A incrível história das HQs na Paraíba

Por Aderaldo Luciano

Estava tentando escrever um trabalho crítico sobre Piteco-Ingá, de Shiko, e fui revolver minha pequena dúzia de livros para ver se encontrava alguma luz norteante. Fui elencando: Alex Ross, Will Eisner, Moaci Cirne, Álvaro de Moya, Goida, Pierre Couperie, Maurice Horn, Umberto Eco e um bocado de coisa. Sou um aficcionado da banda desenhada e um observador. Não sou um estudioso, embora tenha me metido com Joe Sacco e Marjane Satrapi. Hal Foster e Alex Raymond. Mas o melhor de tudo é que entre eles, ali na quina da estante, escondidinho como um vagalume de dia, estava esse A Incrível História Dos Quadrinhos – 20 Anos De HQ Da Paraíba, de Henrique Magalhães.

Uma produção da Marca de Fantasia, da Acacia e Sancho Pança, saída em 1983, portanto há 30 anos, merecia, de verdade, uma comemoração. Reli-o na sala de espera do médico, de uma vez, rindo e aprendendo e relembrando a primeira vez que o encontrei, por incrível que pareça, num sebo aqui no Rio de Janeiro. Além de historiografar, Henrique Magalhães consegue arejar nossa cabeça e nos alerta para o elemento mais arrojado do autor de quadrinhos: a persistência. Em suas páginas reencontramos, no passado, os amigos do presente. Heróis nascidos da pena e da caneta e da ousadia ofereceram aos de hoje a possibilidade de trilhar um caminho de certa forma mais leve.

Outro dia, Braulio Tavares, citava o Flama, personagem de Deodato Borges. Um caso no qual o personagem saiu de um programa da Rádio Borborema direto para o papel em As Aventura Do Flama. O herói campinense, vestindo o mesmo colant, a capa e aquela máscara mínima foi um sucesso que durou 5 números. Consegui, num desses milagres, encontrar um número lá em Areia, nem sei mais como, já na década de 80, que perdeu-se nessas minhas viagens. Por outro lado, Welta, de Emir Ribeiro, aquela heroína gostosona, era a mulher que todos nós, adolescentes, gostaríamos de encontrar. E nós a encontramos pela primeira vez num suplemento da revista da FUNESC, se não me engano.

Henrique Magalhães, nesse seu trabalho, faz o inventário desses episódios: entre suplementos e heróis e tiras e autores. Fiquei ainda mais feliz porque revi a inesquecível Maria, personagem solteirona, muitas vezes ácida, outras ingênua, outras sonhadora, de quem eu gostava com todo o afeto porque era a cara de minha tia Joana. Para quem quer ter um olhar sobre as origens de nossas HQs paraibanas, é um ótimo encontro. Lau Siqueira, presidente da FUNESC, fazia uma observação sobre o momento medonho que vive o jornalismo paraibano, a “imprenÇa”, como escreveria Japiassu, parece que há uma tênue luz de dignidade, vinda do passado.

Redação

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