O Bloco Afro Ilú Oba De Min e a diversidade cultural no carnaval de São Paulo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O Bloco Afro Ilú Oba De Min é um bloco composto exclusivamente por mulheres e desde 2005 sai às ruas de São Paulo celebrando a cultura afro-brasileira e destacando a participação das mulheres no mundo. Rainha Nzinga, Leci Brandão (que é madrinha do bloco) e Raquel Trindade foram algumas das homenageadas nos anos anteriores. No Carnaval de 2013 o bloco enfeitou as ruas da capital paulista com o enredo “As Yabás – as Deusas do Axé”. Neste ano de 2014 o Bloco realiza o seu 10º cortejo pelas ruas do centro da cidade de São Paulo com o tema é “Nega Duda e o samba de Roda do Recôncavo Baiano – Patrimônio Imaterial da Humanidade.”

É uma grande intervenção cultural que promove a cultura popular e a participação ativa da mulher na sociedade através da arte. Traz também para região urbana a dança e os cantos dos terreiros do Candomblé e de diversas manifestações da cultura negra, como o maracatu, batuque, coco, jongo, entre outras.

O “Bloco Ilú Obá De Min” é apenas um dos projetos da entidade feminina sem fins lucrativos “Ilú Obá de Mim – Educação Cultura e Arte Negra”. O objetivo da entidade é preservar e divulgar a cultura negra no Brasil mantendo diálogo cultural constante com o continente africano. Além de abrir novos espaços de maneira lúdica visando o fortalecimento individual e coletivo das mulheres na sociedade.

Por quatro anos a entidade foi contemplada como Ponto de Cultura e utilizava a verba recebida na manutenção da casa, confecção de figurinos, aquisição de instrumentos, entre outros. Hoje a entidade se mantem com as apresentações que a “Banda Ilú Obá de Min” faz durante o ano em todo o país e no exterior. Para o carnaval desse ano temos o apoio parcial da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

Ilú Oba de Min foi fundado pelas percussionistas Beth Beli e Adriana Aragão. Não nasceu dentro de um terreiro (como os afoxés) porém trabalha com fundamento nas questões do povo de santo e no culto aos Orixás: Deuses Africanos.

Adriana é percussionista, vocalista, compositora, arranjadora e profunda conhecedora do Candomblé. Ainda menina obteve a permissão para tocar os tambores sagrados Rum, Rum-pi, Lê. Hoje Adriana Aragão não faz mais parte grupo como regente.

Bethi Beli, além de diretora do Ilú, é percussionista, cantora, regente e mestra de bateria e arte educadora. Iniciou sua carreira artística em 1987, tendo como referência musical as grandes Escolas de Samba de São Paulo. Antes da criação do Ilú, participou da Banda-Lá, primeiro grupo afro de São Paulo; criou a Banda Mulheres de Ilú, junto com sua parceira Girlei Miranda e participou do bloco Ori Axé. Todos, trabalhos de resistências, explorando a diversidade cultural e rítmica da música brasileira advindas do legado deixado por ancestrais Africanos com o foco na mulher.

O Ilú surge também a partir do momento que a diretora do bloco, Beth Beli, incentiva a ampliação do discurso sobre a participação feminina no ato de tocar o tambor. Mesmo dentro do Candomblé as mulheres não têm permissão para tocar tambor. Então, Beth se inspirou em outras tradições africanas nos rituais que ocorrem na Nigéria, por exemplo, onde as mulheres podem, sim, tocar o tambor.

O Ilú é coordenado e dirigido pelas regentes e mestras Beth Beli e Mazé Cintra (esta última também coordenadora do instrumento Alfaia); Tâmara David, coordenadora das cantoras; Sosô Parma, coordenadora do naipe dos agogôs; Roberta Vianna, coordenadora do naipe Djembe; Silvana Santos, coordenadora do naipe do Xequerê; Cristiane Gomes e Rúbia Braga, coordenadoras do corpo de dança; Mafalda Pequenino, coordenadora do naipe de Perna de Pau; Wanda Martins – administradora; e Baby Amorim – produtora.  

Neste Carnaval o Bloco sai com um total de 196 integrantes: 135 percussionistas, 32 bailarinos no corpo de dança, 08 cantoras cantoras e 10 pernaltas bailarinos.

O projeto Bloco Afro Ilú Obá De Min, com sua proposta inovadora e única em São Paulo, tornou-se referência étnico-cultural e educativa e foi premiado pelo “Prêmio Culturas Populares Mestre Humberto Maracanã 2008” – SID/MINC ao lado de grandes iniciativas culturais brasileiras e acaba de conquistar o “Prêmio Governador do Estado para Cultura 2013”.

Já se apresentou no Carnaval de Blocos de Rua do Rio de Janeiro e Rio Bonito, Abertura do Carnaval de Santos, Carnaval de Itapecerica da Serra e apresentações nos Sesc Bertioga, Sesc Pinheiros, SESC Santo André, Sesc Ipiranga, Sesc Santo Amaro, Sesc Pompéia, Sesc Campinas, Colômbia e Bolívia.

A repercussão do projeto desenvolvido há 9 anos na metrópole é tanta que em 2013, o carnaval do bloco atraiu um público de cerca de 13.000, algumas vindas de outros municípios e estados especialmente para esta manifestação.

 

Além do “Bloco” a entidade a “Ilú Obá De Min – Educação Cultura e Arte Negra abarca outros grandes projetos:

Oficinas de rua para mulheres “Banda Ilú Obá De Min” cujo objetivo é a pesquisa musical de matriz africana e afro-brasileira e sua divulgação. Composta por 30 mulheres ritmistas tocando djembês, alfaias, ilús, agogôs e xequerês.

O “Ilú na Mesa“: ciclo de palestras e debates cujo objetivo é promover o debate entre as/os integrantes da entidade e sociedade em geral sobre temas voltados para educação, cultura e arte negra.

O “Triunfo das Heranças Africanas”: Tem como objetivo divulgar e dialogar com os inúmeros grupos culturais brasileiros que desenvolvem pesquisa-ação voltada para as culturas de matriz africana e afro-brasileira.

Tenda Lúdica: Voltada para o público infantil. Trabalha a Lei nº 10639/2003 que alterou a LDB incluindo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas. O projeto consiste em uma grande tenda que oferece, simultaneamente, aulas de percussão, contação de histórias, jogos africanos, confecção de bonecas pretas e biblioteca com literatura infantil que valoriza a diversidade étnico-racial.

A entidade “Ilú Obá de Mim – Educação Cultura e Arte Negra, coloca seu Bloco na rua, trazendo para o Carnaval da cidade de São Paulo em sua Ópera de Rua a cultura popular brasileira, recheada de muita resistência, força feminina e preservando essa jóia rara que é nossa Herança África e o Patrimônio Imaterial da humanidade.

A saída do Bloco acontece no dia 28 de Fevereiro, sexta feira de Carnaval as 21h do Viaduto Major Quedinho com o percurso que passa pela Praça Ramos finalizando com grande estilo na Igreja dos Homens Pretos, largo do Paissandú – A concentração começa às 19h30.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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