texto se não me engano no Observatório da Impressa, em que uma ou um jornalista americano apontava para o problema de se perceber nos blogs meras expressões de uma ideologia que atraia somente aquelas pessoas com a ideologia, cultura e interesses semelhantes.

    Consegui encontrar este texto. Trata de artigo de Michael Massing e que foi publicado em 31/08/2009, na edição 552, com o título “Notícias sobre a internet” e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/noticias_sobre_a_internet

    Lá ele ensina muita coisa. Pena é que eu não tenho apreendido. Há por exemplo esta passagem:

    “”A única coisa que ainda não conseguimos descobrir é como fazer textos longos no jornalismo online”, diz Jacob Weisberg, ex-editor do Slate”

    E se abrir o link dos comentários há um comentário em que manifesto a minha crítica de que há filtro nos blogs. Vou transcrever o parágrafo do texto de Michael Massing com o qual não concordei:

    “Isso aponta para alguns dos aspectos mais preocupantes do jornalismo na web. Os excessos em polêmicas atribuídos à blogosfera permanecem reais. Em seu livro And Then There´s This, sobre a cultura na internet, Bill Wasik descreve como “a rede de blogs políticos, por meio do retorno entre blogueiros e leitores” produziu um mecanismo que fornece ao leitor “informação pré-filtrada” em apoio às suas opiniões. Segundo uma pesquisa citada por Wasik, 85% dos links de blogs eram com outros blogs da mesma tendência política e “praticamente nenhum blog mostrava respeito algum com um blog de tendência distinta”.

    Embora o aspecto preocupante não fosse propriamente o filtro, mas o direcionamento do blog para convencimento dos que estavam vinculados ao blog, ou talvez devesse dizer, para convencimento dos que tivessem caído na teia do blog, em um uso quase fraudulento do blog, eu não achava a crítica válida no sentido de que o filtro existe em todos os lugares em todos os meios de comunicação.

    Outros textos onde se discute muito sobre a internet são os textos de Manuel Castells a quem Luis Nassif deu muita corda durante as manifestações de junho de 2013, mas justiça seja feita vem sendo mencionado por Luis Nassif há muito mais tempo. Nesse sentido deixo a indicação de três posts com referências a Manuel Castells anteriores às manifestações de junho de 2013. O primeiro destes posts é “Manuel Castells e as redes sociais” de terça-feira, 21/09/2010 às 12:31, em que o comentarista Daniel Campos sugere a repostagem da Folha de S. Paulo intitulada “’Se um país não quer mudar, não é a internet que irá mudá-lo’, diz sociólogo espanhol” e feita por Alec Duarte, Editor-adjunto de Poder. O endereço do post é “Manuel Castells e as redes sociais” é;

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/manuel-castells-e-as-redes-sociais

    Há um segundo post intitulado “Manuel Castells: “O poder tem medo da internet”” de sábado, 06/11/2010 às 10:14, em que por sugestão de Antonio Ateu há uma entrevista de Manuel Castells intitulada “O poder tem medo da internet”. O post “Manuel Castells: “O poder tem medo da internet”” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://advivo.com.br/categoria/autor/manuel-castells-entrevista

    E um terceiro post é “Manuel Castells e a expansão do não-capitalismo” de sexta-feira, 30/11/2012 às 14:24, em que por sugestão de Alfeu faz-se a transcrição de entrevista de Manuel Castells que teria sido dada a Paul Mason com tradução Gabriela Leite e que fora publicada no Outras Palavras.

    As entrevistas de Manuel Castells ou posts mais recentes, fazendo referência a ele, principalmente trazendo vínculo com as manifestações de junho de 2013, pareceram-me mais oportunistas e não as considero tão relevantes, mas há aqui no blog de Luis Nassif a tag com o nome dele trazendo exatamente mais dois posts que abordam esse período. O endereço da Tag Manuel Castells é:

    https://jornalggn.com.br/tag/blogs/manuel-castells

    E por fim lembro aqui que não gosto muito quando Luis Nassif tenta transparecer imparcialidade ou neutralidade. Penso que não existe esta história do ser humano imparcial, mas reconheço que Luis Nassif tenta fazer um blog plural exatamente para ficar livre dessa pecha de blog de comunidade. De certo modo é um aprendizado que ele adquiriu na Folha de S. Paulo que despontou como o maior jornal do país ao abrir o leque para opiniões bem divergentes. É um valor importante e livra o blog de se tornar um mero nicho de um tipo quase uniforme de opinião. Agora, ao elogiar não se pode esquecer também o lado comercial dessa postura. O efeito desse lado comercial é de também para evitar custos maiores existir pouco incentivo para um trabalho jornalístico mais aprofundado. Como não é um nicho focado em poucos pontos o blog fica mais eclético e mais superficial.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 07/01/2015

  6. Até que enfim alguém inteligente falando de internet

    Poxa até que enfim !! Tava demorando demais esse povinho pseudo intelectual falando maravilhas de internet e dessas porcarias de redes sociais. Até que enfim alguma voz de um pouco acima de estupidez (digo até inteligência) vem falar sobr eo tema de internet e “redes sociais” com o pé no chão e atento a realidade. Nada dessa baboseira de falar em “revolução da comunicação” , “horizontalidade”, e outras bobagens mais.

    Caiam na real :

    1. A INTERNET TEM DONO ( O GOVERNO DOS EUA).

    2. “REDES SOCIAIS” SÃO MEROS PRODUTOS COMERCIAIS DE GRANDES CORPORAÇÕES, NÃO SÃO MEIOS REVOLUCIONÁRIOS DE COMUNICAÇÃO!!!!

  7. Assim:

    É que as pessoas “não se tocam”, “não se cheiram” e “não se lambem”, isto é, não “há contato físico”, de sorte que os sentidos do “olfato”, do “tato” e do “paladar” não se fazem presentes nessas “interações”: só, “claudicantemente”, os da “visão” e “audição”!

    Não pode, realmente, sair coisa boa daí!

  8. A rede conectando as individualidades

    Não entendi a diferenciação entre comunidade e sociedade desse sociólogo. Entao quer dizer que em uma comunidade todo mundo é igual e numa sociedade todo mundo é diferente?

    Ao meu ver, naõ foi possível criar uma sociedade ou comunidade global através da geopolítica nos tempos modernos. Mas nesses tempos de transição para o pós-moderno a rede está tentando conectar as individualidades  mundo a fora. Só resta saber se no fim teremos uma unidade?!

     

  9. Discordo

    Quem não gosta da internet, ou do Facebook, é a midia direitista, no caso deste artigo a Folha. Porque lhes tira leitores. Porque eu compraria um jornal de papel, quando posso acessar a notícia direto do meu celular, na internet,  a qualquer hora do dia ou da noite?

    Sem ter o que dizer, passam a atacar o facebook, os internautas, os blogs, e tudo, menos a incapacidade deles de migrar para a internet e se adaptar aos novos tempos.

    A solidão ou existe ou não. Quem não tem problema de solidão, não é porque vai navegar no face que vai ter. O face só expõe algo que já está aí. Muita gente, pelo contrário, tem encontrado pessoas, amigos, oportunidades de negócios, e não raro até se casado com pessoas que encontrou nas redes sociais.

    Além do mais, como dizem, o facebook não destrói amizade, nem humildade nem namoro. Ele destrói amizade falsa, namoro fraco e humildade de quem nunca teve.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador